1. A primeira impressão:
Uma nuvem de pó e fuligem se ergueu na modesta habitação, em meio a um forte clarão verde, quando as duas figuras se materializaram na lareira da cozinha. A garotinha mal conseguira distinguir o caminho à sua frente e já corria para a escada que levava aos quartos no andar superior.
— Ginny querida, lave-se primeiro para retirar este pó de flú que daqui a pouco te chamo para tomarmos o café da tarde! – disse a senhora Weasley, enquanto observava a menina sumir no topo dos degraus.
— Está bem, mamãe! – respondeu-lhe a pequena, já fora do alcance de visão da matrona.
A criança lavou o rosto no lavabo que servia aos quartos daquele piso, retirou o casaquinho tricotado pela mãe, que encarnara uma grossa camada de carvão, e dirigiu-se até a penteadeira de seu quarto, passando a escovar caprichosamente os cabelos ruivos, enquanto se observava no antigo espelho manchado e enegrecido pelo tempo.
— Você está aí, Arven? – ela chamou, enquanto simulava uma franja não usual com a escova.
— Eu sempre estou aqui, Gine!
Ela sorriu satisfeita e, imediatamente, passou a narrar os fatos ocorridos durante o recente passeio que realizara na região central de Londres.
— Eu e mamãe acabamos de voltar de King's Cross! – começou, gesticulando com a escova em direção à sua imagem refletida – Ah, não vejo a hora de ir pra Hogwarts também... estou cansada de ir todo ano acompanhar meus irmãos até a estação e sempre ter de voltar pr'A Toca...
— No ano que vem você irá, querida! Vamos aproveitar este ano para brincarmos bastante!
— Eu sei... mas, este ano o Ron também foi... vai ser chato ficar sozinha... apesar de que eu e ele mais brigávamos que outra coisa! – completou, simulando um beicinho.
— Sozinha? E eu, que faço aqui?
— Ah, Arven, desculpe! Você sabe o que eu quis dizer! – disse num trejeito, pendendo a cabeça para um dos lados, sobre o ombro.
— Claro Gine! É claro que sei!
A garota descansou a escova sobre o móvel e atirou-se sobre a cama, passando a mirar o teto sonhadoramente.
— Sabe, Arven... tinha um garoto lá na estação... era a primeira vez que ele ia pra Hogwarts também... estava tão deslocado... fiquei com uma peninha dele...
— Oras Gine, todos se sentem deslocados no começo. Que há de especial nisso?
— Nunca tinha visto ninguém como ele... sei lá... me deu vontade de protegê-lo, de abraçá-lo... para que ele não se sentisse tão só... – explicou, enquanto entrelaçava os dedos das mãos formando um apoio sob a nuca.
— Você está muito esquisita! E então? Tínhamos combinado de xeretar no quarto do Ron quando ele se fosse... que estamos esperando?
— Não sei, Arven... isso não parece muito certo... além disso ele o deixou trancado... – virou-se de lado, mostrando resistência quanto à idéia.
— Deixe de bobagens, Gine! Pois se não é exatamente por ser proibido que queremos fazê-lo? Igual a quando foi a vez dos gêmeos irem à escola! E, quanto à tranca da porta... você sabe onde está a varinha antiga do Gui... e também sabe as palavras a usar...
— Mamãe disse que bruxos menores são proibidos de usar magia! – disse, numa tentativa pouco convincente de mostrar-se correta.
— Oras! E como irão saber quem usou? A mamãe passa o dia inteiro encantando panelas e vassouras para as tarefas do lar! O que esse menino estranho da estação causou em você? Te acovardou?
— Não, Arven! Eu continuo a mesma! E você tem razão... uma olhadinha no quarto do Ron não fará mal a ninguém! – uma expressão sapeca tomou conta de sua face.
E, de um salto, a menina levantou-se da cama e correu em direção ao corredor, a caminho de mais uma das traquinagens que se habituara a praticar, e para o que tivera excelentes mestres nas figuras dos irmãos Fred e Jorge.
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