Título: Escritório Maluco
Autoria: FireKai
Sumário: Num escritório como tantos outros, alguns funcionários bastante malucos vão viver peripécias e meter-se em confusões, onde a loucura é uma constante. Desde uma greve, passando por uma vingança e muitos romances.
Escritório Maluco
Capítulo 1: Manifestação
Algures em Portugal, num escritório da empresa Nafanadax, estava a iniciar-se um dia de trabalho. Ou pelo menos, devia estar a iniciar-se um dia de trabalho, se os empregados quisessem trabalhar.
O departamento em que se foca a nossa história é constituído por quatro secretários, um chefe e uma empregada da limpeza. O chefe, Rodolfo Guimarães é um homem pequeno, meio careca, com um grande bigode preto e uma personalidade forte. É um pouco autoritário e temperamental. Aparenta ser inteligente à primeira vista, mas muitas coisas passam-lhe ao lado sem que perceba.
A secretária mais velha, com cerca de quarenta e poucos anos, chama-se Magda Teresa Évora. Tem cabelo loiro, pintado e é muito vaidosa. Diz-se que já foi rica, mas perdeu o dinheiro todo e agora tem de trabalhar, apesar de continuar a ter manias.
Tomé Matosinhos é o estagiário, um rapaz com aparelho nos dentes, que usa óculos e é muito responsável. É o único dos secretários que realmente gosta de trabalhar. Vera Abrantes é outra secretária, possui longos cabelos negros e apesar de ser muito bonita, é também um pouco burra e superficial.
Mário Sacavém é o último dos secretários e é o engatatão do grupo. Possui cabelo ruivo espetado e pensa que todas as mulheres estão interessadas nele. Por fim, temos a empregada da limpeza, Susete Braga, uma empregada brasileira mas com descendência portuguesa, que é muito coscuvilheira.
Feitas as apresentações, começa então o dia na empresa. O horário de entrada é às nove da manhã. O estagiário Tomé chega cinco minutos antes, a empregada da limpeza Susete chega dois minutos antes, o chefe Rodolfo chega sempre às nove em ponto e os restantes chegam sempre atrasados e fazem de tudo para saírem mais cedo.
"Ai, valha-me nossa Senhora!" exclamou a Vera, abanando a cabeça, desgostosa.
O Mário olhou logo da sua secretária.
"O que se passa, Verinha?"
"Ligou-me agora uma senhora e vou ter de preencher este formulário." respondeu a Vera, pegando no respectivo formulário. "São duas folhas. Vai dar imenso trabalho!"
"Credo, querem matar-nos de trabalho." disse a vaidosa Magda. "Ainda são só onze da manhã e vejam lá, já tive de fazer um telefonema."
"E mais o quê?" perguntou o estagiário Tomé.
"E mais nada. Já chega, não?"
"Vocês deviam era trabalhar como eu."
"Olha-me este estúpido!" gritou a Magda, furiosa. "Nós fartamo-nos de trabalhar, fica sabendo."
"Só se for trabalhar para o bronze." disse a empregada Susete, que andava por ali a limpar o chão.
A Magda não teve tempo de responder, porque nessa altura o chefe Rodolfo saiu do seu gabinete e aproximou-se dos secretários e da senhora da limpeza.
"Tenho um comunicado a fazer-vos." disse o chefe. Todos olharam para ele com atenção. "A partir de amanhã, as vossas pausas começarão a ser contabilizadas."
"As pausas vão ser contabilizadas? Tipo, as pausas em que comemos, tomamos cafés, não fazemos nenhum, vamos apanhar banhos de sol para o telhado e assim?" perguntou a Vera, confusa.
"Exactamente. Vão passar a ter só dez minutos de manhã e dez minutos à tarde para comerem e beber café. E dez minutos, no dia todo, para irem à casa de banho."
"Que horror!" exclamou a Magda. "Mas como é que eu vou conseguir? É que eu levo sempre uma revista para a casa de banho e demoro, no mínimo, uma hora para a ler."
"Pois, mas é que eu já notei que vocês passam mais tempo a comer, beber, ler revistas, ir à casa de banho e afins, do que a trabalhar."
"Isso não é verdade. Ainda ontem trabalhei quatro horas e um minuto e tive só três horas e cinquenta e nove minutos de intervalo." defendeu-se o Mário. "Se bem que das quatro horas que eu referi, duas passei-as no messenger, uma passei-a a dormir e a outra passei-a a conversar com a Vera."
"Bem, já ficam avisados." disse o chefe, voltando ao seu gabinete, parecendo não ter ouvido ou pelo menos percebido o que o Mário tinha dito.
"Isto é um ultraje!" exclamou a Magda.
"Eu acho bem." disse o estagiário Tomé.
"A mim nem me dão intervalos!" queixou-se a empregada Susete.
"Pessoal, proponho que façamos uma manifestação." disse o Mário.
"Manifestação? Isso dá muito trabalho. Temos de ter cartazes e andar aos gritos." disse a Vera.
"Pois, lá isso é verdade. Mas é uma ideia…" disse a Magda, pensativa.
"Se não for uma manifestação, temos de pensar noutra maneira de fazer com que o chefe anule esta regra dos intervalos." disse o Mário. "Mas pensar dá imenso trabalho…"
"Já sei!" exclamou a Susete, entusiasmada. "Mediante um pagamento generoso, eu podai começar a cantar uma ou duas músicas do meu artista favorito, até o chefe concordar em voltar atrás com a regra dos intervalos."
"Nem pensar!" exclamou o Tomé. "Susete, você canta muito mal. E eu nem quero saber da greve. Não tenho de a aturar a cantar."
"E ainda por cima o seu cantor favorita é aquela… o Toni Parreira, que eu não gosto nada." disse o Mário.
A Magda abanou a cabeça, um pouco indignada.
"Credo queridos, o que é que vocês têm contra o Toni Parreira? Ele é um homem tão bem conversado, apesar de usar um capachinho. E canta tão bem. Parece um rouxinol a cantar uma sinfonia… ai, ai, se ele não fosse casado, eu é que sabia o que lhe fazia." disse ela.
O Mário e a Vera entreolharam-se, quase começando a rir.
"Mas pronto, acho que a ideia da Susete é boa. Ela tem uma voz de cana rachada e tenho a certeza que, em apenas cinco minutos de cantoria, o chefe reconsiderava só para que ela se calasse." disse a Magda.
"E podia ser que eu começasse a ter direitos sobre os intervalos." disse a Susete, zangada. "Eu devia ter direito aos mesmos intervalos que vocês. Isto é discriminação."
"Pronto, pronto, depois fala sobre isso ao sindicado das senhoras da limpeza." disse Vera, interrompendo as lamúrias da Susete. "Eu estou contra a ideia das cantorias. É que depois não era só o chefe que era afectado. Éramos nós todos e as pessoas todas num raio de dois quilómetros. E depois ainda éramos presos por provocar distúrbios."
"Aqui a bomboca tem razão. Temos de pensar noutra maneira. Eu ainda voto na manifestação." disse o Mário.
"Vocês não querem fazer mesmo nada." disse o Tomé, abanando a cabeça. "Sinceramente, tanta gente no desemprego e vocês… enfim, vocês têm é de trabalhar."
"Está calado!" gritou a Magda, zangada. "Mas pronto, então vamos lá avançar com a manifestação."
"Temos de convencer mais pessoas a juntarem-se a nós." disse o Mário. "Acho que os nossos colegas das outras secções não vão querer, já que o chefe não é o mesmo e não têm esta regra para eles."
"Sorte a deles." disse a Vera, suspirando.
E assim, enquanto a Susete começou a limpar as casas de banho e o Tomé continuou a trabalhar, os outros começaram a preparar a manifestação e também um lanchezinho da tarde. À hora da saída, já no final da tarde, a manifestação já estava organizada.
"Eu telefonei a uns amigos meus, que têm jeito para recorrer à violência, para o casão da manifestação não convencer o chefe. Além de que, sempre são mais pessoas e assim a manifestação parece maior." disse o Mário.
"Quanto a isso, não se preocupe. Eu pus um anúncio na Internet e telefonei a todas as minhas amigas a dizer que amanhã vai haver uma manifestação a favor do Toni Parreia." disse a Magda.
"Mas a nossa manifestação não tem nada a ver com o Toni Parreira." disse a Vera, confusa.
"Ó criatura, puxe pela cabeça. É que assim somos mais pessoas e dá mais credibilidade. Ainda aparece aí a televisão e somos convidados para ir a um desses programas da manhã ou aparecemos no telejornal." disse a Magda.
"Ah, isso eu gostava." disse a Vera, sorrindo.
"E pronto, tudo bem que é mentira e não é nada sobre o Toni Parreira, mas é que se eu dissesse que era por causa dos intervalos, só vinha meia dúzia de pessoas. E além disso, o chefe também não gostava de ouvir as músicas do Toni Parreira, porque no outro dia proibiu-me de cantarolar uma música dele."
"Não terá sido porque você canta mal?" perguntou a Vera, mas recebeu um olhar gelado da Magda. "Ou então ele não gosta mesmo do Toni Parreira. Eu vou trazer a minha família para nos ajudarem na manifestação."
Tomé, que ia trabalhando, mas também ouvindo a conversa dos seus colegas, abanou a cabeça.
"Isto vai dar barraca." pensou ele. "E ainda vai sobrar para mim também…"
E assim, no dia seguinte, à frente do escritório estava uma grande multidão. Além da Vera, que tinha trazido os pais e os avós para ajudarem na manifestação, a Magda tinha mobilizado imensas mulheres, todas fãs do Toni Parreira.
O Mário tinha trazido os seus amigos especialistas em violência, a Susete tinha apenas trazido uma câmara de filmar, para filmar tudo e o Tomé não tinha trazido nada, pois não estava de acordo com a manifestação, mas mantinha-se por perto.
"Vão acabar por ser todos despedidos." avisou ele. "Eu não participo na manifestação, podem ter a certeza."
"Ó Tomé, você é um chato. É por isso que nenhum de nós gosta de si." disse a Magda.
"Pois, o sentimento é recíproco. Só eu é que trabalho, mas hei-de ser promovido de estagiário para secretário e depois chefe, depois director e depois domino a empresa toda!" exclamou o Tomé, rindo-se como um maníaco.
"Coitado, está doido." disse a Vera, abanando a cabeça. "Tadinho…"
"Ó filha, temos mesmo de carregar com estes cartazes?" perguntou a mãe da Vera, que tinha um grande cartaz nas mãos, a reclamar da falta de intervalos.
"Tem de ser mãe. Aguente. Avó, ponha essa tabuleta para cima, para o chefe ver bem."
"Está bem, netinha. Mas isto é pesado." queixou-se a avó da Vera.
"Quando é que aparece o Toni Parreira?" perguntou uma das amigas da Magda.
"Falta pouco." mentiu a Magda. "Mas primeiro vai aparecer um homem baixo e de bigode, que odeia o Toni."
As fãs do Toni ficaram chocadas e furiosas.
"Acho que esse homem pequenito merece uma lição." disse a Luísa, uma das amigas da Magda. "Meninas, vamos dar-lhe porrada!"
Todas as fãs acenaram afirmativamente e algumas até lançaram gritos de guerra. Os amigos do Mário estavam prontos para entrar em acção.
"Primeiro podem dar-lhe uns murros na cabeça. E depois vejam se lhe conseguem arrancar o bigode." disse o Mário, planeando tudo.
"Está bem. É sempre engraçado bater nos mais pequenos." disse um dos homens, esfregando as mãos de antecipação.
A Susete estava a pôr a sua máquina a funcionar.
"Vou gravar isto tudo e depois mando para a televisão. Vamos ficar famosos!" exclamou ela, satisfeita.
Pouco depois, um carro estacionou ali perto e de lá saiu o chefe Rodolfo.
"Mas o que vem a ser isto?" perguntou ele, irritado.
"Queremos os nossos intervalos super longos de volta!" gritou a Vera.
"Intervalos! Intervalos!" gritou a família da Vera.
"Grite mais alto, avô!"
"Desculpa, mas caiu-me a dentadura." disse o avô da Vera.
"Meninas, é aquele malvado que não gosta do Toni." disse a Magda, às fãs.
"Meninas, vamos a ele. À carga!" gritou a Luísa.
Ela e as outras correram para o chefe e começaram a bater-lhe com as malas. Uma das senhoras até tirou um tijolo da mala e quase acertou na cabeça do chefe. Os amigos do Mário também se juntaram à briga. A Magda, o Mário, a Vera e o Tomé ficaram a ver tudo de longe, enquanto a Susete se aproximava mais para filmar tudo de perto.
"Olhem lá, não acham que as mulheres estão a exagerar?" perguntou o Mário. "Os meus amigos assim nem conseguem dar uns murros bem dados no chefe."
"Olhem que eu acho melhor fazermos alguma coisa, senão ainda o matam e depois aí é que não ficamos com os nossos intervalos de volta." sugeriu a Vera.
"Já sei! Vamos interferir e fingir que somos os heróis. O chefe vai ficar-nos eternamente grato e dá-nos os intervalos de volta!" exclamou a Magda.
A Vera e o Mário entreolharam-se e correram os dois, seguidos da Magda, para irem salvar o chefe. O Tomé abanou a cabeça.
"Eu não me meto em confusões." disse ele.
Com muito esforço, o Mário conseguiu parar os seus amigos e a Magda tentava que as mulheres parassem.
"Meninas! Chega! Já disse para pararem de bater no chefe! Olhem, o Toni Parreira está ao fundo da rua!" gritou ela.
Imediatamente, todas as mulheres viraram a cabeça e, mesmo sem verem o Toni, saíram dali a correr, pensando que ele tinha ido para outra rua.
"Chefe, salvámo-lo!" gritou a Magda.
O chefe levantou-se do chão. Estava com os dois olhos negros, a roupa meio rasgada e o bigode estava meio murcho. Os amigos do Mário afastaram-se rapidamente.
"O que se passou?" perguntou o chefe, confuso.
"Esta gente maluca veio contra si. Mas nós chegámos a tempo." mentiu a Vera.
"Mas tinham cartazes por causa dos intervalos." disse o chefe.
"Foi o Tomé. Convocou esta manifestação. Aquele estagiário é do pior!" exclamou o Mário. "Mas tem-nos a nós, que gostamos muito de si."
"Oh... obrigado, fieis funcionários. Sendo assim, vou dar-vos o vosso tempo de intervalo de volta, como prova da minha gratidão."
A Magda, a Vera e o Mário sorriram.
"E vou castiga o Tomé! Ele vai ver! E olhe lá Vera, aqueles não são os seus familiares?"
"Ah... são. Veja lá o poder de persuasão do Tomé, que até convenceu a minha família a manifestar-se. Contra a minha vontade, é claro."
E assim, a Magda, a Vera e o Mário conseguiram os intervalos de volta, a Susete conseguiu mandar o que gravou para a televisão e o Tomé acabou por ser castigado por uma coisa que não fez, pois os outros três confirmaram que a ideia tinha sido dele.
"Ainda vão pagar por isto!" pensou o Tomé, furioso. "Vão ver!"
No dia seguinte, as coisas pareciam ter voltado ao normal no escritório. A Susete andava a fazer as limpezas, a Magda, a Vera e o Mário não faziam praticamente nada e o Tomé agora tinha imenso trabalho como castigo.
"Veeeeeeeeera! Venha cá!" gritou o chefe do seu gabinete.
"Ai, que chatice. Agora tenho de me levantar. Dá muito trabalho..." queixou-se a Vera, indo até ao gabinete do chefe. "Chamou, chefe?"
"Chamei. Sabe, não gosto nada que se chame Vera." disse o chefe, ainda com os dois olhos roxos.
"Porquê chefe?"
"Porque assim não tem piada chamá-la. Veeeeeeeeera! Não dá sonoridade. Devia chamar-se Elsa ou algo assim. Ó Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeelsa! Vê, tem muito mais sonoridade."
"Se quiser, eu mudo o meu nome."
"Bem, mais tarde pode tratar disso. Para já, preciso que me organize esta documentação por ordem de datas."
"Mas não pode dar isso ao Tomé para ele fazer?" perguntou a Vera, sem vontade nenhuma de trabalhar. "É que eu estava ocupada a jogar um jogo ali no meu computador..."
"Joga mais tarde. O Tomé agora tem trabalho pelo menos para uma semana, que é para ele aprender a não organizar manifestações. E muita sorte tem ele de eu não ter apresentado queixa na polícia." disse o chefe. "Vá, leve lá os documentos e ponha-os por ordem de datas."
"Não pode ser por ordem alfabética? É que eu não sou muito boa com números. Nunca percebi muito de matemática."
"Arranje-se!" gritou o chefe, irritado. "É para isso que lhe pagam."
A Vera saiu do gabinete do chefe com imensas folhas e acabou por se resignar a pôr tudo por ordem de datas.
Enquanto isso, a Magda estava a ler o jornal.
"Hum, que interessante. Homem vistoso, com posses e cabeleira farta procura senhora para relacionamento muito sério." leu ela. "Ena, homem com posses e vistoso? Pode ser o homem da minha vida! Tem aqui um endereço. Vou já mandar uma carta para lá."
A Magda pôs-se a escrever no computador e depois imprimiu a carta e tirou um envelope da gaveta, junto com um selo.
"Já está. Deve ser mesmo o homem da minha vida. E ainda por cima, mando esta carta de graça. Usei o computador do escritório, a impressora do escritório, o envelope e selos do escritório. E ainda vai em correio azul, para chegar mais depressa... sou mesmo esperta!"
O Tomé estava a trabalhar o mais rápido que podia, enquanto ia pensando numa maneira de se vingar.
"Eles vão ver! Vão pagar por terem dito que tinha sido eu a organizar a manifestação. Ainda por cima, eu nem sequer participei!" pensou o Tomé.
Alguns minutos mais tarde, o Mário estava a falar no messenger e a marcar um encontro com uma mulher que tinha conhecido online apenas no dia anterior.
"Então fica para daqui a dois dias às cinco, no café Barata." escreveu o Mário.
"Mas às cinco não estás a trabalhar?" perguntou a pessoa com quem o Mário se ia encontrar e que tinha o nickname de GatinhaSexy123.
"Não faz mal. Posso sair quando eu quiser. Eu aqui sou quase patrão." escreveu o Mário, sorrindo.
"Então pronto, está combinado. Eu também posso sair do meu trabalho quando quiser. Sou muito competente e tenho estes privilégios. Até amanhã, fofucho."
No final do dia, a Vera tinha finalmente acabado de pôr tudo por ordem de datas e entregou os documentos ao chefe.
"Ah, muito bem. Vá lá, pensei que não ia conseguir acabar hoje, Vera." disse o chefe, impressionado.
"Eu sou muito eficiente."
"Pronto, pode ir embora. Até amanhã."
"Até amanhã, chefe."
Quando a Vera saiu do gabinete do chefe, viu que o Tomé, a Magda e o Mário já se tinham ido embora. Só restava a Susete, que andava a lavar o chão.
"Vocês são uns porcos! É que nem no Brasil há gente que suje tanto. Sinceramente, eu trabalho como uma escrava." resmungou ela.
"Tenha calma, Susete."
"Calma uma ova! Não tenho intervalos, não tenho férias, só tenho cinco minutos de almoço... qualquer dia nem me pagam! Parece que sou alguma imigrante ilegal."
"E não é?" perguntou a Susete, confusa.
"Claro que não. O meu pai era português. E eu já quase que nem tenho sotaque. Já falo como os portugueses e tudo. E agora, vá-se mas é embora para eu terminar de limpar isto."
"Está bem. Até amanhã."
A Vera foi-se embora. Quando chegou ao carro, notou que se tinha esquecido da sua lima no escritório.
"Bolas, eu sabia que não devia ter estado a limar as unhas no intervalo que fiz por causa daqueles documentos com as datas." pensou a Vera. "Tenho de ir buscar a lima, porque só limei metade das unhas."
A Vera voltou ao escritório e encontrou a sua lima na secretária. Quando se preparava para ir embora de vez, ouviu uma voz feminina no gabinete do chefe.
"Hum... será que é a mulher do chefe? Pode ter vindo visitá-lo." pensou a Vera.
Curiosa, ela aproximou-se do gabinete e espreitou por uma fresta na porta. Viu o chefe Rodolfo a beijar a Susete.
"Ai credo!" pensou a Vera, assustada. "O chefe anda a trair a mulher com a emprega da limpeza! Que escândalo... hum... eu sei um segredo do chefe... ah, agora é que vai ser! Vou subir nesta empresa e nunca mais ponho documentos por ordem de datas!"
Feliz com a sua descoberta, a Vera foi-se embora, já a pensar no futuro brilhante que poderia ter, recorrendo à chantagem.
E assim termina o primeiro capítulo. O Tomé prepara a sua vingança, a Vera sabe um segredo sobre o chefe, o chefe e a Susete têm um caso, a Magda e o Mário estão marcaram encontros. No próximo capítulo, mais maluquices com este grupinho.
