Secret Sorrow
Autora:
Lahy
Gênero: Angst, Yaoi, Lime
Anime: Gundam Wing
Pares: 2x1, 5+1, 3x4, 2xR, 2+H.
Iniciado dia: 19/12/2003
Disclaimer: Gundam Wing infelizmente não me pertence. Se pertencesse eu seria uma japa multimilionária com um gundam próprio P Enquanto isso ele ainda é do Tomino, da Sunrise e blablabla (vocês já sabem isso, né?). A música que aparece pela fic também não é minha. Não sei a cantora, nem compositora da letra. Só sei que ela aparece em X TV, portanto os direitos ficam com as meninas da Clamp e da autora da canção.
Comentários: Essa fanfic é simplesmente jurássica. Do tempo da Pedra. De quando minha avó era virgem... como vocês preferirem chamar. O fato é que é velha! E nunca, nunca, nunquinha foi terminada. Eu resolvi voltar a tocar meus dedinhos nela depois de dois longos anos de esquecimento nos confins do meu HD, simplesmente porque uma autora que eu admiro muito me disse "tente". E cá estou eu. Dei uma revisada no primeiro capítulo, e farei isso com os próximos que já estão prontos.
Portanto, eu espero que dessa vez, eu consiga concluí-la.

197 Depois da colonização, Marimeia Kushrenada declara sua rendição perante toda a Nação da Esfera Terrestre. Relena Darlian, vice-ministra das relações exteriores e ex-rainha Relena Peacecraft é libertada. Zechs Marquise e a ex-comandante das forças militares da Oz, Noin, desaparecem. Os móbile suits conhecidos como Gundans são destruídos, seus ex-pilotos tomam rumos diferentes...

Quatre Raberba Winner, presidente das Corporações Winner retorna a uma das colônias na região de L4. Trowa Barton passa a viver em um circo, Chang Wufei ingressa na organização mantenedora da paz, denominada Preventers. Duo Maxwell partiu rumo a região de L2 para ajudar uma conhecida na criação de uma empresa. Heero Yuy desapareceu...

Secret Sorrow
Capitulo 01 - Escolha

O jovem colocou sua única mochila em cima da cama. Abriu a janela que dava vista para uma paisagem não muito bela, o vento frio bateu em seu rosto e seus olhos voltaram a focalizar o nada. O céu metálico o fazia sentir saudades das paisagens maravilhosas que havia visto na Terra.

Voltou-se para a cama e lembrou-se do pequeno aparelho que havia guardado em sua mochila. Resolveu que poderia deixar aquilo para depois do banho.

O banheiro do pequeno quarto de hotel não era o mais lindo que ele já havia visto em sua vida, mas era mais do que suficiente. Tirou a regata surrada e a calça jeans mais do que batida. Olhou sua própria imagem no espelho. Em um gesto de frustração passou a mão pelos cabelos chocolates. Era exatamente de um banho que precisava.

Terminou de tirar a pouca roupa que lhe sobrara e abriu o registro do chuveiro, regulou a temperatura de forma a ficar agradável e deixou que seu corpo sempre tenso finalmente relaxasse debaixo da água corrente.

As gotas de água caíam pelos cabelos chocolates e continuavam a percorrem seu caminho pelo corpo bem definido do garoto. Passando por seu peitoral, abdômen, ventre, pernas e seguiam caminho rumo a pequena poça de água no chão. Enquanto isso, a mente dele voava para algum lugar que ele não sabia definir onde ficava. Os olhos de um azul sem igual permaneciam fechados, quase o tempo todo. Só abriam para focalizar onde estava o frasco com shampoo ou o sabonete.

A espuma branca lembrava-lhe aqueles dias, o aroma do sabonete lembrava-lhe o aroma de outra pessoa. Qualquer coisa, qualquer lugar...sempre lembravam uma única pessoa.

Ao terminar o banho enrolou uma toalha branca e felpuda na cintura e a outra usou para secar os cabelos encharcados. Saiu do banheiro olhando novamente para a mochila em sua cama. Não saberia dizer quanto tempo ficou apenas observando o objeto. Tentando decidir se abria ou não. Olhou para si mesmo, percebendo que se não o abrisse não poderia pegar a outra muda de roupa que tinha lá dentro.

Aproximou-se da cama, sentando no acolchoado macio. Olhou mais um pouco para o objeto a sua frente, como se criasse coragem para abrí-lo. Puxou uma das cordas com uma lentidão exagerada e com as duas mãos abriu a mochila de olhos fechados. Sabia o que iria encontrar em cima, tateou a procura do pedaço de papel e o jogou no chão. Abriu os olhos e com cuidado retirou o laptop e os outros objetos lá dentro, até encontrar as roupas que procurava.

Amaldiçoou-se mais uma vez pela vida que havia escolhido. Só então focalizou os olhos para o papel no chão. Abaixou-se para juntá-lo, deixamndo sua mente voar na imagem impressa na fotografia. Passou dois de seus dedos suavemente pela pessoa que ali estava e fechou os olhos. Em seu rosto uma expressão sincera de tristeza. Abriu o laptop começando mais uma vez seu trabalho. Seu silencioso trabalho.

- Booommm dia. - o americano abriu a porta da entrada com o maior sorriso que qualquer um dos agentes ali poderia ver. Duo Maxwell havia deixado L2 há quatro anos, e aceitado o convite para participar ativamente dos Preventers. Sua única condição fôra que permanecesse em uma área que não lidasse com missões de campo. Não queria mais esse tipo de trabalho em sua vida.

Mas, nem por isso ele perdera o brilho que possuía. Os olhos violetas, a longa trança o corpo escultural, o sorriso estonteante e a alegria extrema do americano. Ainda eram qualidades que chamavam a atenção de todas as pessoas que o conheciam.

- Duo, poderia vir aqui um minuto, por favor? - o americano sorriu e seguiu a mulher de cabelos escuros e longos. Lady Une ficou feliz ao descobrir que o americano havia decidido fazer parte da organização. Havia sido difícil convencer Trowa e Quatre a se unirem, mas depois os dois acabaram cedendo. Porém, o divertido Duo Maxwell parecia se negar completamente a isso. E ainda não parecia muito satisfeito em participar, visto que havia pedido para cuidar de assuntos burocráticos.

- E aí Une? Não me diga que é problema de novo com aquele tal de Koshinae, eu já não agüento ouvir falar do cara. - realmente Duo não havia mudado. A forma como ele tratava os assuntos sérios era única. Ele debochava, fazia piada, e o número de pessoas que saíam de seu escritório loucos de raiva devido as insistentes brincadeiras e deboches do rapaz era o suficiente para que ele já tivesse sido demitido. Isso já teria acontecido se ele não conseguisse, da sua forma peculiar, ter feito todas as pessoas que haviam passado pelo seu escritório fazerem acordos pacíficos com a Aliança e os Preventers. O que ele fazia ou dizia ninguém sabia. Apenas sabiam que, todos saiam de lá furiosos e depois aceitavam fazer o acordo proposto sem problema nenhum.

- Sim e não, mas isso é irrelevante agora. - Lady Une não pode deixar de notar como o jovem crescera nos últimos quatro anos. Os traços que antes já eram bonitos, agora se destacavam de qualquer outro. Definitivamente Duo Maxwell era seu agente mais bonito, não era à toa que ouvia tanto sobre ele nos corredores. Provavelmente o americano não dava muita bola para os comentários que ouvia por aí. Mulheres e até homens, todos o desejavam, mas ele parecia sempre igualmente inalcançável.

- Noossaa! A grande Une dizendo que algo é irrelevante? Diga aí, qual o problema? - ah sim, existia aquele detalhe também. Duo não chamava atenção só pela sua beleza, mas também pela sua personalidade brincalhona. Definitivamente, o menino que antes existia ali estava se tornando um homem maravilhoso! Além de incrivelmente atraente.

- Você sabe que eu não medi esforços para que você, Quatre e Trowa aceitassem trabalhar aqui, e você também sabe por que, certo?

- Claro, claro, os ex-pilotos dos Gundans seriam excelentes soldados para fazer parte da organização. Embora eu e você saibamos que na verdade, nós somos perigosos demais para estarmos soltos por aí. - Duo deu uma piscadela para Une junto de um sorriso debochado.

- Eu realmente subestimei sua capacidade de dedução. Mas já que você mesmo tirou essas conclusões... Lembra-se de Heero Yuy? - os olhos violetas arregalaram-se surpresos. Não ouvia mais falar de Heero desde o fim da batalha contra Marimeia. Ele simplesmente havia sumido.

- Claro que sim! Como eu poderia me esquecer do soldado perfeito? Que salvou a Terra, as colônias e principalmente a mim? - agora ele tinha uma expressão séria em seu rosto. O nome Heero Yuy era uma lei que não existia; mas ninguém, absolutamente ninguém nos Preventers ousava tocar no nome dele. Era proibido, ninguém nunca proibira realmente, mas todos sabiam que Heero era uma pessoa perigosa, que estava a solta por aí e ninguém fazia idéia de onde estava, e isso era uma vergonha para os Preventers.

- Exato. Eu o encontrei. Está numa colônia na região de L4. Atualmente encontra-se instalado em um hotel muito simples, adivinhe com que nome? - o olhar direto de Une para Duo fez com que ele lembrasse de um caso nos tempos de guerra...

- Com o meu?? - os olhos violetas se arregalaram em espanto ao lembrar-se de uma vez em que Heero havia feito uma matrícula na escola no seu nome.

- Mais ou menos. É um anagrama do seu nome. Eu já vinha seguindo esse rapaz há algum tempo e finalmente um dos agentes de lá conseguiu uma foto. Está mais velho, mas me diga se não é ele? - Lady Une entregou um envelope do qual Duo tirou algumas fotografias de um jovem de cabelos chocolates, sentado em cima da cama abrindo uma mochila somente de toalha. Outra dele já vestido digitando em um laptop. E outra do rapaz em um parque. Eram várias!

- Nossa! Realmente este é o Heero, mais velho, mas o Heero. - Duo permitiu-se ficar observando mais uma vez algumas das fotos, onde Heero estava apenas de toalha. Sabia que o companheiro de guerra era um jovem bonito, mas nunca imaginou que estivesse tão bonito.

- Olha Une, esse seu fotógrafo parece ter uma tara por um soldado perfeito de toalha - o americano comentou depois de separar seis das nove fotos em que o japonês aparecia de toalha e Lady Une não pode evitar sorrir.

- E não lamento em nada por isso. Heero não tem do que se envergonhar. - ela entrou no ritmo da brincadeira o que deixou claramente o jovem americano espantado.

- Hei! Hei, Une... Heero é mais novo, eu sempre pensei que você preferisse homens mais experientes e mais velhos. - o americano falou com uma das mãos na cintura, a trança chicoteando em suas costas. Une o amaldiçoou por ser tão sexy sem querer.

- Eu prefiro, mas preferir não significa que eu não possa fazer algumas exceções. - Ela sorriu, satisfeita por deixar Duo Maxwell sem palavras.

- Ok, ok... E você só queria que eu reconhecesse que esse homem é o Heero? - o olhar desconfiado de Duo para Une já dizia quase tudo.

- Você sabe que não. Eu sei que você me pediu para não receber missões de campo, mas eu peço para abrirmos uma única exceção neste caso. - agora os dois tinham uma expressão séria. Une por saber que estava tocando em um assunto delicado e Duo por estar com medo do que poderia ouvir.

- Uhn... Que tipo de exceção? Olha Une se você quer que eu vá lá invadir aquelas fábricas velhas e tudo mais eu já vou dizendo desde já que eu não vou colocar o meu lindo corpinho naqueles lugares.

- Não. Eu apenas quero que você traga Heero Yuy até mim. - agora sim a expressão de Duo era de surpresa. Por que ele? Heero o odiava.

- Ah ta! E correr o risco do senhor soldado perfeito cortar fora meu pescoço? - ele disse com uma expressão de deboche

- Duo! É sério, Heero não usaria seu nome se não tivesse algum tipo de ligação com você. Apenas vá e converse com ele, para pedir que ele ingresse na organização. Se você quiser depois disso pode tirar aquelas férias que você quer há anos e eu sempre nego. - Ela sabia que havia chego onde Duo queria. O americano estava pedindo férias já fazia três anos e tinha seu pedido sempre negado, a justificativa era sempre a mesma: "Você é de fundamental importância para a organização".

- Ok! Férias depois, certo?

- Certo Duo.

- Então conte comigo para buscar Heero Yuy.

Heero deixou o laptop com a estranha sensação de estar sendo observado. Foi até a janela e olhou para baixo. Nada. Percorreu todo o pequeno quarto no qual estava hospedado, vasculhando cada canto a procura de uma microcâmera.

Pegou o sobretudo e saiu, definitivamente estava enlouquecido por ficar trancado tanto tempo.

O americano observou de boca aberta o japonês sair do hotel, sim era Heero e ele estava absurdamente sexy. O sobretudo preto dava um ar de "eu sou mais perigoso agora do que era há quatro anos atrás" e os olhos, aqueles olhos lindos continuavam com o olhar perigosamente sexy.

Duo aproveitou a oportunidade para sair de seu esconderijo estratégico e ir até o quarto de Heero. Seria mias fácil abordá-lo dessa forma.

O americano estranhou a bagunça no quarto, sempre viu Heero como uma pessoa organizada, e definitivamente, aquele ambiente não combinava com o garoto que havia conhecido. Mas, vai se saber o que ele estava fazendo trancado naquele lugar há aparentemente duas semanas?

Estranhou ao ver a tela do laptop ligada. O ex-companheiro sempre fora cauteloso com essas coisas e Duo, com sua curiosidade infantil, sempre quisera bisbilhotar, mas nunca tivera a oportunidade. Algumas planilhas estavam abertas, dados de algumas pessoas que os Preventers estavam investigando e... Um arquivo cujo nome era P-DM. Duo abriu curioso, lendo o que estava escrito.

kanashimi no hontou no wake kikanaide tsuyoku dakishimeta
tsuki akari kimi o terashite boku wa tada itoshisa tsunorase
setsunakute nemurenai

ai sureba ai suru hodo tsuraku dakara yasashiku tsuyoku nareru hazu
kanashimi datte omoide ni kawaru yo boku wa shinjite mitai
kimi o omou kimochi yuzurenai kara

O japonês caminhou até anoitecer. Já estava cansado daquela vida. Fazia quatro anos que vivia daquela forma, andando de um lado para o outro, tentando esquecer e tentando encontrar. Respostas que não vinham, dores que não iam.

A tristeza sem fim dominava o olhar do ex-soldado perfeito. Neste momento, Heero Yuy estava imerso em seus próprios pensamentos, lembranças do que havia deixado para trás. Do que havia destruído para que aquela paz existisse. Porém, ele nunca pensou que ao fim da guerra ele não encontraria a paz pela qual tanto havia lutado.

Caminhou novamente para o quarto que havia alugado. Calma e lentamente, não precisava de pressa para chegar. Cumprimentou o homem da recepção e subiu as escadas que levavam ao quarto no sexto andar. Abriu a porta e a surpresa que teve foi inigualável.

- Duo...

- Heero! Desculpe invadir o seu quarto assim - o sorriso maroto e o olhar vivo de Duo se chocaram com os olhos azuis gélidos de Heero.

Em um minuto o japonês sentiu o pânico lhe invadir. O que Duo estava fazendo ali? Olhou ao redor e a porta pela qual entrara era a única saída, porém ele não podia fugir sem levar seu laptop. Duo pareceu perceber o desespero nos olhos azuis.

- Calma cara! Olha, só escuta o que eu tenho pra dizer e você pode ir embora, ok? - só então Heero deixou seus olhos vagarem pelo corpo do americano. Usava a calça e a jaqueta dos Preventers. Por baixo da jaqueta uma blusa social marrom e uma gravata.

Talvez escutá-lo não fizesse mal.

"Ele não sabe o que fez para você Heero"

O japonês acenou com a cabeça afirmativamente. Fechou a porta atrás de si e dirigiu-se em direção a cama já arrumando suas coisas para ir embora. Não poderia mais ficar naquele hotel.

- Une me pediu para vir aqui, sabe... eu to trabalhando lá nos Preventers há algum tempo. E você Heero? O que tem feito? - o olhar violeta, curioso caiu sobre o rapaz de cabelos chocolates.
Heero só agora percebia como Duo havia crescido. Estava mais alto que ele, os ombros mais largos, os braços aparentemente mais fortes. Nunca pensou que o americano poderia ficar mais bonito do que era antigamente.

- Nada - continuou a ajeitar suas coisas. Olhou para baixo e encontrou a fotografia que tanto amava e odiava. Aparentemente Duo não havia visto. O japonês sentiu-se aliviado e guardou o pedaço de papel cuidadosamente na mochila.

- Como nada? Nós estamos te procurando a um tempão. Você simplesmente desapareceu. Heero! Tá me escutando? Olha cara a Une quer falar com você, ela me pediu que o levasse até o escritório dos Preventers - apesar de Duo ser lindo, aquela mania dele de falar pelos cotovelos irritava o soldado perfeito.

- Diga a ela que eu não vou, não tenho nada a ver com isso. - a voz dele continuava gélida. Duo, por um instante, sentiu-se inseguro. Heero era a única pessoa que ele temia e admirava ao mesmo tempo. E ele ainda tinha a capacidade de fazê-lo se sentir inseguro, afinal o soldado perfeito era o único que podia colocar suas habilidades em xeque.

- Heero amigão, eu nunca pensei que mesmo depois da guerra eu continuaria sendo o único amigo que você teria. - Heero o olhou sério e os olhares se chocaram, violeta contra azul, era uma batalha de olhares determinados e raivosos. O japonês sabia o que aquilo significava, ainda lembrava daquele dia.

- Nós nunca fomos amigos, Duo. - a voz cortante fez o coração de Duo se comprimir. Não que ele quisesse a amizade de Heero, ele apenas o considerava um amigo e pensava que o japonês o considerava assim também.

- Sinto lhe dizer, mas eu sou o único que teve coragem de vir lhe dizer que se você não se apresentar na sede dos Preventers, vai ser acusado de crimes de guerra. Entenda, esta é uma medida que está sendo utilizada para manterem os olhos em você. É melhor ir até lá e saber o que querem do que ter que fugir como um criminoso.

- Eu já fujo como um criminoso, ter esta fama não vai mudar em muito a minha vida Duo, agora se era só isso que tinha que me dizer adeus, eu não quero vê-lo nunca mais. - os olhos violetas alargaram-se em espanto. Sabia que Heero não gostava dele, mas não tinha idéia de que ele o odiava tanto. Quando deu por si o japonês já estava saindo pela porta com a mochila num dos ombros e o laptop em uma das mãos.

Por um instante, Duo pode ver que Heero não era feliz. Sempre se considerou um bom observador, conheceu Heero na guerra e naqueles tempos ele andava de maneira ereta, como se fosse uma pessoa inabalável. Uma parede de pedra que ninguém conseguiria quebrar. Agora, os passos lentos e a cabeça baixa davam a ele um ar de derrota. Nem mesmo parecia que havia sido o soldado perfeito. Aquele que havia conquistado a paz entre a Terra e as colônias, Heero Yuy parecia mais um soldado derrotado, perdido em seu caminho.

Percebendo que o outro já estava saindo de sua vista Duo correu rapidamente tentando alcançá-lo e o encontrou pagando, provavelmente a estadia, para o recepcionista.

- Heero! Você não devia ter me deixado falando sozinho. - Duo percebeu o olhar estranho do homem que estava recebendo o dinheiro. Primeiro o olhar doi dirigido para ele com o uniforme dos Preventers e depois para o japonês, como se estivesse assombrado com o nome que ouvira.

- Heero? Heero Yuy?? - os olhos castanhos arregalaram-se em surpresa. Os livros diziam que Heero Yuy, herói da Terra e das Colônias estava morto. Porém, o homem com o uniforme dos Preventers o chamara assim.

- É só um ex-soldado louco, existem milhares por aí. Aliás, melhorem a segurança, este louco estava no meu quarto quando eu cheguei. - o japonês falou com uma calma comum ao soldado perfeito. Por um instante Duo se viu novamente como um adolescente, em um hospital, e com um soldado frio dizendo que ele deveria recuperar-se.

- Hei!! Eu não sou louco não! Eu sou Duo Maxwell, agente do distrito de Nova York. E cá entre nós, sou o melhor no que faço. Não é todo mundo que quer ter que cuidar desses loucos que tem por aí, tentando ameaçar a paz. - Duo falava com um orgulho extremo, sabia que o que dizia era verdade. Ele era o único louco que se atrevia a peitar as pessoas que desejavam uma guerra de verdade.

- Eu não desmereço seu trabalho senhor Maxwell, apenas sei que o senhor está louco, eu não sou o homem que você diz que eu sou. - dito isto, Heero saiu do prédio deixando Duo para trás novamente, não se esforçaria em fugir. Conhecia Duo e sabia que não adiantava fugir dele, talvez por isso ele fizesse seu trabalho tão bem quanto ele dizia.

- Ok você venceu, como quer que eu o chame então? - Duo apareceu do lado de Heero com aquele sorriso cativante que ele sempre tivera.

"Ele não mudou nada! Deus, Duo vá embora eu não quero mais você perto de mim"

- Odin. Agora me deixe em paz, eu só quero ficar em paz. - os olhos azuis pareciam derrotados na visão do americano. Pela primeira vez, Duo viu um semblante de tristeza e abatimento no rosto jovem e belo do japonês. E, também, pela primeira vez, sentiu pena dele.

- Odin, Heero, seja lá como você quer ser chamado. Eu posso fazer um convite pessoal então? - o americano o olhava diferente de qualquer outra vez. O coração de Heero acelerou. O que aquele maluco queria dizer com "convite pessoal?".

- Convite pessoal? - o olhar de Heero tinha toda a dúvida que Duo achava que teria, mas pela primeira vez teve pena dele.

- A chata Une quer falar com você não quer?

- Hn - Heero achou engraçado a maneira como o ex-amigo falou de sua superior, mas não demonstraria isso.

- E se você não for ela vai mandar irem atrás de você, afinal a velha não gosta de perder pra ninguém, nem mesmo para o soldado perfeito - o americano ficara feliz ao ver que conseguira prender a atenção do japonês. Sua única dúvida era se Heero aceitaria sua proposta e como Une reagiria ao saber que ele propusera aquilo.

- Não enrole, Duo. - por um momento, o americano teve a impressão de ter visto uma leve curvatura de lábios. Quase um sorriso, pedindo para se formar no rosto de Heero.

- Ok! Veja, eu moro sozinho em Nova York, e tem um quarto sobrando no meu apartamento, ao invés de você ficar zanzando pra lá e pra cá você poderia ficar lá. Não teria problema para mim. E nós poderíamos conseguir facilmente um emprego em uma empresa de informática. Você não precisa ficar nos Preventers, se Une souber onde você está e que um agente dela está quase sempre com você, talvez ela o deixe em paz. - Heero ainda assimilava todas as palavras ditas por Duo. Aquele americano baka realmente não fazia idéia do que estava lhe propondo, fazia?

Heero se perguntava se o garoto de olhos violeta ao seu lado tinha vindo com aquela idéia em mente. Ou se era algo improvisado. Pelo que conhecia de Duo, ele nunca vinha com uma idéia em mente, era o improviso em pessoa.

- Duo, o que leva você a pensar que eu aceitaria isso? - Heero estava dividido, um lado dele dizia "O que você tem a perder?" enquanto o outro dizia "É Duo Maxwell, lembra-se do que ele fez a você?". Ele não sabia o que fazer. Realmente não tinha o que perder, mas Duo havia feito o que havia feito, será que aceitar a proposta dele seria se torturar mais?

- Você não tem para onde ir, e apesar de tudo... mesmo sabendo que você não vai muito com a minha cara, posso inverter meu turno pra gente não se encontrar muito. E talvez fosse bom pra você voltar pra Terra. Eu sentia muitas saudades de lá quando estava em L2. - as palavras de Duo pareceram sinceras para o japonês, porém aquelas em especial "eu sei que você não vai muito com a minha cara" elas não eram verdadeiras, apenas uma falsa verdade em que ele, Heero Yuy, fizera com que o americano acreditasse.

"Gomen nasai Duo... eu nunca tive qualquer tipo de sentimento contra você...".

Duo viu os olhos de Heero se fecharem, como se ele estivesse fazendo questão de se prender no seu próprio mundo de pensamentos. Novamente aquele semblante de tristeza passou pelo rosto do japonês. Para Duo, estava evidente demais a tristeza em que o amigo se encontrava.

"O que eu tenho a perder?".

"Talvez o pouco de sanidade que lhe resta"

"Pelo menos eu não ficaria mais sozinho"

"Pior, ficará com a fonte da sua desgraça".

"Mas...".

- Certo Duo, e se eu aceitar?

- Você vai saber que pelo menos tentou levar uma vida normal - o sorriso que Duo lhe deu foi à resposta para todas as suas perguntas. Se deveria sofrer novamente que fosse tentando levar uma vida normal.

- Então eu irei com você.

ai sureba ai suru hodo tsuraku
dakara yasashiku tsuyoku nareru hazu
kanashimi datte omoide ni kawaru yo
boku wa shinjite mitai
kimi o omou kimochi
yuzurenai kara

Nova York, Sede dos Preventers,201 A.c (After colony)

- Eu não acredito!! Você fez o que?! - os gritos de Lady Une chegavam a ser escutados do outro lado dos corredores.

- Credo Une, você faz tempestade em copo d'água, eu só convidei Heero Yuy para morar comigo, qual o mal nisso? - Une estava se irritando, sabia muito bem que Duo não tinha idéias malucas sem bons fins, porém levar Heero para o apartamento dele era loucura e todos na agência sabiam disso.

- O mal? Maxwell, ninguém sabe como ele está, se deve ou não receber algum tipo de tratamento médico ou coisa assim.

- Espere aí! Eu vi Yuy! Eu sei como ele está! Nada que um emprego e uma vida normal não resolvam. Você não deve tratar ele como criminoso. Os livros o tratam como um herói... morto. Para todos Heero está morto! Como você se sentiria se fosse a algum lugar e não pudesse usar seu nome porque pensam que está morta? - o sorriso sádico de Duo revelava que ele sabia o que dizia. Une rangeu os dentes... Se Duo desse uma boa explicação quem sabe ela aceitaria aquela idéia.

- Certo Duo, me explique sua idéia e eu direi se aprovo. Por que você não me pergunta as coisas antes? Poupa muito trabalho, sabia? - o americano sorriu e deu um beijo no rosto de Une sussurrando em seu ouvido:

- Você sabe que eu prefiro resolver tudo a minha maneira - Une não pode deixar de se derreter... Duo Maxwell sabia ser irresistível ao seu modo. Mesmo sendo tão mais novo o garoto era charmoso e extremamente sensual.

- Certo Maxwell, explique-se - ela disse sentando-se em sua poltrona confortável e cruzando as pernas calmamente.

- Se Yuy estiver morando comigo, eu poderei ficar vigiando ele. Apesar de achar que ele não está fazendo nada de suspeito. Podemos conseguir facilmente para ele um emprego em uma empresa de informática. De forma que poderíamos estar sempre cientes do que eles está fazendo, sem que fosse necessário ele se sentir desconfortável e tentado a fugir. - o americano sorriu confiante, simples, prático e eficiente. Era assim que as coisas funcionavam com ele.

A aprovação não tardou a vir, enfim Duo Maxwell e Heero Yuy poderiam compartilhar um apartamento sem problema nenhum.

O americano tratou de apressar o melhor possível a vinda do japonês para a Terra. A mudança não era grande, mas ele queria que Heero se sentisse o mais confortável possível. O visto foi conseguido com facilidade, e não demorou dois dias para que um grande caminhão das corporações Winner estivesse parado na frente do lindo prédio em que Duo morava entregando os melhores móveis para um jogo de quarto de solteiro.

Duo providenciara tudo para que Heero estivesse satisfeito em seu novo lar, e o japonês foi recepcionado no aeroporto por Quatre, Trowa e logicamente Duo.

- Heero! Seja bem vindo a Nova York! - o loirinho sorriu amigavelmente como de costume. O japonês ficou satisfeito ao ver a pequena mão de Quatre firmemente presa a do moreno de olhos verdes ao lado dele. Era bom saber que os amigos ainda estavam juntos, ele sempre torcera muito por eles.

- Arigatou Quatre. - a voz fria e gélida novamente fez a imensidão violeta se perder pelo corpo do japonês, Heero frio era sexy... Heero tristemente frio era mais sexy ainda.

- Fico feliz que você tenha aceitado o convite de Duo. - Trowa e sua voz calma e tranqüilizante. Era isso que o coração do japonês precisava naquele momento

"Tem certeza de que foi o melhor a se fazer?".

"Não"

"Você vai sofrer novamente"

"Eu sei"

Os olhos do japonês demonstravam toda a surpresa que tivera ao ver tudo que Duo tinha preparado para recebê-lo. Seu coração batia acelerado. Viver normalmente? Em Paz? Duo certamente não sabia que ele nunca fora digno de viver em paz.

Assim que o americano o deixou sozinho, Heero permitiu que seus olhos se perdessem pelo guarda-roupa da cor do marfim. Pela cama, com detalhes entalhados a mão, combinando perfeitamente com o guarda-roupa. A escrivaninha e os criados mudos. A roupa de cama que cheirava a nova. A pintura intacta.

Sentou na cama sentindo a maciez do colchão. Abriu a mochila e tirou a foto tão querida que ele sempre carregara. Decidido a finalmente emoldurá-la. Talvez, aquela nova vida pudesse realmente trazer-lhe a paz que ele tanto almejara há cinco anos atrás. A paz que ele tanto lutara para conseguir e que nunca viu em sua vida. Para ele, aquela garotinha sempre estaria lá. A dor daquele dia que mudara o soldado perfeito dentro dele sempre estaria lá. Porém, talvez agora, Duo estivesse lhe dando uma chance.

"Você está se enganando"

"Provavelmente"

Continua...