Disclaimer: Love Hina não me pertence, e sim a Ken Akamatsu; eu apenas peguei os personagens emprestados.


SEGUNDA CHANCE

Quatro anos. Ele decididamente não havia imaginado que seu casamento fosse desmoronar tão rapidamente. Talvez tivesse culpa, em parte, por causa do seu trabalho, que muitas vezes o mantinha até mesmo longe do país. Mas, nesse sentido, sua esposa também não se mostrara muito flexível, até que chegara a um ponto em que o casamento ficara insustentável.

Por isso, Keitarô Urashima agora estava morando sozinho em um apartamento. Não tinha a intenção de fazer as pazes com Naru, porque isso fora algo que ele já tentara bastante, mas as brigas nunca tinham fim.

E, de fato, ele não apenas queria dar um tempo. Estava decidido, e por isso dera entrada nos papéis de divórcio, porque tudo tinha o seu limite. E o amor que um dia ele já sentira por Naru já acabara.

Mas a pergunta que ele sempre fazia a si mesmo era: como seria a vida dele, quando tudo estivesse definitivamente acabado ?


Naquela noite, ela tinha acertado de ir ao cinema com uma amiga; mas tudo acabara saindo de forma diferente, e não conforme o script, pois, logo pela manhã, essa sua amiga telefonou-lhe dizendo que não poderia ir porque amanhecera gripada.

Mas, já que tinha mesmo guardado o dinheiro para isso, decidira ir sozinha. Não era bem o programa dos seus sonhos, ainda mais naquela noite abafada do começo de julho. Mas ainda assim era melhor do que ficar em casa, sozinha e assistindo à TV; não que ela nunca fizesse isso. Porem, de fato ela estava precisando sair para se distrair um pouco.

Aos 23 anos - faria 24 em novembro de 2009 - , Shinobu Maehara era formada em Psicologia na Toudai, e há dois anos exercia a profissão. Já não morava mais na Pensão Hinata; tinha se mudado para Tóquio desde que conseguira ingressar na universidade. E também já não era a garota tímida e insegura de antes.

A princípio, ela tinha mantido, ainda, algum contato com as outras garotas da pensão, mas, com o passar dos meses, o contato com quase todas elas foi rareando. E, pelo que ela sabia, atualmente Kanako, que voltara a ser a gerente, Kitsune, que continuava responsável pela Casa de Chá Hinata, e Ema, continuavam morando na Pensão Hinata. Quanto às outras, cada uma delas seguira a sua vida.

Também não tivera mais notícias de Keitarô e Naru, e sentia muito por isso. A verdade era que Shinobu ainda era apaixonada por ele, e, se quisesse ser honesta consigo mesma, gostaria que ele soubesse disso. Mas não invejava Naru. Ela era bela, inteligente, e os dois tinham feito a promessa que era de conhecimento de todos. Ou seja, na opinião de todos, inclusive da própria Shinobu, eles estavam mesmo destinados a estarem juntos.

Ela, inclusive, já tinha namorado com alguns rapazes, mas nunca tivera nada muito mais sério. Claro, ela não queria continuar apaixonada para sempre por alguém que estava fora do seu alcance, e tampouco pretendia que essa situação permanecesse imutável, mas também não ia ficar com outra pessoa se realmente não gostasse dela.

Quem sabe se o destino não estava reservando alguma surpresa para ela, naquela noite ?, foi o último pensamento de Shinobu antes de sair de casa. Sorriu, meneando levemente a cabeça. Não havia deixado de ser romântica. Mas bem que ela queria que fosse mesmo o caso...


Ele tinha acabado de comprar o seu ingresso, no cinema. Decidira-se por um romance. Mas ainda ia demorar um pouco para o filme começar, e por isso ele decidira caminhar um pouco pelo shopping center.

Tinha decidido não ficar em casa naquela noite, e, aliás, também deixara o celular desligado, porque não queria ser incomodado, principalmente por Naru. Ir ao cinema, e sozinho, não era o melhor dos programas, mas antes isso do que passar mais uma noite solitária em seu apartamento.

Após andar um pouco, Keitarô entrara em uma loja de roupas, e após ter escolhido dois conjuntos e ter pago no caixa, ao virar-se para deixar a fila, chocou-se contra uma moça, que foi de encontro ao chão.

- Desculpe, eu sinto muito ! A culpa é minha, eu sempre fui muito descuidado ! Está tudo bem com você ? - e Keitarô estendeu a mão para aquela moça que tinha caído sentada no chão. Que, por alguns instantes, pareceu ter ficado sem palavras ao vê-lo.

Ele ficou preocupado.

- Está tudo bem mesmo ?

- Sim ! Não se preocupe, não foi nada demais.

- É que eu fiquei preocupado, porque você não respondia nada...


E Shinobu não respondera nada de imediato porque não acreditava no que tinha acabado de acontecer. Ela não tinha escolhido nada, e estava dando apenas uma olhada nos produtos daquela loja, para matar o tempo, enquanto não chegava a hora de começar o filme que ia assistir, pois já tinha pago pela entrada há algum tempo. E ela já ia reclamar com a pessoa que tinha se chocado contra ela, mas não foi capaz de fazer isso, porque tinha ficado temporariamente sem voz, ao ver quem era a pessoa em questão.

Era um homem alto, de feições serenas e que denotavam preocupação com ela. Tinha os cabelos castanhos e curtos, os óculos de aros quadrados, e o rosto ainda era facilmente reconhecível. Quantos anos ele devia ter agora ? Provavelmente uns trinta anos, ou quase isso...

Bem à sua frente, estava a última pessoa que Shinobu esperaria encontrar naquela noite: Keitarô Urashima.

- Estou bem - ela afirmou, quando conseguiu voltar a falar, e aceitando a mão que ele estendeu para que ela se levantasse - É que fiquei surpresa quando vi você - a expressão dele indicava que ele não entendera; provavelmente não a tinha reconhecido - Keitarô, não está me reconhecendo ? Sou eu, Shinobu Maehara, ex-moradora da Pensão Hinata.

Ele agora ficara surpreso, e olhara-a minuciosamente por alguns segundos. Talvez ele não acreditasse se outra pessoa tivesse lhe dito quem era ela. Mas, aos poucos, foi reconhecendo-a... e ela estava muito, mas muito mais bela do que antes, ele tinha de admitir.

- Nossa, é você mesma, Shinobu ? Eu realmente não tinha reconhecido você ! Mudou bastante... e para melhor, aliás. Você está muito mais madura e mais atraente.

- Puxa, muito obrigada ! - ela agradeceu, não sem ter ficado um pouco vermelha, ao ouvir o elogio vindo de Keitarô - Já você não mudou muito, para ser sincera... mas, quanto à parte final do seu comentário, eu digo o mesmo sobre você !

Ele também ficara um pouco sem jeito, ou ouvi-la dizer isso.

Bom, fora um reencontro em circunstâncias não muito usuais, mas Shinobu estava feliz por ter voltado a encontrá-lo.

- Veio comprar algo aqui ? - ele perguntou-lhe.

- Não, eu só estava matando um pouco o tempo, enquanto não começa o filme ao qual eu vim assistir - ela deu uma olhada no relógio, e sobressaltou-se - Aliás, já está quase na hora de começar a sessão ! Mais um pouco, e eu ia acabar me atrasando ! Vou indo, então ! - ela fez um gesto de despedida.

- Espere, qual é o filme que você vai assistir ?

Ela disse o nome do filme, e ao ter ouvido o nome, novamente ele ficou surpreso.

- Eu também paguei uma entrada para este filme ! - Keitarô exclamou - Você veio assisti-lo com alguma amiga ? Ou namorado ?

Ela balançou a cabeça negativamente.

- Não, eu vim sozinha. Eu viria junto com uma amiga, mas hoje ela amanheceu adoentada. E não tenho nenhum namorado - "muito provavelmente por amar você até hoje", Shinobu incluiu, em pensamento - Mas decidi vir mesmo assim, porque eu não queria ficar sozinha em casa hoje à noite.

- Também estou sozinho. Então, você aceita me fazer companhia, no cinema ?

Shinobu só responderia "não" se estivesse totalmente louca ! Nunca iria dispensar a oportunidade de, mesmo que por duas horas, no máximo, estar apenas na companhia de Keitarô, e foi com bastante entusiasmo, e com um autêntico sorriso no rosto, que ela aceitou o convite.


Aquele incidente transformara completamente o que tinha tudo para ser um programa não dos mais animados. De fato, o filme fora, apesar de simples, belo, e, para sua sorte, com final feliz. Já que, de finais infelizes, para ele, já bastavam os que a vida real proporcionava. E realmente a companhia de Shinobu fora bastante benéfica, pois, na companhia dela, Keitarô pudera realmente se divertir enquanto assistia ao filme.

Depois que o filme terminara, ele convidou-a para fazerem um lanche, e os dois foram até uma das lanchonetes próximas ao complexo de cinemas. Shinobu apenas quis beber uma Coca-Cola, e Keitarô, que também não estava com muita fome, fez o mesmo pedido.

Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio.

- O que você tem feito, Shinobu ?

- Bom, atualmente eu estou morando sozinha em uma casa. Não é nenhuma mansão, mas, para mim, ela é espaçosa o suficiente. Pelo menos tem dois quartos, banheiro, sala e cozinha. Já vi casas bem menores. E me formei em Psicologia na Toudai. Há dois anos eu exerço essa profissão. Antes de me formar, precisei de alguns trabalhos temporários como o de garçonete e o de atendente... mas consegui me formar.

Keitarô ficou bastante impressionado. Ela tinha mudado bastante, e ele comentou isso.

- Não sei se mudei tanto assim... em parte, é a você que devo isso – ele ficou um pouco sem graça ao ouvir isso; em seguida, ela mudou o foco: - Mas e você ? Como está a sua vida ? Ainda tem feito muitas escavações pelo mundo ?

- Bom, não tanto quanto antes... na verdade, atualmente eu estou dando palestras sobre Arqueologia na Toudai.

- E quanto ao seu casamento ? Como você e Naru estão ?

Essa pergunta fez com que Keitarô imediatamente ficasse com uma expressão mais sombria, e aquilo, felizmente, foi algo que Shinobu não deixou de notar. E, por este motivo, ela preferiu não insistir no assunto. Não queria de modo algum estragar um encontro, que, até ali, estava sendo perfeito.

E nem ele queria estragar tudo falando sobre aquele assunto. Não naquele momento.

- Tudo bem, não precisa responder, se isso de alguma forma incomoda você.

- Não leve a mal... mas, pelo menos hoje, esse é um assunto no qual eu não gostaria de tocar.

Ela compreendera, e, felizmente, não fizera mais perguntas a esse respeito. Os dois continuaram conversando ainda por mais algum tempo, até que Keitarô olhou para o relógio. À exceção da hora em que ela perguntara sobre o casamento dele, a conversa estivera tão agradável que os dois nem tinham reparado o tempo passar.

- Nossa, o tempo voou ! - ele exclamou, admirado, enquanto levantava-se da mesa e pagava a conta - Shinobu, eu adoraria ficar conversando mais tempo com você, mas tenho de voltar para meu apartamento, e provavelmente também já está na hora de você voltar para sua casa.

- É verdade, o tempo passa muito rápido quando estamos em boa companhia ! De fato, já está na hora de eu voltar - e ela fez menção de se levantar, mas Keitarô a impediu.

- Onde você mora ?

Ela explicou-lhe, e disse que sua casa ficava um pouco longe de onde se encontrava o shopping center. Mas já tinha vindo de táxi, e pretendia voltar do mesmo modo, ela deixara claro.

Mas Keitarô tinha vindo de carro, e ofereceu-se para levá-la até em casa. Ela até tentou recusar, não querendo abusar da boa vontade dele. Mas ele insistiu, dizendo que seria mais seguro, e, nesse ponto, Shinobu sabia que ele estava certo, já que não era tão cedo, e ela ficaria sozinha, uma vez que tinha ido até lá sem companhia. Por fim, ela acabara aceitando a oferta.


Quando desceu do carro de Keitarô, ela agradeceu pela companhia, e também por ele ter tornado aquela noite bem mais interessante.

Mas achava que os dois iam novamente perder contato, e não queria isso. Então sugeriu:

- Keitarô, por que não trocamos os nossos telefones ? Assim, não perderemos contato de novo...

- Gostei da idéia, e isso seria muito bom - e, dizendo isso, ele pegou algo parecido com um cartão, e, na parte de trás, anotou o número do telefone do seu apartamento, e entregou-o a Shinobu. Também entregou um cartão igual a Shinobu, no qual ela anotou os números dos telefones fixo e celular, devolvendo-lhe o cartão, em seguida.

- Pronto, assim nós sempre ficaremos em contato... foi ótimo ter encontrado você, Shinobu, e agora eu já estou indo.

Enquanto ele entrava no carro, ela despediu-se, afirmando-lhe que gostaria que os dois se encontrassem mais vezes.

Shinobu entrou em casa, e logo olhou o cartão no qual Keitarô tinha anotado o seu telefone; em seguida, ela guardou-o com bastante cuidado, pensando, enquanto isso, no quanto gostara daquela noite, e do quanto gostaria que ela se repetisse outras vezes.

Foi para o banheiro e tomou um banho rápido. Em seguida, fez um jantar bastante leve. Olhou para o relógio. Já eram mais de onze horas. Sentiu-se muito tentada a falar com Keitarô, mas àquela hora, provavelmente ele já devia estar se preparando para dormir, se é que já não tinha adormecido. No dia seguinte, antes de sair para o trabalho, ela faria isso, decidiu.

E Shinobu lembrou-se daquilo que tinha vindo-lhe à mente, antes de sair de casa, há poucas horas. E não é que o destino tinha mesmo lhe reservado uma grande surpresa, uma que ela sequer teria cogitado ?


E ela realmente não se esqueceu de telefonar para Keitarô, no dia seguinte. E, desde então, passara a se encontrar com ele - cujas férias de verão tinham começado - quase que constantemente. Mas um assunto que continuava como um tabu era o do casamento dele. Keitarô não parecia estar muito disposto a falar a respeito, e Shinobu não queria que ele a visse como uma intrometida.

Naquela noite, eles não haviam se encontrado. E ela estava pensando... como fazer para abordar o assunto ?

Mas, exatamente naquele instante, Shinobu ouviu o toque de seu celular - apesar de tanto tempo ter se passado, ela nunca mudara o toque: "Makenaide" da banda de J-pop Zard; sempre se identificara bastante com a música - e, claro, ela atendeu-o. Não era tão cedo assim... e qual não foi a sua surpresa ao reconhecer a voz do outro lado:

- Alô ?

- Keitarô ? É você ? Pensei que já estivesse dormindo...

- Eu estou prestes a fazer isso, mas antes queria falar algo com você. Lembra que, no dia em que nós nos reencontramos, quando você perguntou sobre o meu casamento, lá na lanchonete, a minha expressão não foi exatamente das mais amigáveis ?

- Lembro, sim... mas não precisa ficar chateado ou contrariado com isso ! Se você não quiser, eu nunca mais toco nesse assunto.

- Não é isso - ele tratou de esclarecer - Sou eu quem quer falar sobre isso com você, até porque preciso, mesmo. Essa é uma parte da minha vida que está bem complicada, e o pior é que eu nem mesmo tenho com quem falar a respeito disso. Você está livre amanhã à noite ?

- Amanhã ? Estou livre, sim. Por quê ? Tem algum lugar no qual você esteja pensando em marcar um encontro ? - ela perguntou, tentando não demonstrar a ansiedade que essa pergunta lhe causara.

- Pensei em uma sorveteria que fica não muito longe da Toudai... - ele deu o nome e a localização exata da sorveteria - Você a conhece ?

- Conheço, sim ! Inclusive, eu já estive nessa sorveteria algumas vezes, mas já faz um bom tempo que não vou lá...

- Ótimo, então de que horas nós nos encontramos ?

Ela saía do trabalho entre cinco e meia e seis horas. A não ser que algum grande imprevisto fizesse com que ela se atrasasse, Shinobu podia chegar lá às sete horas sem maiores problemas. Perguntou a Keitarô se estava bom, ou se ele preferia algum outro horário, e ele respondeu que não havia nenhum problema, uma vez que estava de férias, e que estaria lá às sete horas.

- Nos vemos amanhã, então. Até amanhã, Keitarô.

- Até amanhã, Shinobu - e, em seguida ele desligou o telefone.

Ela foi dormir, contente porque ia novamente se encontrar com ele no dia seguinte, mas em parte um pouco preocupada por causa do assunto em questão. Não precisava ser um gênio para perceber que havia algo de muito errado com o casamento de Keitarô e Naru.

O que será que tinha acontecido de tão errado ?

"Bom, não vou pensar nisso agora, e sim amanhã", ela decidiu. Por ora, queria apenas relembrar dos bons momentos que tivera ao lado dele desde que o reencontrara, no começo de julho.

Mas, por outro lado, aquilo tinha virado o seu mundo de ponta-cabeça. Porque, mesmo que o casamento dele não estivesse bem, isso não mudava o fato de que ele continuava casado. Porém, tanto aquele reencontro quanto as demais ocasiões em que ela o encontrara, depois daquele dia, só serviram para que Shinobu tivesse certeza absoluta de que ainda amava Keitarô.

E foi pensando em tudo isso que ela, enfim, adormeceu.


N/A: Esta fic se passa quatro anos após o epílogo do mangá.

N/A 2: Eu pensei, repensei, pensei de novo... eu perdi a conta de quantas vezes pensei antes de decidir postar essa fic no Fanfiction. A idéia básica já estava na minha cabeça há bastante tempo, mas eu sei que tirar uma fic da cabeça e passá-la para a tela do PC é pra lá de difícil; fora que não sei qual vai ser a recepção a ela. Porque não sei se quem gosta de canon vai gostar...

N/A 3: A informação sobre o toque de celular de Shinobu, eu soube graças à enciclopédia Love Hina Infinity, que tem me ajudado em algumas coisas; valeu a pena tê-la aqui comigo.