Cap 1- Uma velhinha que parece não gostar muito de mim;
"Toda uma vida pode mudar por causa de uma só frase?
-Selena...
Pode.
-Você é uma semideusa."
Eu nunca quis isso, nunca fui do tipo que gosta de aventuras, nem sou uma daquelas pessoas malucas que escalam o Everest e constroem a sua casa de garrafas pet só por que querem uma vida diferente das outras. Eu não. Na verdade, eu sempre quis ser normal, então por que isso foi acontecer justo comigo? A garota ruiva estranha que é ignorada por todos?
Meu nome é Selena Vegan.
Tenho 14 anos de idade. Estudava em casa até há algum tempo atrás, e hoje estudo no internato Rainha Elizabeth.
Por que a mudança? Bem, a verdade é que fiquei órfã. O certo era eles ( quando digo eles, quero dizer a justiça do adolescente) me mandarem para um orfanato, mas veja bem, minha mãe era rica, então você acha mesmo que iriam mandar uma herdeira de milhões para o orfanato? Não que eu me vanglorie por isso, o orfanato deveria ser bem mais divertido.
Os alunos do Rainha Elizabeth tem um apelido bastante carinhoso e apropriado para o lugar, Rainha infernal, mas não é por menos. Se você já viu em algum filme como eram as escolas no século passado, então sabe como vivemos no Rainha Elizabeth. Regras e mais regras, normas e mais normas, e sem ter nenhum direito a livre expressão. Se algum dia vier parar aqui, anime-se, pois se você sobreviver ao inferno, sobreviverá em qualquer lugar. Eu mesma comprovei essa teoria.
Eu poderia muito bem começar logo de quando tudo aconteceu, mas acho que é bem melhor iniciar a história de quando as coisas começaram a ficar estranhas.
Em uma tarde de junho, era hora do intervalo e como estava um dia belíssimo, fui comer lá fora. O internato possui quilômetros de gramado, bosques e campo só para os alunos " tomarem um ar", e lá fomos, eu e meu melhor amigo Camden comer embaixo de uma árvore. Comíamos e fazíamos a lição ao mesmo tempo, o intervalo era um de meus únicos horários vagos e eu simplesmente precisava da ajuda dele.
Não sou o que chamam de "aluna aplicada", nunca tirei mais que C- na minha vida e nunca consigo me concentrar nos estudos, tinha dislexia, défic de atenção e hiperatividade, e por isso, eu nunca conseguia fazer o dever sem a ajuda de alguém, nem que seja para ler para mim.
Tentava inutilmente me concentrar no caderno, mas, entenda, toda vez que eu tento ler fico com uma dor de cabeça descomunal e as letrinhas safadas não me ajudavam, ficavam voando da folha nunca parando em lugar nenhum, fazendo ler ser uma atividade bem difícil, isso sem falar que a cada 5 minutos minha mente saía do conteúdo e ia para um assunto totalmente diferente.
Foi aí que aconteceu uma coisa muito estranha.
De repente, eu folheei meu caderno até achar uma folha em branco, e comecei a desenhar nela impulsivamente. Nem sabia o que estava fazendo, minha mão se mexia sozinha, não tinha nenhum controle sobre ela. Quando acabei, olhei estranhamente para a figura que desenhara, nunca havia visto algo parecido na vida!
Era um círculo, e dentro dele haviam figuras extremamente complexas, mas vou tentar descrever, dentro do círculo havia outro círculo, e dentro dele havia um hexágono, dentro do hexágono havia um triângulo, em cada ponta dele havia uns círculozinhos que possuíam letras de alguma língua antiga. Arg, não descrevi nem a metade, o círculo tinha muitos outros símbolos.
Nunca na vida eu havia visto algo como aquilo, será que eu havia imaginado?
Antes que eu pudesse pensar muito no assunto, ouvi Camden gritar -Ah! Droga!
Olhei para o lado e vi o meu amigo com a cara toda suja de comida, quando vi ele tirar o macarrão do cabelo com nojo, senti a raiva começar a se apoderar de mim.
Calma, Selena.
Camden era um alvo fácil, ele era magrinho, baixo e aleijado, quase um imã de valentões. Covardes. Era isso que eu achava deles. Sempre atacavam apenas quem não podia se defender, só não faziam o mesmo comigo por que eu era garota, e isso era trabalho das líderes de torcida.
Mais macarrão voou em direção da cabeça do meu amigo. Olhei para frente com raiva.
Teerance Franklin. 5 vezes campeão juvenil de natação, levou o time de futebol ao nacional, 3° lugar no campeonato de judô, 2° lugar no atletismo, 2° lugar em levantamento de peso, 1° lugar dos mais odiados por Selena Vegan.
-Deixa pra lá, Sê- disse Camden como se soubesse que eu já me imaginava dando um soco naquele miserável.
-É ruivinha, deixa pra lá- disse Teerance imitando a voz de Camden.
A minha raiva subiu ao ponto de eu não ter mais controle sobre mim mesma, ao contrário do que vocês imaginam, eu não dei um soco nele embora quisesse muito isso. Porém, liberei toda a minha raiva sussurrando uma estranha palavra.
-Thyrsta.
Então, o círculo que desenhei no meu caderno começou a brilhar, e Teerance Franklin foi arremessado por alguma força invisível para o outro lado do campus. Ele caiu em uma fonte, e todos em volta riram.
-Selena... você...- disse Camden surpreso
-Eu nem toquei nele!- disse tentando me defender.
Eu não sabia como aquilo havia acontecido mesmo. Mas agora, como explicar isso para a Sra. Prescot, professora de inglês, que estava passando por ali naquele momento e culpou a mim na mesma hora?
E depois dizem que eu exagero quando digo que não nasci com sorte.
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Alguns dias depois, estava caminhando em direção aos dormitórios, voltava da detenção então não estava muito feliz, queria só me deitar e esquecer que o mundo existe. E no caminho, vi algo estranho na sala de telefone.
Deixe-me explicar isso, o Rainha Elizabeth isolava seus alunos de qualquer tipo de tecnologia ( nós sequer podíamos ouvir um rádio!), mas para não nos impedir de nos comunicar com os nossos pais, existia a sala de telefone, eu nunca a usei, vocês sabem porque.
Porém, quando passei na porta da sala ouvi a voz de Camden. Olha, não costumo espionar desse jeito, mas é que eu não sabia nada sobre a família dele, e a curiosidade foi maior do que a ética.
-Não sei o que é certo a se fazer!- disse ele- ela já esta descobrindo sozinha, preciso levá-la!
Então ele parou de falar e ficou só ouvindo a pessoa no telefone.
-Mas estou preocupado com Selena...- insistiu ele, espera, ele estava falando de mim?- Justamente! Se a mãe dela pediu...
Então ele parou de falar, e foi vencido pela pessoa com quem falava- Certo, só mais um pouco- e ele desligou o telefone.
Voltei para o meu dormitório correndo, a minha mãe? O que Camden tinha haver com ela? Eles sequer se conheciam!
O que estava acontecendo?
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No dia seguinte, era sábado, o dia em que podíamos sair daquela prisão domiciliar, porém ao contrário do usual, eu não estava empolgada, não conseguira dormir pensando no que ouvi ontem a noite. Das duas uma, ou Camden conheceu a minha mãe, o que eu acho improvável, ou ele sabe alguma coisa sobre ela que está me escondendo.
Essa última tanto me deixava assustada quanto irritada, eu achava que ele era meu amigo, mas um amigo não esconderia algo importante sobre a minha mãe, esconderia?
Saí do internato mesmo sem ter um destino certo, tentando achar uma solução, sem perceber, meus passos me levaram até o cemitério. Sabia muito bem o que fazia ali. Entrei e fui direto ao túmulo dela.
Uma palavra sobre a minha mãe.
Seu nome era Lola Vegan, ela era uma estilista talentosíssima, seus desenhos foram aclamados pelo mundo todo, ela também era a pessoa mais gentil e humilde do universo. Ela era louca por ervas, nossa casa era repleta de ervas de todo tipo, nunca precisei usar perfume quando ela era viva, sempre estive com o cheiro de eucalipto impregnado no meu corpo, até hoje cultivo elas na minha janela, em sua homenagem.
Parei em frente a lápide que dizia Lola Vegan.
-Como vai, mãe?- disse como se ela fosse responder
Já fazia quase um ano desde que ela se foi, e um ano que a minha vida desmoronou.
-Falando sozinha?- ouvi uma voz dizer
Olhei para o lado, e havia uma velhinha lá, daquelas que usam vestido florido e uma bolsa do tamanho de uma mala.
-Não, estava falando com a minha mãe- respondi
Como já não estava mais sozinha, eu resolvi ir embora, não estava a fim de ser gentil com ninguém hoje...
-Aonde vai?- perguntou a velhinha.
-Para casa- respondi, não que o Rainha Elizabeth fosse uma casa, mas enfim...
Quando já estava de costas, a ouvi dizer – Você não vai a lugar algum.
O que foi que ela disse?
Me virei para perguntar o que ela queria dizer com aquilo, mas não havia velhinha alguma lá.
...E sim um enorme escorpião de uns 3 m de altura.
No primeiro instante, não acreditei no que estava vendo, achava que era fruto da minha imaginação, mas aí a coisa deu um rugido animalesco e eu soube que era bem real, então, fiz a única coisa que se pode fazer em uma situação daquelas.
-AAAAHHHH!
Gritei e corri. O monstro começou a me seguir.
-Você não pode fugir, semideusa!- gritou a coisa com uma voz extremamente rouca.
Do que ele me chamou?
Eu não tinha tempo para pensar nisso então me concentrei em correr. As pessoas na rua me olhavam estranhamente por eu estar correndo e gritando daquele jeito, mas oras, eles não deveriam estar fugindo também?
Continuei com minha fuga quando o ferrão do escorpião lançou um líquido que caiu diretamente em mim. Veneno. Foi rápido, em instantes eu senti meu corpo todo enfraquecer, não conseguia nem andar quanto mais correr, caí no chão sem poder me mecher, o escorpião se aproximava. Eu iria morrer.
Mas... eu não queria morrer, não mesmo, não eu.
Foi então que aconteceu outra vez, como com Teerance, algo se apoderou de mim e eu gritei.
-Taiho!
Então dentro da minha bolsa, meu caderno começou a brilhar, e o escorpião de repente parou de avançar. Na verdade, ele tentou se mexer mas não conseguia sair do lugar, olhei melhor e vi o porque. Ele estava preso. Havia uma espécie de bola transparente prendendo-o.
-Selena!- ouvi alguém gritar, porém o veneno era forte demais, e eu desmaiei antes de descobrir quem era.
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Povo!
E aí? Saudade? O que acharam desse início?
Uma coisa é certa, Crônicas de uma filha de Hécate vai ser BEM mais longa que "o deus dos heróis".
Não se preocupem, fanáticas pelo Percy, ele não só vai aparecer como vai ser muito citado.
COMENTEM!
