Inspirada nas personagens criadas por J.J. Abrams e equipe , portanto não me pertencem. As histórias são apenas diversão, não têm fins lucrativos.


Experiência - A presente história é uma grande liberdade com Fringe: ambientar algumas personagens na Boston do século XIX. O motivo é fazer algo bem diferente, e de quebra adoro imaginar Olivia & Cia com trajes de época. Se os leitores gostarem, continuarei.


I.

Naquela manhã ensolarada do verão de 1884, Peter Bishop se deslocava do porto para a casa da família sem nenhum entusiasmo. Do banco do landau, olhava as mudanças ocorridas na cidade. Era movido apenas pela curiosidade. Sua mente era particularmente atraída pelo progresso e pelos avanços da ciência.

Depois de uma ausência de oito anos, retornava à propriedade familiar com o único objetivo de tomar posse da herança materna. A ideia de rever o pai lhe causava uma grande contrariedade. Se não fossem as necessidades financeiras, provavelmente nunca mais voltaria aos Estados Unidos, principalmente a Boston, cidade que, para ele, sempre estaria associada à memória de sua mãe.

A verdade é que adorava a Europa. Lá, ele se sentia mais livre e autêntico. Circulara por toda a parte, mas Paris se tornara o seu verdadeiro lar. Tinha um pequeno apartamento na Rive Gauche, onde tivera a possibilidade de desfrutar do melhor da vida boêmia parisiense. Lamentavelmente, nem tudo era tão pitoresco em sua vida. Convivera com muita gente de moral duvidosa e usara muitas artimanhas questionáveis para sobreviver. O fato é que agora precisava muito de dinheiro para retornar à sua velha rotina, que consistia precisamente em não ter rotina. Gostava do nomadismo de sua existência.

Outro elemento pouco respeitável em sua biografia era a sua vida amorosa: numerosa, intensa, mas pouco duradoura. Era muito bem sucedido com as mulheres, de diferentes faixas etárias e classes sociais. Não tinha exatamente um tipo de beleza definido. Não costumava desperdiçar as oportunidades. Os relacionamentos não duravam muito, mas conseguira conservar algumas "amizades", a maioria de damas casadas.

A verdade é que era um homem jovem e bonito. Bastante alto, esbelto, com cabelos e uma barba curta de cor castanha e belos olhos, seu ponto forte. Possuía cativantes olhos azuis. Aqueles olhos que poderiam pertencer a um príncipe ou poeta, ironicamente pertenciam a um trapaceiro. Mas quem olhasse para ele nunca adivinharia. Peter Bishop tinha consciência de que agradava às mulheres sem esforço.

Era invariavelmente cortês com as pessoas. Seu encanto pessoal era difícil de resistir pois tinha a aparência e os modos distintos de um cavalheiro. Assim havia sido educado. Sua mãe se empenhara pessoalmente em sua formação, mas, infelizmente, falecera sem concluir a tarefa. Ele se fizera sozinho. Hoje, sabia transitar entre a luz e as sombras com uma desenvoltura desconcertante.

Recebera uma carta da Senhora Sharp, prima distante de sua mãe. O conteúdo era bastante desagradável. Nela, a velha parenta o exortava a retornar, tomar posse de sua herança e assumir a responsabilidade sobre o pai, agora envelhecido e debilitado. Tudo o que ele mais desejava no mundo era colocar o máximo de distância entre ele e Walter. Mas lamentavelmente parecia não haver escapatória.

O landau chegara a Louisburg Square. A enorme casa branca, criação de Charles Bulfinch, estava do mesmo jeito que ele deixara anos antes. Era um palacete de estilo neoclássico, construído para seus avós paternos.

O velho Partridge, o mordomo veio ao seu encontro. Desde a infância de Peter ele tinha a mesma aparência. Era muito discreto e convencional.

-Senhor...- ele saudou formalmente.

Peter estendeu a mão direita e cumprimentou o velho criado com vigor. Notou que ele parecia um pouco escandalizado.

-Onde está Walter?

-O Doutor Bishop está tomando chá com a Sra. Sharp e sua jovem protegida.

A expressão de Peter era irônica. Não conseguia imaginar Nina Sharp tendo vínculos com ninguém, muito menos com pessoas jovens. Ela não era um tipo maternal.

-A Sra. Sharp tem uma protegida, Partridge? Não sabia que ela era dada à filantropia.

Partridge pareceu embaraçado com o comentário do jovem patrão.

-Não senhor. A jovem a quem me refiro é protegida do senhor seu pai.

Peter ficou surpreso. O pai nunca gostara de interagir socialmente. Constantemente dizia que não saberia o que fazer se tivesse tido filhas. Achava as mulheres imprevisíveis e trabalhosas. Aquela mudança no comportamento de Walter o chocou. Foi muito incisivo na próxima pergunta.

-Quantos anos tem a moça?

-Bem, eu não sei exatamente. Mas ela deve ser um pouco mais jovem que o senhor.-respondeu o mordomo com tranquilidade. Aparentemente não estava acompanhando a linha de raciocínio de Peter Bishop.

Uma garota protegida de seu pai. Seria talvez uma aventureira em busca de um casamento rico com um homem senil? Walter tinha muito dinheiro. Talvez a insistência da Sra. Sharp para que ele retornasse fosse motivada pelo relacionamento de Walter com a tal moça.

Por outro lado, o destino do pai não era assunto seu. Se Walter resolvesse casar com a tal pupila, seria até melhor, pois o desobrigaria de qualquer compromisso para com ele. Sim, tudo tinha um lado bom. Agora só faltava conhecer a tal garota, tratá-la bem e observá-la como sua potencial madrasta.