AVISO1: Isto não me pertence. Os personagens e algumas referências foram retirados de livros de JK.

AVISO2: Esta fic contém cenas de sexo explícito entre homens. Se não lhe apetece a imagem, não leia.

AVISO3: Essa fic surgiu de um delírio entre uma fic aleatória em que o Harry era um fotógrafo tarado e o livro "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", de Marçal Aquino. Tem muito de visual nela. Espero que agrade. Ela foi adaptada para o III Chall Draco Malfoy do fórum 3V, ainda não julgado até esta postagem. Quando eu souber o resultado, informo – o que deve acontecer antes que eu termine de publicá-la. Ela foi finalizada no dia 11 de novembro de 2007. Contém 3 capítulos e será atualizada semanalmente, todo domingo.

AVISO5: Esta fic possui uma capa linda, feita pela Buh! (obrigada, flor!)

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Retratos

Capítulo 1 – Observando

Um mundo vivo.

Um mundo em movimento. Vivo. Respirando.

Um mundo sem medo. Sem fantasmas. Sem bruxos neuróticos tentando tomar o poder. Sem guerra.

O mundo bruxo transpira paz. Transpira a desordem de seu cotidiano sem dementadores, nem maldições imperdoáveis, nem gigantes ou lobisomens ameaçando ninguém.

Graças a um nome estampado numa folha de jornal que transita pela Inglaterra, ou por qualquer outro país. Não importa. Harry Potter não lê mais jornais bruxos.

Desde que acabara a guerra, cansado, podendo parar finalmente para pensar no que seria seu futuro, Harry se viu envolto com um outro problema: ele era herói.

E isso trazia muito poder e muitas conseqüências e, certamente, muitas entrevistas e tudo o que ele queria era poder parar e procurar um lugar para morar e pensar no que ele ia fazer com a própria vida.

Bem, ele achou um lugar para morar e uma ocupação interessante no mesmo fato. Fato este resumido na culpa que sentiu por ter ferido um fotógrafo de um jornal qualquer, quando sua magia se descontrolou depois de ser perseguido por horas e a máquina explodiu contra o rosto do repórter. O homem ficou bem, e a máquina ficou com Harry, que a recolheu da calçada.

Ele nunca gostou de fotos. Gostava sim, dos outros, mas nunca se sentiu confortável em se deixar fotografar. Nunca uma máquina fotográfica lhe pareceu atrativa e agora ele tinha uma nas mãos. E a curiosidade de ver como era estar do outro lado. O que tinha de tão especial em observar? Talvez... não ser observado...

O incidente com o fotógrafo trouxe mais entrevistas, mais publicidade e muitas, muitas fotos. E isso não era exatamente bem vindo.

A decisão da mudança veio na mesma época em que a máquina foi concertada. Ele estava fugindo novamente de todos a sua volta, mas por um motivo mais nobre do que procurar meios para derrotar um inimigo: precisava procurar a si mesmo. E foi no trem entre a França e a Alemanha, brincando com a câmera, que Harry Potter descobriu que fotografias não eram tão ruins.

Se imóveis ou não, era uma decisão guardada pro momento da revelação. O que importava era o foco, o enquadramento, o "click" certeiro que capturava a realidade, que aprisionava a luz de um momento em uma caixa escura. Guardada pela eternidade. Um momento que não morria, não importa quantas guerras viessem. Ver a imagem surgindo aos poucos no papel em uma sala fria sob a luz vermelha era uma magia a parte. Uma magia trouxa que desenhava cada vez mais o cotidiano de Harry Potter. Até que um jornalista o descobriu: para comprar as suas fotos.

O jornalista era trouxa e o jornal também. E, rapidamente, Harry Potter se adaptou à redação trouxa e ao cotidiano trouxa, cobrindo eventos trouxas, recebendo dinheiro trouxa, fazendo cursos trouxas pra se especializar, mesmo morando em uma cidade mágica como Budapeste.

A cidade tinha um tom entre o amarelo e o cinza velho que parecia permanente (1), e sua luz jogava sobre as pessoas um clima eterno que parecia fazer de suas pequenas ações trouxas algo admirável.

Era, ainda depois de séculos, uma cidade de passagem, dividida entre a história e a modernidade, com seus milhares de rostos transitórios brilhando contra o cinza dos prédios.

Harry se apaixonou por rostos. Pelas formas e pelas cores. Pelas sardas, tão familiares, e pelas rugas. Por sorrisos e lágrimas silenciosas. Por cabelos, e roupas, e estilos. Os rostos nunca tinham nomes, mas eram tão cheios de identidade que ele se sentia capaz de reconhecer qualquer pessoa que já fotografara em meio a uma multidão.

Ele adquiriu uma pequena fixação por observar pessoas em atividades cotidianas. Seus detalhes, coisas, gestos, marcas que mais ninguém pararia pra olhar. A beleza da vida em pequenos detalhes. A vida que não sai em jornais. As vidas que ele salvou. Harry Potter conheceu aos poucos o gosto de registrar um mundo que continua. Vivo. Quase indiferente ao seu nome, sua história, a tudo o que aconteceu.

E quando ele se cansava do amarelo e do cinza e dos rostos sóbrios que passavam pelas ruas de pedras, seu refúgio era o mercado. Um pequeno caos em meio à ordem do mundo. Uma confusão de sons e cheiros que ele tentava capturar pela luz.

Não que lhe faltasse luz. O mercado era uma explosão de cores. Talvez não tantas em Budapeste quanto devia haver em outras partes do mundo. Mas muitas coisas de outras partes do mundo podiam ser encontradas no mercado. Era um território livre, com uma língua própria falada somente pelos vendedores e entendida somente pelos compradores. E em meio a tanta cultura, cor, cheiro e sabor, pessoas bem vestidas, ou não, velhos que fazem os mesmos caminhos todos os dias e crianças que correm aleatoriamente entre pernas, tudo se toca.

No mercado, Harry não busca notícia ou rostos. Busca relações.

A intrínseca relação que há entre o chão sujo e os chinelos xadrez da velhinha curvada que arrasta a sacola sem conseguir erguer os pés. A sutil relação que há entre as mãos entrelaçadas de duas meninas sentadas na guia, esperando alguém. A delicada relação entre a fruta pousada na mão de dedos longos do homem elegante e seu nariz fino.

"Esse homem chamou minha atenção", Harry percebe, intrigado, sentado em seu apartamento naquela tarde, analisando as fotos do dia. Havia fotos demais daquele homem.

Desde o começo, o homem lhe chamou a atenção. Ele era familiar, mas ele não se recordava. Havia visto tantos homens elegantes naquela cidade. O sobretudo preto não era ímpar, mesmo que parecesse demasiadamente caro, idéia reforçada pelo anel de ouro em seus dedos. Até a bengala, que em outros locais poderia ser considerada díspar, era mais corriqueira naqueles lados do globo. Talvez fossem os cabelos, que o fizeram olhar para o homem.

Cabelos longos, loiros e sedosos, caindo em "v" até o meio das costas, destacados contra o negro da roupa, sobre ombros estreitos. Foi pelos cabelos que Harry começou a fotografá-lo. Pensava que era uma mulher em vestes masculinas, mas os traços do rosto, quando o gesto de cheirar a fruta o revelou, eram masculinos. Ele não era velho, devia ter sua idade, uns vinte, vinte e cinco anos, mas havia em seu rosto algo de antigo. Harry sabia que esse era o tipo de traço que a guerra costumava deixar, e isso foi o que o fez parar de fotografá-lo e se aproximar, impulsionado pela familiaridade.

Fechou os olhos e se deixou cair contra o encosto do sofá. Parar de fotografar foi um erro. Se não tivesse parado, agora teria um registro mais fiel do homem e não precisaria ficar quebrando a cabeça, reordenando memórias, para descobrir quem ele era. E porque fugiria. Pois, assim que Harry se aproximou, tocando seu ombro, o homem o encarou, assustado, virou as costas correndo e se diluiu na multidão, desaparecendo.

Era bruxo. Disso ele tinha quase certeza, pois ninguém sumiria tão rápido que não aparatando. Mas havia algo mais nele... Algo próprio... Algo que parecia perdido...

Os olhos.

Harry se sentou de uma vez, reto no sofá.

- Não pode ser.

Malfoy.

Harry&Draco

N/A: (1) Descrição baseada no livro "Budapeste", de Chico Buarque.