O PEQUENO DRAGÃO

DISCLAIMER - Yu Yu Hakusho é propriedade de Yoshihiro Togashi.

Nota da Autora: Eis minha primeira fanfic! Estou aberta a sugestões e críticas para o desenvolvimento da história, que pretendo elaborar da melhor forma possível. Espero não ter deixado nenhum personagem OOC. Esta história se passa após o fim da série.

Boa leitura!


Capítulo 1 – A Armadilha

Makai, sexta-feira, fim de tarde

- Ei, caras, parece que vai chover – comentou Shigure. Os patrulheiros do Makai caminhavam pelas imediações do antigo reino de Gandara. Estavam animados, pois Tiyu¹ comentou que iriam ser convidados para um churrasco na fortaleza de Mukuro, comandante deles, com bebida à vontade. Todos conversavam e riam, à exceção de Hiei que parecia imerso em fúria.

- Soube que Enki trouxe para o Makai uma tecnologia do Ningenkai chamada internet – dizia Seizan. – Yomi está responsável por administrar o fornecimento disso para nós.

- Tá atrasado, hein, carequinha? Eu já tenho no meu smartphone – Rinku tirou um aparelho eletrônico do bolso e o exibia com orgulho. – Fui o primeiro a adquirir um aqui no Makai!

- Deixa de ser exibido, Rinku... – Tiyu deu um tapinha na cabeça do moleque e riu. – Já vi outros youkais usando essa geringonça aí. E você não é o primeiro, e sim o Shura. Molecada viciada – e gargalhou de novo. Tiyu, definitivamente, parecia radiante com a ideia de beber. A alcunha "Alquimista Bebum"² lhe caía perfeitamente.

- E você, Hiei, por que não usa um desses para falar com a sua irmã? Já disse que você está desobrigado de manter segredo sobre seu parentesco.

A pergunta de Shigure faz Hiei mais pálido do que já estava. A bem da verdade, seu tom de pele estava quase esverdeado. Aquele bom humor dos companheiros o irritava ainda mais. O koorime virou para trás no mesmo momento em que um relâmpago cruzou os céus, prenunciando tempestades.

- E o que você tem com isso, seu maldito? – retrucou o baixinho com ira. O ex-cirurgião do Makai apenas levantou as mãos, sem dizer nada. Seizan, desapercebido como sempre, tentou se aproximar de Hiei com um educado "Hiei, você está bem?", do qual se arrependeu em seguida:

- Não, idiota. Mil vezes, não! Ou você acha que eu estou adorando andar com estúpidos como você e esses outros? Desgraça de vida! – E saiu pisando duro, na frente. Os demais patrulheiros ficaram meio confusos com toda aquela ira. O baixinho era razoavelmente mal humorado, mas naquele dia ele transbordava ódio.

Tudo estava ruim naquele maldito dia, pensou ele. No dia anterior, havia ido ao Ningenkai visitar sua irmã gêmea e se arrependeu imensamente. Como se não bastasse vê-la agir de forma patética junto daqueles humanos imprestáveis, ainda teve o desgosto de presenciar aquele olhar meigo para o mais idiota integrante do time Urameshi – Kazuma Kuwabara.

Esta última visita fora tremendamente mal sucedida. Hiei ainda se lembrava com clareza do som das pedras hirui caindo no chão. Sua pequena irmã se indispusera contra ele, chegando a chorar, por causa do imprestável de cabelo alaranjado. O pior era não poder matar aquele infeliz, já que nem ele nem Yukina sabiam que esta era a irmã do youkai de fogo. Aquelas palavras martelavam em sua cabeça: "Eu estou com raiva de você, Hiei-san!". Nunca imaginaria que a pequena koorime pudesse olhar para ele com aquela expressão de intensa mágoa.

Agora ele se sentia extremamente irritado e não poupava ninguém de suas más respostas, incluindo Mukuro, que já estava perdendo a paciência com ele.

- Hiei, vou reunir os patrulheiros nesse fim de semana para uma pequena confraternização e... Que cara de bosta a sua! O que deu em você hoje?

- Isso não é da sua conta, idiota – respondeu ele, entre os dentes.

- Se não fosse, eu não perguntaria, engraçadinho. Você está todo cheio de não-me-toques desde que veio do Ningenkai – retrucou ela, sarcástica.

- Isso-não-é-da-sua-maldita-conta, idiota!

- Ui, como está bravinho! Volte ao trabalho, então. Vou dispensar Kokou e você vai passar a madrugada no patrulhamento, no lugar dela. Talvez assim fique menos raivosinho – disse ela, com ironia. A ele só restou obedecer, já que era seu subordinado.

- Por que não se mata, desgraçada? Sua voz me enoja – Foi a resposta.

- Me matar para quê? Te ver irritado como um afetadinho ningen é bem mais divertido. E sua voz é pior do que a minha – riu ela.

- Hn. – Ele saiu. Na verdade, Mukuro fez isso para ajudar o youkai enfurecido. Ela sabia que algumas horas sozinho lhe faria bem. Enfiou a mão no bolso e tirou um smartphone semelhante ao de Rinku. Ainda não sabia bem como operar o aparelho, mas já conseguia fazê-lo tocar música. Ela logo se esqueceu de Hiei. Pôs-se a calcular os gastos que teria com a confraternização dos youkais patrulheiros num aplicativo do celular. Aquilo era realmente útil.

Interessante como aquele moleque do Rinku adivinhara que as músicas de Nightwish lhe agradariam tanto!


Hiei saiu e correu sem destino. Queria ficar só e daria tudo para manter sua mente vazia, mas nem isso estava conseguindo.

Ao sair das imediações da antiga Gandara, sentiu um cheiro de humano. Com certeza, mais um desprezível humano caiu no Makai. Humanos, humanos, que ódio! E pensar que ele, Hiei, não podia matá-lo, sob pena de ser condenado por mais um crime! Abrir o ventre daquele velho caído no chão com sua katana seria bom para descontrair, mas não podia; tinha que fazer o infeliz voltar ao Ningenkai. Abaixou-se em direção ao homenzinho – um velho ocidental com vestes surradas e coloridas, e a perna direita provavelmente quebrada – e ia erguê-lo, quando este disse com alguma dificuldade:

- Meu bom menino, muito grato... Você me salvou! Vi uns animais estranhos... Pensei que iria ser devorado, morto... Não sei onde estou... Nem consigo... Me levantar...

"Vontade não me falta de te matar, escória", pensou o youkai, lembrando que, por um acaso, estava com sua faixa na testa, ocultando o jagan. Por isso o velhote parecia não temê-lo, apesar de Hiei estar com seu mais cruel olhar assassino. Mas, antes de responder qualquer coisa, o humano falou, com um sorriso desdentado e fraco:

- Meu querido jovem... Tenho aqui uma... Bebida... Uma iguaria dos deuses... Fique com ela... É só o que posso fazer para te retribuir pelo favor... Bom menino...

- Não quero isso – respondeu o koorime, fazendo questão de demonstrar sua raiva, embora tenha se interessado secretamente pela tal bebida (ele estava com sede e fome, não se alimentou durante o dia). Aquela conversinha mole o deixou furioso, mais ainda. Mas o idoso não se intimidou e insistiu:

- Por favor, filho... – Ao ouvir a palavra "filho", um brilho maníaco apareceu no olhar de Hiei, enquanto o homem continuava falando, sem notar o perigo. Tirou uma garrafa de dentro do bolso e a mostrou – Eu faço questão... Aqui está frio e este licor vai aquecer você...

- Então, por que você mesmo não o toma, peste? – retrucou Hiei, se contendo para não olhar para a garrafa.

"Desde quando eu sou curioso assim?", pensou ele, meio surpreso. Possivelmente aquela avalanche de sentimentos de raiva o alterara. "Devo estar ficando idiota também. Curiosidade é coisa de humano".

- Ah... Eu adoraria, mas não posso... Me dá palpitações... E esta garrafa era para meu sobrinho, que deve ter a sua idade... Sou só um pobre viajante que se perdeu nesta estranha floresta... Me sinto... Cansado... – E os olhos do homem foram se fechando, enquanto falava coisas ininteligíveis.

- Que se dane, eu não tenho nada a ver com isso – Hiei falou já sem tanta certeza. Estava com muita sede mesmo.

Aquela era uma oportunidade tentadora. Um humano, velho, já quase morrendo e tratando o youkai de fogo por adjetivos meigos estava pedindo para ser rasgado ao meio pela katana. Hiei pegou a garrafa de tamanho médio, curioso. Que licor seria aquele? Beberia e mataria o idiota caído. Isso iria lhe fazer bem, já que não podia matar Kuwabara, o infeliz que fez sua irmã se indispor contra si. Nem se importaria de ser punido pelo Reikai com alguma prestação de serviço.

Olhou para baixo. O velho parecia estar desmaiando, fraco e pálido. Abriu a garrafa, cheirou o conteúdo – parecia vinho branco, dos que Shigure gostava. Provou; realmente a bebida esquentava mesmo, e Hiei se sentiu instantaneamente bem. Sorriu e bebeu o tal licor em instantes. Até se esqueceu de Yukina, de Kuwabara e da vontade que estava de matar o humano, que estava ficando azul. Azul? Sim, azul, índigo.

Hiei piscou diversas vezes, achou tudo muito estranho, apesar de que a sensação de bem estar continuava. Sim, era um prazer imenso, de forma que ele não conseguia perceber a transformação do humano, que na verdade era um youkai também. Tinha uma cabeleira branca e dentes enormes – e estava gargalhando. Hiei estava visivelmente confuso; olhava para o youkai e o achava interessante, aquelas cores e os dentes pareciam a coisa mais incrível do mundo. Tentou erguer um braço, mas não conseguiu; tentou falar, mas não saía nada. Estava tudo tão grande! O youkai falava algo que ele não conseguia entender e parecia ter ficando gigante.

Muitas horas sem comer e o frio fizeram com que um alterado Hiei desmaiasse e caísse no chão. O monstro se desfazia em gargalhadas:

- Ah, o grande jaganshi, veja só em que se tornou! Nunca vi nada tão engraçado na vida! Duvido que Mukuro ou qualquer outra pessoa o faça voltar ao normal! Faço questão de ir, eu mesmo, para dar a ela a notícia de que derrotei você, Hiei, seu fedelho! Isso foi bem melhor do que matá-lo! Ai, ai, vou morrer de rir...

A chuva caía grossa sobre Hiei, incosciente e abandonado.


¹ - Eu havia postado "Chu", que é o nome original, mas resolvi trocar por "Tiyu".

² - Frase vista no anime: "Eu sou o Tiyu, o alquimista bebum".

Então, pessoal, é isso! O que vocês acham que aconteceu com o Hiei? Não é tão difícil de imaginar. ;-)

E por que o Hiei caiu tão facilmente na armadilha? Bem, eu quis mostrar que ele, às vezes, é tão impulsivo quanto o Yusuke. Basta lembrar do episódio da Saga de Sensui, onde Hiei perde a alma facilmente para o Yuu Kaito porque falou a palavra proibida de pirraça. Quando li no mangá essa parte, me veio logo o bordão à cabeça: "Ai, que burro, dá zero pra ele!". XD

A inspiração para este capítulo veio numa dessas madrugadas, em que eu amamentava a minha bebê. É, deixar de dormir às vezes nos torna criativos.

O próximo capítulo será publicado na semana que vem. Agora veremos a Yukina e os demais!

Título: Sintonias

Abraços a todos!

The Okaasan