Olá pessoal é o seguinte, eu já terminei essa fic e já até as conclui aqui no Fanfiction, mas relendo a fic eu resolvi mudar algumas coisas nela, na verdade eu fiz uma tremenda mudança acrescentando novos dialogos e tals... Espero que gostem, quem não leu tem achance de ler já arrumado e quem já leu pode ler de novo. bjinhos

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Os pensamentos e pesadelos de Snape

A noite ia longe e já se passavam das dez horas quando Severus Snape, grande mestre de poções e mais temível professor de Hogwarts, saiu do escritório do diretor. O homem de cabelos negros caminhava a passos rápidos e largos, o que junto com sua altura, fez com que suas capas, tão negras quanto seus olhos, esvoaçassem pelos corredores vazios da escola. Pareciam folhas soltas no chão sendo levadas pelo vento, roçando uma na outra fazendo o som que somente o outono poderia trazer.

Enquanto caminhava lentamente pelos corredores, torcia para não encontrar nenhum aluno fora da cama. Sua dor de cabeça já era o suficiente para ainda ter que dar bronca em cabeças ocas que não obedecem às regras. As aulas tinham começado no dia anterior, mas mesmo assim alguns alunos já estavam em detenções.

Ao ir em direção as escadas, Snape jurava ter escutado um choro. Um choro fino e escondido. Algo que ele já ouvira diversas vezes vindo de si mesmo. Seus passos diminuíram, chegando ao ponto de quase não se mexer. Ele era silencioso o suficiente para se passar por fantasma pelo castelo. Não era à toa o apelido que os alunos lhe davam: morcego das masmorras.

Devagar e silenciosamente ele chegou mais perto da fonte do som. Cada vez mais alto o choro chamava sua atenção, pois era exatamente os seus choros de uma época que desejava esquecer, o choro de dor. Passo após passo foi descendo o primeiro lance de escadas enquanto ouvia mais nitidamente o som nostálgico.

Logo no alto do segundo lance podia-se ver a pessoa que o estivera incomodando com suas lágrimas, justamente a pessoa que Snape mais odiava. Aquele que o fazia lembrar seus tempos de escola. Não era preciso que ele se levantasse ou olhasse para o professor, até em mil anos saberia reconhecer aquele cabelo. Era o mesmo cabelo que aterrorizava seu tempo de escola, o mesmo cabelo passado geneticamente para o menino que sobreviveu.

- Potter!

Rapidamente o menino encolhido secou as lágrimas e se levantou. Poderia ter sido o susto de ter sido pego justamente naquele momento, justamente por Snape, ou somente o susto que levou com a voz gélida e rude do professor que o fez levantar com certa dificuldade tendo que se segurar na parede para evitar cair.

Snape o olhou com olhos estreitos e cenho franzido, mas não fez nenhum questionamento referente a isso. Suas perguntas já estavam formuladas em sua mente antes mesmo de saber quem era a criança chorona.

- Ora, ora, ora. – Riu horripilantemente. - O santo Potter. Mal chega à escola e já perde 20 pontos para a Grifinória por andar pelos corredores depois do horário de dormir. Que tragédia, seus amigos não irão gostar muito de saber disso.

Snape olhava no fundo dos olhos verdes, esperando alguma reação típica de Harry Potter, algum afrontamento. Mas não veio nenhum, para grande espanto de Snape. Essa noite ele não seria confrontado por Harry Potter. Ao invés disso, o garoto abaixou a cabeça e disse em um tom quase impossível de escutar, um tom estranho vindo de seus lábios, vindo dele.

- Desculpe professor, voltarei ao dormitório.

- É bom mesmo, Potter. A não ser que queira como presente de boas vindas 50 pontos a menos para a sua amada casa.

Harry nada disse, apenas balançou a cabeça negativamente e ainda com a cabeça baixa se virou para ir embora. Ele mancava um pouco e demorava a andar. Snape não deixou esse detalhe passar em branco. O primeiro motivo que passou por sua cabeça foi que ele era grifinório e que como um verdadeiro grifinório, tinha a excitação à flor da pele o que fazia com que os alunos dessa casa corressem e pulassem uns nos outros para demonstrar que estavam com saudades. Era ridículo para ele, um verdadeiro sonserino.

Snape retomou o seu caminho indo direto para os confins do castelo. Seu refugio pessoal, seu canto, sua masmorra gelada e sombria. Desceu as escadas que davam para o chão áspero e caminhou no escuro até a estreita porta que dava acesso aos seus aposentos. Sua cabeça chagava a latejar naquele momento e só conseguia desferir xingamentos ao grifinório que encontrara.

- Aquele maldito Potter! Sempre me deixa assim só pela sua maldita presença. – Rosnou Snape com uma mão massageando a têmpora.

Com pressa, mas devagar o suficiente para parecer um ato delicado e majestoso, tirou a varinha de sua capa e recitou o encanto que abriria a porta de madeira. Quando a mesma se abriu, não parou para olhar onde estava, nem mesmo acendeu uma vela para iluminar o local tomado pela escuridão. Não precisava disso, sabia o caminho, estava habituado a andar no escuro e seus olhos, tão negros quanto aquele quarto, enxergavam tão bem quanto quando estava claro, talvez até melhor.

Seu corpo parecia se dirigir sozinho para o quarto no fim do aposento. A sala por onde passou era bem simples com uma belíssima lareira, um tapete cor vinho com pêlos de urso, um imenso sofá de frente para a lareira e uma poltrona pequena ao lado onde normalmente ele se sentava após pegar um copo de FireWhisky no bar ao canto. A única coisa que mais tomava lugar naquela sala eram suas estantes que iam do chão até o teto e eram carregadas de diversos livros que ele catalogara e arrumara em ordem de assunto. Havia uma estante somente para assunto das Artes das Trevas.

Quem visse aquele lugar iria descartar a história de que Snape não era uma pessoa limpa. Aquilo era uma masmorra, mas era tão limpa quanto o salão principal ou o escritório do diretor onde os elfos estavam constantemente limpando. Até mesmo a sala de troféus, onde Snape sempre enfiava um aluno para faxinar as relíquias que já brilhavam com o trabalho feito por algum outro aluno igualmente encrencado, era menos brilhosa do que seus aposentos.

O aposento onde o professor entrou era ligeiramente menor e com menos iluminação ainda. Era extremamente escuro e frio. Mas era de igual beleza. Os móveis de seu quarto eram de madeira bem trabalhada, feita manualmente por algum marceneiro trouxa perto do local onde a família Snape havia morado durante anos. Snape sempre carregava seus móveis, eram de sua falecida mãe e eram de grande valor. Ali dentro havia mais e mais estantes de livros que Snape lera durante os anos de sua vida. No meio do quarto tinha uma cama grande com dosséis nus e lençóis negros com bordas verdes. Bem ao lado ficava a porta que dava para um simples banheiro com uma grande banheira branca.

Snape retirou sua capa e seu sobretudo, largando-os em cima de uma cadeira ao lado de sua cama antes de sentar-se no macio colchão e respirar fundo. Estava cansado e suas juntas estralaram quando deitou e se esticou. Após sentir seus músculos relaxarem, se sentou e começou a tirar a camisa para tomar um banho. Suas grandes mãos estavam postadas em sua nuca e a massageavam como se pudessem tirar fardos de uma vida como a dele.

Era impossível, sabia disso.

Após alguns minutos parado, se levantou devagar e retirou a calça colocando-a junto com o restante da roupa na cadeira. Sentindo o frio das paredes nuas atingirem sua pele pálida e arrepiar seus pêlos, entrou no banheiro e encheu magicamente a banheira com água quente e essências de ervas para melhor relaxamento muscular. Se largou dentro da banheira e soltou um pequenino gemido de contentamento quando as ervas começaram a fazer efeito em seu corpo tenso pelo longo primeiro dia de Hogwarts.

Seu banho não demorou muito, mesmo que o banheiro tivesse um feitiço contra afogamento não desejava adormecer ali, queria sua cama, o conforto de seu colchão já modulado por seu corpo. A toalha negra já o secara quando voltou para o quarto. Assim como de costume, apenas colocou sua cueca e se largou na cama.

Snape sempre pareceu um homem estranho e as imaginações voavam para o que ele guardava embaixo daquelas vestes negras. Qualquer um se surpreenderia se o vissem daquela forma, esparramado seminu na grande cama. O homem tinha um corpo que invejaria muitas pessoas anos mais jovem do que ele. Era um corpo bonito, não musculoso, mas forte o suficiente para ser perfeito. Uma maravilha escondida. Escondida talvez pelas várias cicatrizes causadas pelos longos anos como agente duplo, agüentando cruciatus por felicidade ou infelicidade do Lord das Trevas. Não era um trabalho que ele gostasse de fazer, mas assim ocupava sua cabeça e se castigava pelo grande erro da sua vida.

Cobriu-se até a cintura e enterrou o rosto no macio e cheiroso travesseiro de penas tentando esquecer seu erro, tentando desesperadamente esquecer a cor dos olhos dela, o seu sorriso e a forma de seus cabelos, assim como a cor deles e seu perfume. Tudo ainda era muito vivo em sua mente, mesmo depois de tantos anos.

O sono demorou a chegar, era como uma carruagem com uma carga importante que Snape precisava, que necessitava em seu mais profundo âmago. Uma carruagem puxada por cavalos que se negavam a chegar ao local indicado. O sono demorou, mas finalmente os cavalos chegaram devagar e lhe deram a benção de se desligar da vida e de tudo, retornar para seu canto escuro e frio.

Mas seu canto escuro não era o suficiente para poder escondê-lo dos pesadelos constantes que a verdade sempre lhe trazia. A verdade que vinha nua em forma de uma linda mulher lhe dizer que era culpa dele. Mostrar-lhe o que fizera, a visão horripilante daquela noite, da fatídica noite em que ela se foi.

- Não!

Seus gritos reverberaram pelas paredes duras de seu aposento, mas não havia ninguém para ouvir, apenas ele, ninguém mais.

Ela não estava ali, nunca estaria ali, não teria a chance de estar e mesmo se pudesse não desejaria.

Ele era Snape.

Quando seus olhos se abriram e Snape percebeu que estava em seu quarto, seguro em sua cama, sentiu o coração desacelerar e pôde soltar a respiração que estivera segurando. Escondeu seu rosto nas mãos e sentiu as gotas de suor escorrendo por sua pele. Por mais que as secasse, por mais que tentasse parar, seu o corpo manifestava o susto e o medo que sua mente lhe causava sempre que ele dormia. Os pesadelos que antes eram apenas vislumbres estranhos e incômodos, agora eram completas cenas de horror. Um horror que há muito tempo quisera esquecer.

Seus negros olhos miraram o relógio em cima de sua escrivaninha e ali se prenderam. Cinco horas da manhã. Cedo até mesmo para o professor de poções e morcego das masmorras.

Dentro de seu guarda roupa não havia nada além de suas costumeiras vestes negras que transpareciam sua personalidade sombria e sua vida vazia e escura. Eram iguais a ele. Idênticas com seus olhos e mais ainda com sua alma. Ainda que já conhecesse de cor suas próprias roupas, continuou apenas olhando para dentro do armário sem mexer um único músculo de seu corpo seminu arrepiado pelo vento frio que de alguma forma adentrava as masmorras do castelo.

Porém ele não olhava para as roupas, suas rotineiras e repetidas roupas. Na verdade, não olhava para absolutamente nada. Fitava o vazio como se o tempo tivesse parado, apenas o fitava.

Suas mãos pálidas e cumpridas continuavam a segurar a maçaneta prateada como se fosse um troféu da qual ele não conseguia se distanciar. Mas a verdade de seu ato era seu corriqueiro pesadelo. Por mais que o tivesse todas as noites e por mais que dissesse a si mesmo que não era nada importante e que não o afetava, aqueles pesadelos que o deixavam suado e o acordavam, o angustiavam cada dia mais.

"Eu nunca vou conseguir tirar essa culpa de meus ombros, morrerei com ela" Era o que sempre se dizia quando percebia que estivera mais uma vez parado olhando para o nada e relembrando os vislumbres dos pesadelos que o matava aos poucos.

Como sempre, balançou a cabeça para o lado pensando por um momento e pegou uma roupa. Arrumou seu quarto para que ficasse impecavelmente organizado como gostava que permanecesse. Seus livros e suas anotações estavam devidamente guardados na estante onde mais tarde os acharia para terminar de corrigir os trabalhos de seus alunos acéfalos.

Quando finalmente saiu de seus aposentos ainda era extremamente cedo e o castelo estava vazio, os alunos permaneciam em seus dormitórios roncando e babando nas mantas limpas e macias de Hogwarts, e os professores estariam acordando ou se preparando para dar suas aulas, ou seja lá o que os outros professores fazem em seu tempo livre após acordar.

Snape tinha uma rotina mais interessante quando acordava cedo e ficava sozinho no castelo. Com os passos silenciosos e rápidos, se dirigiu para a entrada que permanecia fechada até a hora do café que é quando os alunos saem de seus quartos. Mas Snape não precisava que o senhor Filch abrisse a grande porta, passou por uma pequena passagem que permanecia trancada apenas por uma reles fechadura, facilmente aberta por um feitiço que qualquer primeiranista poderia conjurar.

- Alorromora.

Assim que a porta se abriu, Snape pôde sentir o vento gelado que estava começando a abandonar a noite que ia embora. Era gelado o suficiente para que ele sorrisse.

"Qualquer dor que eu sinta não será castigo suficiente para o que fiz."

Tais pensamentos eram praticamente um mantra no dia a dia do professor de poções. Mesmo assim, ajeitou um pouco as vestes e se dirigiu para a manhã gelada. Seu rosto estava quase congelando, mas Snape não ligava, se pudesse, se realmente não tivesse que cumprir a maldita promessa que fizera há tantos anos antes para Voldemort, se não tivesse prometido que protegeria o filho de Lílian ele poderia, há muito tempo, ter se livrado dos pesadelos que tem desde o dia da morte dela. Tudo por Potter.

- Maldito Potter.

Tanto filho quanto pai eram uma desgraça para Snape. Criaturas cuja existência é uma maldição. Snape estava praticamente com os pés dentro do lago negro, a água formava pequenas marolas na beira, batendo na ponta de seu sapato surrado.

"Se eu não tivesse prometido."

Seus olhos percorreram a extensão do lago. A água negra estava calma em seu centro. Imaginou como era profundo e escuro, cheio de seres furiosos que matariam os intrusos que se aventurassem em seu território.

E se entrasse naquele lugar. O que aconteceria?

Do que adiantava pensar nisso? Jamais poderia dar vazão ao seu desejo.

Tentando afastar esses pensamentos, respirou fundo e observou o terreno. Tudo era calmo e verde. O sol começara a nascer no horizonte e uma cor laranja claro manchava o azul noturno. Porém, por mais bonito que fosse, era frio e vazio igual os olhos do grifinório sentado na grama molhada pelo sereno.

Por mais que tentasse se esquecer do passado, ele sempre vinha ver Snape, lembrá-lo de épocas passadas que ele preferia deixar enterrado. Sempre estava ao seu lado, às vezes das maneiras mais inesperadas, às vezes das maneiras mais simples e às vezes pelos olhos verdes esmeraldas de Potter.

Olhos que estavam apagados, completamente vazios olhando para a paisagem perfeita à sua frente sem verdadeiramente ver algo. Duas esmeraldas que mostravam uma solidão tão profunda que chegavam a refletir a sua.

O professor não percebeu o tempo passar e nem imaginou que ficara tanto tempo observando o menino. Mas não conseguiu desviar seus olhos da figura parada como estatua. A cada olhava via-se nas Iris afiadas e cruas. Ele estava tão semelhante a si mesmo. A palidez, o rosto abatido, a magreza, a solidão, o confinamento.

Por um momento teve medo de olhar o reflexo dele novamente, medo de que desta vez fosse sua imagem que aparecesse ali, tão limpa e cristalina como a própria água. Não queria relembrar de como era sua vida. Queria apenas ir embora, esquecer as lembranças que apareceram em sua mente enquanto via o menino morrer dentro de sua própria escuridão. Somente após o primeiro raio de sol atingir seus negros olhos o forçando a fechá-los, se deu conta de quanto tempo perdera observando o grifinório e voltou para o castelo que agora recebia os primeiros alunos famintos no salão principal já lotado de guloseimas.

Enquanto andava pelos corredores frios e fazia os alunos se afastarem de seu caminho, Snape não deixava de se fazer a mesma pergunta. "Onde estão seus amados amiguinhos, Potter?" Se corroia por ter se identificado com o menino naquele momento. Não era igual à Potter. O grifinório era a estrela do mundo bruxo, um ser irritadiço para o professor. Ao contrário dele, Potter tinha amigos e poderia ter o que quisesse, era só pedir que tudo cairia aos seus pés como uma oferenda à um deus. Por que então ele estava tão afastado esse ano?