Picking up the pieces
AUTOR: Deany RS
FANDOM: Supernatural
CLASSIFICAÇÃO: T
GÊNERO: AU / Romance / Drama
DIREITOS AUTORAIS: Infelizmente Supernatural, Jensen, Jared, Christian ou Steve não me pertencem. Mas como eles povoam meus sonhos e fantasias, têm por consequência povoado minhas histórias também.
AVISO: AU. Angst. Com muito de mim, realidades e sonhos. E muito de fantasia. Talvez pelo Texas ser muito perto do México, esta história está bem "Diós, me acuda!" E como está incompleta – diferente de Por uma noite apenas, que estava pronta mas publiquei aos poucos – conto com meus leitorinhos para darem sugestões para o andamento da trama, críticas para que eu possa aprender com vocês e até mesmo elogios para massagear meu ego...
Espero que gostem...
CAPÍTULO UM
Naquela sexta-feira à noite Lauren voltava para casa a pé, apesar de passar das dez horas. A distância entre a editora em que trabalhava e seu apartamento não era grande o bastante para justificar o chamado de um táxi. Sem contar o clima agradável que convidava a uma caminhada depois de um longo dia de reuniões. Gostava de refletir enquanto andava sozinha e, com as ruas de Midland praticamente vazias, nada interrompia seus pensamentos que oscilavam entre os planos para o dia seguinte e a gratidão por estar tendo a chance de um novo começo.
Estava quase chegando ao seu prédio quando avistou três homens chutando um quarto que estava jogado no chão, pressionando o seu corpo contra o portão de ferro da garagem. Apesar da distância, a moça pôde ver que ele tentava, sem muito sucesso, se proteger colocando os braços em volta da cabeça e em frente ao rosto. Rapidamente Lauren se escondeu atrás de um muro vizinho, pegou o celular e ligou para 911.
- 911, qual é a sua emergência, por favor? – A voz feminina perguntou do outro lado, ao segundo toque do telefone.
- Tem um grupo atacando um homem em frente ao prédio onde moro – respondeu, sussurrando. Forneceu o endereço e o número o mais rápido que pôde.
- O socorro está a caminho. Fique calma.
Lauren ficou ali à espera do socorro que felizmente não tardou. Ao ouvir a sirene o grupo saiu correndo, deixando sua vítima para trás. Ela correu também para ver como estava o homem espancado.
Ajoelhou-se na frente do rapaz que permaneceu deitado sobre seu lado esquerdo no chão frio. O rosto estava muito ferido, com um corte no supercílio esquerdo, outro no lábio inferior, o nariz sangrava, mas os hematomas e o sangue não impediam que ela notasse o quão lindo ele era. Sua boca era sensual, de lábios grossos e perfeitos, seus olhos verdes, o cabelo loiro curto e arrepiado. Rapidamente voltando de seus devaneios, Lauren falou:
- Aguenta firme, ok? A ambulância já deve estar chegando. – Em resposta ela recebeu um olhar cheio de desespero e dor. Lentamente o rapaz virou-se de modo a ficar deitado sobre as costas, no que deveria ser uma posição ligeiramente mais confortável para seu corpo dolorido. Ainda assim, ficou com o braço direito em volta de seu tórax, como se protegesse de um novo ataque.
- Não... me... deixe... sozinho... por favor. – pediu com muito esforço, uma óbvia dificuldade para pronunciar as palavras, que saíram de seus lábios em um sussurro.
- Quer que eu chame alguém?
- Não... eu não... c-conhe-ço... ning-guém aqui... aaaahhh! – Pressionando os olhos com força, o rapaz urrou de dor. Uma lágrima escapou de seu olho esquerdo.
- Tente não se mexer muito para não ficar mais machucado, está bem? Pode ter fraturado algo. Qual é o seu nome? – Lauren tentava transparecer uma calma que não sentia, para que o jovem se sentisse seguro, ao mesmo tempo em que tentava descobrir um nome para dar aos atendentes da ambulância que deveria estar a caminho.
- Jensen... uh, Ackles. Por favor... fiq-que com-migo... n-não q-quero... morrer... so-zinho – disse ele, ofegante.
- Hei, você não vai morrer, está bem? Aguenta firme. E não vou a lugar algum, vou ficar com você. Meu nome é Lauren e vou junto com você para o hospital. Agora tente ficar calmo...
Jensen deu outro gemido alto, longo, quase um grito, e encarou Lauren com olhar assustado, o brilho das lágrimas refletindo a luz que vinha de um poste de iluminação pública próximo, o queixo e o lábio inferior apresentando um leve tremor. Ela segurou a mão do rapaz em outra tentativa de transmitir um pouco de tranquilidade, segurança. Em resposta ele agarrou com força, desespero. O tempo não passava, a ambulância não chegava, a dor de Jensen ficava mais intensa e a dificuldade para respirar aumentava.
- Onde você sente dor? – a pergunta soou idiota, mas ela precisava de informações, pois certamente os paramédicos iriam questioná-la para agilizar o socorro.
- Cos-stelas... pei-to... braço di-reit-to... – respondeu ele, gaguejando levemente.
- Ok... – tentou encorajar o homem que sofria até mesmo para falar.
- Cab-beça... p-peito...
- Certo, agora fique calmo, ok? Economize energia. O socorro deve estar próximo.
Jensen estava com medo. Pensou em sua família e seus amigos. Achava que ao sair de Los Angeles poderia começar uma vida nova, deixar o sofrimento para trás, mas pelo visto estava enganado. Estava ali, deitado no chão frio da rua, agonizando de dor, com medo de morrer sozinho em uma cidade estranha, acompanhado apenas por uma moça que ele nunca havia visto antes. De repente, sentiu a garganta fechar e o peito doer. Arregalou os olhos e começou a sufocar, para desespero de Lauren, que via o jovem tentar, em vão, puxar oxigênio para dentro de seus pulmões, os lábios abertos, as costas arqueadas. Ela não sabia o que fazer.
- Jensen! Jensen! Aguente firme, por favor... - Nisso, finalmente, ela ouviu um novo som de sirenes se aproximar. - Já vai acabar, ok? Aguente só mais um pouco, por favor, não desista agora – disse, tentando transparecer uma segurança que não sentia.
Mal a ambulância parou ao lado da calçada os paramédicos já desceram do veículo com equipamentos diversos.
- Rápido, por favor, ele não consegue respirar! – implorou Lauren, dando espaço para os atendentes, que trouxeram oxigênio, imobilizaram o pescoço de Jensen e, com extremo cuidado e agilidade, colocaram-no na maca, enquanto perguntavam a ela sobre possíveis ferimentos invisíveis.
- Há quanto tempo ele está sufocando? – perguntou o moreno.
- Cerca de um minuto, talvez menos. Ele tossiu um pouco e puxou mais um pouco de ar, mas percebi que não foi o suficiente. Não levantei ele por medo de quebrar algo, ele recebeu muitos chutes no tórax, sente dor no peito, deve ter quebrado algumas costelas também, talvez o braço direito... – ela despejava as palavras desordenadamente, na pressa de dar as informações que poderiam ajudar Jensen.
- Ele precisa de ventilação mecânica! Rápido! – e voltando-se para Lauren, o homem perguntou - Você é da família?
- Não, só moro aqui, acabo de conhecê-lo. Disse que não tem família ou amigos aqui. Pediu que eu fosse junto ao hospital... Por favor...
- Tudo bem, você pode vir junto. Cuidado, agora. Devagar, isso... – o paramédico orientava aos colegas enquanto colocavam a maca na ambulância, Jensen então com os olhos fechados, recebendo os primeiros socorros.
~~~***~~~***~~~
Na recepção do hospital, enquanto Jensen era atendido, Lauren prestou seu depoimento. Os policiais prenderam o trio de agressores e conseguiram recuperar a carteira e o celular. De posse de seus documentos, Lauren pôde preencher a ficha de internação de Jensen e saber alguns detalhes a seu respeito. Descobriu que ele nasceu em Dallas, no dia 1º de março de 1978. Filho de Allan e Donna. "Que jeito de conhecer um cara tão bonito", pensou Lauren. "E que momento inapropriado para pensar em uma coisa dessas", recriminou-se.
A verdade é que Lauren se sentia sozinha. Havia voltado para Midland depois de uma sucessão de acontecimentos dolorosos que a fizeram desistir de tudo. Agora tentava reconstruir sua vida. Trabalhava como revisora de uma pequena empresa do ramo editorial, havia feito alguns novos amigos e reencontrado os antigos, com os quais havia perdido contato ao mudar-se para Dallas, justamente a cidade onde Jensen nascera. Morava em um pequeno, mas aconchegante, apartamento e podia sustentar alguns pequenos prazeres.
Ainda assim, sentia falta de ter alguém com quem dividir seus dias, seus sonhos, sua vida. Alguém que a fizesse se sentir segura para se apaixonar novamente, enfrentar os medos de se entregar, de perder, de sofrer.
A demora dos médicos para fornecer informações estava deixando-a ainda mais angustiada. Deixou escapar um suspiro profundo ao se levantar da cadeira desconfortável. Começou a andar de um lado para o outro na pequena sala de espera, branca e fria, até sentir os olhares zangados da recepcionista do posto de enfermagem. Foi até o final do corredor, entrou na lanchonete e pegou um café, o que foi uma péssima ideia, pois acabou ficando ainda mais ansiosa. Aquele cheiro de hospital era deprimente, nauseante e trazia péssimas recordações, coisas que se esforçava diariamente para esquecer. Lauren havia perdido completamente a noção do tempo, mas a impressão que tinha era de que havia se passado vários dias ao invés de horas. Até que, finalmente, ouviu uma voz chamá-la.
- Senhorita Lauren?
- Então, como está Jensen? – não conseguiu evitar que a ansiedade transparecesse em sua pergunta.
- Fizemos uma cirurgia de emergência para conter uma hemorragia interna. O senhor Ackles teve a vesícula rompida e foi necessária sua remoção, mas trata-se um órgão dispensável, não irá afetar a saúde ou a vida dele de nenhuma maneira. Ele também teve duas costelas quebradas, que pressionaram o pulmão e causaram a falta de ar; o pulso direito foi fraturado; além de uma leve concussão que necessitará de observação por alguns dias. Pode parecer um quadro grave, mas garanto que ele teve sorte, pois dadas as circunstâncias ele poderia ter ferimentos ainda piores.
- Pelo jeito que aqueles monstros o estavam espancando, poderia mesmo ter sido pior... Por quanto tempo ele deve ficar internado?
- Acredito que cerca de dez dias. O importante é não ter pressa. Entretanto, ele ficará inconsciente pelo menos até amanhã, por conta da anestesia. Recomendo que vá para casa descansar também.
- Obrigada, doutor. - Aliviada, Lauren cumprimentou o médico e seguiu a sua recomendação. Ao chegar ao apartamento acarinhou Angus, seu gato, e dirigiu-se ao banheiro. Deixou a água quente encher a banheira e foi ao quarto, tirar as roupas e verificar a secretária eletrônica. Havia apenas uma mensagem de Sarah, convidando-a para um almoço na segunda-feira. Lauren ficou feliz com o convite. Eram amigas desde a infância, sempre muito próximas, com certeza a melhor amiga que tinha e podia confiar.
Voltou ao banheiro, acendeu algumas velas, entrou na água quente e procurou relaxar. Lembrou-se dos olhos verdes de Jensen, tomados pelo medo e a dor. A voz fraca e rouca implorando que ficasse por medo de morrer sozinho. Tão lindo, tão doce, tão assustado... E tão machucado. Algo lhe dizia que os ferimentos desse rapaz não eram apenas físicos. Se sua intuição estivesse certa, tinham algo em comum.
Deixou que o calor da água relaxasse seu corpo cansado, amenizasse a dor de seus músculos tensos. Quando estava na banheira tempo suficiente para a água esfriar e sua pele enrugar, ela saiu, enrolou-se numa toalha e voltou ao seu quarto. Deitou-se na cama, nua e melancólica, e esperou o sono chegar. No entanto, seu último pensamento foi sobre Jensen.
~~~***~~~***~~~
Acordou um pouco mais tarde. Afinal, não trabalhava aos sábados e sentia-se extremamente cansada. Levantou-se e vestiu-se. Tomou uma xícara de café acompanhada de uma torrada, só para enganar o estômago, pois não sentia fome alguma. Deu comida e um pouco de carinho para Angus, pegou a bolsa e saiu. Foi ao hospital para saber notícias de Jensen.
Chegou e foi encaminhada ao quarto 494. Jensen ainda estava dormindo. Com o rosto limpo do sangue e os ferimentos tratados, Lauren pôde ver que ele era ainda mais bonito do que conseguiu perceber na noite anterior, mesmo com os hematomas. A palidez ressaltava as sardas abaixo dos olhos e sobre o nariz. Uma cicatriz antiga marcava o queixo. Os longos cílios evidenciavam a beleza de suas feições. Cada traço daquele rosto continha beleza, inclusive as pequenas rugas que já surgiam apesar de ter apenas 30 anos. Ele estava tão sereno que Lauren não pôde evitar sorrir diante da cena tão cheia de paz, tão diferente da expressão de dor e medo de algumas horas atrás.
Ela sentou-se em uma cadeira próxima à janela, de modo que podia observar o movimento da rua sem perder a visão de Jensen. Passaram-se quase duas horas até que ele acordou. Ao tentar movimentar-se, sentiu dor e gemeu baixinho.
- Oi. Está sentindo muita dor?
- Huh... um pouco... mas agora ao menos acho que vou sobreviver. – Ao dizer isso, deixou escapar um leve sorriso, puxando o cantinho esquerdo do lábio para cima, com um ar quase sapeca, e ao mesmo tempo deixado transparecer cansaço.
- Você teve hemorragia interna, vesícula rompida e retirada, além de duas costelas e pulso direito fraturados. Fora alguns hematomas e uma leve concussão não houve nada grave. Os médicos disseram que, por você ser bastante saudável e aparentar praticar esporte, sua recuperação será mais rápida.
- Desculpe – sussurrou. – Nem me apresentei. Sou Jensen. E obrigado por me salvar. Devo minha vida a você.
- Prazer, Jensen, sou Lauren. E não precisa exagerar. Não fiz nada além de uma ligação.
- Não estou exagerando. Você salvou minha vida, me deu apoio, ficou do meu lado, mesmo eu sendo um completo desconhecido. Eu nem sei como posso te agradecer.
- Eu sei. – Jensen olhou interessado e surpreso com a agilidade da resposta. – Ficando bom logo! – Jensen retribuiu com outro sorriso, desta vez mais aberto.
Começaram a conversar, tentando se conhecer e passar o tempo. Jensen contou que mudara para Midland em busca de um novo começo, uma nova vida. Como Lauren. A diferença é que ela era natural dali e estava retornando. Ele estava sozinho em um lugar totalmente estranho. De repente, ele ficou em silêncio e lágrimas se formaram em seus lindos olhos verdes.
- Hei, está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame uma enfermeira?
- Não, é que... desculpe... mas parece que não importa para onde eu vá, algo ruim acontece e ... eu estou tão cansado... achei que aqui seria diferente, que eu conseguiria ser feliz, mas... – Jensen fechou os olhos na tentativa de segurar as lágrimas e conter a emoção.
- Não pense assim, Jen. Você foi vítima de uma violência gratuita, mas já passou. Isso não significa que todo o resto será ruim também. Foi só um episódio isolado. Todo mundo passa por maus momentos, mas um dia a vida se cansa de ser dura e melhora. Você precisa ter fé.
Jensen fitou o rosto de Lauren com tristeza. Ela parecia tão certa sobre o que dizia, tão convincente, e falava de modo a transparecer que também já havia sofrido, mas mantinha a força e a esperança dentro de si. Nisso, ela segurou sua mão com delicadeza para não deslocar o soro. Ele apertou a dela em resposta. E não resistiu. Deixou as lágrimas deslizarem sobre seu rosto pálido sem medo de ser julgado.
- Desculpe-me, eu não devia estar te incomodando com a minha autocompaixão.
- Não está me incomodando – disse Lauren em resposta. Jensen tremia levemente. Ela acariciou seu rosto e enxugou suas lágrimas. Em resposta ele soltou um longo suspiro e ensaiou um sorriso. Em vão. Ainda atordoado pela dor e sob efeito dos medicamentos, Jensen fechou os olhos e continuou a chorar em silêncio. Lauren queria poder abraçá-lo e consolá-lo, mas não podia se atrever a tanto. Então, optou por ficar em silêncio acarinhando seu cabelo e segurando sua mão, para que ele soubesse que não estava sozinho. Deu espaço para que ele desabafasse, pois sabia que ele precisava disso. Estava há muito tempo guardando para si o seu sofrimento. Ele aproveitou a brecha e extravasou. Inexplicavelmente, sentia-se seguro com Lauren, apesar de ter recém conhecido a jovem.
Depois de um tempo, ela tentou consolá-lo, dar um pouco de ânimo para ele.
- Jensen, não fica assim – sussurrou Lauren, enquanto acariciava seus cabelos loiros. – Vai ficar tudo bem, você vai ver. E você não está mais sozinho.
Nesse momento uma enfermeira apontou na porta. Lauren fez um leve sinal com a cabeça para que voltasse mais tarde. A moça compreendeu o que estava se passando ao ver o rosto de Jensen vermelho e molhado de lágrimas e atendeu ao pedido. Aos poucos Jensen foi se acalmando até que o choro cessou completamente. Lauren enxugou seu rosto mais uma vez e perguntou:
- Sente-se melhor?
- Sim, obrigado pelo apoio, por me ouvir, por me amparar e... por tudo.
Ficaram mais alguns minutos em silencio, ela enxugando o rosto e acariciando os cabelos de Jensen, na esperança de deixá-lo mais confortável, mais forte.
A enfermeira voltou para trocar os curativos e ministrar medicamentos. Lauren aproveitou a brecha e foi à lanchonete do hospital para comer algo. Quando retornou ao quarto ajudou Jensen a almoçar, pois ele estava com dificuldade de mobilidade graças ao soro, ao gesso e os pontos no abdômen. Depois de um pouco mais de conversa, ele adormeceu.
Lauren então foi até a pousada onde Jensen estava hospedado, buscou um livro e o MP3 para que pudesse se distrair enquanto estivesse sozinho. Também pegou alguns objetos de uso pessoal e voltou. Encontrou-o ainda dormindo, sob efeito dos antibióticos e dos analgésicos administrados para enfrentar a dor e evitar infecções.
A noite chegou e o hospital só permitia a permanência de familiares. Ciente de que Jensen estaria em boas mãos, Lauren foi para seu apartamento. Antes, porém, deixou um bilhete junto à cama. "Não pude ficar, as regras da casa não permitem. Trouxe algumas coisas suas para ajudar a passar o tempo. Se quiser também pode me ligar, não importa a hora. Durma bem e fique bom logo." Assinou e, abaixo de seu nome, deixou o número de telefone.
Lauren dormiu em estado de alerta. A cada mínimo ruído acordava, com medo de não ouvir o telefone, caso Jensen ligasse. Mas não ligou. Ele estava tão abalado que doía só de ver. E ela não podia deixá-lo desamparado numa hora dessas. Chegou a sugerir que Jensen telefonasse para seus familiares, mas ele não quis, para não deixá-los preocupados.
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Na manhã de domingo acordou cedo e foi ao hospital novamente. Jensen estava com um pouco de cor no rosto, mas ainda havia muita dor naquele olhar. Dor que não era apenas causada pelos ferimentos.
- Hei, Jen. Você parece melhor. – Disse, tentando fazê-lo sentir-se mais animado. – Está até sentado na cama...
- Oi, Lauren. Estou sim, obrigado por perguntar. E por trazer minhas coisas. O tempo passa mais rápido quando se pode ouvir um pouco de música.
Estavam conversando justamente sobre o tipo de música que cada um gostava mais, quando o rosto de Jensen se contorceu em uma expressão estranha.
- Jensen? O que foi?
- Uma náusea súbita... tontura... não sei explicar, é estranho...
Prevendo o que estaria por acontecer, Lauren correu até o balcão no lado oposto do quarto e pegou um recipiente metálico, próprio do hospital. Sentou na beirada da cama e disse:
- Está tudo bem, Jensen. Se vomitar vai melhorar.
Não foi preciso dizer duas vezes. Sentindo a boca salivar como defesa do organismo contra a acidez da bile, Jensen projetou o corpo para frente e eliminou o conteúdo de seu estômago, formado basicamente pelo café da manhã recém ingerido. Lauren segurava a pequena bacia com a mão direita e acarinhava a nuca dele com a esquerda, sussurrando palavras de apoio a cada impulso do rapaz. Depois de alguns minutos e sem mais nada para vomitar, Jensen estava ao mesmo tempo aliviado e com dor devido ao esforço, especialmente dos músculos do abdômen. Então deu um suspiro profundo e recostou-se nos travesseiros, seus olhos fechados, tentando recolocar a respiração ofegante em seu ritmo normal.
- Melhor agora? – Lauren perguntou. Em resposta Jensen apenas acenou "sim" levemente com a cabeça. A jovem levantou-se da cama, levou a bacia até o banheiro, despejou o conteúdo no vaso sanitário e lavou-a. Em seguida pegou uma toalha de rosto, umedeceu-a na pia e voltou ao quarto. Na mesa ao lado da cama de Jensen pegou um copo, encheu-o com água e tocou levemente no ombro do jovem.
- Hei, aqui, trouxe um pouco d'água para você tirar o gosto ruim da boca. – Jensen abriu os olhos e aceitou ajuda para sorver um gole do líquido, para em seguida despejá-lo na mesma bacia de antes. Tomou um pouco da água e voltou a recostar a cabeça no travesseiro.
- Obrigado, Lor... – sua voz saiu fraca e ainda mais rouca que o normal.
- Não tem de quê, Jensen. Agora vou passar uma toalha úmida no seu rosto e pescoço para limpar o suor, vai fazer você sentir-se melhor, ok? Já apertei o botão de chamada e uma enfermeira deve chegar a qualquer momento para ver se não abriu nenhum dos pontos da cirurgia. Eu até poderia fazer isso eu mesma, mas não quero passar por cima da autoridade de ninguém aqui dentro...
- Obrigado por ser tão carinhosa comigo.
- Imagina, Jen... – Lauren ficou sem resposta. Ela estava mesmo encantada pelo homem à sua frente, não apenas por ser muito bonito, mas pela doçura e bom caráter que ele deixava transparecer durante suas conversas, em suas opiniões, em seus gestos. Ela sorriu para Jensen e, nesse momento, entrou a enfermeira para atender à chamada.
- Precisam de algo?
- Ele vomitou, tenho medo de que tenha arrebentado algum ponto. – respondeu Lauren.
- Tudo bem, Jensen, vou examinar, ok? Sente dor no abdômen? – perguntou a enfermeira enquanto levantava a bata e retirava o curativo para avaliar o corte.
- Sim, um pouco, acho que foi o esforço.
- Mais algum sintoma diferente?
- Tive náusea, mas passou depois que vomitei. O mesmo para a tontura. Agora sinto só um pouco de dor de cabeça e no abdômen mesmo.
Depois do exame a enfermeira refez o curativo e saiu, dizendo que estava tudo bem e que iria informar ao médico, para avaliar a necessidade de trocar alguma medicação. Jensen ficou com uma expressão preocupada. Ao perceber isso, Lauren tentou acalmá-lo.
- Fique tranquilo, Jen, você está em boas mãos. Deve ter sido algum efeito colateral desse monte de remédios que estão ministrando, contra dor, inflamação, essas coisas.
Jensen ficou quieto por alguns momentos, até que a enfermeira voltou.
- Conversei com seu médico. Dr. Malone não ficou nem um pouco surpreso com a sua reação. Disse que é normal em caso de concussão, por leve que seja, que haja náuseas e tonturas. Não se preocupe. Vamos continuar com a medicação prescrita anteriormente e com a observação. Qualquer coisa é só nos chamar, ok? Mesmo que pareça insignificante.
- Obrigado.
- Não tem de quê. – Dizendo isso a enfermeira saiu, deixando Jensen e Lauren a sós mais uma vez.
- Você quer ficar sozinho, Jensen? Não vou me ofender nem nada se quiser descansar, viu? Pode ser sincero.
Jensen encarou Lauren com um misto de espanto e receio.
- Não... p-por favor... não vá... – Jensen ficou se sentindo uma criança indefesa e insegura, sem saber o que dizer. Respirou fundo e recomeçou. – Desculpe, estou sendo patético, não costumo ser assim, dependente... Deus, que vergonha... – terminou, baixando os olhos.
- Hei, não precisa sentir vergonha de mim. E você não está sendo patético. – Lauren pousou a mão no rosto de Jensen, que fechou os olhos e buscou o contato que lhe dava tanto conforto. – Você está enfrentando uma situação difícil, sofreu uma violência, está sozinho e com dores numa cidade estranha, é normal se sentir um pouco fragilizado. Afinal, você é humano... não vai perder pontos por demonstrar humanidade. Não significa que seja fraco nem nada que o deprecie, ok?
- Como você consegue? – falou Jensen em um sussurro.
- Consigo o quê?
- Sempre ter uma palavra de apoio, de conforto, ver o lado bom de tudo... sempre me fazer me sentir melhor...
Ainda acariciando o belo rosto machucado do loiro, Lauren suspirou.
- Nem sempre consigo, Jen, mas eu tento...
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Passaram o domingo inteiro juntos, naquele quarto de hospital, falando sobre o que cada um gostava de fazer, músicas preferidas, filmes que gostavam de assistir e foram encontrando muitas afinidades. Ao longo das duas semanas em que ele permaneceu internado os dois foram se aproximando. Mas Lauren não ousou perguntar o que havia acontecido que fez Jensen sofrer tanto. Não queria afastá-lo, tampouco ser intrometida. Sabia que, se um dia ele se sentisse à vontade, contaria sua história e ela estaria ali para ampará-lo mais uma vez, pois sabia como era perder tudo, ver sua vida despedaçada e ter de reconstruir tudo. Entendia o sofrimento de Jensen, apesar de não saber o que o causava, pois reconhecia o desamparo, a desilusão e a dor que havia em seus olhos verdes.
TBC
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Ok, aí está o primeiro capítulo da minha nova fic. Espero que tenham gostado e deixem reviews com sugestões. Confesso que estou bem assustada, porque é a primeira vez que publico algo incompleto... Mas enfim, seja o que "Diós" quiser. Nossos demais texanos queridos logo, logo vão mostrar suas carinhas lindas, tenham paciência, meninas.
Bjos,
Deany RS
