Eu Não Quero Esquecer
Começou quando Kurt revirou os olhos em sua direção, depois que você pediu para que ele repetisse o que tinha dito, pela segunda vez. Ele apenas balançou a cabeça e disse. "Não importa, Rachel." E você quis para-lo e dizer que não entendera a metade das palavras que ele dissera, e que você não queria fazer suposições porque Rachel Berry não faz esse tipo de coisa. (Mesmo que você saiba que faz.)
Após a aula, Quinn caminha até você e segura sua mão, sem se importar pelo fato de que ela nunca fizera isso na escola, e você está olhando para seus dedos entrelaçados quando seu ouvido mal escuta as palavras.
"Você precisa ir ao médico."
Você vai ao otorrinolaringologista primeiro, e Quinn segura sua mão na sala de espera, acariciando sua palma com um dedo. Ela abaixa a cabeça se curvando para mais perto, os lábios em seu ouvido quando ela sussurra que tudo vai ficar bem. Você só quer chorar, porque sabe que não vai ficar nada bem: você mal pode ouvir o que ela está dizendo.
O médico verifica ambos seus ouvidos e anuncia que você rompeu os dois tímpanos. Você lembra da infecção na garganta com uma dor tão dolorosa que parecia se estender do seu ombro até a sua cabeça, mas procurou ignorar, uma vez que a dor desapareceu em poucos dias. O doutor disse palavras como infecções crônicas no ouvido, zumbidos e outras palavras que realmente não lhe importam, ele diz que precisa prepara-la para ir ao fonoaudiólogo, e agenda uma tomografia computadorizada.
Quinn toca de leve no seu ombro e diz: "Eu disse que havia alguma coisa errada com a sua cabeça, Berry."
Você sorri, por causa dela.
Você odeia essas salas. Mesmo que você fizesse o que Quinn sugeriu, fingir ser um estúdio de gravação, não há nenhum microfone. Só você e os fones de ouvido e o botãozinho. Uma parte perversa de seus sonhos diz que se apertar aquele botão, todo o departamento de Audiologia pode explodir. Mas Quinn está na sala de espera e, bem, você não quer explodi-la. Então você simplesmente aperta o botão quando ouve os sons, e deixa aos mãos no colo quando não. Brevemente você entra em pânico quando percebe que trinta segundos se passaram desde que você ouviu o ultimo som. Sua respiração vem curta, e tudo em que você pode pensar é que você falhou, você falhou no teste.
E você falhou.
Grave perda auditiva condutiva.
Você olha para o gráfico, tentando entender as pequenas linhas, e se amaldiçoa por não ser melhor em matemática. Então você faz uma careta quando Quinn arranca o papel de suas mãos enquanto o médico fala com você, e por um segundo você se pergunta se Quinn poderia lhe acompanhar ao fonoaudiólogo. Ela está calculando, então é claro que ela entende o que está lendo, e é por isso que os olhos dela estão arregalados e os lábios estão tremendo quando a fonoaudióloga explica que você está sessenta por cento surda em sua orelha esquerda, mas, felizmente, só perdeu vinte por cento na direita.
Felizmente.
Você pergunta se sua audição pode ser recuperada. A sua parte lógica sabe que é uma pergunta idiota, mas a Rachel Berry que foi criada com melodias da Broadway tem esperança. A fonoaudióloga balança a cabeça. Uma vez que se perde, simplesmente se perde.
Você mente para Quinn no caminho até o estacionamento dizendo que está bem, que você é Rachel Berry, pelo amor de Deus, e isso? Isso totalmente não vai arruinar você. Ela olha em sua direção, mas não estende o assunto, e quando vocês chegam em casa, você sabe que ela a está lhe deixando toca-la em todos os melhores lugares porque ela se preocupa com você. Mas Quinn é seu lar, Quinn é segurança, Quinn é... sua chance de esquecer. Você pega estas chances quando pode, quer sejam respadinhas, glee ou... ou isso.
Mais tarde naquela mesma noite ela a abraça quando você desmorona, porque você vê Quinn com o canto dos olhos, trêmula com o volume da TV ligada. E tudo começa a chegar até você: as constantes infecções que você tinha quando era pequena, as alergias, o primeiro assento nas aulas, para que você não se esforçasse para ouvir o professor, a maneira como você pressionava o celular contra o ouvido embora o volume estivesse sempre no máximo. A maneira como Quinn olhava para você enquanto ouvia seu iPod, e depois falava que talvez fosse melhor diminuir o volume?
"Você vai arruinar os seus ouvidos!" Ela ria, sorrindo carinhosamente para você, e você sabe que ela estava certa agora.
Mas é tarde demais, ela estava certa, e você arruinou seus ouvidos.
Você entra em pânico antes da tomografia computadorizada, que resulta totalmente em uma sessão de amassos com Quinn para "acalma-la". Você pensa que tem que entrar em pânico mais vezes. Ela não pode voltar com você, mas ela segura sua mão até chamarem seu nome, e você se pergunta como pode ter enfrentado tantas coisas antes em sua vida sem Quinn. O que é estranho, considerando que ela era a causa da maioria dos seus problemas. Mas as coisas estavam diferentes agora; ela está diferente, você está diferente, e o passado não importa.
É do futuro que você tem medo agora, enquanto você se deita na mesa em movimento, deslizando para trás debaixo da câmera. Você entra em pânico mais uma vez e se move, eles tem que refazer o processo mais uma vez. Então você aperta as mãos do lado do corpo e fecha os olhos, pensando em Funny Girl.
Isso só piora as coisas.
Você volta ao otorrinolaringologista, mas desta vez, você não deixa Quinn acompanha-la. O rosto dela expressa dor, depois raiva, e dor mais uma vez, e você sente mais uma vez: o aperto em seu coração quando quer dizer alguma coisa, mas as palavras simplesmente não vem. Isso não acontece com muita freqüência – você é a Rachel, afinal. Mas quando isso acontece, é um sentimento cru, e você faria qualquer coisa para parar as lágrimas que estão se formando nos olhos de Quinn. Você não pode, então apenas entra no carro e dirige, deixando-a na calçada, com seus pais, na frente da sua casa.
Você não consegue sequer pronunciar a palavra e seu médico tem que repetir três vezes, cada vez mais lentamente que a outra. Colesteatoma. Por alguma razão, depois disso, tudo fica tão impressionantemente claro que você se pergunta o que diabos está fazendo no escritório do médico, enquanto ele lhe diz que você tem crescimentos destrutivos em ambos os ouvidos. E que a única maneira de ser tratado é através de cirurgia. Você se senta, entorpecida e assina os documentos, em seguida, escreve no papel o dia em que você tem que estar no hospital em seu calendário de planejamento.
No caminho para casa, você liga o CD player, para as musicas do Glee que Kurt fez para todos. Você vira o botão até o ultimo volume, grata pela dor em suas orelhas e a vibração pelo seu corpo. Você pensa em todas as coisas das quais sentiu falta, e das quais vai sentir. Os amigos do Glee ao seu redor, suas vozes altas e felizes em uma quase perfeita harmonia. Afinação não importa mais agora. O som dos sinos de vento na varanda, a chuva e o trovão, o sussurro do vento através das arvores enquanto você caminha de volta da escola.
O lado positivo é que você não vai ouvir mais vaias. Você não vai ouvir Manhands ou Treasure Trail ou RuPaul – você nem os ouvia nos últimos tempos, de qualquer jeito, com exceção de Santana até Quinn rosnar e avançar em direção a latina e pela primeira vez em sua vida, Santana Lopez correu. Você não ouviria mais os jogadores de futebol rindo de você.
Essa parte da coisa toda, pelo menos, era um sonho se tornando realidade.
Quando você chegam em casa, Quinn está sentada no sofá assistindo televisão, tentando desesperadamente esconder as lagrimas que caíram pelas ultimas duas horas, e falhando miseravelmente. Você não diz nada, só senta ao lado dela e descansa a cabeça em seu ombro, entregando-lhe os papéis e informações que o doutor lhe dera. Quinn sempre devora cada pedaço de informação quando se trata de sua saúde. Ela lê cada palavra enquanto você muda os canais da TV. Você franze as sobrancelhas quando vê as letras e caracteres na base da tela, e pula do sofá correndo para o quarto (com Quinn em seu encalço) percebendo que ela havia ligado a legenda.
"Eu pensei que ia ajudar!" ela chora, parada ali, olhando para você. Ela parece tão indefesa, e seus cabelos loiros estão desgrenhados na frente do rosto, o rímel escorrendo. Você simultaneamente acha que deve ir embora, porque ela não merece isso; e acha que não deve ir embora, porque ela nunca lhe parecera tão bonita quanto agora.
"Eu pensei que ia ajudar." Ela sussurra quando você fica de pé, e você não pode fazer outra coisa senão abraça-la e beija-la até que ela pare de chorar, mas então é a sua vez de chorar e ser consolada, embora não haja nada consolador nisso, a única coisa que vai quebrar você, a única coisa que tem mais valor que seu estrelato, a fama e a música.
Você nem mesmo pode suportar olhar para ela quando as palavras deixam seus lábios e flutuam no ar.
"Eu não quero esquecer sua voz."
Naquela noite, Quinn fez questão de que cada suspiro, cada palavra que escape de seus lábios, enquanto suas mãos vagueiam pelo corpo dela, saísse diretamente em seu ouvido.
Você tenta manter a essência Rachel Berry no hospital antes da cirurgia, fazendo Quinn revirar os olhos em sua direção mais uma vez.
Mas ela ri quando a enfermeira lhe estende pílulas para relaxar e você zomba:
"Por favor, eu sou Rachel Berry, este tipo de coisa não me afeta... Ooh, cores bonitas!"
A cirurgia leva três horas. Quando você acorda, está sozinha e tenta se levantar, mas mãos gentis seguravam você, e seus pais e Quinn estão esperando você em seu quarto. Os sorrisos deles se estendem sobre você, e então eles pedem licença para apanhar o almoço da cafeteria. Quinn senta ao seu lado. Acaricia seu cabelo, olhando para você com uma expressão amorosa, enquanto ela silenciosamente quebra seu coração.
A crescimento destruiu a maioria dos ossos do ouvido interno em seu lado esquerdo e agora você está completamente surda nesse ouvido. O lado direito não está tão ruim, ainda, mas só vai piorar. Podem conserta-lo com um aparelho auditivo, mas o médico acha que você estará totalmente surda quando tiver 21 anos. Surda no momento em que você e Quinn poderiam começar a ter uma vida de verdade juntas, só as duas.
Você se vira e a implora, entre dentes, para deixá-la sozinha.
Você chora até dormir, e quando acorda, por volta da meia-noite, você sente Quinn ao seu lado na cama, os braços ao seu redor.
Quando ela acorda, encontra você está olhando para ela, ela boceja e sorri, mas o sorriso desaparece quando entende que você está deficiente, ou pelo menos, vai se tornar, que você não pode oferecer a ela nenhum tipo de vida se for surda (mesmo que você saiba que isso não é realmente verdade), e que ela deveria ir embora enquanto ainda tinha chance.
Ela olha para você com aqueles olhos castanhos gelados que você lembra muito bem, e diz, "Cala a boca, Berry."
E você cala.
Nas próximas duas semanas Quinn não deixa você sair da cama, o que é uma tortura, e não a deixa toca-la, e aquilo era um verdadeiro inferno. Quando você finalmente sente seu equilíbrio voltando com força suficiente para que você desça as escadas, Quinn corre para encontra-la no meio do caminho, olhando para você, e você apenas sorri e balança a cabeça.
Então você vê os livros.
Cinco deles, amontoados organizadamente na mesa, e outro aberto.
Língua de sinais.
Você olha para ela. Ela morde o lábio, parecendo incerta. Você olha para ela, depois para os livros e de volta para ela. O medo se misturava com amor nos olhos castanhos, e você não pode culpa-la, dada a forma como você tem agido nos últimos meses.
Glee. Broadway. Estrelato. Isso simplesmente não importa mais. Você desistiria de tudo por ela.
Você não é a única surpresa quando levanta a mão com o polegar, indicador e o mindinho estendidos.
Eu te amo.
Quinn sorri e lágrimas molham suas bochechas quando ela levanta a mão, tocando o polegar, o indicador e o mindinho aos seus.
Aquele é o único sinal que você realmente precisa.
Esse é o primeiro capítulo de uma pequena história com um total de três capítulos. O próximo capítulo vai ser contado pelo ponto de vista da Quinn e o último pelo ponto de vista de... outro alguem. Eu já tenho tudo digitado, então os posts vão ser rápidos. Eu estou meio de TPM e falo mesmo, CHOREI no final de cada capítulo (principalmente no terceiro), culpem os hormônios ou sei lá. História originalmente postada por Dramatricks, sob o título original de The Silence of a Kiss. Beijos e comentem!
