Primeiro, os personagens não me pertencem. O nome da fanfic veio absolutamente do nada, como a maioria das coisas que eu escrevo, e não sei porque a música da Pitty continua na minha cabeça. A fic não foi betada mas eu adoro o word, então espero que esteja aceitável :3 Espero que gostem.


Memórias.

Ela podia ouvir o suave descer e subir do peito dele lá debaixo, enquanto passava as pontas dos dedos nos móveis antigos. Levara vários minutos para decidir se queria mesmo fazer aquilo, se realmente poderia matá-lo novamente e reabrir a ferida que ele tentava cicatrizar. Mas talvez fosse melhor. Ela queria aquilo e ele também iria querer. Ela iria matá-lo outra vez.

- Soube que estava morrendo. – Parou na porta do quarto dele, apoiando-se suavemente contra o batente. Os olhos fechados, a respiração superficial e os músculos do rosto tensos, Damon estava deitado. Parecia muito vulnerável, e ela tentou se lembrar se alguma vez já o vira daquele jeito. Não precisou pensar demais.

- Finalmente uma boa notícia. – Mesmo naquele estado ele não havia perdido o humor. Ela sorriu e mordeu o interior da bochecha, os dedos coçando de vontade de tocá-lo.

- Já teve alucinações comigo? – Um outro sorriso desenhou os lábios rubros, embora Damon não pudesse vê-lo.

- Infelizmente. – Ele continuou de olhos fechados enquanto ouvia os saltos dela baterem contra o chão de madeira; mal ouvia sua voz, mas aquele barulho parecia retinir em seus ouvidos. Damon inspirou fundo para conseguir ar e sentiu o cheiro dela, tão próximo, conforme a cama ondulava sob o novo peso. Não precisou abrir os olhos para saber que Katherine estava sentada em sua frente.

- Onde está Elena? – Era uma pergunta estúpida para se fazer a ela, mas ele precisava fazer. Ouviu Katherine suspirar.

- Ela foi embora, Damon. – Havia irritação em sua voz. Ele curvou os cantos dos lábios em um sorriso; já sabia daquilo, só precisava ter certeza. Não queria que ela o visse morrendo, ele nunca fora homem de lamentar a morte. Afinal, já estava morto há muito tempo. Katherine, no entanto, pareceu tomar aquele sorriso como outra coisa. Perguntou-se o quanto aquilo estava doendo e se Damon já tinha desligado seus sentimentos outra vez; doeria menos.

- Veio se despedir? – Ele perguntou, rouco, ainda sem vontade alguma de abrir os olhos. Tossiu e sentiu sangue impregnar sua garganta; Impulsionou o tronco para frente para vomitar, mas mãos com unhas muito compridas o fizeram deitar novamente.

- Não seja estúpido. – Havia ameaça na voz de Katherine. Damon se deitou outra vez e passou a ponta da língua nos lábios, sentindo o gosto do próprio sangue. Era amargo e tinha gosto de morte. Ser um vampiro nunca fora tão deprimente. As mãos dela continuaram em seu peito, sob a camisa, e ele suspirou com o toque nada incomum – que também doía.

- Vá embora. Já estava deprimente antes de você chegar. – O sarcasmo era sua última arma naquele momento, e Katherine também entendeu aquilo. Ela riu em escárnio e balançou a cabeça suavemente. Os olhos astutos continuavam fixos no rosto de Damon, esperando que ele abrisse os olhos e a encarasse. Mas parecia faltar-lhe coragem para aquilo.

- Vim lhe dizer uma última coisa. É justo que você saiba. – Havia um quê de angústia na voz de Katherine que finalmente provocou alguma reação em Damon; ele abriu os olhos levemente e piscou algumas vezes, tentando encontrar foco. Quando conseguiu, os olhos dela o observavam atentamente, os dedos agora corriam pelos ombros dele.

- Não agora, Katherine. – Pediu, mas sabia que era inútil. O que quer que ela quisesse lhe dizer, Damon não queria ouvir. Não quando iria morrer. Não quando não poderia fazer nada a respeito – principalmente arrancar a garganta dela. Seu estômago começou a borbulhar e ele sentiu que precisava vomitar.

- Eu também amei você, Damon. – Ele sabia que não queria ouvir. Tentou bloquear as palavras, ergueu a mão e quis afastar as dela, mas estava praticamente sem forças. Voltou a fechar os olhos, de repente tudo havia se tornado pesado demais e ele estava tentando alcançar o botão que o desligaria daquilo tudo, mas ela continuou falando.

- Eu o amei assim como amei Stefan. Algumas vezes deixei isso aparecer. – Ele soube que Katherine franzia o cenho, soube que as unhas dela apertaram seus braços com certa força, mas não queria ouvir. Não agora.

- Pare de falar. – Pediu, mantendo a voz tão firme quanto possível, e ergueu as mãos para finalmente afastar as dela. Katherine, no entanto, entrelaçou seus dedos e colocou ambas mãos sob o coração de Damon, fazendo certa pressão.

- Mas você se apegou demais. Você me amou demais e eu precisava sumir. Você devia ter superado, Damon. – Agora havia incredulidade em sua voz, ela o repreendia por te-la amado demais. Estava mesmo ouvindo aquilo? Damon pressionou os lábios em uma linha fina, os olhos ainda fechados e a respiração se tornando pesada. Seu peito doía mais que nunca, e ele sabia que não era apenas por causa do veneno que corria em suas veias.

- Katherine, eu não quero ouvir. – Eu não quero saber. Ela não lhe deu atenção, os olhos se estreitando perigosamente e o corpo se movendo para frente. A coxa dela roçava na perna de Damon, a cama afundava conforme ela se movia.

- Então, quando você me perguntou se eu amei você, eu menti. – Havia tanta crueldade nas palavras dela que ele ficou sem ar por um momento. Tinha certeza que ela podia ouvir seu coração acelerando, embora o veneno o deixasse mais pesado, e uma pontada em seu peito fez Damon cuspir sangue novamente. Ele arqueou as costas para trás, o vermelho agora manchava seus lábios e escorria por seu peito, ele engasgava com o sangue e o líquido nunca fora tão repugnante. A dor se tornou insuportável e as mãos de Katherine pressionaram seu corpo para baixo enquanto ele tentava se levantar, desesperado por uma saída.

- Shhh. Acalme-se. – Era praticamente uma ordem, mas ele não queria mais ouvi-la. Queria ficar sozinho, já tinha mandado Elena embora, porque Katherine também não ia? Ou porque não o matava de uma vez? Qual era o prazer dela em vê-lo sofrer pelo seu corpo (por ela?) No meio daquela agonia, enquanto não conseguia se levantar, uma pergunta surgiu em seus lábios e ele não conseguiu conte-la.

- Porque você mentiu? – Ele abriu os olhos, as íris absurdamente azuis se prenderam nas da vampira e eles conversaram em silêncio, as mãos de Damon segurando-lhe os pulsos, as unhas de Katherine quase perfurando seu peito. Ela passou a língua pelos lábios rubros, seu olhar oscilando por todo o rosto de Damon, perdendo-se por mais tempo no vermelho que agora manchava seu rosto.

- Porque, Katherine? – A voz de Damon estava torturada, os olhos fazendo um esforço enorme para continuar lhe encarando. A vampira ergueu as sobrancelhas de leve, inclinando o rosto para o lado.

- Porque você nunca teria me deixado ir. – A resposta era tão simples, tão vaga, mas estava ali. Ele nunca a teria deixado ir se soubesse que ela o amava. E Katherine não podia se prender àquele lugar, ela precisava fugir, era o que ela passara a vida inteira fazendo, fugindo. E a verdade fez Damon sorrir, um leve curvar de lábios para o lado esquerdo, o corpo finalmente desistindo de lutar contra ela.

- É claro. – Murmurou, os olhos também desistindo de resistir e se fechando, o sorriso vermelho congelando em seu rosto. Ele soltou os punhos dela e as mãos caíram do lado da cama, frias e sem vida. Katherine tocou seu rosto, deslizando as pontas dos dedos pelo pescoço dele, as unhas já vermelhas se misturando com o sangue seco, a respiração calma e profunda. O toque era leve e gélido, ela desenhou o contorno dos olhos de Damon, as maças de seu rosto e os lábios.

- Katherine? Termine logo com isso. – Ele pediu, já sem forças para abrir os olhos, a respiração falhando e rasgando sua garganta cada vez que ele tentava. Katherine suspirou e se inclinou, beijando-lhe uma última vez do jeito que somente ela sabia, misturando seu gosto amargo ao doce do sangue dos lábios de Damon. Ele suspirou pesadamente.

- Me mate. – Como você já fez tantas vezes, termine com isso. Ela tirou uma coisa do bolso da calça e a colocou nos lábios entreabertos dele. Tinha gosto de sangue, mas àquela altura Damon não sabia identificar.

- Eu vou. – Ela respondeu, um sorriso de canto desenhando seus lábios rubros enquanto ela se levantava. A cama ondulou e Damon inspirou fundo, engolindo aquele líquido e sentindo sua garganta abrir novamente. Uma sensação de calor se instalou em seu corpo e lentamente, muito lentamente, ele abriu os olhos. Estava se curando. Procurou por Katherine, mas ela não estava mais ali. Tinha ido embora. Katherine tinha lhe matado de novo. Uma última vez.


Memórias, não são só memórias, são fantasmas que me sopram nos ouvidos coisas que eu nem quero saber.

Reviews me deixariam muito feliz.