Era uma noite sem estrelas. As pétalas de cerejeira voavam pelos céus conforme o vento as açoitava. Traçavam um caminho ao redor daquela mulher... Ninguém ousava aproximar-se dela, todos a temiam. Ainda mais que a poucas vezes que lhes aparecera... A escuridão acompanhava-a.

Eles pararam em uma pequena capela que estava abandonada há muito tempo.

- Shizuka-sama... Não creio que devera continuar com este pensamento. Por que não esquece o estorvo que fora teu passado e me deixe trilhar um futuro contigo? – Ichiru insistia em ser transformado.

Era de seu conhecimento que ela já se apaixonara por um humano, isto poderia se repetir caso tivesse um pouco de sorte. Infelizmente, a sorte nunca caminhara ao seu lado.

- Eu não posso. Você é o único que não posso transformar em vampiro. A verdadeira natureza de um vampiro é selvagem e cruel. – A voz cautelosa e suave dela, fazia-o tremer - Além disso, já é tarde demais. Eu já me decidi.

- Shizuka-sama... Por favor. – Ele não desistiria fácil, era dia dos namorados.

Ichiru gradualmente se tornara um adulto. Ele era maduro o suficiente para entender o que era o amor... E a dor que vinha consigo. Este dia seria diferente dos que acontecera nos anos anteriores. Conseguira comprar-lhe um anel de ouro. Estava pronto para usá-lo.

- A experiência do Ichiru é pouca como a minha... Isso me faz lembrar... Beba Ichiru – Ela perfurou o seu pulso e estendera para ele.

- Shizuka-sama, não é necessário... Pelo menos não desta forma. Enquanto eu continuar a ser um mero humano, não poderei aproveitar o seu sangue da forma correta. – Ele não desistiria de convencê-la.

- Não interessa, beba. – Ela o ordenou

Por um momento hesitou. Não poderia rejeitá-la. Colocou a mão dentro do bolso de sua calça e com a outra segurara o braço dela. Bebeu um pouco de seu sangue. Sem que ela notasse colocou-lhe o anel no dedo anular e o beijou.

- Provavelmente, o seu gosto seria mais apetitoso se eu fosse um vampiro. Shizuka-sama, você é a única que me importa, é a pessoa que me salvou da solidão. Eu quero está ao seu lado não só agora, mas para sempre... – Ele sabia o que ela diria, mas não gostaria de ouvir as palavras passarem por seus lábios e arderem em seu coração como sempre faziam. – Shizuka-sama, por que não me transforma em vampiro?

- Pensei que você queria ser superior ao Zero. Se eu fizer o que me pede, você será como ele. O meu servo. Você não teria mais seu jeito atrevido e não me faria mais oposição... Seria entediante.

Ele desviou o olhar. Meter o nome de seu irmão fazia as suas entranhas se remoerem até não poder aguentar mais. Zero, o menino perfeito... Será que ele seria sempre visto como a sombra dele? Não, se ela o transforma-se poderia mostrar a todos que ele não era apenas um servo. Mas o melhor homem que ela poderia conseguir.

- Você transformou Zero em vampiro, e ele não respeita esta conduta. Eu também...

-Não, Ichiru. Antes de transformá-lo eu sabia que ele não iria se sucumbir a mim, mas você não faria o mesmo. Então Zero não seria entediante como você iria.

O rosto de Ichiru murchara. O seu olhar melancólico lamentava a sua existência cruel. Por que tivera que nascer? Ninguém o entendia. A única pessoa que o entendera, recusava-se a ficar ao seu lado pela eternidade.

- Não fique assim Ichiru, a existência de minha espécie já é ruim o suficiente. É triste. É torturante... É lamentável.

- Mas você transformara aquele homem em vampiro...

- Eu o amava.

As palavras fizeram-no se despedaçar por dentro. Ela amara outro. E mesmo que se apaixonasse novamente, era mais provável que Zero seria o grande homem. Caso duvidasse, até o sangue de seu irmão poderia ser mais saboroso que o dele.

- Ichiru, eu matei os seus pais por pura vingança. Eles mataram o único homem que me apreciava de forma igual a que eu o amava. Você deveria sentir ódio de mim, como Zero. Não, você sente ódio de mim, não é mesmo?

-Não.

-Se for assim, você é um grande pecador. Deveria ajoelhar-se e pedir perdão a Deus...

- Deus não existe para mim. Abandou-me e amaldiçôo-me desde que nasci...

Ela o puxou e lhe deu um beijo nos lábios. Foi rápido, porém alimentara as poucas lembranças que ele ainda conseguia regar.

- Você não me ama, não brinque comigo. Sabe como me sinto e mesmo assim...

- Perdão... Mas a partir do momento que rejeito em lhe corresponder, mostro que a mesma sede que você tem de amor... Pode ser a mesma que eu tenho quanto ao sangue... Devo admitir que você esteja lidando com isso muito bem. Eu em seu lugar, já teria sido controlada pelo meu instinto sedento e já o teria matado. Eu sei como você se sente e gostaria que você também pudesse me compreender.

- Não me importa, morrer em seus braços, ao teu lado é o que eu desejo para mim. Shizuka-sama, este coração bate por sua causa. Sem você eu já teria me deteriorado.

- É por isso Ichiru... Se eu o congelar, você não terá mais como me provar amor. Sabe que dia é hoje, suponho. Peça-me um presente e eu o darei.

- Você sabe o que eu quero Shizuka-sama... Transforme-me...

- Qualquer coisa eu te falo, e você quer que eu lhe entregue a uma vida onde todas as suas ações rodam em torno do sangue.

- A minhas rodaria em torno da sua vida...

- Claro. Você seria um mero servo... Não mais meu adorado amigo. Peça-me outra coisa – O seu tom irônico teve outro efeito nele. Tirou-lhe a coragem de dizer algo a mais.

Ele se acovardou e virou o rosto para baixo evitando o seu olhar. Corando logo em seguida.

- Diga. – Ela ordenou-o.

Ele mordeu os lábios hesitando-se.

- Eu... Eu queria que me beijasse novamente – Ao dizer tais palavras seu rosto se avermelhou mais ainda.

Ela olhara para ele digerindo o que dissera e um belo sorriso estendeu-se na face. Deu um passo para ele e ficou na ponta dos pés.

Dessa vez o beijou mais desejosa.

E assim continuaram por longos minutos... Até que ela separou-se dele. A respiração de Ichiru estava mais acelerada do que ates. Ele desejava mais... Muito mais do que um mero beijo. O seu corpo cantava para ela... Mas ele sabia que seria em vão.

Respirou fundo e deu meia volta.

- 'O positivo' novamente?

- Não essa noite. Seria pedir muito que me trouxesse AB?

- Certo. – Ele se retirou e foi buscar a refeição dela.

Quanto tempo mais ele teria de esperar? Um dia ela ainda cederia. Esta com certeza fora uma das noites mais especiais que tivera.

O primeiro beijo.

O primeiro beijo com aquela que ele amara.

O primeiro beijo com a sua Louca Princesa Florida.

Ou pelo menos assim seria em seus pensamentos onde ninguém poderá lhe incomodar.

Estava seguro lá...

Mas não em seu coração que estava esmigalhado, aguardando que o sol raiasse novamente e mostrá-lo que poderia ser feliz e completo um dia... Estava perto da morte.

FIM