Nota: nem House nem Mentalist me pertencem.

Vocês vão notar que a história começa em House, de forma bem típica. No entanto, NÃO SOU FÃ DE HOUSE, portando isso é muito mais The Mentalist.

Tem cenas muito fortes mais pra frente.

Cap. 1 – Rotina e Caos

- Um duplo, sem pepino.

- Vai comer aqui?

- Não. Eu estou pensando em fugir do hospital com o lanche pra comer lá fora. Odeio o olhar faminto dos pacientes em jejum.

A mulher do balcão torceu o grande nariz vermelho e entregou o pedido, tendo a liberdade de apertá-lo antes de fazê-lo.

Não era um dia bom. Aliás, não era um mês bom. Mas pra que se importar? House coxeou até o outro lado do corredor, bem a tempo de ouvir uma gritaria na porta de entrada. Nada fora do normal. Há dezoito anos como médico, há dezoito anos todos fazem o mesmo escândalo quando um idiota que resolveu empinar uma moto a cento e cinqüenta por hora aparece com a cara esfolada. Qual o grande problema nisso? Os pais choram, a mãe se culpa, e o garoto rico faz uma plástica, antes de voltar a correr da mesma forma.

Cerca de cinco enfermeiros passaram empurrando a maca velozmente até a pediatria. Cuddy estava a frente do grupo, com aquele rosto de preocupação. Impressionante como ela ainda se importava.

De onde estava não pôde ver o rosto do paciente. Ou talvez não tenha tentado o suficiente. Fato é que desviou o olhar e tentou andar o mais rápido que pôde até o banheiro mais próximo, assim que viu Cuddy vindo até ele. Entretanto, duas pernas são mais rápidas do que uma e meia.

- A garota tem sete anos e está tendo parada cardíaca.

- Ela vai morrer. – disse House, ainda andando.

- Nós podemos salvá-la por enquanto.

- Ótimo! – e continuou andando.

- House, quero você nesse caso.

O médico parou, segurou a bengala à frente do corpo e virou-se para Cuddy.

- Convença-me.

- Ela vai morrer!

- Ops, acho que eu já fiz esse diagnostico antes.

- House, ela tem sete anos e está tendo uma parada cardíaca.

- Eu vivo dizendo que a geração de hoje come lanches demais. – e deu uma grande mordida em seu sanduiche.

- Por que não quer pegar o caso?

- Ela tem sete anos e está tendo uma parada cardíaca. Na verdade, ela pode estar morta nesse momento. No mínimo comeu uma dessas coisinhas que a gente coloca no alto, escrito "você morre se comer". Crianças de sete anos sabem ler?

- Duas semanas longe da clínica.

- Você se importa tanto assim?

- Por Deus, House, ela tem sete anos!

- E você acha que a vida de uma garota de sete anos vale tão pouco? Acha que pode comprar a saúde dela por suas semanas longe da clínica?

- Três semanas. Se ela sobreviver.

- Feito.

...

- A garota teve… um ataque cardíaco – disse House, enquanto escrevia no quadro.

- Dificuldade pra respirar. – adicionou Chase.

- A empregada disse que a garota vomitou muito essa semana, além da diarréia, mas achou que fosse uma intoxicação alimentar. Levou a garota pra um pronto socorro, e lá lhe deram soro e mandaram pra casa. – narrou Foreman.

- Não é normal acharem que vômito e diarréia por uma semana seja por causa de comida. – disse House.

- A empregada também teve alguns sintomas, mas melhorou. De acordo com ela, o que teria feito mal era um frango que comeram no inicio da semana. Entretanto, - continuou Cameron – a menina mostrava melhora e no dia seguinte piorava de novo.

- Os sintomas são claramente de intoxicação. Alguém duvida disso? – perguntou House.

- Bem, o corpo está querendo eliminar alguma coisa. Mas certamente não está conseguindo. – disse Chase. – Colhemos sangue e urina, e não há toxina alguma em nenhum dos materiais.

- Se eliminarmos a possibilidade de intoxicação, temos…

- Infecção. – concluiu Cameron.

- Ela apresentou mais algum sintoma?

- Dor abdominal.

House encarou Chase.

- Algum sintoma que não seja causado pelas contrações naturais do estômago quando se vomita por uma semana.

- Não que a empregada tenha dito algo. Mencionou falta de ar, mas disse não ser nada representativo – respondeu Foreman. – Poderia ser intoxicação por fosfato.

- Teria sido detectado na urina. – corrigiu Chase, antes que House pudesse fazê-lo.

- Ok. Então se trata de uma infecção. Está afetando o trato digestivo da garota, mas a questão é: por que o coração? Doutor Foreman, alguma sugestão?

- Há um artigo recente sobre bactérias que atingem o coração. São transmitidas por ratos. Mas ela não explica criança vomitar, ou…

- Nenhum dos outros sintomas. – concluiu House, antes que o médico acabasse de falar. Pensou alguns instantes, sendo que nenhum dos outros três ousou interromper. Até que finalmente lhe ocorreu: - Nem intoxicação nem infecção. O que acham de… - e escreveu na lousa, rapidamente, enquanto ditava – Bulbo raquidiano.

- Um pedaço do cérebro responsável pela respiração, batimentos do coração, pressão arterial? – disse Chase como se não fosse importante.

- Também controla alguns movimentos mais simples, como piscar os olhos, mastigar…

- E vomitar. – adicionou Cameron.

- Um tumor cerebral? Numa criança de sete anos? – discordou Foreman. – E quanto à diarréia? Não tem nada a ver com um tumor no cérebro.

- Eletroencefalograma, tomografia e ressonância. – ordenou House. – Agora.

Foreman, por outro lado, levantou-se irritado e encarou o médico, o qual, claro, não se deixou abalar.

- E quanto à diarréia? Vamos apenas eliminar um sintoma só porque queremos?

- Ela tem sete anos. – disse House. – Crianças de sete anos têm diarréias. Como podemos saber se isso é realmente um sintoma?

- É, como podemos saber, não é? Talvez o ataque cardíaco não seja um sintoma também. – e saiu da sala.

...

Apesar de inicialmente não querer o caso da garota, agora era tudo que havia em sua cabeça. Isso porque não acreditava realmente num tumor no cérebro. Explicava a maioria dos sintomas, mas ela era nova demais para tal coisa, e não apresentava sinais de dor de cabeça. Quando o paciente é velho, trás marcas de todo tipo pelo corpo. Drogas, sexo sem proteção, antigas fraturas, acidentes médicos prévios. Porém nada disso se aplica a uma criança de sete anos.

No histórico da família não havia nada relacionado a tumores. Nem diabetes. Nem sequer uma gripe.

Mas há certa fama que ele aprecia em crianças: crianças não mentem.

Por isso, House foi visitar seu paciente.

A garota era loira, bastante magra, corpo pequeno, menor do que devia em sua idade. Olhos grandes, verdes. Lábios muito finos, que se mantinham abertos.

House sentou-se na cadeira ao lado do leito. A menina ficou observando-o, silenciosa, esperando alguma reação por parte do adulto.

- Como está se sentindo hoje…

- Isabelle. – ela disse, numa voz suave.

- Como está hoje, Isabelle? Falta de ar?

- Um pouco.

- Onde está sua mãe?

- Em Paris. – Ela respondeu, sem mudar seu olhar, sem desviar os olhos grandes e verdes.

- Quem te trouxe?

- A babá e o papai. – ela respondeu, com a voz um pouco mais rouca.

- Sente mais alguma dor?

- Não. – seu peito subia e descia cada vez com mais dificuldade.

- Nenhuma dor de cabeça?

- Um pouco. Mas acho que é o quadro balançando.

House olhou para um quadro de paisagem na parede logo à frente a cama. Estava imóvel.

Foi naquele momento que ouviu ao fundo uma voz feminina, desesperada, gritando pelos corredores "me deixem passar, é minha filha, é minha filha!".

House então se levantou, viu a mulher aos prantos entrar no quarto, abraçar a garota. Preferiu se retirar.

Sentada na sala de espera, estava uma mulher negra, jovem e atraente, porém aparentando mais uma paciente da clínica, pois não parecia bem. Sua mão estava na cabeça, sua expressão era de dor. Era a tal babá.

- Socorro! Alguém ajude!

Era a mesma voz da mulher anterior, gritando a plenos pulmões, na porta da sala da garota de sete anos. Muitas enfermeiras correram para o local. Logo depois Chase e Cameron.

Foreman também apareceu, mas foi direto falar com House, correndo.

- O teste dela deu negativo em todos os exames. Não tem nada no cérebro dela.

Não que lhe fosse uma surpresa, mas um ataque repentino da garota lhe cobrava um segundo diagnóstico. Preciso dessa vez.

O problema era que House não acreditava que poderia salvá-la. O que quer que tenha acontecido, o que quer que ela tenha, já a agrediu demais. Demais para o corpo de uma criança de sete anos.

- O que causa dores abdominais, diarréia, ataque cardíaco, vômito e falta de ar?

- Agora diarréia virou sintoma?

- Não, tem razão, vamos apenas assisti-la morrendo. Será que ainda dá tempo?

Foreman bufou nervoso.

- Quem sabe outro órgão pressionando o coração.

- Ou pressionando tudo. – concluiu House. – Quem sabe o intestino.

- Está pensando no intestino inchando? Se isso for verdade… - Foreman olhou para o grupo de médicos desesperados no quarto dela – Se já causou um ataque cardíaco, ela não teria muito tempo de vida.

- Ela não tem muito tempo de vida de qualquer forma.

Então uma mão pousou no ombro de House. Ao se virar, era a mulher negra que tinha visto aparentemente com dor, a babá da menina. Agora ela mal respirava.

- Por… favor… me ajude…

Foi tudo que disse, antes de cair desmaiada.

Então tudo virou caos.

Cameron surgiu de algum lugar, ajudando a levantar a mulher.

- Que está fazendo aqui? – bradou House – Vai cuidar da garota!

- A garota está morta!

Como dito, caos.

...

Cuddy simplesmente fingia que não estava ali.

Então ele simplesmente precisava dar a notar que estava ali.

Por isso o delicado pato de vidro sobre a mesa sofreu um ataque da bengala de House, e acabou ao chão.

- Opa, espero que a Cuddy não veja quando voltar. – disse, encenando preocupação de forma infantil.

- O que você quer, House?

- Ora, vejam, ela está aqui.

- Diga logo.

- Quero fazer uma autópsia na menina.

- Não, agora pode ir.

Como se ele realmente achasse que seria fácil.

- Eu preciso descobrir o que ela tinha.

- Isso não interessa a você.

- Interessa. Interessa muito.

- Me dá um único motivo pra interessar tanto assim.

House se deliciou com os momentos antes de começar a falar.

- Bem, a mãe da garota estava em Paris. Ela estava sendo cuidada pela babá e por um pai, como posso dizer? Ausente.

- E?

- E que a babá dela está nesse momento, na sala que a garota costumava ocupar, com exatamente os mesmos sintomas. Eu posso demorar uma semana para diagnosticar, ou posso abrir a menina e ver de uma vez por todas o que afetou as duas, mas não o pai.

- Vai precisar da permissão do pai e da mãe pra isso.

- Pode conseguir isso pra mim?

Cuddy o encarou com seu melhor ar de desprezo.

- Ok, nada que eu não possa pedir para os pais. – disse House, virando-se para sair.

- E não se esqueça que tem hora na clínica hoje.

- O que? Pensei que estava livre disso por três semanas.

- Eu disse que estaria livre por 3 semanas se a garota sobrevivesse.

House bufou nervoso e saiu da sala.

Ao entrar no elevador para ir ao andar da clínica, se deparou com Cameron.

- Cameron, eu tenho que cumprir horários na clínica, e Deus sabe o quanto estou ansioso por isso, mas preciso antes falar com os pais da menina. E bem, aqueles narizes escorrendo não podem esperar, não é?

- Quer que eu faça clínica?

O elevador parou.

- Sabia que entenderia. – e House deixou o elevador, que se fechou logo em seguida.

Caminhou até a sala de espera, e sem surpresa, não achou a mãe da criança, apenas o pai. Sentado, lendo revista. Afinal, a filha já morrera, por que se importar com a empregada?

House então sentou ao lado do homem, como se falar com outro ser humano fosse insuportável para ele (e realmente era).

- Olá, senhor, eu estou aqui para dizer que a sua empregada tem o mesmo que sua filha tinha.

- Isso significa que ela vai morrer?

- Sim. A menos que me permita fazer uma autopsia para descobrir o que ela teve.

- Por mim tudo bem.

- Ótimo. Mas preciso que você e sua esposa assinem um documento, já que não vai ser a autópsia oficial.

O homem suspirou e baixou a cabeça.

- Acho que ela não vai aceitar.

- Por que?

- Ela ia demitir a empregada de qualquer forma. Não serve apenas a minha assinatura?

- Se matar sua esposa até amanhã, sim, serve. Mas isso seria considerado crime, acho.

- Eu vou falar com ela. Ela está na recepção, cuidando da papelada para remover o corpo.

- Sério? Ótimo! – disse House, levantando-se – Eu volto logo com o papel para que assine.

Antes de trazer o papel para o pai, House tratou de passar pela recepção e encontrar a mãe, chorosa, assinando alguns documentos. O médico mexeu a boca, esforçou-se para dar a notar que se importava, caminhou até ela, pôs a mão em seu ombro e disse:

- Sinto muito. – e colocou o papel da autópsia no meio dos papeis – Esqueceram te entregar esse.

A mulher da recepção olhou para House com cara de desconfiada, mas não disse nada. Já a mãe, assinou sem ler. E até estranhou pelo médico ter puxado o papel assim que ela acabou de assinar, tratando de deixar o lugar rapidamente. Aquilo certamente traria problemas com Cuddy, mas advogado nenhum no mundo poderia provar que ele a forçou a assinar.

Voltou à sala de espera e entregou o papel ao pai da criança morta. Ele leu brevemente e pareceu se assustar ao ver a assinatura da mulher ali.

- Quando ela assinou isso?

- Semana passada.

- O que?

- Agora de pouco, a encontrei na recepção.

O pai, ainda que desconfiado, assinou e entregou. Ainda naquela tarde, House realizou a autópsia.

O resultado o assustou.

Bateu na porta de Cuddy. Ela gritou de lá de dentro que estava em reunião. Então House abriu a porta, entrou e deixou um papel sobre a mesa.

- Eu não disse que estava em reunião?

- Sim.

- Então?

- Seu ponto é…?

- Por que entrou?

- Por que você disse que estava em reunião, logo eu concluí que não poderia se levantar para abrir a porta, então entrei.

- Estar em reunião significa que você não pode entrar.

House olhou para o homem que estava sentado à frente de Cuddy.

- Por que? Estavam fazendo algo que eu não podia ver?

- Diga logo o que você quer.

- Ah, vai encontrar tudo no papel, mas se quiser eu posso dizer. A propósito, eu fiz a autópsia. – após ver a cara de ira se formando no rosto da chefe, acrescentou – Com a permissão dos pais.

- E isso é um relatório? – estranhou, pegando o papel que House deixara sobre a mesa.

- Completo.

- Você fez um relatório? – perguntou, quase em choque.

- Pode ver.

Cuddy pegou o papel, o virou e notou que só havia uma frase escrita nele, com a letra horrível de House.

A garota foi assassinada.

- O que isso significa? – perguntou Cuddy.

- É uma nova gíria para "quer transar comigo?".

A face de ira de Cuddy se formou por completo dessa vez.

- Significa que havia glicosídeos cardiotóxicos no rim dela. Rim completamente destruído, a propósito. Pequenas quantidades, apenas residual. Caso não saiba, essa é uma toxina encontrada em plantas.

- E…? A garota não pode ter comido uma folha do jardim?

- Você comia folhas aos sete anos?

- E pretende acusar alguém de assassinato ignorando completamente essa hipótese?

- Claro que não. Acontece que se a garota tivesse apenas comido uma folha, ela morreria em, no máximo, oito horas. Claro, se fosse quantidade suficiente. Se fosse um pouco menos, o organismo a faria vomitar toda a toxina em pouco tempo. O que não aconteceu. Ela demorou uma semana para morrer. A empregada disse que ela vomitou a semana inteira, melhorava e em seguida piorava, o que me leva a crer que ela tomou várias pequenas doses da toxina a semana inteira. O corpo eliminava, ela tomava de novo, até que o efeito cumulativo a destruiu por dentro, chegando a um ataque cardíaco. Não só isso, sua visão estava completamente turva. Disse que o quadro à frente dela estava balançando. A toxina não foi detectada no exame de urina, porque seus vestígios foram eliminados pelo corpo há algum tempo. Ela morreu pelos efeitos que a toxina causou enquanto ainda não era mortal.

- Ainda não me convenceu que foi assassinato.

- Digamos que não havia vestígio de celulose no intestino dela. Ou seja, ela não comeu folha alguma, nem nenhuma parte da planta. Tomou apenas o veneno, extraído. Destilado, eu arriscaria. E, acredito eu, a menina não sabe fazer uma destilação, nem teria o interesse de colocar uma folha por dia, num destilador, para tomar o conteúdo em seguida, nem por acidente.

- Então acha que alguém mataria uma criança de sete anos? Pra que?

- Isso não é comigo. Agora tenho que desintoxicar a empregada. – e saiu da sala.

Cuddy suspirou, olhou para o advogado com quem conversava até a interrupção de House e pediu desculpas.

- Devia ligar pra policia. – disse ele.

- Algo me diz que isso vai me dar muita dor de cabeça. – ela alegou, porém pegou o telefone para discar para a policia.

...

Bem longe dali, numa agência da policia chamada CBI, Lisbon desligava o telefone naquele momento.

- Temos um caso em New Jersey.

- O que? – disse Cho – New Jersey?

- Eles não têm policia lá? – reclamou Rigsby.

Patrick Jane, que até então estava deitado em seu sofá, se levantou e ia saindo, quando foi interrompido por Lisbon

- Onde vai?

- Fazer as malas! – respondeu, sorrindo.

Vamos ver como Jane, que odeia médicos, vai encarar House, um cara tão inteligente quanto ele xD