Eu estava exausta. No meio de toda aquela papelada perguntei a mim mesma se eu estava perdendo a sanidade. Pilhas e pilhas de arquivos na minha mesa, todos revisados e resolvidos. Eu tinha acabado meu trabalho, e ao contrário do que o de costume, eu estava ansiosa por não ter mais trabalho.

Sem trabalho a fazer a minha mente começava a pensar freneticamente sobre a bola de neve que a minha vida tinha virado desde o divórcio.

Há 4 meses eu e Ron nos divorciamos. Nosso casamento era apenas sustentado pelos nossos filhos, Hugo e Rose. Após eles irem para Hogwarts, foi o começo do fim. Eu e ele nos encontramos fora de sintonia. Tentamos de tudo, eu tinha esperanças mesmo não sabendo mais se o amava… até ele chegar em casa com uma papelada em mãos pedindo o divórcio. E desde então, voltei a ser chamada de Hermione Granger.

Joguei a cabeça para trás, exausta e não era de tanto trabalhar. Essa sexta-feira foi a pior de todas, recebi uma carta diretamente de Hogwarts sendo alertada que Hugo estava recebendo diversas advertências por xingar e brigar com outros alunos, gratuitamente. E Rose que me mandou uma carta enorme desabafando, falando tudo o que pensava e sobre como o divórcio a afetou. Eu adorava a maturidade da minha filha, e como ela sabia usar as palavras para se descrever… mas todo seu texto me fez chorar durante toda a minha hora do almoço. E para finalizar, a cereja do bolo: descobri que Ron está namorando Cho Chang. Sim.

Que dia. Olhei para o relógio: 18h05, e eu não tinha nem mais papelada para fazer hora extra.

Ouvi duas batidas na porta e logo em seguida ela se abriu lentamente e uma cabeça loira sorridente apareceu por trás dela.

"Oi, bonita!" Anastasia Broadmoor, minha colega de trabalho e amiga, entrou sorridente na minha sala. Ela me consolou durante uma hora de choro e muito desabafo no horário de almoço. Era uma boa amiga. "Está se sentindo melhor?…"

"Sim..." Falei enquanto levantava da cadeira. Comecei a arrumar minhas coisas, não tinha mais o que fazer aqui. "Sabe, Ana, não tenho muito o que fazer além de esperar ficar tudo bem."

"Ainda é bem recente, Hugo e Rose ainda estão digerindo as coisas." Ela falou, se aproximando da minha mesa.

"É. Para alguns sim…" Ri com ironia, lembrando na hora de Ron e Cho.

"Me contaram agora pouco no meu setor. Sabe como as pessoas são fofoqueiras quando se trata do trio... Como você se sentiu?" Anastasia era diferente das pessoas com quem eu trabalhava. Qualquer outra pessoa me faria essa pergunta me olhando com dó e com uma curiosidade irritante… ela não. Ana me olhava com carinho e empatia, eu adorava isso nela.

"Um pedaço de cocô." Eu ri, um pouco triste. "Não que eu tivesse esperanças de voltar… eu nem o amo mais. Mas parece que agora é oficial, que fiquei para trás. E ele seguiu em frente tão depressa. Faz 4 meses… só e eu aqui, nem tive tempo para mim."

Desabafei enquanto fechava minha bolsa. Olhei para Ana, ela não falou nada… como se soubesse que na realidade, eu não queria ouvir ninguém agora. Apenas falar.

"Eu vim aqui para saber como você estava e te fazer um convite" ela deu ênfase no "e" apontando o indicador para cima. "Hoje é aniversário do Tom, e ele vai comemorar lá em casa. Quero muito que você vá. Vai te fazer bem um vestido bonito e batom vermelho."

"Ah… eu não sei." Caminhei até ela e indiquei a porta. Em sinal para sairmos. "Não sei se hoje serei uma boa companhia, sabe?" Saímos da sala e caminhamos em direção ao elevador.

"Mione, você é uma das mulheres mais fortes que eu conheço. E sinceramente, acho que você está realmente se subestimando falando isso." Ana falou entrando no elevador. Ela apertou o nono andar, onde ficava a sala do Tom, e o térreo para mim.

"Pensando bem, um pouco de whisky de fogo me faria bem." Falei sorrindo e Ana riu empolgada.

O elevador parou no nono andar e ela foi saindo. "Te vejo as 20h!"

Sorri e concordei com a cabeça. De longe ouvi alguém pedindo para segurar o elevador… assim o fiz, já que os elevadores do Ministério eram lerdissimos então um pouco de boa ação no cotidiano faz bem.

Ouvi passos correndo se aproximando, rapidamente vi uma cabeça loira entrando afoito no elevador. Era Draco Malfoy. Não era nenhuma novidade nos vermos pelos corredores e viagens pelo elevador, mas toda vez o encontro vinha com um incômodo fundo de rancor (do meu lado pelo menos) e a surpresa era inevitável.

"Obrigado, Weasley." ele disse entre um respiro e outro.

"Por nada…" falei apertando a bolsa no ombro me incomodando como ele me chamou. Encontrar Draco não era bem agradável. Passar pelo silêncio constrangedor que o elevador nos obriga e ainda tocar na minha ferida, muito menos. "E, é Granger. Apenas, Granger"

Falei alcançando seu olhos. Sua expressão pareceu confusa, então eu sorri achando graça… e ele me olhou mais confuso ainda. Olhei para frente, já estávamos no terceiro andar… eu não iria me explicar. Ele não ouviu mesmo as fofocas?

Antes de poder falar qualquer outra coisa chegamos ao térreo e sai do elevador rapidamente. Seguindo na direção oposta de Draco. Sem nos despedir, sem "boa noite", ele não se importava de qualquer forma.

Eu muito menos.