"Você deve esquecer isso, Camus."
O ruivo não conseguia tirar os pensamentos da cabeça, enquanto tentava se livrar das cordas que amarravam seus pulsos.
"Abandone seus sentimentos. Eles nunca te levarão a nada."
Mas por mais que tentasse, tudo que conseguia era ferir seus pulsos nos nós apertados. Maldição. Queria sair logo daquela situação, mas sequer conseguia pedir ajuda, devido à mordaça que tapava sua boca.
"A partir de hoje, mais do que nunca, você deve sempre pensar antes de agir. Seja controlado..."
Não podia desistir. Tinha que sair dali.
"... seja frio..."
Manter a calma, como sempre fizera. Mesmo que as cordas não soltassem de formam alguma.
"... aja como um bloco de gelo."
Mesmo que as memórias não o deixassem em paz.
–-/-
O garoto andava pelos corredores luxuosos da instituição, atraindo diversos olhares pelo caminho. Sua bela aparência chamava a atenção. Seus longos cabelos ruivos, presos em um rabo de cavalo alto, contrastavam com sua pele clara e seus olhos cor de bronze. Além disso, a postura séria e elegante só contribuía para a bela imagem.
Ele acabara de chegar àquele internato masculino grego, conhecido pela rígida disciplina e também por ser o colégio para o qual eram mandados os filhos de famílias ricas que os pais não queriam por perto. Ou até mesmo como forma de discipliná-los ou castigá-los, em alguns casos. Camus estava acompanhado de um monitor do colégio, que o levava para seu novo quarto, onde seus pertences já estavam guardados e também onde seu mais novo colega de quarto lhe esperava.
Camus pretendia interagir o mínimo possível com as pessoas daquele lugar. Sabia bem qual era seu dever, e porque seu pai o mandara para lá. Era deveria ser forte, frio e inteligente para, no futuro, poder comandar os negócios da família. Desde aquele dia, o ruivo deveria ser como gelo.
– Aqui, este é seu quarto.- O rapaz mais velho avisou, apontando uma porta com aparência cara e antiga, em um corredor com alguns outros dormitórios.- Seu companheiro o espera lá dentro.
E dizendo isso o monitor se afastou. Durante todo o tempo manteve o rosto sério e rígido, como era de se esperar de um dos estudantes exemplos daquela instituição. Camus estava no lugar certo. Fechou os olhos e respirou fundo. Quando os abriu novamente sua expressão era completamente neutra, quase como se de fato não possuísse sentimentos. Abriu então a porta.
–-/-
Camus fechou os olhos, parando de se mover. Tinha que pensar em outra saída, usar o raciocínio e a frieza que lhe eram tão característicos, os mesmos, inclusive, que o puseram naquela situação, machucado, amarrado e amordaçado, preso em um armário pequeno enquanto os demais estudantes dormiam em suas camas.
Uma pontada apertou o coração do rapaz. Não, não podia pensar nele naquele momento, não podia querer que ele o encontrasse. De forma alguma deveria envolvê-lo em tudo aquilo. Sabia como o outro reagiria e sua personalidade dada a exageros só iria atrapalhar.
Mas era mais do que isso. Acima de tudo, não podia permitir que ele se machucasse, principalmente por sua causa.
– Milo...– Camus sussurrou, antes de se deixar vencer pelo cansaço e ser dominado pela inconsciência e pelas lembranças.
