WARNING: Para uma melhor compreensão, sugiro que leiam com antecedência minha outra fic, chamada Nothing Can Get You Down. Algumas coisas contidas aqui podem ser consideradas spoilers da fic citada, portanto não digam que eu não avisei!

Olá pessoas! E antes de mais nada, Boa Páscoa!

Bem, depois de tantas promessas, finalmente aqui está o POV do Edward. De antemão, vou logo avisando que vocês não irão encontrar coisas fofas; o que vocês vão ver aqui é um homem amargurado e que não sabe aceitar novos planos.

Escolhi abordar um tema que ficou subentendido em NCGYD. A descoberta de que Edward seria pai de uma menina. Muitas pessoas me perguntaram por essa cena, e agora ela está aqui prontinha, sobre a ótica do Edward.

Bem, eu espero que mesmo sendo algo pesado, a leitura seja agradável para vocês!

Era mais um dia fudido em minha vida, desde o dia em que decidira me livrar de uma vez deste fardo que eu considerava esse escritório. Não que os números da empresa estivessem negativos, pelo contrário; a Masen e Lawyers estava a cada dia mais procurada para assumir casos judiciais importantes, acarretando assim uma valorização mais elevada no mercado aqui em Chicago. Seria um momento perfeito para me livrar desse peso, se não fosse todas as malditas artimanhas que Anthony Masen tinha criado para que eu não conseguisse nunca me livrar da porcaria dessa empresa.

Se bem que eu não poderia reclamar tanto, afinal foi daqui que meu pai tinha tirado o meu sustento e onde atualmente garantia o conforto de minha própria família. Por mais que odiasse ter a responsabilidade do pequeno império criado por ele, não poderia de forma alguma abandonar tão facilmente algo que ele tinha colocado tanto esforço ao longo de toda sua vida.

Apesar de minhas desavenças com meu falecido pai, não podia negar que tinha sido bastante sortudo por ser filho dele. Tive a chance de ter uma boa educação, porém meus pais ensinaram que tudo se vinha através do esforço próprio. E esses valores, hoje eu tentava transmitir para o meu filho, que é a minha razão de viver ao lado de minha esposa.

E mesmo que nosso casamento hoje não fosse o mesmo desde... a notícia, Bella seria eternamente a pessoa a quem eu devia boa parte de tudo o que eu tenho e sou atualmente .

No entanto, apesar dos pesares, havia certos momentos em que ainda podia atuar na minha verdadeira vocação; o único legado que Anthony havia deixado para mim que eu realmente gostava; a advocacia. Os pequenos contatos que eu tinha com alguns dos processos daqui era a forma que havia de desestressar de toda a rotina cansativa que era administrar um empreendimento nas proporções desse escritório.

Então, depois de mais uma reunião frustrante onde a diretoria tinha rejeitado mais um comprador de minhas ações na empresa, resolvi verificar algum caso em vez de descontar no cigarro, como acontecia ultimamente. Um dos advogados juniors tinha ganhado a chance de pegar uma grande causa, onde provavelmente teria a oportunidade da promoção que tanto almejava. Resolvi me dirigir à sala dele invés de acabar me rendendo render à nicotina.

Fui rápido até o andar inferior, onde ficavam as salas dos advogados contratos ficavam, desde a reforma que fizemos o ano passado. Foi necessário comprar o andar inferior, uma vez que um só não cabia mais todos os funcionários. Desci as escadas devagar e procurei a sala de Riley Bears, provavelmente o futuro sênior que iria atuar nesse ambiente.

Porém, ao me aproximar da soleira da porta, a cena que transcorria ali dentro me deixou desconsertado. Nunca me considerei um homem invejoso, no entanto, havia de concordar que o que via a minha frente nesse exato momento, me enchia desse sentimento que sempre repugnei.

Era um tanto egoísta e egocêntrico de minha parte saber que nunca teria a chance de sentir o que Riley passava naquele instante, em de seu minúsculo escritório, dentro de minha empresa.

A pequena garotinha tinha-o arrastado até o chão, onde os dois se encontravam sentados um de frente para o outro, tendo uma boneca e várias peças de roupas para o brinquedo entre eles. As mãos grandes do homem tentavam insistentemente arrumar alguma fita do vestido em miniatura sem muito sucesso, para a frustração da menina.

- Tá errado, papai! Não tá vendo que assim vai acabar dando um nó?

Riley coçou a nuca e largou a peça com certa frustação – Eu não sei como fazer isso, princesa. Você sabe que o papai não sabe muito como brincar de bonecas.

- Ah, papai! Por isso que vocês meninos só gostam de brincar com coisas nojentas! Blerg! – ela completou, fazendo uma careta.

Eu não pude segurar a risada que escapou de meus lábios, chamando atenção das duas pessoas ali dentro. Prontamente, Riley se levantou e veio em minha direção – Oh, Sr Masen. Desculpe-me por isso. Mas minha ex-mulher precisou sair e a babá da Lindsay não estava em casa então-

Apesar dos sentimentos confusos de inveja, ergui minha mão, impedindo que ele continuasse –Sem problemas, eu entendo. Na verdade, eu só estava de passagem por aqui para saber se tem alguma novidade no caso do divórcio dos McQueen.

Ele assentiu brevemente e se dirigiu até a mesa rodeada de papéis. – Sim. Parece que a sra McQueen decidiu aceitar o acordo pré-nupcial, afinal, aquelas fotos não seriam nada boas para a reputação dela diante de um tribunal.

Dei uma rápida examinada nos papéis e vi que de fato, Riley tinha conseguido concluir o caso sem mais delongas. Apesar de ser algo fácil, já havia notado que aquele homem tinha um ótimo potencial e no futuro poderia vir a ganhar muitas causas importantes para o futuro gestor deste escritório, seja lá quem o seja.

- Você é o chefe do meu papai? – A vozinha fina me perguntou, fazendo com que eu fitasse o par de orbes acinzentados que me observavam com curiosidade.

- Sim. – lancei-lhe um meio sorriso, contudo percebi seus olhos se estreitarem em minha direção e não pude deixar de indagar – O que foi?

- Então é você quem faz ele chegar tarde em casa, né? –Inquiriu em um tom acusador

Imediatamente, Riley ficou vermelho de vergonha – Lindsay!

Eu ri alto, sem esconder o quanto gostava de ouvir essas divagações infantis. – Sim, pequena. Às vezes, eu sou o culpado pelo seu pai não chegar cedo em casa. – agachei-me ao seu nível e não pude deixar de ficar encantado com a forma que as suas sobrancelhas arqueadas se cruzavam em um ângulo engraçado. – Você tem razão em reclamar comigo, mocinha.

Ela fitou o pai cheia de si pelo fato de ter admitido que o erro era meu a ausência de seu pai em sua vida. – Sr. Masen, perdoe-me mais uma vez. Sei que foi um erro tê-la trazido ate aqui, só que Lindsay é extremamente retraída com outras crianças, portanto não queria deixa-la lá embaixo na creche.

– Não é um erro querer passar mais tempo com sua filha – comentei, me sentindo um tanto que hipócrita ao afirmar aquilo, já que nos últimos dias, só via o Richie quando ele já estava dormindo profundamente. – Se eu pudesse ter uma garotinha como a sua, também faria questão de passar mais tempo possível ao lado dela.

As bochechas da menina se tingiram em um bonito tom de rosa e isso fez com que eu me lembrasse imediatamente de Bella. Deus sabe o quanto eu sonhei e ainda sonho em ser pai de uma miniatura da mulher que eu amo, contudo a teimosia insistente de minha mulher por algo fadado ao fracasso parecia atrasar cada vez mais os meus planos.

- Ah, então quer dizer que sua esposa terá outro garoto para seguir os passos do pai? – Riley perguntou empolgado e isso fez com que um calafrio surgisse em minha espinha. – Meus parabéns, senhor. A Sra. Masen terá as mãos cheias com dois meninos dentro de casa.

Forcei um sorriso, e resolvi trocar de assunto antes que acabasse deixando alguma suspeita sobre os meus verdadeiros sentimentos em relação a essa gravidez. –Quando puder, passe em minha sala para debatermos esse caso da melhor forma possível.

Ele assentiu brevemente e afaguei uma última vez os cabelos da garotinha, mais uma vez sendo dominado pelo ciúme e revolta de não ter a oportunidade de ser pai de uma menina como aquela. Saí o mais rápido possível dali, sentindo-me raiva de mim mesmo por agir tão estupidamente com que não tinha culpa. Não era a eles a quem toda a minha ira deveria ser voltada.

Também não deveria culpar a Bella, afinal ela tinha sido tão vítima disso tudo quanto eu. O problema de minha mulher era que ela já não podia mais se desapegar de algo que provavelmente só nos traria sofrimento em curto prazo. Por isso que não tinha a mínima intenção de me apegar ao ser defeituoso que crescia dentro do ventre dela.

Poderia ser considerado algo frio, embora eu tinha plena consciência que protegendo a mim mesmo, afinal, quanto tempo esse bebê duraria conosco? Quanto problemas e desgastes emocionais enfrentaríamos por conta dessa criança? Por isso que para mim já não fazia diferença alguma essa gestação de Bella.

Só de pensar nessas coisas, já era domado por um desamino como todas as outras vezes em que eu refletia sobre esse assunto. Toda essa situação que Bella e eu fomos acometidos gerava um desgaste não só em nossa relação, mas também para o nosso filho, que a cada dia ficava mais retraído ao perceber que o casamento de seus pais não iria nada bem.

O pior é que nada vinha em mente para que essa situação fosse revertida. Não podia negar que eu me sentia traído por conta da teimosia dela em relação ao feto. A cada dia que se passava, era óbvio que Bella estava se apegando cada vez mais a essa criança, ao ponto de deixar não só a mim, mas principalmente o Richie em segundo plano. Ela havia mergulhado de cabeça em vários livros sobre educação especial e dezenas de exames médicos desnecessários, como se isso fosse fazer alguma diferença. Não havia nada que pudesse alterar a situação mental desta criança.

Não que eu considerasse esse tipo de pessoas fardos para a sociedade. Sei que muitos deles se esforçavam, eram amáveis e carinhosos apesar de todas as suas limitações. O problema era que eu nunca iria compreender a razão de Deus, o Karma, ou seja lá quem fosse ter nos escolhido a minha família para ser acometida com isso. Não era justo que eu, que sempre fui justo e nunca fiz mal algum para absolutamente ninguém fosse escolhido para suportar esse problema.

Talvez, se a Bella tivesse me escutado desde o principio, nós já teríamos superado tudo isso. Se pudéssemos ter cortado o mal pela raiz, como eu sugeri no início, tenho quase certeza de que já estaríamos prontos para ter o bebê perfeito e saudável, assim como era o Richard. Exatamente o tipo de criança que deveríamos ser pais. Contudo, Bella tinha uma tendência exagerada de se apegar muito rápido com qualquer coisa. Ela era assim desde que a conheci, quando ainda éramos pequenos em Forks; desde muito nova, ela tinha esse instinto de se afeiçoar pelos "indefesos". Antes até achava que era algo insignificante, mas hoje, eu sabia que esse tal detalhe de sua personalidade era o que estava ajudando a afundar o nosso matrimônio.

Sem ter mais vontade alguma de pensar em qualquer coisa, optei por voltar para minha sala, onde quem sabe eu poderia acabar cedendo ao cigarro. Essa era a única coisa que conseguiria me acalmar o suficiente por agora; encher meus pulmões com a fumaça morna para tentar acalmar um ponto de meu humor, que vivia sempre alterado agora.

No entanto, mal entrei na antessala do meu escritório e fui atacado por uma Lauren eficiente demais. - Edward, eu sinto muito pelo fracasso da última reunião. Se bem que imaginei que Aro e Marcos de forma alguma acatariam a proposta de se juntar ao Thompson Inc. Afinal, eles têm propostas bastante divergentes das que costumamos usar aqui no escritório e todo o testamento de seu pai exige que a venda-

– Lauren, por favor, poupe-me de escutar o que já ouvi há uma hora atrás. – interrompi-a rudemente, segurando a ponte do nariz a fim de buscar um pouco mais de controle. – Se tem alguma coisa importante para dizer, fale rápido enquanto ainda tenho paciência.

Ela limpou a garganta e se esticou sobre sua mesa para pegar a agenda marrom, onde ela anotava todos os recado importante e meus compromissos durante a semana. – Bem, Brian Cater, do Departamento Pessoal, cobrou mais uma vez a contratação de um novo assistente. O antigo já foi demitido há quase duas semanas e ele afirma que não há condições alguma de organizar todo o setor completamente sozinho.

– E quanto a seleção que fizemos na semana passada?

– Segundo ele, nenhum dos candidatos tinha experiência o suficiente e ele não está disposto a treinar alguém até que aprenda tudo.

Suspirei pesadamente, me arrependendo amargamente de ter proposto ajudá-lo com essa missão – Veja a minha agenda e marque uma reunião com ele amanhã mesmo, se possível.

Ela rabiscou algo na agenda antes de voltar a falar. - Irei marcar às 12h está bem? Um pouco antes de seu almoço com o sr. Trik.

Franzi o cenho, confuso – Não lembro de nada marcado com o Arnold.

Lauren rolou os olho - O encontro para debater sobre ação que os moradores do Village estão movendo contra a prefeitura, lembra?

Ótimo, outro grande problema, pensei comigo mesmo enquanto anotava os dois compromissos na agenda do meu IPhone. – Ok. Mas alguma coisa?

Lauren balançou a cabeça positivamente. – Um escritório de advocacia na Filadélfia chamado Bert and Harley gostaria de conversar sobre sua proposta de venda – eu bufei frustrado, já prevendo que tudo isso não daria em nada mais uma vez – A administradora geral de lá, chamada Tanya Denali ficou realmente impressionada com o número de clientes de nossa empresa e gostaria de ter uma conversa particular com você em relação a proposta de venda.

– Isso é se eu quiser ainda vender essa porcaria.

– Está desistindo da ideia? – ela indagou, parecendo realmente curiosa.

– Enquanto eu tiver Marcos Blackwell e Aro Volturi na diretoria e chefes do conselho, nunca conseguirei me livrar disso aqui – rebati com rispidez, sabendo que ela faria questão de contar isso para Aro, com quem estava mantendo um affair descarado. Para casos como esse, o idiota do meu pai não tinha criado impedimento algum – Eu vou para minha sala.

– Edward, – ela chamou e eu relutantemente virei-me em sua direção – A sra Masen ligou. Pediu-lhe que fosse pegar o Richie na casa dos Cullen antes das três da tarde .

– Ela quer que eu saia do meu trabalho e atravesse a cidade toda? Pela terceira vez no mesmo mês? O que diabos ela está fazendo?

Ela deu de ombros – Acho que deve ser mais um dos exames pré-natais. É por essas e outras que eu nunca terei filhos – retrucou, indo de volta para trás de sua mesa e começando a digitar algo no computador.

Eu sabia que todos estes exames se deviam ao fato do feto ter Síndrome de Down. Eu já tinha visto minha mulher passar por uma gestação e ela não tinha feito nem metade que destes testes que ela vinha fazendo atualmente. Mais uma prova do quanto aquilo estava errado, embora ela insistisse que não.

Com o celular em mãos, digitei o telefone dela e tranquei a porta de meu escritório e fui me sentar na cadeira de couro, atrás enorme mesa de carvalho, de onde meu pai costumava controlar todo o império que ele havia construído e que estava sobras minhas mãos.

Não demorou muito para que ela atendesse a ligação. – Desculpe, Edward. - ela iniciou, não me dando chance nem de cumprimentá-la – Aconteceu um imprevisto e o Emmett vai precisar sair antes das três da tarde. E como Rose veio me acompanhar na consulta, não há nada que possamos fazer.

– Mas que diabos, Bella! Eu não posso ficar saindo do escritório o tempo todo para pegar Richie. Se eu sou o chefe, eu devo ser o primeiro a dar exemplo.

Eu sei disso. Mas a doutora Shelton se atrasou e o exame de hoje é bem importante. É a primeira ultrassonografia do segundo semestre e-

– E se eu estivesse em uma reunião importante e não pudesse sair? – interrompi-a bruscamente.

Eu pude praticamente escutá-la bufar do outro lado – Acho que o Richard ainda é sua prioridade em uma situação como essa, certo?

– Claro. Já que a mãe dele só quer saber agora do bebê doentinho que ela insiste em cuidar!

A chamada foi interrompida imediatamente e eu praguejei baixinho por mais uma vez por ter me excedido em minhas reações em tudo relativo a essa gravidez. Tinha que admitir que era impulsivo demais em todas as discussões que tinha com a Bella sobre esse bebê devido a toda frustração que eu sentia pelo fato de ele não ser exatamente da forma como eu esperada. Depois do aniversário de Richie, as coisas entre nós dois estavam cada vez piores e não podia negar que isso também me assombrava nas últimas semanas.

Não fazia ideia da maneira em que Bella e eu poderíamos voltar aos velhos tempos dentro do nosso casamento Eu sentia falta da risada dela e das mensagens que trocávamos ao longo do dia, sem conseguirmos deixar de nos falar nem que fosse por poucas horas. De ter seu corpo sob o meu, gemendo do prazer que somente eu lhe proporcionava e depois do nosso êxtase, de sentir seus dedos brincando despretensiosamente com os fios do meu peito. De ter seu rosto como a primeira coisa que eu via quando acordava ou de escutá-la dizer que me amava, mesmo que fosse durante seu sono. A cada dia que se passava, eu percebia que estava perdendo minha mulher por causa de um bebê doente.

E por conta disso – e por mais injusto que isto poderia parecer – eu não podia deixar de nutrir um sentimento de ódio por causa daquela criança.

[..]

A sorte contou comigo enquanto eu ia até o outro lado da cidade em busca do meu filho. Por ser meio da tarde, o tráfego de carros não estava tão intenso e em menos de 20 minutos já havia chegado a porta de meu primo, Emmett.

Cumprimentamos-nos friamente, afinal ele era outro que não aceitava bem a minha opinião em relação à gravidez da Bella. Tenho certeza que tanto ele quanto a minha mulher foram influenciados pela vadia estéril da Rosalie, que estava se realizando pessoalmente através dessa gestação inconsequente de minha esposa.

Richie nem pareceu tão surpreso quando me viu, provavelmente por começar a se acostumar com minhas chegadas repentinas durante o meio da tarde. Depois de colocá-lo no carro e verificar se o cinto de segurança estava realmente preso, apressei-me de volta para o escritório, porque ainda tinha uma boa porção de relatórios para verificar, antes mesmo de cogitar o pensamento de voltar para casa.

Apesar de saber que o correto seria deixar meu filho na creche destinada aos filhos dos funcionários, não pude deixa-lo lá sozinho. Não depois de ter visto o que Riley tinha feito com sua menina. Se ele que ainda era um simples advogado poderia abrir aquela exceção para estar ao lado de sua garota, eu como dono poderia muito bem seguir o seu exemplo.

Foi quase que engraçado a cara de choque que a minha assistente fez ao ver que eu trouxera Richie até o meu escritório. Não lembrava a última vez que ele esteve aqui em cima comigo, e tenho certeza que meu filho nunca havia passado mais do que alguns minutos aqui dentro. Então, tudo era uma tremenda novidade para ele, que não pode deixar de ficar animado ao saber o que o pai dele fazia durante todas as horas que em que permanecia fora de casa.

Porém, entre uma reunião, um telefone e uma conferência, foi meu impossível interagir com meu filho ao longo do restante da tarde. Em certa altura eu comecei a me sentir mais culpado, ao ver seu rosto se transformando em uma careta entediada a cada minuto em que passava preso lá dentro. Tanto que para o desespero completo de Lauren, acabei saindo no horário correto, remarcando o compromisso extra que eu teria naquela noite.

Meu filho pareceu quase que aliviado quando eu comecei a arrumar minha maleta, levando alguns documentos para analisar em casa, depois que Richie estivesse na cama. Depois de ter levado uma lição de moral de meu próprio funcionário mais cedo, eu percebi que deveria me dedicar mais ao garoto que estava ficando sempre em segundo plano. E isso era algo que de forma alguma eu queria repetir no histórico dos Masen. Não iria acabar repetindo os mesmo defeitos que Anthony Masen; Richie era meu único filho e merecia toda minha prioridade em qualquer momento.

– Então, campeão, o que você achou do trabalho do papai? – perguntei, enquanto apoiava a minha mão livre no seu ombro e guiava-o até o elevador.

Ele olhou para mim e eu percebi a apreensão em seus olhos – Posso dizer mesmo a verdade?

- É claro, filho. – assegurei-lhe.

Ele fez uma careta e comentou – Eu achei um saco! O tempo todo falando no telefone, lendo um montão de papéis chatos e sem desenho. Eu já tava ficando enjoado, papai.

Eu ri alto, enquanto apertava o botão que nos levariam até a garagem – Quer saber um segredo, Richie? – ele meneou a cabeça e eu não pude resistir em abraçar-lhe pelos ombros – eu também odeio isso.

Ele sorriu amplamente, algo que não tinha feito em momento algum durante a tarde. E aquele pequeno gesto dele me garantia que eu não iria me tornar alguém como meu pai. Meu garoto não merecia isso.

Depois de um momento apenas ouvindo o zumbido do elevador descendo rapidamente, os quase sessenta andares, Richard me perguntou – Pai?

– Sim filho?

– Você vai me levar pra pegar doces mais tarde?

Senti minha expressão se franzir no mesmo instante, no entanto em questão de frações de segundos lembrei de que hoje era Hallloween – Eu me esqueci que era hoje, filho.

- Então você não vai, né? – questionou, já com uma ponta de decepção em sua voz.

- Não, campeão, eu irei com você. – apesar do cansaço, de forma alguma eu poderia mais decepcionar aquele menino – Você ainda tem a sua fantasia do The Flash?

Ele fez uma careta – Não, rasgou todinha no aniversário. Mas a mamãe disse que ia fazer uma roupa de fantasma pra mim quando chegasse em casa.

- Sua mãe não está lá, Richie. E também não sabemos quando ela vai poder chegar em casa – sibilei com um tom mais frio. – É melhor comprarmos uma nova antes que você perca a diversão com seus amigos por conta dela.

Então, antes de voltarmos para casa, acabei fazendo duas paradas: a primeira foi numa loja infantil, que apesar de lotada, consegui os meus meios para comprar uma vestimenta completa do Spider-Man para o meu filho. A segunda foi na pizzaria para pegarmos o nosso jantar. Provavelmente Bella ainda não teria chegado em casa, uma vez que não houve nenhuma ligação dela para o meu telefone desde que eu pegara Richie, na casa do Emmett.

Apesar da aparência saborosa, não foi fácil ter que digerir a minha massa preferida depois de notar a cara de decepção de meu filho ao notar a ausência da mãe em casa. Não podia deixar de ficar com raiva por conta disso, já que isso se tornava cada vez mais comum em nossa rotina. Não conseguia me lembrar de quando foi a última vez em que jantamos os três juntos, como uma verdadeira família.

Depois de ter comido somente uma fatia, Richie subiu para se arrumar com a fantasia enquanto eu colocava os pratos que havíamos sujado na lava-louça. Quando já estava quase saindo da cozinha, eu ouvi o barulho do motor do carro dela chegando. Tomei uma respiração profunda, e procurei ter em mente que nosso filho estaria lá em cima e escutaria qualquer coisa, caso eu alterasse o pouco que fosse do meu tom de voz.

Recostei-me contra o balcão e observei a porta se abrindo e seu rosto aparecendo no vão que dava acesso da garagem até a cozinha. Não podia negar que a presença dela ali outra vez, sã e salva me deixava muito mais tranquilo, apesar de ainda estar zangado com todas as escolhas dela ultimamente. Bella significava absolutamente tudo para mim e não importa o quão furioso eu pudesse estar, meu amor por aquela mulher não se alteraria em nada.

- Oh, vocês já chegaram. - ela murmurou, ao entrar e se aproximar de onde eu estava carregada de sacolas de compras. – Eu trouxe o jantar; comida chinesa.

- Acabamos de comer.

Ela suspirou pesadamente, deixando as embalagens de comida bem ao meu lado – Desculpe Edward. Eu não imaginei que a médica pudesse se atrasar e nem que o Emmett tivesse que atender um chamado com urgência.

– E essas compras? – não pude deixar de alfinetar.

– O que é que tem? – sibilou rispidamente.

Eu ri sarcástico – Você deve ter ficado tão empolgada fazendo essas porcarias para esse... bebê que nem se quer ligou para saber se o Richie estava realmente comigo.

– E para que eu faria isso? – rebateu ficando mais irritada – Ou será que você deixaria nosso filho completamente sozinho?

–- E você não acha que eu tenho os meus compromissos? Ou que você mesma tinha algumas coisas para fazer hoje á noite?

- Que coisas eu tenho que fazer? – disse, cruzando os braços sobre seus seios um tanto que mais fartos devido a essa gravidez – Ah, desculpe se sua esposinha não estava aqui para fazer seu jantar, querido!

– Eu estou falando da porra do Halloween do Richard, Isabella! – disparei asperamente e percebi o rosto de minha mulher perder a cor. Segurei a ponte de meu nariz com força, forçando a me lembrar de que ele estava lá em cima – Você esqueceu completamente que tinha marcado com ele para sair em busca dos doces? E nem sequer a porcaria de uma fantasia para o pobre garoto se deu ao trabalho de comprar!

Ela tentou se defender – Eu disse para o Richie que iria fazer a roupinha dele...

Olhei de relance para o relógio em meu pulso – Há essa hora? Eu não sabia que suas habilidades como costureiras eram assim tão boas. – ela abaixou a cabeça, completamente envergonhada. – Você não percebe que está destorcendo as coisas, Bella? A cada dia que passa você fica mais ausente na vida do nosso filho.

- Não ouse dizer que a culpa é exclusivamente minha nesse ponto! – ela disse; a raiva voltando com mais ênfase em sua entonação.

- Ok, eu admito que também tenho meus erros. Mas não sou eu que estou priorizando uma coisa invés de dar atenção ao garoto lá em cima.

Seus olhos imediatamente encheram de lágrimas com minhas palavras, exatamente como acontecia em todas às vezes que eu mencionava sua adoração infundada por esse ser que crescia indevidamente em seu ventre. – Como você pode ser tão frio, Edward?

Tentei me aproximar, contudo imediatamente ela deu um passo para trás, se afastando. – Não é questão de frieza, Bella, apenas de racionalidade. Eu já te disse milhares de vezes que essa gravidez é algo errado, porém você nunca me escuta.

- Nossa filha não é um erro!

Aquela frase me pegou de surpresa – Filha?

- É. – ela disse, enxugando o canto do olho e empurrando no meu peito uma fotografia da ultrassonografia – Parabéns, papai, é uma menina!

Por um momento, eu não soube o que dizer em resposta; a única imagem que vinha a minha cabeça era a cena que vi mais cedo no escritório de Riley Bears. No mesmo instante, bastando apenas àquela única frase vinda de Bella, eu pude me imaginar no lugar dele. Só que invés de uma garota loira, eu pude ver claramente a mim mesmo de frente para uma menina com longos cachos e expressivos olhos castanhos, a cópia fiel de Bella. Ela sorria largamente para mim e eu reconheci o meu próprio sorriso em sua face.

Contudo, na mesma rapidez com que a cena se formou, ela se dissipou de minha mente. Essa menina nunca existiria. O fruto que crescia dentro do ventre da minha mulher nunca poderia ser daquele jeito. Saudável, sorridente, perfeita. Fui afligido novamente pela mesma dor que senti quando descobrimos que esse bebê teria Down. Foi como perder aquela criança pela segunda vez.

– Eu espero que você esteja feliz, afinal, é a garotinha que você tanto quis, não é? – Bella voltou a falar, me deixando mais aturdido do que já estava.

Limpei minha garganta e estendi a imagem a imagem sem nem sequer ousar olhá-la. – Não Bella, não é essa a filha que eu quis. – mais lágrimas escorreram de seu rosto e por mais que me doesse machucá-la, eu ainda tinha esperança que minhas palavras lhe dessem um pouco de juízo – Você é a única que faz questão da presença dela. Para mim isso não muda absolutamente nada.

Decidi sair da cozinha, antes que os primeiros soluços da minha mulher pudessem me causar uma devastação ainda maior do que aquela que já me afligia. Em certo ponto, eu não devia culpar a minha Bella por amar demais, porque eu sabia que ela nunca mudaria esse traço de sua personalidade. Porém, eu preferia demostrar toda minha afeição por algo vivo; como o garoto de sorriso torto que descia animadamente vestido de Homem-Aranha e com um balde ainda vazio em suas mãos.

Não permiti que ele chegasse nem sequer a descer as escadas e carreguei-o em meu colo, recebendo em troca uma sonora risada vinda de seus lábios. Se aquele som já significava muito para mim, a partir de agora era absolutamente tudo. Richie parecia ser o único elo que eu mantinha com a minha esposa e eu faria de tudo para preservar o bem-estar dele.

E enquanto Bella permanecesse com a ideia ilusória de amar um ser que nunca chegaria a retribuir os nossos sentimentos, eu preferia cuidar de algo real, que era a razão pela qual eu enfrentava todos os problemas que viessem a aparecer em minha vida.

Não me matem!

Edward extremamente obtuso, eu sei. Mas gostaria de lembrar que apesar de ser um personagem, já tive a tristeza de me deparar com várias pessoas que pensam exatamente desta forma.

Não o julguem, apesar dos pesares. Como sugere o título, o desconhecido nos assusta e temos medo de enfrenta-lo de frente. Ao longo dos POVs dele, vocês verão que ele também acabará amadurecendo em relação aos pensamentos dele.

Enfim, espero que vocês tenham gostados. E depois de tanta amargura, corram pro chocolate, porque, né?

Um beijo

Line