Capítulo 1 – Breakfast talk

Amanhecera tarde nesse dia. Eram já 8:44 horas, quando o sol sorrateiramente se mostrou, hesitante e muito débil, quase indefeso saindo de trás das nuvens espessas e asquerosas que o seguraram até aquele momento numa concha de soturnidade.

Era por isso, uma manhã de Dezembro perfeitamente normal, em Godric's Hallow, a casa do seu primo. Marlene acordou a bocejar, e a sua testa distorceu-se com um franzir do sobrolho profundo, À visão que se apresentava nas janelas como um quadro mórbido. Ela gostava de Monnet. Gostava das cores brilhantes da Primavera, não desta passagem taciturna, deixava tão deprimida… Afastando da sua mente estes pensamentos, suspirou e deixou o conforto dos seus lençóis e rica colcha, pesada e cinzenta como o céu, pensando que ao menos se os marauders estivessem cá… bem não iria ser tão aborrecido assim, com eles por perto o dia nunca era monótono ou tedioso. Não implicando que o dia fosse de sucesso. Bom! Se eles ainda lá não estavam em breve estariam. Se não hoje, então amanhã.

Hum…talvez Sirius viesse hoje. Enrugou mais as sobrancelhas negras quase fazendo-as tocar-se, como se, se questionasse a si mesma porque pensara nele. E depois com um encolher de ombros conduziu-se para a casa de banho.

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-Bom dia cara prima. – Ela chegara à mesa de jantar onde os Potters, tomavam todas as refeições, após uma breve luta com um elástico que determinado, se convencera a não largar do seu cabelo, com uma expressão estóica, rígida e solene, tipicamente sua. Raramente mostrava emoções a quem quer que fosse. James inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, como um cachorrinho que quando se lhe ralha, não entende o que fez de errado. Neste caso, ele tentava perceber a sua expressão hoje, deslindar algo de especial na sua cara de pedra. Nos seus olhos safira ou nos seus lábios quartzo. Mas nada. Nada de nada, ela tinha a aparência fria e distante de sempre. Tinham sido raras as ocasiões em que ele não a vira com uma cara perfeitamente escolarizada, sempre mergulhada em indiferença.

Os pais de James não estavam de momento em casa. Provavelmente estavam no ministério, como inomináveis que eram, a fazer as suas acções secretas e a manter o bem na comunidade feiticeira.

Encarando-o do seu lado da mesa, directamente em frente a ele ao lado da sua cadeira, ela esperou que ele se levantasse, para ela se sentar. Afinal ele não tinha tido uma educação de cavalheiro? Com uma careta, e um olhar meio envergonhado meio irritado, ele atendeu à sua silenciosa solicitação, descansando o guardanapo a seu lado e pondo-se de pé. Ela ofereceu-lhe um sorriso amigável, para apenas moderar os seus traços de novo, na sua rotineira expressão imperturbável. Cruzando um calcanhar atrás do outro debaixo do assento da cadeira, ela dispôs o guardanapo no seu colo após alisar quaisquer vincos inexistentes na sua saia branca de tafetá impecável, respondeu-lhe na sua voz habitual que era tão inexpressiva quanto a sua face:

-Bom dia James. Os teus amigos vêm cá a casa este Verão? – Perguntou ela, sem nunca desviar o seu olhar do dele, isso seria simplesmente rude. Porém assim que as ultimas palavras drenaram da sua boca, virou a sua atenção para os croissants apenas a alguns centímetros do seu alcance. Como desviara dele o seu olhar azul celestial, perdeu a maneira convencida como James levantou uma das suas aprimoradas sobrancelhas, o esgar de um sorriso trocista a aguentar-se nos seus lábios finos e rosados.

-Com saudades de alguém, Lene? - Perguntou com um toque de brincadeira no seu tom de gozo e troça. Ela encolheu os ombros e respondeu honestamente como se não tivesse ouvido a zombaria na sua voz:

-Não. Estou apenas aborrecida. - Já não olhava para ele, o seu olhar agora escrutinava o croissant à sua frente enquanto os talheres de prata o vinham retalhar, lembrando-se rapidamente do que ele lhe chamara ela voltou a levantar a cabeça e somou à sua prévia resposta – E o meu nome é Marlene, usa esse ou não uses nenhum, James - James voltou a levar a cabeça ligeiramente para a cabeça, com feições que demonstravam leve divertimento.

-Eu nunca vou descobrir a quem sais a pedra de mármore, que és, Marlene McKinnon. – Suspirou meio divertido e meio desolado. Eram as palavras que ele usaria para responder a alguém que lhe pedisse para descrever a sua prima. Embora de uma beleza inexplicável, quase etérea, com os seus longos cabelos a pairarem-lhe pela metade das costas, negros como carvão mas cada um alinhado com o outro, tão direitos e esticados que poderia doer, e os seus olhos de um azul glacial, ela era não mais que o ideal de beleza perfeita. Mas era feita - ao que parecia - de gelo por dentro. Curioso. Como se o gelo que lhe corria as veias, se demonstrasse na frieza insensível dos seus olhos. Ela era como uma deusa, intocável. Estava aos 17 anos, noiva. Sem nunca ter visto o seu noivo. Se fosse o seu caso ele teria esperneado, gritado e amaldiçoado toda a gente num raio de 20 km. Mas não ela, nunca a perfeita Marlene. Ela tinha dito que não o queria fazer, mas que se assim o era necessário, uma vez que os pais dela eram empresários e fundiam-se agora com outra empresa para continuar o império que tinham construído, ela fá-lo-ia. Casamentos arranjados eram pouco mais que normais na sua família, sempre tinham sido. Porém… ela tinha-lhe confessado, numa das poucas vezes em que lhe dava a conhecer um pouco da sua mente entrelaçada em caminhos laboriosos, que realmente nunca seria impedimento para ela estar com outro homem. Mas imaginar um homem com Marlene, era difícil se não inatingível.

Quebrando a sua habitual austeridade facial ela riu baixinho, a sua voz clara como água.

-Palavras sábias James, palavras sábias - a sua voz estava de volta ao seu habitual tom severo, mas ainda assim pareciam temperada com uma pitada de divertimento.

-é este ano que finalmente te juntas a nós, em Hogwarts? - Ele perguntou com ironia na voz. Não parecia muito interessado na resposta, mas não por rudeza, era mais como se já soubesse a resposta, porém foi parado quando as suas safiras azuis glaciais encontraram os seus olhos cor de avelã.

- O que é? – Perguntou assustado. Marlene podia ser tão arrepiante às vezes. Ela franziu por segundos as sobrancelhas, e depois voltou à sua face inexpressiva, quase inócua, e respondeu-lhe lentamente, arrastando a sua voz.

-sim.

-sim, o quê?

-sim, este ano, parece meu querido primo que, vou deixar Beuxbatons.

-o quê?

Ela quase riu. Quando ele abriu a boca e arfou à surpresa da sua revelação, mas manteve a sua postura, ponto finalmente o ultimo pedaço de croissant na sua boca com o garfo. Ele continuou a olhar para ela, com o choque a contorcer-lhe a testa num franzir das suas sobrancelhas, agora unidas firmemente.

Ela não demonstrou, pela sua expressão qualquer tipo de emoções. Limitou-se a ignorá-lo e alcançar o jarro do leite, e deitar algum numa caneca elegante de cristal à sua frente, olhando para o líquido branco na caneca girou-a levemente, as suas unhas bem cuidadas e polidas, cor de pérola, a baterem ritmicamente no cristal. Depois encolheu os ombros, e voltou de novo os seus olhos para ele.

-Tu ouviste-me. – levou a caneca, lentamente aos lábios e deu um golo subtil, deixando o delicioso sabor enrolar-se-lhe na língua. - Não faças essa cara, podes finalmente apresentar-me essa Evans, de que tanto falas.

A beldade morena, não pode evitar ficar surpreendida quando ouviu o seu primo despreocupadamente lançar aos ares antigos da sua mansão uma gargalhada. Na sala de jantar pairava uma fina camada de pó. Que se revirou ao som do seu riso.

- Tenho de contar aos outros. O Siriusvai adorar isto. - o curioso era a falta de ironia na sua voz

Ela lançou-lhe um olhar confuso, uma sobrancelha alçada mais alta que a outra. Sirius Black? O que tinha Sirius Black a ver com a sua ida para Hogwarts? Eles não eram mais que meros conhecidos. Se bem que tinha de admitir que ele era um dos homens mais atraentes em que já tinha deitado olhos.

-O que é que o Black tem a ver com a minha ida para Hogwarts?

James lançou-lhe um dos seus muito famosos - entre a família e afins - sorrisos marotos, enquanto se levantava para sair da mesa, e disse num tom entusiasmado.

- oh nada, nada…- deixou a sala de jantar centenária, cheia dos seus risinhos, que mais lembravam uma menina pequena com um segredo que ia contar a toda a gente.