Um Momento Antes do Fim
A noite caía devagar, assim como os olhos que não queriam fechar. O frio era inevitável. Ninna tremia. Chorava. O mundo não tinha mais cor. Não tinha som. Ela sabia que os pássaros cantavam, que as flores sorriam, que o tempo corria... Mas ela não conseguia ver beleza em nada daquilo. Sua vontade era sumir.
Não conseguia expulsar de seus ouvidos o sussurro da morte, que a sacudia violentamente. Ela só queria tornar menos dolorido aquele ultimo momento de apelo. O vento acariciava Ninna, como quem tenta consolar uma criança de coração partido por ter perdido sua boneca, mas não fazia efeito. Ela não se importava.
Aquilo tudo ia acabar. Ela sabia. E acabaria logo. Ela não sabia se desejava ou não o fim. Não sabia o que aconteceria depois. Não sabia para onde iria, ou quem cuidaria dela - se é que alguém cuidaria. Naquele momento, não importava. E ele estava atrasado.
Será que nem em uma noite como aquela ele conseguia chegar na hora? Ninna sentia o tempo acabando. Será que nem ele estaria ali para segurar sua mão? Será que ela estaria sozinha, como sempre estivera?
Sustentada pela vontade de vê-lo, ela esperou. Esperou horas, talvez. Não fazia diferença... ela sabia que ele viria. Que não seriam horas em vão.
Lá estava ele. Alto, arrogante, como sempre. Mas carregava uma expressão sombria em seu rosto de veludo. Ele estava sofrendo. Ela sabia disso.
Quando viu-a, Guilherme rumou para o banco solitário onde Ninna se encontrava. Ela, ao vê-lo sentar-se, sorriu. Sorriu como não fazia há muito tempo. Ele fora vê-la! Ela não estaria sozinha...
Em um misto de sensações, trocaram um leve beijo. Naquele momento - uma fração desprezível de segundo - Ninna chegou a acreditar que podia voar. Sentiu todo o medo que a dominava finalmente indo embora, levando também a dor enorme que sentia em cada membro de seu corpo. Ela sentiu como se aquele câncer estivesse deixando-a livre de uma vez. Por apenas aqueles míseros segundos, achou que podia ser feliz de verdade.
Separaram-se. Em um último suspiro de dor, olhou-o nos olhos. Sentiu amor. Felicidade.
O mundo foi escurecendo enquanto uma última lágrima solitária saltou livre de seus olhos de mel. Ela não estivera sozinha. Tudo terminara nos braços do protetor que ela elegeu... E isso, sim, fazia toda a diferença do mundo.
