Dragon Ball Z não me pertence.

N/A: Fic curtinha dividida em dois capítulos. Espero que gostem!

Sinopse: Ele não aguentava mais a mulher, o moleque, o idiota, e muito menos o rumo que sua vida havia tomado. Afinal, ele era o príncipe dos saiyajins e nascera para governar...


O que foi e o que poderia ter sido

PARTE 1

"Papai, papai, papai, papaaaaaaiiiiii!"

Vegeta podia sentir a veia da sua testa pulsando, seu tímpano estourando e sua paciência, que nunca fora lá grande coisa, indo por ralo abaixo. O saiyajin contou até dez, abaixou o jornal que estava lendo e, sem se levantar da cadeira da cozinha, olhou para o seu... filho. Sim, aquela pequena criatura de cabelos arroxeados, enormes olhos azuis e um absurdo comportamento hiperativo era sem sombra de dúvidas o seu filho.

"O que você quer, moleque? Não vê que eu estou ocupado?" Perguntou com grosseria.

"Pai... você prometeu que hoje ia levar eu e o Goten no parque!"

Sentindo um enorme pesar e arrependimento, ele se lembrou da nefasta promessa. E como ele amaldiçoava o dia em que prometera aquilo. Porque se já era uma missão horrível ter que levar o seu filho no tal "parque", aquele lugar medonho e cheio de crianças estúpidas, melequentas e muito barulhentas, era pior ainda ter que levar o seu filho acompanhado daquela peste que era o filho do idiota do Kakarotto. E se havia algo que Vegeta não conseguia entender era como o seu filho, o seu herdeiro, o sangue do seu sangue, podia ser amigo do filho daquele palhaço.. aquela vergonha para a raça dos saiyajins. Mas, para a infelicidade do príncipe da tal falada raça, ele fizera mesmo aquela promessa.

"Eu não prometi nada desse tipo! Agora me deixe em paz!" Mentiu sem hesitação e com mais grosseria ainda, levantando-se da cadeira e dando as costas para a criança.

Mas Trunks, como sempre, não se deu por vencido. Ele correu em direção ao seu pai, segurando-o com força pela barra da camiseta. "Prometeu sim, pai! Você disse que se eu conseguisse bloquear todos os seus golpes sem vacilar nenhuma vez você ia levar eu e o Goten pra brincar no parque nesse fim de semana!" Disse o menino com insistência. "E você me disse também que sempre devemos honrar as nossas promessas!"

Honra. Aquela era uma palavra que já significara muito para Vegeta.

Ele já fora um príncipe com honra... um guerreiro com honra... um saiyajin com honra. Mas agora, o que acontecera com o homem que ele costumava ser? O que de fato acontecera com aquele que deveria ser o governante do império saiyajin?

Seu império não existia mais e o mesmo monstro que destruíra o seu planeta há anos atrás o vencera de forma humilhante. E Vegeta nem teve a chance de poder vingar a sua raça quase que extinta, porque a vitória da luta contra Freeza pertencia a ninguém menos que o maldito Kakarotto, um fracote da terceira classe de guerreiros saiyajins. Um palhaço que o superara inúmeras vezes em diversas oportunidades e, para piorar a situação, morrera na luta contra os androides e simplesmente se recusara a voltar à Terra por meio das esferas do dragão, negando a Vegeta a revanche que o príncipe tanto merecia. E pela qual ele tanto ansiava.

E agora, aqui estava Vegeta. Morando na Terra, casado com uma humana e pai de um híbrido terráqueo-saiyajin. E sua honra... bem, ele certamente não a tinha mais.

"Avise aquele inútil do filho do Kakarotto que estamos indo buscá-lo! E que ele esteja pronto assim que chegarmos, porque eu não quero ficar esperando por ninguém!"

"Iupi!" Gritou o menino, seus olhos transbordando felicidade e um sorriso de orelha a orelha estampado em seu rosto. "Nós vamos no parque, nós vamos no parque!" E saiu correndo em busca do telefone, quase trombando com a sua mãe, que por sua vez acabava de entrar na cozinha.

"Nossa... alguém certamente está feliz hoje!" Comentou Bulma, rindo por causa do comportamento do seu adorado, maravilhoso e encantador filho. "Ai, Vegeta, já que vocês vão no parque, será que você poderia aproveitar para passar no mercado pra mim? Nosso estoque de leite está quase acabando e você sabe como Trunks parece um bezerro!" Ela entregou uma pequena lista com algumas anotações para o seu marido, que a amassou e a jogou no chão.

"Eu não vou passar em mercado coisa nenhuma!" Falou malcriado. "Isso não é tarefa para o príncipe dos saiyajins!"

"Escuta aqui, sua majestade, eu sinto te dizer que você não está em Vegitassei e que, aqui na Terra, esse seu título de príncipe barato não vale de nada!" Os olhos azuis da humana faiscavam de raiva. "E enquanto você morar sob esse teto, você vai sim me ajudar quando eu te pedir!"

Vegeta bufava igual a um touro raivoso e tudo o que ele mais queria naquele momento era poder dar uma lição naquela terráquea atrevida. "Como você ousa me dizer uma coisa dessas, sua mulherzinha odiosa! Como ousa me desrespeitar dessa maneira!" Ralhou se aproximando dela de forma muito ameaçadora.

"Me desculpe se eu te desrespeitei." Disse com firmeza e coragem, a cabeça sempre erguida e olhos fixos nos dele. "Mas já está passando da hora de você entender qual é o seu papel nessa casa! Você é o meu marido e o pai de Trunks e deve se comportar como tal."

"Eu não sei porque você reclama tanto, mulher! Eu estou fazendo o meu papel bem até demais!" Ele a empurrou contra a parede e usou o seu próprio corpo para encurralar o dela, impedindo qualquer forma de fuga. "Eu fiquei aqui nesse maldito planeta por causa do garoto. Eu me casei com você por causa do garoto. Eu abri mão do meu verdadeiro destino por sua causa e por causa daquele maldito garoto! O que mais você quer de mim? Me diga, Bulma! O que mais, hein?"

Bulma fez o possível para controlar a sua respiração e para acalmar o seu coração, que batia tão forte em seu peito que ela tinha certeza que a qualquer momento pularia pela sua boca. Ela sentia o corpo dele, trêmulo de raiva e ódio, chocando-se contra o seu, trêmulo de medo e pavor. "E-Eu queria que..." Ela engoliu com dificuldade, as palavras se embaralhando em sua mente e engasgando na sua garganta. "Eu só queria q-que você aceitasse que o seu destino não é mais como príncipe dos saiyajins, m-mas sim... com a sua família. Com a família que você ajudou a construir... e que te ama." A humana fechou olhos tentando evitar as lágrimas que começavam a se formar e, quando os abriu novamente, ela se achou sozinha na cozinha.

Demorou um pouco para que ela fosse capaz de se desencostar da parede, mas ela o fez uma hora. Também demorou bastante para que as batidas do seu coração se acalmassem e para que suas pernas parassem de tremer, e quando ela finalmente se sentiu mais... normal, ela seguiu para o seu quarto sentindo uma necessidade enorme de deitar abraçada com um travesseiro. Mas a mulher ainda deixou a cozinha um tanto atordoada e, por isso mesmo, não notou que o pequeno e amassado pedaço de papel não estava mais jogado no chão. Na verdade... ele nem estava mais naquela casa.

VBVBVBVB

"Você não me pega! Você não me pega!"

"Pego sim, Goten! Eu sou muito mais rápido que você!"

"Mas não é mesmo! Hahahaha!"

"Ah é! Isso é o que vamos ver!"

Os animados garotos corriam pelo parque sentindo a grama verde e gostosa sob seus pés descalços e o sol quente e aconchegante sobre suas cabeças. A brisa fresca balançava os seus cabelos e refrescava os seus corpos suados, fazendo-os mais a vontade naquele belo e ensolarado dia. E enquanto aqueles dois pequenos e inseparáveis amigos brincavam e riam, aproveitando as maravilhas e experimentando de uma felicidade que apenas a infância poderia lhes proporcionar, uma outra pessoa os observava sem muita atenção.

Na verdade, essa outra pessoa os observava sem nenhuma atenção. Porque Vegeta estava tão compenetrado nos seus próprios pensamentos que acabara se esquecendo por completo de vigiar as duas crianças pelas quais era responsável.

Ele havia discutido com ela.

Ele havia discutido com ela por causa de leite.

E por causa de uma porcaria de leite ele havia, mais uma vez, feito a sua mulher chorar. Claro que nenhuma lágrima escorrera por aquelas bochechas rosadas, mas ele percebera como aqueles olhos da cor do mar começaram a ficar perigosamente molhados e como ela começara a lutar contra as lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento. Bulma podia até conseguir se passar por forte, mas ela não conseguia enganá-lo.

Porque ele a conhecia... e a conhecia muito bem.

Ele a fizera chorar... e como ele odiava fazê-la chorar. Ele sabia que era sempre ele a causa daquelas lágrimas, que era sempre ele a causa daquela amargura e daquela tristeza. E ele sabia que ela chorava porque estava decepcionada com ele... porque ele não era o que ela queria que ele fosse. Vegeta queria que ela o compreendesse melhor. Queria que ela fosse capaz de entender o sacrifício que ele fez e que ainda estava fazendo. Ele queria que ela visse que ele estava realmente tentando fazer o melhor possível.

Ou será que ele não estava?

"Eu só queria q-que você aceitasse que o seu destino não é mais como príncipe dos saiyajins, m-mas sim... com a sua família. Com a família que você ajudou a construir... e que te ama." Ele ouvia a voz dela em sua cabeça, ele a ouvia infinitas vezes... de novo, de novo e de novo.

Amor... Esse sempre foi um sentimento complicado para o saiyajin, já que o guerreiro nunca o experimentou antes. Ou pelo menos, nunca o experimentou até conhecê-la. Porque ela o ensinou o que era o amor. Ela, e apenas ela, o mostrou em primeira mão o que de fato era o amor. E ele sabia, sabia com toda a certeza do universo que Bulma o amava, e sabia que o seu filho não só o amava como o idolatrava também. Mas será que... será que ele respondia esse amor? Será que ele, Vegeta, era capaz de amá-los? E se ainda não era... seria ele capaz um dia?

Suas costas se apoiaram já fatigadas contra o encosto do banco, sua cabeça pendendo derrotada para frente, sem nunca desviar o olhar do pedaço de papel que suas mãos firmemente seguravam. Seus olhos negros e repletos de confusas emoções corriam sem parar por aquelas letras, por aquelas palavras, como se elas fossem, de alguma forma, responder suas dúvidas... como se aquela pequenina lista de compras escondesse a solução para os seus problemas.

E enquanto ele estava lá, totalmente imerso no seu mundinho particular, o saiyajin não viu o raio de energia que fora disparado em sua direção e muito menos ouviu os gritos desesperados de duas crianças.

"PAPAI!"

"SR. VEGETA! CUIDADO!"

E, de repente, ele não viu e nem ouviu mais nada.

VBVBVBVB

"Senhor! Senhor! Rei Vegeta, o senhor está me escutando?"

"Hum... o quê?"

Vegeta sentiu sua visão voltar pouco a pouco e, enquanto fazia o possível para ignorar a dor pulsante em sua cabeça, seus olhos atônitos se fixaram na cena que ficava cada vez mais nítida. E cada vez mais estranha.

Estranha porque ele não se encontrava mais no parque, mas sentado num trono que ficava bem no meio de um enorme salão.

Estranha porque ele não estava mais vendo a imagem do seu filho correndo pelo tal parque onde ele deveria estar, mas sim de um preocupado Nappa que o observava bem de perto.

Estranha porque ele não fazia a menor ideia do que estava acontecendo.

"Nappa..." Ele murmurou com assombro, levando sua mão ao queixo e se deparando com uma espessa barba pelo caminho. "Como isso é possível?"

"Rei Vegeta? O senhor está bem?" Perguntou o enorme e careca saiyajin, aflição escrita por todo o seu rosto.

"Eu não sei..." Disse com fraqueza, sem tirar os olhos do guerreiro que ele mesmo matara há tanto tempo. "Você disse rei? Por que disse uma coisa dessas?"

"Sim, senhor... err... porque... err, bem... porque o senhor é o rei dos saiyajins?"

Vegeta se levantou com rapidez e praticamente pulou em cima do homem. "Isso é algum tipo de brincadeira?" Rosnou com ferocidade.

"N-ÃO! Meu senhor, o-o que está fazendo?" Se antes Nappa estava confuso por causa do anormal comportamento do sei rei, agora ele estava com muito, mas muito medo. "Eu não estou entendendo, majestade... não estou entendendo o que eu fiz de errado!"

"O que você fez de errado?" Praticamente ralhou na cara do outro, suas mãos se apertando contra o pescoço do assombrado guerreiro. "Desde quando, Nappa... desde quando eu sou um rei?"

"D-Desde a morte do seu pai, meu senhor..." Balbuciou Nappa. "Desde que Freeza matou o seu pai."

Ao ouvir o nome do odiado lagarto, Vegeta libertou o seu refém e se pôs de pé, olhando-o com desconfiança. "Freeza..."

"Sim... nós fomos traídos por Freeza, mas o senhor vingou o seu pai derrotando o lagarto e assumindo a posição de governante do universo." O gigante careca não sabia o que era mais estranho naquela situação. Se era o fato dele explicar para o rei Vegeta os seus próprios feitos, ou se era o fato do rei parecer surpreso ao escutá-los.

"Eu derrotei Freeza? Você tem certeza disso?"

"Não só tenho certeza como eu mesmo testemunhei a luta! O senhor se transformou no legendário e pulverizou Freeza em um instante!" Disse com uma mistura de apreensão e excitação ao relembrar daquela fantástica batalha e daquela demonstração de poder como nunca antes vista. "O senhor não se lembra?"

Se ele se lembrava de alguma coisa daquelas? Mas é claro que não! Tudo o que estava acontecendo, tudo o que Nappa havia lhe contado era tão absurdo, tão surreal e tão sem sentido que por um instante Vegeta sentiu vontade de se beliscar para ter certeza de que não estava sonhando.

"Eu me transformei no legendário... eu... eu derrotei Freeza!"

"Hum... se o senhor quiser eu poderia chamar Bardock, majestade! Tenho certeza que ele poderá examinar o senhor e descobrir o que está errado com o senhor."

"Não, Nappa... eu... não há nada de errado comigo, eu tenho certeza! Eu estou bem." Ele se sentou novamente em seu trono – o seu trono – e deixou as palavras de Nappa penetrarem na sua mente, absorvendo-as, digerindo-as com acentuado prazer.

Finalmente... finalmente a sua vida parecia estar fazendo algum sentido. Depois de tanto tempo a sua vida parecia, por fim, estar tomando o rumo certo. Freeza traíra os saiyajins, matara o seu pai, e morrera pelas mãos do guerreiro legendário.

E esse guerreiro legendário era ele mesmo, Vegeta! O príncipe, não! O Rei dos Saiyajins!

"O que aconteceu depois, Nappa? O que houve depois que Freeza foi derrotado?"

"Err... bem... o senhor não só virou o rei dos Saiyajins, mas também se auto proclamou Imperador do Universo, assumindo o comando que antes pertencia ao lagarto!"

"Imperador..." O novo título foi pronunciado com cuidado e ganância, com satisfação e avidez, e os olhos do compacto saiyajin começaram a brilhar de uma forma como nunca antes brilharam. "Quantos planetas fazem parte do meu império? Quantos mundos já se curvaram diante do meu poder?"

"Um total de sessenta de três, majestade, e agora estamos nos dirigindo para a nossa próxima conquista!"

"Interessante... muito interessante." Um sorriso maldoso formando-se no canto dos seus lábios, enquanto a ambição e apetite por poder cresciam em seu coração e contaminavam os seus pensamentos, clamando o domínio da sua alma.

"Sim, meu senhor... e era justamente isso que estávamos discutindo antes de... bem, antes desse seu lapso de memória." Ao perceber como a expressão do seu líder se tornava cada vez menos perdida e cada vez mais sedenta de poder, Nappa se tranquilizou e tentou apagar esses últimos minutos de sua mente. Afinal, o que quer que tenha acontecido com o seu rei já estava dando sinais de ter acabado. "Como eu dizia, esse planeta tem se mostrado um tanto quanto rebelde e os governantes já deixaram claro que não irão se render! Eles dizem que estão dispostos a lutar contra o nosso exército!"

"Tolice, Nappa! O que um bando de alienígenas pode fazer contra o meu exército! O que eles podem fazer contra o meu poder! Esse planetinha não terá a menor chance contra a força do único e verdadeiro guerreiro legendário! Nós iremos conquistá-lo... e se não for por bem, será por mal!"

"Foi o que eu imaginei, majestade." Disse o gigante com uma reverência e começando a deixar a sala do trono. "Aposto que esses terráqueos só tem pose, mas não devem durar nem um segundo se resolverem nos enfrentar. E, dizendo isso, Nappa se foi, perdendo a súbita expressão de pavor que surgiu na face do seu soberano.

Ele por acaso disse "terráqueos"?