Initiate
Por MarauderLover7
Traduzida por Serena Bluemoon
Tradução autorizada pela autora!
Disclaimer: A autora, MarauderLover7, não possui Harry Potter, apenas o plot desta fanfiction. A tradutora, Serena Bluemoon, não possui nem o plot nem Harry Potter, apenas o trabalho de traduzir. Nenhuma das supracitadas ganha qualquer coisa além de satisfação pessoal e comentários.
Sumário: [TRADUÇÃO - CONTINUAÇÃO DE INNOCENT]Quase dois anos se passaram desde que Monstro encontrou Harry Potter dormindo no chão da cozinha, e Grimmauld Place mudou drasticamente desde então.
Aviso: Initiate é a segunda parte de uma série que, por enquanto, conta com quatro partes. Innocent é a primeira parte. Identity (terceira parte) está completa, mas a série ainda está em andamento, então em algum momento vamos acabar alcançando as publicações da autora e, aí, as atualizações não dependerão mais apenas de mim, okay?
Como sempre, nomes dos personagens foram mantidos no original. Um ou outro eu acabei usando o nome traduzido, mas em regra, não o fiz. Qualquer dúvida, só perguntar.
Espero que gostem da fic tanto quanto eu gostei e, como sempre: comentem! É apenas pelos comentários que posso saber se estão gostando e se a qualidade da tradução está satisfatória. :)
Boa leitura!
Capítulo Um
Family And Friends
(Família e Amigos)
— Com o negócio do Animago, como vou saber quando o encantamento estiver certo?
Sirius, que cochilava na poltrona da biblioteca, roncou e se sentou direito, tentando fingir que estivera acordado o tempo todo. Bocejou largamente e foi recompensado com uma risada zombeteira e um farfalhar impaciente de papéis.
— Você vai mudar — murmurou e se forçou a abrir os olhos. Uma prateleira de livros era a única coisa no seu campo de visão, mas uma luz quente e rosada entrava pela janela; o sol estava nascendo.
— Isso não ajuda muito — disse Harry do chão, onde estava deitado com seu pedaço de pergaminho gasto (Sirius achava que era melhor ele reescrever as partes que ia usar) e vários livros enormes, inclusive a agenda que Dora lhe dera de natal.
— O quê? — perguntou Sirius, esfregando o rosto. Harry voltou a rir com zombaria e Sirius sentiu o cheiro de tinta, provavelmente do tinteiro que estava ao lado de Harry no tapete, e também o cheio delicioso de bacon; era claro que faltava pouco para o café da manhã. — Ah, desculpe. O que já tem?
Harry se levantou e se sentou no braço da poltrona por três segundos; então, escorregou até que estivesse acomodado entre Sirius e o braço. Sirius se moveu o máximo possível, mas Harry ainda estava meio que sentado em seu colo, então colocou o braço na posição mais confortável que encontrou e olhou para o pergaminho que Harry lhe dera.
Minha pelagem é negra como a noite, mas (algo sobre a lua?). Eu pertenço à minha matilha e todos temos os mesmos humores, felizes e tristes ao mesmo tempo. Eu sou o lobo nascido do cervo e da corça.
Fazia um bom tempo que Sirius não via o encantamento e ficou impressionado com o progresso de Harry. Leu mais algumas vezes, juntando ideias — pensou mais nas coisas que tinham funcionado para ele, James e Peter quando eles criaram seus encantamentos. A lua devia ser mencionada em um encantamento que envolvia um lobo e Sirius passou um momento se perguntando se Harry pensara nisso sozinho ou se tinha sido sugestão de Remus; acreditava mais na segunda opção.
— Não sei o que fazer com a parte da lua — falou Sirius lentamente, pensando. Fez cócegas na orelha de Harry com a pena e o garoto se remexeu e quase se jogou para fora da poltrona para tentar escapar. Mas Sirius parou antes que ele precisasse ir a tais extremos. Harry olhou para a pena com cautela, mas voltou a se ajeitar. — Gostei da parte da matilha, mas seria bom usar outras palavras... talvez algo sobre ser uma família adotiva... Quero dizer, somos uma família — disso Sirius não duvidava e não achava que Harry o fazia —, mas só somos parentes distantes e você e Moony nem parentes são...
— Minha matilha me adotou? — sugeriu Harry.
— Nós meios que nos adotamos — disse Sirius, sorrindo ao se lembrar da dogtag pendurada em seu pescoço. — Talvez 'minha matilha é escolhida e eles são meus e eu sou deles'?
— Minha matilha é escolhida com cuidado — corrigiu Harry, pensativo. — Caso contrário, se dependesse dele, o senhor Malfoy faria parte dela, assim como todas as outras pessoas "bem-intencionadas" da Grã-Bretanha. — Estremeceu e Sirius riu, mas se forçou a se concentrar.
— E feliz e triste funciona bem — disse —, mas deve ter um jeito melhor de dizer isso... Algo mais canino.
Ele e Harry ficaram em silêncio, concentrados; Sirius pensava em Padfoot e o que ele fazia quando estava feliz, e Harry provavelmente também o usava como referência, já que nunca vira Remus como Moony.
— Balançar o rabo — falaram ao mesmo tempo e, então: — Ei!
Harry saiu da poltrona e começou a anotar a ideia assim que Remus entrou na biblioteca — obviamente o café da manhã ainda não estava pronto — e explodiu em risadas.
— Moony — disse Harry, acenando na direção de Remus, mas seus olhos nunca saíram do pergaminho.
— Harry — disse Remus em um tom estranho; era calmo, como sempre, mas havia uma reprimenda divertida também. Era um tom que Sirius o ouvira usar muito, mas apenas uma ou duas vezes direcionado a Harry. Sirius olhou para Harry; seu afilhado tremia com a risada e se recusava a olhar para ele.
— O que você fez? — perguntou Sirius, sentindo-se deixado de fora. Harry apenas o olhou e deu um sorriso que ficava mais largo a cada segundo. Remus suspirou.
— Accio Espelho de Sirius Black — disse, acenando a varinha. Um momento depois, o espelho de Sirius entrou na biblioteca e Remus o pegou, antes de entregá-lo. Sirius olhou seu reflexo e riu; Harry (certamente enquanto Sirius cochilava) tinha juntado suas sobrancelhas, lhe dado uma cicatriz em forma de raio, bigode de gato e um bigode bem cacheado.
Sirius deixou o espelho de lado e se recostou em sua poltrona, satisfeito.
— Estou fantástico — disse Sirius; Harry e Remus pareceram surpresos por ele ter deixado o rosto como estava.
— Achei mesmo que foi uma melhora — falou Remus com um sorriso afetado.
— Por que não limpou? — perguntou Harry.
— Eu poderia — disse Sirius —, mas prefiro mostrar ao Monstro o que você fez com o coitado do Mest...
— Saponum! — disse Harry, parecendo em pânico. Sirius desviou e o jato de bolhas de sabão passou por cima de sua cabeça e explodiu na parede atrás dele. — Senta, Padfoot!
— Atacar um Auror é crime — riu Sirius, desviando de outro feitiço de limpeza. — E de novo! — Estalou a língua. — O que sua mãe diria...
— Provavelmente um feitiço para ajudar o filho — disse Remus, prestativo; ele estava bem longe do caminho. Harry tentou um feitiço de água em seguida e teria acertado o rosto de Sirius se ele não tivesse tropeçado em uma pilha de livros; acertou a parte de trás da cabeça dele.
— Monstro! — gritou Sirius, correndo para a porta. — Monstro, olha o que o Harry fez comigo!
— Ignore! — berrou Harry, perseguindo Sirius. — Monstro, fique onde está! — Sirius só poderia imaginar o dilema que Monstro estava vivendo na cozinha, brigando consigo mesmo para decidir se ia ou ficava. — Pedis Offensio — disse Harry e Sirius ficou aliviado por ele ter esperado até terem chegado no patamar; teria sido perigoso no alto da escada.
Sirius caiu com um grito e Harry se sentou em cima dele na mesma hora, começando a limpar seu rosto com feitiços de água. Sirius engasgou e se transformou em Padfoot — Harry devia ter antecipado isso, mas não o fez — e, por isso, Padfoot conseguiu derrubá-lo — gentilmente — e segurar o capuz do agasalho da escola.
Harry, é claro, tentou tirar o agasalho; ele tinha conseguido soltar um braço e perder a cabeça no meio da lã azul quando Monstro apareceu no pé da escada com as mãos no quadril magrelo. Padfoot parou na mesma hora e tentou sorrir para Monstro — ele devia parecer um idiota, já que era um cachorro com a boca cheia de lã. Harry também parou de se mexer, apesar de Sirius não saber se ele tinha desistido ou se tinha sentido a presença de Monstro.
Monstro estudou Padfoot, que pingava água cheia de tinta no tapete, e Harry, que estava pendurado pelo suéter na boca de Padfoot e espiava pela gola, os óculos tortos.
Monstro cerrou os olhos e Padfoot abriu a boca. Harry caiu com um gemido e passou a cabeça pela gola do agasalho. Padfoot balançou o rabo e lambeu o rosto de Harry — recebendo um resmungo de nojo zombeteiro e um puxão de orelha —, antes de voltar à sua forma humana.
Ele e Harry olharam para Monstro, provavelmente parecendo culpados. Monstro apenas suspirou, como se não esperasse outra coisa — Sirius supôs que ele não devia mesmo ter esperado, porque eles moravam todos juntos há um pouco mais de dois anos.
— O café da manhã está pronto — disse ele. Depois disso, foi a correria matinal de sempre; Remus ajudou Harry a terminar de se preparar para um teste de soletrar que ele tinha naquele dia (por um momento, Sirius se perguntou se Harry devia ter trabalhado nisso em vez de em seu encantamento Animago, antes de decidir que poder se transformar em um lobo provavelmente o ajudaria mais a longo prazo do que saber escrever "cintilante") e Sirius convocou seu espelho e terminou de limpar o rosto na pia da cozinha (por mais que tivesse se divertido com isso, não achava que seria bem visto no trabalho) e Monstro tentava fazer todos comerem.
Dora saiu da lareira, parecendo cansada — ela tivera uma sessão de treinamento noturno —, e aceitou o pão de ovos e bacon que Monstro lhe ofereceu; ela o comeu no tempo que Harry precisou para correr até o andar superior para pegar sua mochila e, depois, Apartar de volta para procurar os tênis. Ted e Andy estavam no trabalho e Dora não sabia cozinhar nem se sua vida dependesse disso, então era uma visitante constante em Grimmauld Place ou na casa de Remus se quisesse comer algo além de torradas ou cereal.
— Pronto — disse Harry, pulando no lugar ao tentar colocar os tênis; ele não se dera ao trabalho de desamarrar os cadarços. Enquanto ele estava parado (mais ou menos), Sirius acenou a varinha para mudar um pouco sua aparência. Apesar de não estarem mais fugindo, Sirius não tinha certeza do que os muggles sabiam sobre Harry Potter além de que ele tinha sido sequestrado há dois anos. O cabelo de Harry assumiu um tom claro de castanho, ficou menos rebelde, e seus olhos passaram a ser azuis. Sirius repetiu o feitiço nele mesmo.
— Pegou tudo? — perguntou Sirius. Harry assentiu, pendurando a mochila no ombro, e foi para as escadas. — Vem? — perguntou a Dora; a casa de Ted e Andy ficava algumas ruas depois da escola de Harry.
— Acho que vou aparatar — disse ela em meio a um bocejo. — Direto para a cama. — Bocejou novamente, beijou Remus e seguiu Harry, o cabelo num tom sonolento de azul. — Obrigada pelo café, Monstro. — Monstro se curvou e continuou a limpar a mesa.
— Boa sorte — disse Sirius a Remus, que sorriu, secou as palmas das mãos nas vestes e foi para a lareira.
Ele sumiu nas chamas, dizendo, nervoso:
— Hogwarts! — Sirius começou a subir as escadas atrás dos outros dois e balançou a cabeça.
— Varinha, Harry — disse; a varinha estava saindo do bolso do short do uniforme de Harry.
— Opa — disse Harry, virando-se. — Desculpe. — Passou por Dora e Sirius, deixando a varinha sobre a mesa da cozinha. Sua lancheira, que tinha esquecido, foi colocada em suas mãos por Monstro. — Obrigado! Tchau, Monstro — disse, deixando Sirius guiá-lo até o andar de cima, pelo corredor e porta afora. Sirius demorou um pouco mais por ter ido buscar a motocicleta na garagem interna que ele e Harry tinham montado no antigo escritório de seu pai no começo de janeiro, e a levou até o sol quente de junho.
Dora bocejou e se despediu antes de sumir, e Sirius manobrou a motocicleta cuidadosamente pelos degraus da frente, onde Harry esperava impacientemente, soletrando baixinho.
-x-
Era uma boa manhã para caminhar, Remus pensou, ao andar pela longa trilha que ligava Hogsmeade à escola. O sol já tinha aparecido, mas não estava muito quente e tudo era muito verde. Hagrid o esperava nos portões; Dumbledore provavelmente o enviara.
— 'Dia — disse ele, sorrindo para Remus por trás de sua barba espessa, ao destrancar os portões.
— Bom dia, Hagrid — disse Remus com um sorriso. — Espero não ter interrompido seu café da manhã...
— Comi mais cedo — disse Hagrid, balançando uma mão enorme. Ele deu um passo para trás para que Remus passasse e lhe deu um tapinha no ombro. Remus se preparou, mas ainda cambaleou um pouco sob a força do impacto. — Tenho coisas para fazer hoje, com Fofo indo para uma casa nova e tudo o mais.
Remus sorriu educadamente; não tinha certeza de quem ou o quê Fofo era, mas sabia que Fofo provavelmente não era tão amigável e gentil quanto o nome sugeria, e tinha ainda mais certeza de que, apesar de seu interesse em criaturas mágicas, não ia querer conhecer essa. Hagrid pegou um relógio de bolso do tamanho de um relógio de parede e hesitou.
— É melhor eu ir... Boa sorte!
— Obrigado, Hagrid — disse Remus e desejou, pela milésima vez, que as pessoas parassem de lhe desejar sorte; apreciava a intenção delas, mas estava ficando ansioso. Hagrid foi em direção à Floresta, assobiando para Canino; o cachorro, que estivera sentado nos degraus da cabana da Hagrid, saiu correndo e passou a caminhar ao lado de seu dono.
Remus seguiu em direção ao castelo. A maioria dos alunos ainda estava tomando café da manhã; conseguia vê-los pelas enormes janelas que davam para os jardins, apesar de suspeitar que a maioria dos alunos do sétimo ano estivesse nos Salões Comunais, ou na biblioteca, estudando para os NIEMs. Alguns alunos faziam outras coisas; um grupo de crianças pequenas — provavelmente do primeiro ou segundo ano — jogavam pedras no Salgueiro Lutador; dois alunos mais velhos estavam sentados bem próximos, na beira do lago e outro par — alunos mais novos, de novo, observavam o Salgueiro Lutador de uma distância segura.
— Acha que vão achar o nó? — perguntou uma voz. Era incomodamente conhecida, e Remus andou mais devagar para ver quem tinha falado. Ela estava sentada, então era difícil estimar sua altura, com cabelo loiro e uma postura muito ereta. Ela comia um pedaço de bacon e conversava com um menino mais jovem e magro, com cabelo marrom. Os dois usavam as vestes da Lufa-Lufa.
Remus reconheceu o menino primeiro; era Traseiro Prateado, do acampamento dos lobisomens. A garota notou que ele olhava e a carranca dela o fez se lembrar e, como Traseiro Prateado estava ao seu lado, Remus sabia que só podia ser Dente Verde. Sabia que eles começariam Hogwarts — Dumbledore pedira seu conselho sobre o assunto, mas não tinha pensado nisso desde então.
— Lupin — disse ela em um tom monótono. Sua voz, que estivera mais suave e gentil ao falar com Traseiro Prateado, recobrara seu tom rosnado. Remus também não conseguia superar a aparência limpa dela; no acampamento, seu cabelo estivera emaranhado e tão sujo que era marrom, suas unhas eram longas e quebradiças e as roupas, frangalhos. Aqui, suas vestes estavam limpas e ela tomara banho, penteara o cabelo e o prendera em um rabo de cavalo. Ela estava quase irreconhecível. O cabelo do Traseiro Prateado estava alguns tons mais claro, mas era a única diferença; ele sempre conseguira manter um padrão aceitável de higiene. — O que você está fazendo aqui?
— Tenho uma reunião com o diretor — disse, aproximando-se lentamente. — E vocês dois... Estão terminando o primeiro ano, certo? — Traseiro Prateado olhou para Dente Verde, que cruzara os braços e erguera o nariz. Traseiro Prateado assentiu. — Estão gostando? — Traseiro Prateado assentiu novamente na mesma hora, e Remus não conseguiu evitar o sorriso.
— Acho que sim — disse Dente Verde depois de uma pausa. — É claro, seria preferível aprender com o pai e os outros — seus olhos ficaram apagados por um momento, antes de brilharem de raiva —, mas depois do ano passado, isso não era uma opção. — Ela fungou e Traseiro Prateado parecia sério, mas não triste.
Interessante, Remus pensou, observando-os.
— Bem — disse em voz alta —, vou deixá-los em paz. Boa sorte com as provas.
— Obrigado — disse Traseiro Prateado em voz baixa. Dente Verde o silenciou com um olhar, antes de voltar uma de suas carrancas mais ameaçadoras para Remus, que lhes deu as costas e seguiu seu caminho.
Remus não sabia se Dumbledore o vira pelas janelas do Salão Principal ou se ele apenas soubera daquele jeito único dele, mas ele esperava no Saguão de Entrada quando Remus passou pelas portas da frente. Caminharam lado a lado até o escritório de Dumbledore, jogando conversa fora — Dumbledore perguntara sobe Sirius e Harry, e sobre a última lua cheia e Remus, por sua vez, perguntou sobre a escola e sobre Dente Verde e Traseiro Prateado, apesar de Dumbledore os conhecer como Sarah e Ethan.
— Agora, posso esperar que sua presença hoje seja uma resposta positiva à proposta que fiz em minha carta? — perguntou Dumbledore depois de se acomodarem no escritório dele.
— A terceira vez é a que vale — respondeu Remus, divertido. Dumbledore sorriu. — Se quiser me receber, é claro.
— É claro — disse Dumbledore cordialmente. — Precauções podem ser tomadas quando estiver doente... Sarah e Ethan ocupam a Casa dos Gritos atualmente, então pode se juntar...
— Não, obrigado — falou Remus. — Ou sairei da escola ou tomarei a Mata-Cão e passarei a noite em meu escritório. — Dumbledore inclinou a cabeça.
— Vou deixar que escolha o que lhe for melhor — disse. — Estou certo de que conseguiremos providenciar ambos. Só peço que me informe se o método mudar a qualquer momento. As pessoas, tanto os pais quanto os alunos, podem ficar um pouco inquietas, considerando sua admissão no julgamento de Sirius, mas devo conseguir acalmá-las se souber exatamente onde estará. — Dumbledore suspirou. — Peço desculpas pela intromissão, porque sei que nunca gostou de falar sobre sua condição...
— Não se desculpe — pediu Remus. — Não é um pedido irracional.
— Obrigado.
— Mas tenho que perguntar, senhor: por que eu? Por que se meter em todos esses problemas se pode chamar Bean ou Rattler, ou manter Davey...?
— Sturgis e Thomas não quiseram se afastar de seus empregos por um ano — disse Dumbledore. — Meu outro candidato era Quirinus, mas quando conversei com ele hoje cedo, ele pareceu distraído. Ele disse que estava com um projeto de pesquisa em andamento que o manteria ocupado por um bom tempo. — Dumbledore sorriu de um jeito carinhoso. — Ele disse que ensinar era importante, mas que precisava priorizar as coisas. E a visão de Davey está piorando; por mais que ainda consiga ensinar a teoria, ele já não consegue mais escrever direito, e sua mira e coordenação nas demonstrações práticas não são mais a mesma coisa.
— E só eu sobrei — disse Remus secamente.
— Dificilmente é a última opção, Remus — disse Dumbledore. — Como você disse antes, não é a primeira vez que o convidei.
— Não — concordou Remus.
— Então, aceitará o trabalho? — perguntou Dumbledore. Remus hesitou e, estranhamente, viu-se pensando em James.
O risco é a melhor parte, pensou, sorrindo.
— Claro — disse. — Onde eu assino?
-x-
— Oh, isso é tão legal! — disse Dora, saltitando ao lado de Remus; ela usava as botas de equilíbrio que ganhara de natal, caso contrário Remus não achava que ela se atreveria a saltitar, por medo de cair. Ela e Remus desviaram de um par de recrutas e do Auror Dawlish e continuaram pelo corredor. — Já contou ao Sirius?
— Ainda não o vi. Nem o Harry — adicionou com um sorriso, prevendo sua próxima pergunta. Segurou sua mão e ela apertou a sua, sorrindo. — Mas pensei em pararmos no cubículo de Sirius e ver se ele quer se juntar a nós no almoço.
— Não — disse Dora. Remus a olhou, surpreso.
— Por que não? — quis saber.
— Ele não está aqui.
— Mas ele disse que ia passar o dia no escritório — comentou Remus, franzindo o cenho. — Aconteceu alguma coisa? Harry...
— Ele foi tomar café com a McKinnon há meia hora — contou Dora, dando de ombros. Remus ergueu uma sobrancelha.
— Foi, é? — perguntou com um sorrisinho afetado. — O que fez isso acontecer? — Dora deu de ombros mais uma vez.
— Eles fazem isso o tempo todo — disse sem parecer perturbada. Remus parou de andar e Dora olhou para trás, o cabelo num tom laranja meio confuso.
— Ele nunca me contou nada disso — falou.
Foi a vez de Dora dar um sorrisinho afetado.
— Bem, ele não contaria, né?
— Mas ele sempre gostou de se gabar de seus encontros — comentou Remus, franzindo o cenho.
— Acho que não é um encontro — retorquiu Dora, revirando os olhos, mas seu cheiro não era convencido. Remus apenas a olhou. — Acho que só são amigos.
— Eles sempre foram "só amigos" — disse Remus, divertido. Beijou a têmpora de Dora, que lhe sorriu. — Até quando eles praticamente moravam juntos e todo mundo achava que Sirius ia pedi-la em casamento, eles não estavam namorando. — Ela riu, antes de parecer pensativa. Remus deu um passo para frente, ainda segurando sua mão, para apertar o botão do elevador. — Tem alguma preferência para o almoço?
— Não — respondeu. — Só preciso voltar à uma ou Olho-Tonto vai... er...
— Não vai ficar impressionado?
— Eu ia falar que ia me amaldiçoar ou me dar de comida para as latas de lixo, mas não ficar impressionado funciona, também — disse, sorrindo.
-x-
— Blaise — a senhora Phelps disse —, estão te chamando na diretoria. Os outros podem ir almoçar.
Harry tentou chamar a atenção de Blaise, mas ele não estava olhando na sua direção; ele parecia confuso e olhava feio para os pés. Harry acabou olhando para Hermione; ela deu de ombros e tirou uma maçã da mochila. Harry pegou o próprio almoço — duas fatias de pão fresco (ainda quente; sorriu e fez uma nota mental de agradecer Monstro), uma seleção pequena de frutas e um pedaço de torta de caramelo.
— Coloquem as toucas — avisou a senhora Phelps. — Se o professor-inspetor vir vocês sem as toucas, ele vai mandar vocês entrarem!
Harry colocou a touca, assim como Hermione. Blaise não pegara a sua. Os dois saíram da sala de aula com os outros alunos e foram para o pátio ensolarado. Harry seguiu Blaise com os olhos; Blaise eram bem-comportado demais para ter se metido em problemas, e seu pai — o senhor Benson — saía do escritório para falar com ele, ao invés de chamá-lo até lá.
— O que acha que aconteceu? — perguntou Harry a Hermione.
— Não sei — respondeu Hermione, sem parecer perturbada com isso tudo. — O senhor Benson provavelmente só quer conversar com ele.
Ela tirou uma caixa de suco do bolso — de laranja, como sempre. Ela tirou o canudo da embalagem.
— Como se saiu na prova de soletrar? Acertou a número sete? — Harry a conhecia há tempo demais para se surpreender por ela ter falado das tarefas, mas ainda precisou engolir um gemido. Procurou por outro assunto e seus olhos voltaram para Blaise.
— Quem é aquela? — perguntou; Blaise e o senhor Benson estavam parados em frente a diretoria, mas não estavam sozinhos; uma mulher alta estava parada perto deles, vestida numa saia e camisa escuras e saltos; Harry conseguia ver seu batom vermelho mesmo do outro lado do pátio. Ela tinha o mesmo tom de pele e cabelo de Blaise.
— Não sei — respondeu Hermione, tomando um gole de suco. Ela parecia despreocupada.
— Olhe para Blaise! — Blaise olhava para a mulher, parado atrás de seu pai, e sua mão estava presa no braço do senhor Benson. Ele parecia assustado ou preocupado ou algo que Harry nunca esperaria de seu amigo carismático e confiante.
— Estranho — concordou Hermione, parecendo um pouco curiosa. Olhou para Harry. — Não está pensando em ir até lá, né?
— Não — disse Harry, antes de ceder. — Por que não?
— Porque isso se chamar espionar! — falou Hermione, parecendo escandalizada. — Blaise é nosso amigo e...
— E se ele precisar de nós? — contrapôs Harry.
— O senhor Benson cuidará dele — disse Hermione, confiante. Harry não duvidava disso; o senhor Benson era tão empenhado com Blaise quanto Padfoot era com Harry.
— Não é espionagem — disse Harry. — É só cuidar... — Pela expressão de Hermione, soube que ela não estava convencida, então desistiu desse argumento e tentou outro: — Não está nem um pouco curiosa?
— Não — respondeu Hermione depois de um momento de hesitação.
— Mentirosa — disse com um sorriso. Guardou o resto de seu almoço no bolso e saiu do banco.
— Não estou... Harry! Vai perder pontos se for pego! — Hermione se ergueu num pulo e correu atrás ele, sibilando reprimendas. Blaise, o senhor Benson e a mulher estavam entrando, provavelmente indo para o escritório do senhor Benson.
— Pontos? — perguntou Harry. — O que te importa? Não está no meu grupo.
— Vai se meter em problemas! — disse, puxando sua camisa.
— Só se não ficar quieta — murmurou.
— Eu vou me meter em problemas! — gemeu. — Nunca fiquei de detenção e não quero uma bem no final do ano...
— Não estou te forçando a vir junto — lembrou Harry. Deu a volta no prédio da secretaria (tecnicamente, estavam fora dos limites, então ficou de olho nos professores) e ficou um pouco surpreso ao ouvir os passos lentos e quase silenciosos de Hermione atrás de si.
-x-
— Gina, né? — perguntou Blaise.
— Giovanna — respondeu Giovanna. Ela se sentou na cadeira de Emmanuel. Ele pareceu um pouco incomodado com isso, mas era um muggle (ainda que fosse o pai de seu filho) e ela, uma bruxa que gostaria de vê-lo tentar impedi-la. Ele continuou em pé, a mão no ombro de Blaise. Ele sempre fora amável. Um bom homem (apesar de ser muggle) que não era seu tipo; ele não era exageradamente bonito, tampouco absurdamente rico. Ou rico, na verdade; estudou o terno dele, certa de que o conjunto todo costumava menos do que seu batom.
Fora provavelmente isso que salvara a vida dele... Isso, e quando Blaise nascera, ela precisara de um lugar para deixar o menino, porque ela certamente não quisera lidar com fraldas sujas e comida de bebê e o choro e ensiná-lo a usar o banheiro... Mas quem melhor para deixar seu filho do que um professor? Professores gostavam de crianças.
Giovanna olhou para seu filho. Não havia dúvidas de que ele era seu; ele era muito parecido com seu irmão mais velho.
— Giovanna — disse Blaise, testando o nome.
— Giovanna Zabini — disse ela; nunca tivera muita paciência com crianças e sua necessidade de repetir tudo. — Sua mãe.
— É — falou. — Você mencionou. — Olhou para seu pai e de volta para ela. — O que você quer?
— Te entregar isso — falou, tirando um envelope de pergaminho do bolso. Ela o tinha desde abril, quando ele fizera onze anos (teria sido enviada naquele dia, provavelmente com Minerva McGonagall), só que conversara com Dumbledore e ele lhe dera a carta para que entregasse ao seu filho. Estivera muito ocupada desde então com o trabalho, mas finalmente achara tempo para visitá-lo.
Entregou a carta a Blaise, que voltou a olhar para Emmanuel. Giovanna revirou os olhos; o menino não duraria nem cinco minutos em qualquer casa além da Lufa-Lufa se precisava tanto de apoio. Imaginou se deveria ter visitado antes.
— Abra — suspirou. Por um instante, achou que ele se recusaria (ele certamente o teria feito se Emmanuel não estivesse ali, assentindo com cautela), mas então ele quebrou o selo e abriu a carta. Seus olhos escuros correram de um lado para o outro, conforme ele lia, e seu rosto ficou um pouco pálido.
— Blaise? — chamou Emmanuel. Blaise lhe entregou a carta e, enquanto ele lia, Blaise olhou para Giovanna. Havia algo em seus olhos que a lembraram dela mesma e, pela primeira vez naquele dia, achou que o menino corresponderia às expectativas.
— Isso é uma piada? — perguntou ele.
Ou talvez não, pensou, suspirando. Ele é tão denso quanto qualquer outro muggle que já conheci.
— Não — respondeu. — É verdade.
— Magia? — perguntou. — Acho que saberia se eu tivesse magia. — Um guincho veio do outro lado da janela aberta, e Giovanna franziu o cenho, sacou a varinha e fechou a janela. Adicionou um feitiço de silêncio só para se garantir. Blaise e Emmanuel apenas olharam.
— Nunca ficou tão assustado ou tão feliz que fez algo estranho acontecer? — perguntou, impaciente.
— Er... não — respondeu Blaise, revirando os olhos. Giovanna sentiu como se ele tivesse lhe batido.
— Nunca? — perguntou, olhando de pai para filho.
— Nunca? — disse Blaise. Emmanuel assentiu.
— Mas... — Balançou a cabeça. Seu filho não podia ser um Aborto. — Mas ele está na lista! Ele recebeu a carta. Ele tem que ter magia!
— Bem, não tenho — falou Blaise. — Como eu disse, acho que saberia.
— Ele nunca fez algo estranho quando criança? Convocou brinquedos, acendeu as luzes? — Emmanuel balançou a cabeça e franziu o cenho para a carta. Giovanna voltou a pegar a varinha e os outros dois se encolheram. — Pegue — mandou.
— Não quero — falou Blaise.
— Agora, Blaise! — explodiu.
— Não — respondeu. — Não pode simplesmente aparecer depois de onze anos e mandar em mim.
— Tudo bem — disse friamente. Acenou a varinha, prendendo Blaise à cadeira. Emmanuel deu um passo para frente, mas Giovanna já estava em pé, a varinha pressionada em seu pescoço. Emmanuel engoliu nervosamente. — Pegue agora ou o papai vai se machucar.
— Você é maluca! — disse Blaise, antes de começar a gritar para a porta do escritório: — Senhora Felser! Senhora Felser, chame a... — Giovanna o silenciou. Blaise arregalou os olhos e sua boca se mexia rapidamente, mas nenhum som saia dela. Emmanuel tentou se afastar, mas Giovanna o cutucou com a varinha.
— Três — disse Giovanna —, dois, u... — Sua varinha saiu da sua mão e voou até a porta do escritório. Sorriu para seu filho, que parecia assustado. — Viu — disse —, magia. — Emmanuel estava imóvel, então pegou sua varinha e soltou Blaise. — Agora — falou — que já determinamos isso, certos passos precisam ser tomados. Primeiro, Blaise vai ficar comigo até as aulas de Hogwarts começarem, em setembro.
— Espere só um... — começou Emmanuel.
— Mas eu ainda tenho aula...
— Aulas muggles — disse Giovanna em tom de dispensa. — Hogwarts e se preparar para Hogwarts é mais importante. Nenhum filho meu vai aparecer se comportando como um sangue-ruim na frente de gente como os Malfoy, os Greengrass ou os Parkinson.
— Não sou seu filho — murmurou Blaise.
— Seu sangue diz outra coisa — disse Giovanna em tom de dispensa.
— Não pode simplesmente aparecer e levar meu filho...
— Eu apareci e o deixei há onze anos, e você não reclamou — falou Giovanna. Olhou para o relógio. — Você o verá no natal, não se preocupe.
— Não — disse Blaise. — Não, vou ficar com o pai...
— Adeus, Emmanuel — disse Giovanna, segurando o braço de Blaise. Ele tentou se soltar, mas não foi rápido o bastante; ela aparatou.
Continua.
