NATAL DE 44

Disclaimer: Wolverine pertence a Marvel Comics e demais empresas licenciadas.

Esse fic é uma obra sem fins lucrativos. Criado em resposta a um desafio de um grupo de fanfics do facebook, cujo tema era Guerra.

CAPÍTULO 1:

Wolverine aproveitava os raros momentos de folga que tinha desde que se juntara aos X-mens para ficar longe dos conflitos entre humanos e mutantes. Nesses momentos gostava de visitar velhos amigos. E muitos deles estavam na Virgínia, precisamente no Cemitério Nacional de Arlington.

Percebeu que poucos andavam por aquele lugar, havia alguns curiosos e um idoso que caminhava por entre as cruzes brancas, apoiado por uma bengala, estava acompanhado por uma senhora e dois adolescentes, pareciam procurar por alguém. Não parecia que era um veterano de guerra visitando algum companheiro ou parente morto ali, não se vestia como tal. Talvez o irmão de alguém que morreu na guerra, pensou.

Deu os ombros e continuou a caminhar até parar em frente a uma lápide onde um nome estava ali gravado.

–Ei, Xará! Eu soube que você conseguiu. Muito bem, garoto.

Aquele garoto havia conseguido voltar para casa, muitos dos homens que Logan conheceu não tiveram a mesma sorte. No fundo de seu coração queria ter certeza sobre o destino de alguns homens que conheceu durante a guerra, saber se haviam voltado para casa e para suas famílias, como desejavam.

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Alpes Italianos, 24 de Dezembro de 1944.

O soldado da Força Especial Canadense entrou na sala do capitão americano, sentiu o cheiro de sabão e do cigarro barato alemão que o superior exalava antes mesmo de entrar no prédio. Privilégios que seu dom sempre lhe proporcionara, além de outras habilidades que se mostraram bem úteis nessa guerra.

Ele o encontrou sentado com as pernas apoiadas na mesa, pés cruzados e inclinado para trás na poltrona velha. Ele fumava o tal cigarro barato, certamente o achou esquecido em algum canto daquele posto recém-tomado dos alemães nos Alpes italianos. O homem de cabelos grisalhos e rosto duro como mármore jogava fumaça no ar, como se quisesse relaxar.

Há poucas horas eles haviam tomado o local, foi uma batalha difícil, mas com a chegada do aliado canadense foi possível conquistar aquele lugar.

–Capitão O'Neal?

–Logan, não é? –o capitão indagou assim que o viu. –Lembro que levou um tiro no ombro? Como está o ferimento?

–Foi de raspão. –Logan respondeu entrando na sala e fechando a porta atrás de si, não queria falar que nem sequer cicatriz do tiro possuía mais, graças à sua habilidade única de curar de qualquer ferimento que lhe causavam. –Estou de partida, já realizei minha missão aqui.

–Está livre para ir quando quiser soldado. Mas gostaria de saber uma coisa antes. –ele saiu da posição confortável, inclinando o corpo sobre a mesa. –Como chegou aqui, Logan? Não que eu esteja reclamando da sua ajuda, que foi muito bem vinda. Mas eu não acredito muito em coincidências, sabe? E foi muita coincidência você chegar no momento em que mais precisávamos, entende?

–Creio que dessa vez seja coincidência sim, capitão. –Logan respondeu vagamente. Não queria revelar detalhes de sua real missão naquele lugar a um homem que não lhe inspirava simpatia. –Estava de passagem para a minha verdadeira missão, senhor. Vi que precisavam de ajuda e resolvi dar uma mãozinha.

A explicação não pareceu satisfatória ao capitão, mas ele fingiu que estava tudo bem. Afinal, não queria arrumar problemas com o homem que praticamente dominou o local sozinho, sobrepujando um grupo de quinze alemães, e ele praticamente não havia perdido nenhum soldado, fora os três que ficaram feridos, todos estavam bem. Era véspera de Natal, então considerava que a vitória era um bom presente.

O capitão pôs o cigarro no cinzeiro e acendeu outro. Era véspera de Natal, e ofereceu um ao soldado canadense, que aceitou, pensando que aquilo não deveria ser pior que os charutos de Madripoor que encontrou em uma missão na África meses atrás.

Nesse momento houve uma batida na porta e o capitão ordenou que entrasse. Um rapaz alto e jovem entrou, retirando o capacete e mostrando os cabelos negros que precisavam de um corte. Bateu continência ao entrar, certamente estava ali há pouco tempo e parecia nervoso.

O capitão fez um gesto com a mão, pedindo que o rapaz ficasse a vontade.

–Permissão para falar, senhor! –o rapaz pediu, olhando de lado para Logan.

–Permissão concedida, Cooper! –respondeu o capitão

–Senhor, os soldados Carver, Douglas e Peterson receberam os atendimentos necessários e estão bem, senhor! Os cativos foram colocados na cela provisória, senhor!

–Bom... Quantos cativos?

–Nove, senhor. –olhando de lado o canadense. –Muitos foram mortos assim que... Entramos senhor. Não resistiram aos ferimentos.

–Acontece... Estão aptos a serem interrogados?

–Acredito que sim, senhor!

–Depois pretendo interrogar alguns deles.

Logan notou que ao ouvir isso o rapaz suou frio. Já havia ouvido falar dos métodos nada humanizados do Capitão O'Neal. Na verdade a fera dentro dele não havia gostado do cheiro do capitão assim que pisou naquele lugar. Geralmente, seus instintos sobre o caráter das pessoas nunca errava, principalmente se essa pessoa tinha cheiro de sangue e morte, mesmo que tentasse esconder o fedor com sabão barato.

–Isso é tudo, soldado? –perguntou apagando outro cigarro no cinzeiro.

Cooper baixou a cabeça, como uma criança tímida pega em uma arte.

–Senhor, hoje é véspera de Natal.

–E?

–Senhor... Há muitas provisões dos alemães aqui, e muito vinho italiano também. Será que... Como aqui é o último posto avançado alemão na área, pensei que podíamos celebrar...

O soldado parecia muito nervoso e suas mãos tremiam. Logan percebia que o rapaz tinha medo da resposta de seu capitão. Talvez fosse a presença do canadense ali, ou um súbito momento de bondade, o capitão deu uma risadinha, acendendo outro cigarro e deu uma longa tragada antes de falar:

–Está certo. Precisamos mesmo descansar e celebrar! Avise aos homens que permito que celebrem o Natal. Mas quero alguém vigiando os prisioneiros!

Cooper pareceu muito contente com as palavras do capitão, deu um grande sorriso, batendo continência e pedindo em seguida permissão para sair. O capitão permitiu e fez um gesto para que Logan ficasse.

–Desculpe por isso. Bem, por que não fica aqui essa noite e vai embora amanhã? –perguntou O'Neal. –Beba um pouco hoje e vai embora amanhã de ressaca. Acho que merecemos.

Logan refletiu. Fazia um bom tempo que não bebia e pareceu ser uma boa ideia. Não havia outros postos alemães perto, todos haviam sido abandonados ou tinham poucas provisões devido ao inverno intenso e as tempestades, parecia seguro dar uma relaxada, beber e talvez jogar cartas com os soldados americanos.

–Se está preocupado com um ataque, relaxa. Até os nazistas comemoram o Natal! –disse O'Neal com uma pontada de desprezo na voz.

–Não vai participar com seus soldados, capitão?

–Não. Prefiro ficar aqui e comemorar com meu bom amigo. –respondeu tirando de uma mochila uma garrafa de uísque. -Logan, esse é Jack Daniels. Jack... Logan.

–Boas festas, capitão.

Logan saiu em seguida da sala. Pensou se a guerra estava afetando a sanidade daquele homem, ou se ele sempre havia sido assim. Talvez nunca soubesse a verdade.

Realmente até os alemães comemoravam o Natal. Desde que se conhecia por gente, havia participado de todas as guerras e batalhas que conheceu, como se a guerra e a morte sempre os chamasse, e havia um cessar fogo nessa época. Lembrou-se que há trinta anos, em Ypres na Bélgica, onde soldados alemães e ingleses deram uma trégua por causa das festividades.

E achava que não havia nenhuma possibilidade de um ataque alemão agora nos Alpes, ainda mais tendo certeza de que os soldados alemães capturados não tiveram tempo de enviar algum pedido de socorro, e se acaso tivessem tido tal oportunidade, duvidava que alguém iria atendê-la ali e nas condições que o tempo se apresentava.

Na verdade, aquela festividade era providencial para ele. Estariam ocupados demais com a comida e a bebedeira que poderia realizar sua verdadeira missão naquele lugar sem problemas ou criar incidentes. O governo norte americano não precisa saber tudo o que o Canadá queria.

Procurou ficar longe dos demais soldados, observando-os dividirem algumas das provisões dos prisioneiros e o vinho. A alegria de poderem beber e comer era bem visível naqueles homens e Logan sorriu de lado. Era óbvio que eles não iriam vigiar os soldados alemães da maneira correta, estariam bêbados demais para isso.

Pegou uma das caixas com algumas garrafas de vinho ao passar por elas e foi até o galpão que servia de cela para os prisioneiros. Viu que o sentinela ali colocado não estava nada contente em ter que ficar de vigília, mas assim que avistou Logan assumiu uma postura de alerta.

–Descanse soldado! –pediu Logan, lhe dando uma das garrafas da caixa. –Novas ordens! Se quiser ir bebemorar pode ir. Eu fico de guarda!

–Mas senhor...

–Se perguntarem diga que foi ordem do Cooper.

O soldado, bem jovem na verdade, pareceu indeciso. Olhou para os prisioneiros e para o canadense. Resolveu aceitar a proposta do mesmo e saiu do seu posto rapidamente. Assim que ele se afastou, puxou uma cadeira e fitou os soldados capturados, que retribuíam o olhar de modo desconfiado. Foi quando perguntou em alemão, quase sem sotaque algum:

–Erik Eichenhofer?

Os soldados se entreolharam ao ouvirem o nome e um deles, loiro e de olhos azuis, respondeu:

–Sou eu.

–Filho de Friedrich Eichenhofer?

Ja.

–Cê é sortudo, sabia? –disse retirando de dentro do bolso da camisa um charuto e acendendo no lampião que iluminava parcialmente o local. –Seu pai desertou pro Canadá e em troca de falar tudo o que sabe do seu Führer, só quer que a gente te leve daqui.

Erik piscou algumas vezes e depois olhou para os companheiros.

–E eles?

–Sinto. Só você.

–Então, não obrigado. Fico bem aqui.

Logan o fitou, erguendo uma sobrancelha. Não imaginaria essa resposta do alemão.

–Acho que não prestou atenção, Eichenhofer.

–Na verdade eu escutei muito bem, soldado. –respondeu firmemente. –Não vou embora e deixar meus irmãos aqui. E não vou ao Canadá deixando minha esposa e minha filha para trás.

Aquela nova informação pegou Logan desprevenido. Não haviam dito que o soldado que deveria levar dali tinha uma família na Alemanha esperando-o. E pelo o que sabia, o médico alemão havia pedido apenas o filho e não a nora e neta.

–Aquele velho egoísta não pediu para resgatá-las? –Erik sorriu amargamente. –Ele nunca aceitou meu casamento com ela e nem reconheceu a neta. Então terá que esquecer sua missão.

Logan o fitou, depois ouviu vozes se aproximando. Rapidamente se colocou em guarda na porta do galpão e praguejou ao ver O'Neal se aproximando com Cooper e outros soldados.

–Me pergunto o que faz aqui, soldado.

–Seu sentinela precisou ir ao banheiro.

O'Neal deu uma risada, colocando as mãos na cintura e balançando a cabeça.

–Gosto do seu bom humor. Cheguei a achar que estava aqui para causar problemas, mas é apenas uma impressão minha não é?

–Sim senhor.

–Recebi ordens novas. –disse O'Neal. - E por causa disso tomei uma decisão para essa noite. Cooper!

–Sim, senhor?

–Você fala bem, alemão não é?

–Sim, senhor.

–Então explique aos prisioneiros que eles também vão comemorar o Natal. Mas que é melhor que não façam nada de errado, que não tente nada contra meus homens ou sequer fugir, ou serão todos baleados. Entendeu?

Cooper assentiu e em seguida foi até os soldados. Nesse momento, Logan percebeu que Erik era o oficial mais graduado naquele grupo e automaticamente se tornou o responsável por eles. Ele concordou com os termos do capitão e foram soltos.

Os soldados americanos não estavam entendendo porque o capitão havia feito isso, mas mesmo desconfiados aceitaram os alemães entre eles. Logo, estavam rindo, brincando e bebendo juntos. Quem visse a cena não poderia imaginar que há poucas horas eram considerados inimigos mortais e tentaram matar uns aos outros.

Logan estava em seu canto observando a festa, precisamente o capitão que apenas mantinha um sorriso estranho nos lábios enquanto bebia. Quando Erik aproximou-se do canadense.

–Terá que desistir da sua missão, soldado. – o alemão disse encostando-se à mesma parede que a dele.

–Não desisto fácil de uma missão. Mesmo uma chata como essa. -Erik sorriu de lado com a resposta.

–Você não mede as palavras, soldado.

–Deve se a bebida.

–Você bebeu duas garrafas do vinho e não parece nem um pouco alterado.

–Sou forte para bebidas.

–Lembro que eu o atingi no ombro com um tiro, soldado.

–Logan. Meu nome é Logan. –diz acendendo um charuto. –Sua sorte que eu senti apenas cosquinhas com isso, senão já era. Foi só de raspão.

Ja... Mas isso não muda o fato de que não posso ir para o Canadá e deixar minha família, Logan.

–Isso eu entendo.

–Não me importo com essa guerra, Logan. Há alguns meses não me importo mais. Tudo que me importa agora é ver minha mulher de novo, e minha filha. Você tem esposa e filhos?

–Não. Nunca me importei com isso.

–Deveria. Um homem não é nada sem ter alguém para se importar.

Houve um breve silêncio, antes que Logan o quebrasse.

–Como elas se chamam? Sua esposa e sua filha?

–Minha esposa se chama Agnethe. Esta é nossa filha, Anja. -disse pegando uma foto que guardava no bolso do casaco de frio. –Aqui, a foto delas.

Logan observou bem a foto de uma bela mulher de cabelos castanhos e no seu colo um bebê.

–Ela fará dois anos em abril.

Logan nada disse apenas deixando Erik falar:

–Ela tinha apenas um mês de vida quando me mandaram para cá. Foi logo depois de tirarmos essa foto. –suspirou guardando a foto e olhando para os companheiros. –Todos tem família, alguém que amam que os esperam e querem voltar para casa. Meus homens, os americanos. E você?

–Não tem ninguém me esperando, amigo.

–Sinto muito.

–Por que tá nessa guerra? Você parece ser decente demais para essa porcaria toda.

–Há algum tempo atrás poderia dizer que achava que o führer era a resposta que meu país precisava para sair da crise. Um salvador do povo e tinha até orgulho de ter a imagem dele em minha casa. - respondeu com sinceridade. – Mas agora, percebi tardiamente que não era nada disso. Eu me arrependo amargamente de não ter feito nada para não entrar nessa guerra sem sentido. Mas eu precisava proteger minha família. Se não respondesse ao alistamento, não sei o que poderia acontecer comigo ou com minha família. Agora estou aqui por eles. Quero levar para casa o máximo de soldados que eu conseguir.

–Eu te entendo, amigo.

–E o que acha dele, Logan? De Hitler?

–Um bosta.

Erik o fitou espantado pela resposta sincera e depois começou a rir. Uma risada que não dava há um bom tempo. Logo, Logan ria junto a ele atraindo a atenção dos demais soldados por curiosidade, mas estes voltaram à atenção à bebida e à conversa em seguida, ignorando ambos que continuavam a rir.

Já passava da meia noite naquele instante. Era Natal.

Continua...