Reminiscências
Cinco anos após os eventos de Wreck-It Ralph...
-'I'm gonna wreck it!'
Na tela do console, o familiar grandalhão de macacão vermelho escalava o prédio como fazia há trinta e cinco anos e arruinava-o com seus punhos gigantes. Após o grito em coro dos Nice Landers por Felix, os moradores indefesos veem o reparador no uniforme azul chegar. Erguendo seu martelo de ouro no ar, ele fala sua tradicional frase, já aprendida de cor pelos jogadores assíduos:
'-I can fix it!'
E mais uma vez o jogo recomeçava, com Felix consertando janelas, evadindo-se de tijolos que despencavam e recarregando suas energias com as tortas que os moradores cozinhavam especialmente para ele.
Ao alcançar a cobertura, Ralph não teve saída e ficou encurralado. Felix novamente ganhou uma medalha pelo trabalho bem feito e Ralph foi lançado impiedosamente prédio abaixo pelos Nice Landers, caindo de cara na lama.
A tela apresentou os dizeres The End tocando o jingle de fim de jogo e mais um adolescente foi para casa, feliz depois de brincar no arcade durante o dia todo.
Poucas horas após o arcade fechar...
O vilão alto e musculoso dirigiu-se cansado, mas satisfeito para a parte a oeste do prédio dos Nice Landers. Antigamente, ali ficava o entulho de tijolos abandonado após sua construção. Durante trinta anos, Ralph foi obrigado a morar sozinho e sem casa naquele lugar. Hoje, ele tinha um casebre e tanto os Nice Landers quanto Felix eram seus amigos.
Além de uma garotinha especial, de quem ele nunca se esquecera e que era excelente corredora de kart, por sinal:
'-Vanellope... ' - ele murmurou, lembrando-se com saudades da menina travessa, a primeira que veio a chamar de amiga na vida.
Ao longe, ele escutou passos se aproximando e uma voz familiar chamar seu nome:
'-Ralph, estive lhe procurando, velho amigo. ' - disse o reparador, aproximando-se com seu jeito simpático.
'-Felix? Ei, bom te ver. '- ele respondeu em tom amistoso, fechando a porta do casebre e juntando-se a Felix para observar as estrelas.
No fim de cada semana, era comum Felix fazer visita ao vilão e os dois conversarem por longas horas. A dupla sentou-se no banco da praça, onde ao redor viviam os personagens do extinto jogo de Qubert em diversas casas. Há alguns anos, a amizade entre Felix e Ralph seria algo impossível de se pensar.
'-Incrível como o tempo passa e as coisas mudam... ' - disse o mocinho com um suspiro.
'-Felix, nunca te vi tão melancólico. ' - observou Ralph, surpreso. - '- Aconteceu algo entre você e a Jean?' - ele perguntou, referindo-se à Sergeant Jean Calhoun, esposa de Felix.
'-Huh? Não, não se trata disso. Bem, na verdade até tem a ver. '
O mocinho suspirou e tentou explicar.
'-Ralph, quanto tempo faz desde a última vez que você visitou Sugar Rush?'
O vilão cruzou os braços e emitiu um 'Hum' da garganta, compreendendo onde o amigo queria chegar.
Há três anos, o arcade havia sido infectado com um vírus após um programador tentar corrigir os bugs, que aumentavam a cada dia. Por sorte, o homem extraiu uma cópia digital dos jogos e reinstalou-a em seus respectivos consoles. Porém, a ameaça do vírus mudou completamente a rotina de todos os personagens.
Uma polícia virtual chamada Norton Anti-Vírus foi instalada na antiga Central Arcade e o tradicional tráfego entre jogos deixou de existir. Personagens que desejassem reencontrar velhos amigos fora de seu ambiente natural eram obrigados a transportar-se por uma complexa rede dividida em subestações, onde a fiação era vigiada dia e noite pelas constantes patrulhas. Bastava um passeio distraído entre jogos para se correr o risco de ser preso.
'-Não sei. Acho que foi há uns sete meses. ' - ele respondeu, e desta vez foi Ralph quem suspirou.- '- Eu mal conseguia ficar mais de duas horas dentro do jogo para poder falar com Vanellope. A polícia logo vinha atrás me procurando. Enfim, o que importa? Da última vez que conversamos, ela me disse que seu jogo seria removido do arcade. ' - ele disse de cara amarrada.
Felix corrigiu o amigo.
'-Removido não, Ralph. Quantas vezes tenho de lhe dizer? Atualizado. Eles fazem versões melhores dos videogames atualmente. Chamam isso de 'upgrade'. É a mesma história, só que com gráficos melhores. E um ou outro ingrediente a mais que os programadores colocam para estimular o vício dos jogadores. ' - ele concluiu com uma expressão marota.
Mas Ralph enxergava uma falha nesse raciocínio...
'-Então por que até hoje eles não atualizam o Fix-It Felix?'
A essa pergunta, o mocinho emudeceu.
'-Há trinta e cinco anos nós estamos no arcade. Fazemos sucesso há cinco graças aos amigos de Qubert, que vieram para cá. As pessoas falam que somos o primeiro game retro da História. Cadê o resultado dessa fama, então? Onde estão as atualizações, os 'upgrades', como você diz? –ele reclamou, com desdém.
Felix ficou sem resposta, cruzando braços e pernas e coçando a nuca embaixo do boné, como costumava fazer quando estava nervoso.
'-Ah, não faço ideia.' - ele bufou, enfiando as mãos nos bolsos, cabisbaixo.
No fundo, ele sabia que Ralph tinha razão. O arcade havia mudado; agora, cada jogo parecia desconhecer a existência de outros. A lembrança do ataque do vírus nunca seria esquecida pelos personagens, que se isolavam mais e mais a cada dia em seus próprios videogames. Somado às novas versões constantes que chegavam no arcade e as dúzias de novos jogos que despontavam no mercado, eles iam esquecendo-se dos amigos e rareando as visitas entre jogos, sempre com medo da polícia vigilante.
'-Ouvi falar que Sonic quase foi pego pelo Norton semana passada. ' - comentou Felix.
'-O quê?' - exclamou Ralph ao ouvir tamanho absurdo. '-O que raios ele fez para a polícia querer mexer com ele?'
O amigo deu de ombros, continuando a falar:
'-Tudo que sei é que ele tinha deixado seu par de tênis no jogo do Mario enquanto fazia uma visita e, quando foi voltar para pegá-lo de volta, foi barrado e a polícia quis levá-lo para interrogatório.'
À menção da última palavra, a expressão de Ralph foi de puro assombro.
'-Você só pode estar brincando... ' - ele murmurou em voz rouca.
Felix balançou a cabeça num gesto que dizia claramente 'Não.' Segundo o amigo, o ouriço azul conseguiu se evadir da polícia graças à sua estupenda velocidade, mas poucos tiveram a mesma sorte. Toda semana surgia um boato de algum personagem que era detido, levado a "interrogatório" e colocado de volta em seu próprio videogame, sem se lembrar de nada do que fizera, apenas de sua identidade e função em seu jogo de origem.
Ralph pousou o queixo roliço em sua mão, inquieto, enquanto Felix mantinha-se cabisbaixo com uma expressão soturna. A vida tinha se tornado dez vezes mais insuportável no arcade, agora que até uma simples visita aos amigos era equivalente a cometer um crime. Para Ralph, acostumado à solidão após longos anos vivendo no entulho, não era tão difícil suportar a ausência de Vanellope ou das reuniões semanais na Bad Anon (reunião anônima dos vilões), mas para Felix, casado com uma personagem de outro jogo, a sensação de um dia não mais poder vê-la era excruciante.
O mocinho contemplou a aliança em seu dedo, suspirando pesadamente.
'-Sabe, Ralph, eu tenho saudades de quando nós fizemos aquela loucura cinco anos atrás.' –ele comentou, erguendo o rosto saudoso às estrelas.
'-Você quer dizer, quando eu tentei ser bonzinho e fiz como o Turbo?' - ele disse em voz sugestiva.
'-Não. Quer dizer, sim, mas... você tinha razão. E olhe para nós hoje, olhe para o nosso jogo! Eu me casei com uma bela mulher, você ganhou a simpatia dos Nice Landers e temos mais de cem jogadores toda semana. E mais continuam vindo, querendo experimentar o jogo! ' - ele afirmou, entusiasmado.
'-Então eu fazer uma coisa ruim foi bom porque resultou em uma coisa boa?' - disse Ralph, caçoando do amigo.
'-Ah, pare com isso, Ralph. Você entendeu o que eu quis dizer. ' - fez Felix, cruzando os braços e em seguida, erguendo o olhar saudoso aos céus mais uma vez.- '-O que eu não daria para voltar no tempo e vivenciar tudo aquilo de novo...'
'-Você sente falta dela, não é?' - perguntou Ralph, referindo-se à esposa de Felix, que acenou com a cabeça.
Erguendo o olhar para o firmamento junto do amigo, Ralph pensou no rosto sorridente de Vanellope e murmurou para as estrelas:
'-Eu também. '
x-x-x-x
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GAME A:
BATTLE OF THE GODS
Nome: Christina Damodara
Idade: 21 anos
Christina Damodara vem de uma antiga família de Brâmanes, monges guerreiros altamente letrados. Através da meditação e do estudo constante dos textos sagrados, sua casta é a única capaz de entrar com contato direto com os deuses que criaram seu mundo. Ao prever acontecimentos de grave magnitude, seus antepassados deixaram escrito em pedra a premonição da vinda de Kali, a deusa da destruição, em um futuro próximo.
Agora a época profetizada chegou e Christina deve provar seu valor como monja guerreira ao enfrentar os desafios estabelecidos por seus mestres para ascender ao seu lugar de direito entre os líderes de seu povo.
Porém, um imprevisto a forçará a desviar de seu destino e embarcar em uma jornada que abalará suas mais profundas crenças... ou estaria tudo premeditado pelas forças cósmicas?
GAME B:
DYSTOPIAN PANOPTIC
Nome: Christopher Schneider
Idade: 21 anos
O talentoso jovem é o mais recente espião da poderosaPanoptic Intelligence Agency (P.I.A.), agência governamental de seu país. Desde o desaparecimento de seu pai há cinco anos, ele busca incessantemente por pistas de seu paradeiro.
Christopher é letal com uma arma, domina dois estilos de artes marciais, é fluente em três idiomas e seu forte é uma combinação de agilidade, facilidade em decifrar códigos e a capacidade de utilizar virtualmente qualquer tipo de arma que venha a parar em suas mãos.
Após ler o nome de seu pai em um dos relatórios produzidos por agentes que retornaram de uma recente missão ao país vizinho, Christopher pede a seu chefe que lhe inclua entre os próximos a saírem em investigação, a fim de cruzar a fronteira e descobrir mais informações que possam levá-lo a encontrar o homem desaparecido.
Porém, após um grave acidente, esta pode ser a última vez que o espião sairá de suas arriscadas missões com vida...
NOTAS DA AUTORA
-A ordem de leitura da fic é a seguinte: para quem escolher jogar o Game A (Battle of the Gods), basta ler os caps contendo a letra A antes do título. Aos que escolherem o Game B (Dystopian Panoptic), é só prosseguir a leitura nos caps B.
Simples, não?
-Nos caps 1 de cada game, serão contados os eventos que levarão o personagem de sua escolha, Christina ou Christopher, a conhecerem Ralph e os demais personagens do arcade.
Por serem capítulos introdutórios, serão mais longos que os do restante da fic, já que é por meio deles que você conhecerá o perfil de seu personagem escolhido.
-A partir dos caps 2, Ralph e os demais personagens do arcade farão sua aparição, tais como Felix, Vanellope, Sgt Calhoun, Sonic, Link, Yuna e demais personagens que venham a fazer parte do enredo.
