ATENA DE MADEIRA
E se Saga tivesse realmente feito seu crime, e ainda nos tempos atuais?
Aviso: Essa história e cheia de figuras simbólicas. Interpretações à parte e um tanto subjetiva. Construção narrativa levemente diferente. Tema religioso. Se não gosta de nenhum desses tópicos, esqueça.
Aviso 2: Oneshot.
Saga saiu quando os portões se abriram. As pupilas diminuídas como sua dignidade. Ideias difusas surgiram. Olhou de canto e viu o mendigo e quis sentir piedade. Mas sabia que era inferior. O mendigo, livre, jamais causara algum tipo de dor.
Por isso, colocou a mão no bolso. Não tinha nada de dinheiro. Belo, mas nunca vaidoso. Acabou por abandonar qualquer cabeleireiro, colocou a mão no cabelo desgrenhado. Cinza como o céu nublado, grande como seu atual e enorme fardo.
Olhou para o mendigo e olhou seu próprio trapo velho, nenhum dos dois tinha trabalho. Aquele homem, pensou novamente, jamais causou a dor. E eu escolhi o caminho falho. Pensou em Atena falecida, e ao contrário do mendigo, ele já matou.
Caiu em si e logo andou. Chutando o que tinha no chão, acabou achando um espelho. Limpou-o em seu trapo velho, quase cortou a sua mão. Mas sabia que não sentiria nada. A alma dele estava dolorida, ele já matara. Olhou para o pequeno pedaço de vidro e o que viu foi seu irmão. Ou está pior que eu, ou mudou de religião. Se fez isso, agora está chamando a outro de irmão. E para mim essa denominação sempre foi rara.
Então agora seu irmão provavelmente orava e orava. Durante sua prisão, ele também orava. Decidiu sentar numa escultura de mármore de Carrara, bem debaixo do sol, e tudo que projetou foi uma sombra magra.
Sentiu algo esfarelar no bolso de trás, achou que fosse um de seus ossos. A escultura de Atena, a Atena de madeira, e ele pensou, o único objeto realmente nosso. Na prisão, ele orava e orava. A Atena de madeira nunca lhe disse nada.
Como podia orar e pedir milagres para quem ele mesmo matara? A Atena de madeira nunca lhe disse nada. A Atena-brincadeira era por demais vaga. Agora, como suas esperanças, ela estava esfarelada.
P.S: História inspirada na música de Ana Carolina, "Cristo de Madeira".
