I

Terra. O planeta dos desgraçados. O planeta dos covardes. O planeta dos destruidores. Dos egoístas, idiotas. Pegue a classificação que quiser e vá fundo. No final, você irá ver que a grande maioria são os merecedores da morte. Eu fui um merecedor da morte. Não porque eu era um dos listados acima. Não pelo menos até o ato do suicídio: então tornei-me um desgraçado, pois todos haviam me machucado. Tornei-me um covarde, por dar as costas a algo tão precioso. Tornei-me o destruidor da minha vida. Tornei-me um egoísta, por não me importar com poucas pessoas que iriam gostar de mim. E me tornei um idiota, pois depois de voltar, quis fazer cada um deles pagar do meu jeitinho. O gostinho, o sabor frio, doce e fino de uma vingança. Sim, isso sim. Isso era simplesmente maravilhoso.

Vejam bem... as pessoas preenchem minha vida. Cada pessoa, e cada acontecimento de alegria ou tristeza, fazem parte de um pedacinho da sua alma. Então você preenche sua alma. Tristeza, ou alegria. As tristezas podem ser substituídas por alegrias. Mas, do contrário, não. As alegrias não podem ser substituídas pelas tristezas, porque aí viram um desastre. Mas o que aconteceu comigo não é tão comum assim. Foi o que aconteceu semelhantemente à maioria dos suicidas. Você tem de estar pelo menos parcialmente preenchido. Mas eu não. Até as tristezas me foram tiradas, não deixando sobrar absolutamente nada. Alegrias, pessoas, tristezas. Tudo retirado. Sobrou o egoísmo. Sobrou apenas eu. Eu e minha alma completamente vazia. Eu sei o que é as coisas não mais fazerem sentido ou diferença para você. Eu sei o que é olhar da janela do seu quarto e dizer para si mesmo que o mundo continua girando, o vento continua batendo. A lua continuará lá. E depois dela, o sol. E depois a lua. Depois o sol. E a lua. E o sol. Infinitamente. E mesmo depois das pessoas se esquecerem de você, esquecerem-se de que você morreu, o sol e a lua continuam lá. Sempre continuarão lá.