Era uma noite quente no acampamento meio-sangue. A lua cheia brilhava acinzentada e Thalia mexia-se inquieta na cama. Nem o som do punk rock nos fones de ouvido conseguia acalmá-la.

Depois de uma ou duas horas de esforço em vão, ela desistiu de dormir e resolveu ir caminhar. É claro que ela sabia que as harpias estavam lá, mas ainda sim tinha pelo menos cinco minutos até que a percebessem. E cinco minutos eram mais do que o necessário para chegar ao lugar aonde ela planejara ir.

No lugar onde a colina tocava o mar existiam muitas pedras grandes. Entre elas, uma discreta caverna se abria, o lugar perfeito para ela. A caverna era totalmente isolada: não tinha árvores e a pequena lagoa cristalina que ali jazia era esquecida pelas dríades.

Recostou-se na parede de pedra. Lá, sozinha, sentada sob a luz do luar ela se permitia pensar sobre o motivo de sua insônia.

Luke.

- É bom ver você de novo. – ela ouviu uma voz familiarmente rouca dizer. Levantou-se num sobressalto e viu Luke a menos de dois passos dela.

Luke estava mais alto e sua voz estava nitidamente mais grave. Xingou-se mentalmente por constatar o quanto ele estava bonito. Seu cabelo loiro desgrenhado cintilava e sua pele acinzentada contrastava com a camisa preta. Seu rosto anguloso estava marcado por uma cicatriz que ficava abaixo de um dos olhos azuis como safiras que olhavam fixamente para ela.

- O que faz aqui? - perguntou com a voz tremula.

- Queria ver com meus próprios olhos se era verdade. Se... Se tinha realmente voltado.

- Agora que já viu, pode ir embora. - disse virando o rosto para que Luke não percebesse que seus olhos estavam cheios de lágrimas, não queria parecer fraca.

- Thalia - ele disse se aproximando. Thalia tentou recuar, mas bateu as costas na parede, estava encurralada. - tudo o que eu fiz, eu fiz por você. Sei que isso não justifica, mas... Eu queria que tudo fosse como antes... Mas não é tão simples.

- Pode ser. Volte para cá, fique comigo. - mordeu o lábio e uma lágrima teimosa escorreu por seu rosto. Luke limpou-a com o polegar.

- Não gosto quando você chora.

- Então não me faça chorar - sussurrou.

Luke desceu sua mão pelo seu braço até seu pulso, deixando uma trilha de fogo por onde passava. Com a outra mão ele puxou o rosto dela para o seu e sussurrou em seu ouvido.

- Eu amo você, Thalia.

Seus lábios tocaram os de Thalia, suas mãos reconheciam sua pele, queimando-a. As mãos dela bagunçavam o cabelo de Luke, puxando-o para ela como se houvesse algum meio possível de ficarem mais perto. Não havia parte da mente de nenhum dos dosis que não fosse invadida pelo desejo insano de que nunca se separassem

Ela se separou da boca de Luke para respirar e seus lábios queimaram seu pescoço. Ele voltou seus olhos para ela.

- Foge comigo?

- Para onde?

- Para qualquer lugar, como faziamos quando éramos crianças. Lembra?

- Como eu poderia me esquecer?

Ele a envolveu nos braços, apertando-a contra o peito. Thalia colocou seus braços em torno do pescoço de Luke e puxou seu rosto até que seus lábios se tocassem.

Suas bocas moviam-se juntas, fundindo-se como se nunca fossem se dividir, como se a separação não fosse o fato inevitável que era.

Alí naquela caverna isolada do mundo, iluminados apenas pela lua e nos braços um do outro, eles não eram o servo de Cronos e a filha de Zeus. Eram apenas Thalia e Luke, como nos velhos tempos.