Jardim de Infância

Resumo: Um pai ocupado. Uma professora dedicada. Ao contrário do que se pensa, muita coisa pode acontecer num Jardim de Infância. Rin/Sess.

Atenção: Inuyasha não me pertence!

Capítulo Um: Praticamente Iguais

Suspirou pesadamente. Estava alheio a tudo que estava acontecendo em sua volta; seus olhos concentrados na janela de vidro, observavam o cair das folhas da antiga árvore de cerejeira da escola. O vento agitava a árvore sem dó, fazendo com que mais e mais folhas se depreendessem e fizessem a mesma trajetória até o chão.

Outro suspiro. Deitou sua cabeça na carteira, em cima da folha de papel que estava sobre a mesma, fechando os olhos lentamente. Bocejou. Não estava com vontade de fazer nada.

O outono era realmente lindo no Japão. As folhas caiam das árvores; amarelas e sem vida. O tempo era instável, esfriando ou esquentando subidamente. Era perfeito na opinião de muitos. Mas não na dele. Na verdade nenhuma estação em especial chamava sua atenção; melhor dizendo, nada chamava sua atenção; era tudo tão desinteressante, tão comum...

"Vamos turma, a aula acabou!" – a doce e já conhecida voz soou longe, como se estivesse em outro lugar muito distante do dele. Continuou imóvel, ainda deitado e de olhos fechados - "Me devolvam a atividade e vão para o pátio esperar seus papais"

Alguns segundos se passaram. Não se mexeu, não percebeu a agitação por entre as cadeiras perto dele, e não ouviu as despedidas e os desejos deboa tarde da mesma voz doce que soara antes. Mais segundos se passaram, ou talvez minutos, ou talvez horas, não tinha noção do tempo que ficara naquela mesma posição.

Sentiu uma mão pousar no seu ombro. Suspirou de novo, levantando a cabeça devagar, mirando os olhos chocolates que o encaravam com preocupação. Endireitou-se na cadeira, ficando sentando corretamente na mesma, olhou para os lados e pode ver a sala vazia, seu olhar se prendeu novamente na figura abaixada de frente para sua carteira.

"Estava dormindo, Haku-kun?" – ela indagou, esboçando um sorriso. Ele balançou a cabeça negativamente; sua face sem expressão. A mulher passou a mão por seu rosto, afagando por último seus cabelos prateados.

"Não ouviu o sinal tocar?" – indagou novamente, sem tirar o pequeno sorriso dos lábios. Ele balançou a cabeça novamente. Seu rosto de criança parecia um gelo de tão frio e inexpressivo. Ela olhou para a atividade sobre a carteira com algumas cotinhas simples de adição e subtração. Estava em branco.

"Porque não fez a atividade, Hakudoushi?" – ela indagou voltando a olhar para ele, agora sem sorriso; seu rosto carregava uma leve expressão desaprovadora.

"Eu... Eu não quis fazer, Sensei" – ele falou olhando para os próprios pés, quebrando com o contato visual. A professora suspirou, levantando-se.

"Já é a terceira atividade que não faz. Assim não irá apreender. Você quer que seus coleginhas saibam mais que você?"

"Iie" – ele respondeu, ainda olhando para abaixo. Ela pegou a atividade da carteira.

"Tome... Leve para casa, amanhã quero ela toda feita, está bem?" – falou estendendo o papel para ele.

Ele se levantou pegando a atividade e afirmando com a cabeça. Colocou a atividade na mochila, sob os olhos atentos da mulher, jogando a mesma sobre o ombro esquerdo.

"Já Mata" – ele murmurou saindo da sala. A professora o acompanhou com o olhar, balançando a cabeça negativamente.

Seguiu pelos corredores até o pátio. Olhava para baixou. As vozes das outras crianças que brincavam no local entravam em seu ouvido sem surgir nenhum efeito. Não sentia a mesma vontade de brincar como elas.

"Hei, Hakudoushi..." – Um dos seus colegas de classe veio correndo ao seu encontro. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados, e sua face vermelha e suada – "Estamos brincando de Pique-pega... quer brincar?" – ele indagou com um sorriso.

"Eu..." – começou.

"Pique, tá com você" – interrompeu o outro tocando em seu braço e saindo correndo logo em seguida. Hakudoushi mirou as outras crianças olhando com expectativa de que ele corresse atrás delas... prontas para fugir dele a qualquer momento. Algumas o provocavam, desafiando-o a pegá-las, outras lhe mostravam a língua divertindo-se com o pegador, ele.

"...tenho que ir embora..." – completou suspirando e voltando a andar, ignorando os murmúrios que os outros colegas diziam.

"Ta comigo, então!" – ouviu alguém pronunciar quando passou pelas portas da escola para fora da rua.

Avistou a Mercedes preta estacionada logo à frente. Suspirou pela milésima vez naquele dia, indo de encontro ao homem vestido de terno e gravata encostada na mesma, a sua espera.

O homem abriu a porta traseira do carro permitindo a passagem do garoto, logo depois entrando no mesmo pela porta dianteira e dando a partida.

Hakudoushi odiava escola.

MMM

"Kami-sama!" – sussurrou, esticando os braços para cima e tombando a cabeça para trás, se espreguiçando. Levantando-se devagar do chão que estava sentada, sentiu um grande alivio nas pernas que permaneciam dobradas por um bom tempo. Deu alguns passos para trás para ampliando seu campo de visão; o painel finalmente estava pronto.

O sol se punha ao longe; seus raios fracos e já sem força atravessavam o vidro da janela dando tonalidades alaranjadas á sala de aula vazia.

Os olhos chocolates percorriam as figuras alegres e as palavras coloridas pregadas na parede branca. Sorriu, pensando no quanto as crianças iriam ficar animadas ao ver o painel.

"Rin, você..."

"Ai que susto, Sango-chan!" – a professora respondeu levando a mão ao peito e se virando para encarar a expressão divertida da outra.

"Gomen... não era minha intenção" – falou, entrando na sala – "Nossa! Isso ficou lindo" – comentou ao mirar os desenhos postos na parede – "O que você quer ser quando crescer? Muito criativo!" – completou lendo a frase posta no centro.

"Acho que as crianças vão adorar..." – comentou, começando a recolher do chão as sobras e os materiais que usara.

"Com certeza..." – Sango respondeu, ajudando a outra – "Infelizmente não posso dizer o mesmo da minha classe..."

"Ora, Sango... eles não podem ser tão maus assim..." – Rin falou, abafando uma risada.

"É... você tem razão... eles não são maus..." – começou, levantando seu corpo e andando em direção a mesa, depositando o material na mesma – "São terríveis"

Rin riu, também colocando o que pegara na mesa.

"Você fala como se eles fossem uma praga..." – murmurou ainda rindo.

"Bom... estou exagerando..." – suspirou, rodando os olhos – "Tem uns que são uma doçura, mas têm outros que... me dão nos nervos" – disse, passando a mão nos cabelos, ajeitando o enorme rabo de cavalo castanho.

"São apenas crianças, Sango-chan. É normal que algumas sejam um pouco mais ativas que outras..." – explicou Rin, começando a guardar os utensílios num armário encostado numa das quinas da sala de aula.

"E ponha ativas nisso" – falou suspirando novamente e acompanhando a outra para ajudá-la a arrumar o armário. Elas se entreolharam por um segundo, logo caindo na gargalhada.

"Mas tenho certeza que você as adora" – disse Rin.

"Ta você venceu" – falou levando as mãos para o alto, derrotada – "Eu gosto daqueles pestinhas"

Riram novamente.

Nakamura Rin lecionava na alfabetização daquela escola havia aproximadamente dois anos. Sempre gostara de crianças e de ensinar as mesmas a arte de ler e escrever. Já terminara sua faculdade de Pedagogia, estava fazendo pós-graduação e sonhava em ter sua própria escola. Era meiga, atenciosa e esforçava, fazia de tudo para agradar a todos e em especial seus pequenos alunos. Desde que começara na instituição, nutria uma forte amizade com Yoshio Sango, também professora mais de crianças um pouco mais velhas. Embora fossem muito diferentes se entediam perfeitamente e ajudam uma a outra em assuntos profissionais e até mesmo sentimentais.

"E você?" – perguntou Sango, observando Rin fechar a porta do móvel.

"Nani?" – indagou em resposta, sem entender a outra.

"Como está sua turma? Andando pelas paredes? Ou quebrando os vidros da janela?" – riram mais uma vez.

"Não...ainda não. Eles não são de fazer essas coisas... eu espero" – Bocejou levando a mão a boca e deixando seu corpo relaxar ao sentar em sua cadeira atrás da mesa – "São bons alunos e crianças adoráveis. Participativos, atenciosos..."

"Resumindo... a turma que toda a professora pede a Kami-sama" – falou sentando também, numa carteirinha de aluno.

"Quase" – falou, aponhando o queixo numa das mãos e o cotovelo na mesa – "Tudo que tem seus pros... tem seus contras..."

"Nossa! Me admira que uma turminha assim tenha seus contras"

"Na verdade não é bem um contra" – seus olhos se perderam num ponto qualquer no fundo da sala – "Estou preocupada com um aluno em especial" – confessou.

"Um aluno?" – indagou a outra.

"Taishou Hakudoushi" – informou, voltando seus olhos castanhos para Sango – "Não sei mais o que fazer com ele..."

"Ele quer virar a sala pelo avesso, é?" – falou rindo, porém sozinha desta vez.

"Na verdade... o rendimento escolar dele está indo de mal a pior e não é por ele ser como os pestinha de sua sala. Ele... não faz nada" – disse crispando os lábios e franzindo o cenho, num gesto de preocupação.

"Bom... Você devia dar graças por ele não fazer nada, não?" – Sango indagou sem compreender o que a outra estava dizendo.

"Não, Sango. Elerealmente não faz nada. Não faz atividade, não presta atenção, não dá opinião, não fala, é como se ele não estivesse na sala. Se ele fosse o oposto, se ele... fosse um pestinha, eu acharia normal, mas... isso não é normal" – explicou.

"Talvez... ele só seja tímido" – a outra deu de ombros.

"Não... Eu também achava isso, mas... eu sei que não é. Ele... está sempre triste. Nunca o vi brincar com ninguém. Ele nem parece ser uma criança, sabe?"

"Hum...Se é realmente assim... Então é mesmo estranho. Não acha bom chamar os pais dele pra conversar?" – perguntou Sango, na tentativa de ajudar a outra professora.

"Estava pensando nisso... vou chamá-los o quanto antes" – falou.

"Bom, mas se esse é o único "problema" não devia está reclamando, Rinzinha? Eu estou com uma pilha de provas na minha mesa esperando para serem corrigidas" – Sango falou, rodando os olhos e passando a mãos por sua franja castanha, no intuito de tira-la do olhos – "Sinceramente... eu preciso de umas folgas... Não tenho tempo nem de sair com o Miroku" – suspirou – "Vamos ao shopping?"

Rin soltou uma gargalhada.

"Shopping? Você está aí reclamando que tem que corrigir provas e de repente me chama pra ir ao shopping?"

"Porque não? Eu falei que as provas estavam esperando... Elas esperaram até agora... porque não podem esperar mais um pouco..." – Ela explicou piscando um olho para a outra.

Rin balançou a cabeça negativamente, esboçando um sorriso cúmplice.

MMM

Andava a passos largos pelos corredores, equilibrando uma pequena pilha de papéis sobre as mãos. Seus pés doíam devido ao esforço de andar rapidamente com sapatos de salto alto. Estava cansada. Aquele trabalho era realmente desgastante. Era demais para o salário que recebia. Não que este fosse pouco mais, chegava em casa todos os dias com seu corpo suplicando-lhe por repouso. Merecia um aumento.

Sim, um aumento não era má idéia. Fora a única que conseguira permanecer naquele cargo por mais de seis meses... Estava trabalhando ali há quase dois anos. Era prestativa, atenciosa... Claro que merecia um aumento.

Sorriu com o canto dos lábios, enquanto abria, desajeitada, a porta de sua sala. Atravessou a mesma, alimentando a idéia sobre o quanto séria brilhante um aumento em sua vida. Respirou fundo e bateu três vezes na outra porta, que dava acesso a sala de seu chefe.

Ouviu um 'entre' abafado pela porta de madeira polida e entrou sem cerimônia.

"Aqui estão os contratos que me pediu, Taishou-sama!" – ela falou, andando de encontro a enorme mesa e depositando a pilha de papeis que estava em suas mãos.

O homem não respondendo. Continuando a ler atentamente uma folha de papel. Seus olhos dourados, analisavam com cautela o que estava escrito na mesma, sem dá a mínima atenção a mulher que ainda estava parada a sua gente, do outro lado da mesa de madeira.

"Mas alguma coisa?" – ela indagou, tentando encontrar uma oportunidade de falar aquilo que estava em mente.

"Iie" - ele respondeu, sem ao menos se limitar a olhá-la, sua voz sem emoção. Ela continuou parada no local, seu cérebro trabalhando a mil, em como começaria a pedir sua promoção.

Alguns segundos se passaram. Ele terminou de ler o papel, e depositou-o na mesa, olhou para a pilha que ela acabara de trazer, pegando-a e pondo-a mais perto de ser, começando a folhear e analisar os contratos.

"Não têm mais nada para fazer, Kagome?" – ele indagou friamente ainda sem mirá-la. Ela engoliu em seco, percebendo que aquilo seria mais difícil que pensara.

"Sabe o quê que é, Taishou-sama. É que.. assim... eu tenho... er... muito trabalho, sabe?" – ela começou coçando a cabeça, nervosa.

"Não parece" – ele murmurou, continuando com que estava fazendo.

"Não... Não agora... quer dizer agora também... na verdade todo o tempo... e eu fico muito cansada, sabe? Muito mesmo... e... e..." – ela falava embolando as palavras de tanta aflição.

Ele finalmente a olhou. Seu frios orbes âmbar, fixaram na figura aflita de sua secretária. Ela parou de falar engolindo em seco. Onde estava com a cabeça quando teve a idéia de ir pedir aumento para seu chefe? Ele a analisou, seu rosto sem nem se quer uma fibra de expressão. Isso a fazia sentir medo, muito medo. Ela olhou-o apreensiva. Quem não sentia medo dele? Ele parecia ser feito de gelo, parecia não ter emoções, parecia... parecia...

"Me poupe de suas ladainhas, Kagome. Guarde-as para, InuYasha. Não tenho tempo para perder com você, e mesmo se tivesse também não perderia" – ele começou friamente, fazendo-a gelar por completo – "Se não está vendo, estou ocupado. E presumo que você também esteja. Faça suas tarefas, se não quer perder o emprego. Não pense que só porque é namorada de meu irmão, que é diferente de qualquer outro funcionário" – ela abaixou a cabeça – "E a resposta... É não" – ele terminou, sem nenhum momento alterar seu tom de voz. E precisava? Kagome, estava praticamente tremendo de medo.

"Sumimasen, Taishou-sama" – ela murmurou num fio de voz, saindo do escritório. Suspirou ainda aflita, fechando a porta e encostando-se na mesma. Ele parecia não ser humano.

MMM

"Atenção, turma" – Rin falava para os alunos que faziam animadamente uma atividade de pintura – "Hei! Shippou, silêncio, por favor"

"Hai" – o menino de cabelos ruivos respondeu, olhando fixamente para a professora.

"Bom... eu quero saber... o que vocês acharam do painel que eu fiz?" – ela indagou sorridente, apontando para a parede coberta pelas imagens e palavras coloridas.

Vários comentários positivos sobre o trabalho da professora soaram na sala, pronunciados pelos alunos.

"Ah! Arigatou! Estou muuuito feliz por vocês terem gostado... quem pode ler, a frase que está no centro pra a classe?" – perguntou, vendo a maioria levantar as mãozinha, e agitá-las para o alto, ansiosos para serem chamados.

Rin focou os olhos na criança de cabelos prateados no fundo da sala que olhava para a janela, sem prestar a mínima atenção no que ela falava.

"Hakudoushi" – ela o chamou. Ele virou seu rosto para ela, seus olhos rosados, diferente dos das outras crianças, não transmitiam euforia ou ansiedade - "Você pode ler a frase no centro do painel?" – ela perguntou, sorrindo-lhe docemente.

"O Hakudoushi não é mudo?" – uma menina perguntou inocentemente, mas o que ocasionou uma onda de risadas por parte da classe.

"Parem, crianças" – Rin os repreendeu autoritária, porém sem abandonar a doçura em sua voz. Hakudoushi continuou a mirá-la firmemente como se nada daquilo o abalasse. Isso realmente assustava a professora. Uma criança comum ficaria chateado por toda a classe ter rido dela. Se ele chorasse ou reclamasse, seria... seria... normal, mas... – "Você pode ler, Haku-kun?" – perguntou novamente, sem conseguir disfarçar sua expressão de preocupação, mas por sua sorte, passou impercebível pela outras crianças, que olhavam fixamente para o menino de cabelos prata brilhante.

"O q-que vo-cê quer ser quan-do cres-cer?" – leu, soletrando a frase.

"Muito bom, Haku-kun" – falou empolgada batendo palmas, o que logo foi feito pelo resto da sala – "E então, crianças... O que vocês querem ser quando crescer?"

"Eu quero ser médico" – gritou Shippou empolgado.

"Eu quero ser modelo" – uma menininha de grandes olhos azuis falou na filha da frente.

"Eu vou ser detetive" – e assim, várias profissões foram faladas pelos pequenos. Eles diziam sonhadores e até discutiam entre si sobre qual era a melhor.

"Muito bem, muito bem" – ela falou pondo ordem na sala de aula – "Esse é o nosso projeto nesse ano. Estudar as profissões" – informou sorridente – "Para amanhã quero uma pesquisa, sobre a profissão que vocês querem ter quando forem adultos" - o sinal tocou estridente, avisando o termino da aula.

"Podem ir e quando chegar em casa, não se esqueçam da pesquisa, ok?"

Eles começaram a arrumar seus materiais e saírem da sala para o pátio. Rin sorria-lhes e se despedia alegremente.

"Haku-kun?" – chamou o menino, quando ele passou por sua frente. Ele se virou, fitando a professora – "Você gostou do projeto?" – perguntou se abaixando para ficar da altura do garoto.

Ele balançou a cabeça afirmativamente.

"Que bom! Você leu muito bem, viu? Parabéns" – disse depositando um beijo estralado em sua bochecha – "Estou muito ansiosa para saber o que você quer ser quando for grande" – ela murmurou, simpática como sempre.

"Hai" – ele respondeu.

"Ja ne" – disse ficando de pé, observando ele sair.

MMM

A noite caiu mais uma vez. Um par de orbes rosados observa sem muito interesse as estrelas que brilhavam tímidas no céu, ofuscadas pelo brilho intenso da lua cheia que iluminava por completo a escuridão. Lá longe em sua memória, pode resgatar uma voz doce e melodiosa a contar histórias mágicas sobre o belo satélite natural que rondava a terra e suas quatro e misteriosas fases.

Olhou de relance para um porta-retrato na cabeceira de sua enorme cama, mirando displicente a figura terna e doce de uma mulher. Não ousou sair de sua posição: sentado no para peito da janela, suas costas encostadas na parede.

Suspirou pesadamente, voltando a encarar a lua. Fechou os olhos, seu cérebro buscando uma memória perdida no tempo; uma música cantada logo após de uma flauta doce.

Lua Lua Lua Luuua

Por um momento

Meu canto contigo

Compactua...

E...

Abriu os olhos. Qual era mesmo o resto da música? Voltou a olhar para ela. A mesma da canção. A lua. Como se ela pudesse lhe dizer o resto da melodia que era cantada todas as noites a pouco tempo atrás. Mas ela nunca de dizia. Nunca lhe falava.

Maldita lua. Pensou.

"Menino Hakudoussssshi?" – ouviu a voz esganiçada e estridente do mordomo da mansão.

"Hai" – respondeu a contra gosto.

"Seu pai lhe aguarda para jantar" – o outro informou e logo pode ser ouvir leves passos que ecoaram no piso de madeira, indicando a saída do empregado.

Hakudoushi deu uma ótima olhada à bola redonda e luminosa e saiu de seu quarto sem cerimônias.

Em alguns segundos já estava na sala de jantar. Uma enorme mesa retangular ficava no meio da mesma, onde nela estava postas a refeição da noite. Olhou para a figura altiva de seu pai numa das pontas da mesa, seus cabelos prateados como os do próprio menino eram maiores e diferente do outro tinha brilhantes esferas douradas como íris.

Hakudoushi andou de encontro a ele, e sentou-se ao seu lado.

"Boa noite, Otto-san" – ele falou.

"Boa noite" – o homem murmurou, sua voz fria se assemelhava a do garoto.

Mesmo estando lado a lado pareciam distantes, como se tivesse cada um em uma extremidade da mesa. Hakudoushi, às vezes, sentia como se não conhecesse o homem, como se ele fosse um estranho e isso o incomodava mortalmente.

"Como foi hoje na escola?" – Sesshoumaru perguntou, começando sua refeição assim como o menino. Se pareciam. Não apenas fisicamente, mas também nos modos de fazerem as coisas. No modo de pegar os talheres, no modo de mastigar, no modo de olhar... em praticamente tudo.

"Temos um projeto novo. Sobre profissões" – ele respondeu. Silêncio. Essa era a pior parte para Hakudoushi; mesmo sem demonstrar, odiava profundamente isso. Havia tantas coisa que poderia conversar com seu pai, mas... mas... eles sempre caiam no mesmo buraco, sempre paravam na mesma tecla, sempre... ficavam em silêncio.

"Otto-san" – Hakudoushi murmurou, desprendendo seus olhos do prato e olhando para o outro. Sesshoumaru, mirou o garoto, sua expressão como sempre inexplicavelmente indiferente. Hakudoushi abriu a boca para pronunciar algo. Mas não sabia o que falar. Como desejava ter uma boa conversar com ele. Como desejava poder falar tudo o que sentia para ele. Talvez nem ele próprio soubesse dessa necessidade de falar por sua idade, que ainda não permitia ele entender algumas coisas, mas... ele sentia um grande vazio dentro de sim. Sentia...

"Nani?" – o outro pronunciou perante o silêncio do filho.

"Otto-san..." – o irritante Trim-Trimdo celular posto em cima da mesa interrompeu o garoto, mas uma vez. Sesshoumaru levantou a mão, num pedido de espera para o filho.

"Moushi Moushi" – falou.

"Mas... Otto-san" – protestou Hakudoushi, cansado de está em segundo plano. Parecia que aquele maldito aparelho telefone era mais importante que... ele.

Sesshoumaru lançou um olhar desaprovador para ele, pedindo licença e levantando-se para falar com seu sócio na sala.

Hakudoushi cruzou os braços, bufando; finalmente mostrando algum tipo de sentimento. Eles eram praticamente iguais, não completamente.

MMM

"E é por isso que eu quero me tornar uma bailarina" – terminou com os olhos negros brilhando, uma garotinha de longos cabelos castanhos e lisos, em pé na frente de toda a sala. Uma salva de palmas foi presenteada a ela por parte dos colegas e da professora que murmurava milhões de elogios sobre a pesquisa sobre o ballet clássico.

A meninha voltou pro seu lugar, saltitante e radiante de felicidade. A professora sorriu, saindo de uma das pequenas carteirinhas de aluno que ocupava ficando de pé.

"Agora o próximo e último é..." – ela começou checando na folha de presença – "Taishou Hakudoushi" – ela anunciou sorridente, levantando logo a cabeça, observando o garoto no fundo da sala.

Hakudoushi engoliu em seco, levantando-se da cadeira. Andou em direção a professora; a outra saiu de onde estava voltando a sentar na mesma carteirinha que antes ocupava, murmurando um boa sorte.

O garoto encarou a classe parado. Sua face sem expressão escondia perfeitamente o nervosismo que tomava conta de seu corpo no momento. Se controlava a todo custa para que suas pequenas mãos não tremessem involuntariamente e nem que sua voz falhasse. Seja forte, não deixe seus sentimentos dominar sua razão. A voz grossa e fria ecoava em sua cabeça. Sempre tentou a todo custo entender essa frase, mas sua capacidade de interpretação ainda não era muito avançada por seus poucos anos, mas ele tinha uma leve perspectiva do que o que realmente aquilo significava.

Olhou para a professora, encarando a íris castanhas que brilhavam encantadoramente, parecendo incentivá-lo. A classe continuava em silêncio a espera de qualquer pronunciação do garoto. Para a maioria era até novidade em suas cabecinhas que o calado e quieto colega de classe falava.

"Pode começar Haku-kun" – a professora resolveu intervir perante o silencio do menino, tentando estimulá-lo a começar a falar.

Silêncio, novamente. Hakudoushi olhou para o papel que carregava nas mãos com a atividade que deveria está preenchida com sua pesquisa.

"O que você quer ser quando crescer, Hakudoushi?" – Um coleginha no meio da sala arriscou, curioso e ansioso pela narração do outro.

"Eu..." – Hakudoushi começou, baixo como sempre – "Eu..." – murmurou novamente, mesmo lutando contra o nervosismo por ter milhares de olhos famintos por informação focados nele, sua face continuava inabalável, ou pelo menos ele tentava mantê-la assim. Não demostre– "Eu não sei o que quero ser..." – completou, correndo seus olhos rosa pela classe parando por ultimo na professora que o olhava desapontada.

"Como assim Hakudoushi? Você ainda não sabe?" – ela indagou, sem esconder a decepção da face infantil.

Ele balançou a cabeça negativamente.

"Mas... não tem nada que chame sua atenção?" – ela perguntou – "Não quer ser... o que... seu papai, é?" – ela sugeriu sorrindo de levemente.

"Iie" – ele respondeu, secamente. Rin estranhou o comportamento do menino.

Silêncio novamente.

"Hakudoushi" – ele virou o rosto para um garoto de cabelos ruivos – "Ser astronauta é legal, porque você não se torna astronauta como eu vou ser?" – terminou Shippou, empolgado.

Hakudoushi não respondeu. Odiava a lua e a hipótese de ser astronauta estava fora de qualquer cogitação, assim como ter a mesma profissão de seu pai.

"Ou talvez... você queira ser um bailarino" – a mesma menina que estava a falar minutos antes pronunciou – "Eu preciso de um par para dançar um Pas de deux" – ela comentou sorridente.

"Um Pas de o que?" – Shippou indagou fazendo uma cara de espanto ao ouvir as palavras francesas.

"Isso é coisa de mulherzinha" – comentou outro garoto.

"Pas de Deux é quando um homem dança com uma mulher" uma menina de curtos cabelos negros explicou – "E homem também dançam ballet, seu bobão" – ela completou mostrando a língua para o outro.

"Você é que é bobona, Mizuki" – ele rebateu, também lhe mostrando a língua.

"Parem, crianças" – Rin falou, se levantando, pondo ordem na sala de aula.

Hakudoushi não se moveu, parecia está muito longe dali.

O sinal tocou. Rin suspirou pesadamente.

"Bom turma, chega por hoje. Eu adorei as pesquisas... Parabéns" – Falou, esboçando um sorriso – "Agora vão indo, que seus papais já devem está esperando..."

Agora foi a vez de Hakudoushi suspirar. Todo o dia ela falava a mesma coisa.Seus papais devem está esperando. E realmente estavam... menos... o dele. Ele continuou imóvel vendo seus colegas saírem da classe animados.

"Ahh! Hoje meu pai vai me levar numa sorveteria... Ele disse que o sorvete de lá era ótimo" – ouviu uma menininha gorducha falar para a amiga.

"O meu falou que ia levar eu e a mamãe para passear no parque quando ele voltar do trabalho" – a outra respondeu, dando saltinhos de felicidades, seus cabelos presos em maria chiquinha balançando para cima e para baixo.

Sorveteria... Parque... Pegar na escola. Porque apenas ele não podia ter isso. Porque apenas ele tinha que voltar com motorista, porque apenas ele tinha que ir pra aula de piano e não para um parque, por que apenas ele tinha que ir pra aula de inglês e não para a sorveteria, porque apenas ele parecia que... que... não tinha... p...

"Haku-kun" – ele despertou, vendo que ainda se encontrava parado de frente para a sala. Encarou os olhos castanhos, que no momento parecia transmitir puro desapontamento, ao em vez de alegria e doçura – "Por que não fez a pesquisa?"

Ele abaixou a cabeça, envergonhado. Ela respirou fundo, se abaixando para ficar no mesmo nível que ele.

"O que está acontecendo, Haku-kun?" – ela indagou, acariciando o rosto do menino.

Ele continuou em silêncio.

"Você não quer me falar... É isso?" – ela continuou, afagando seus cabelos prateados; sua voz doce. Ela respirou fundo novamente, levantando-se.

"Amanhã, temos que conversar... sério" – ela falou, sua voz decidida e sua expressão anormalmente dura. Ele continuou calado – "Agora vá... Seu pai deve está esperando"

Aquilo novamente. Ele não agüentava mais.

"Iie" – ele falou levantando a cabeça e encarando os orbes interrogativas da mulher.

"Nani?" – ela perguntou, sem compreender.

"Eu não vou... Não agora..." – ele informou, decidido do que ia fazer.

"Como assim?"

"Eu quero que... meu pai venha me buscar..."

Continua...

N/A:Ta aí! Mais uma fic. Pretendo não a deixar muito longa; a estimativa é de uns 6 capítulos. Quanto as outras fics... Irei atualizar em breve. Agora nas férias fica mais fácil de escrever. Espero que tenham gostado. Não sei de onde tirei a idéia de por o Hakudoushi como filho do Sess, mas... Sei lá... Acho que combinou. E quanto aos erros ortográficos, desculpem... estou sem beta e gramática não é muito meio forte.

Deixem comentários, please! xD

Dedico esse capítulo a Isabella Campos