No início, era apenas distância. Olhares dados de lados opostos da sala, com fileiras de rostos entre eles, como escudos humanos separando-os da desconfiança. Palavras cordiais eram trocadas brevementes, com menos frequencia do que àquelas carregadas de aberta hostilidade, fazendo com que, eventualmente, os rostos entre eles diminuissem, cansados de seus papéis de escudos numa guerra sem sentido. Sem pessoas para filtrar as palavras e apartar a proximidade perigosa, eles aprenderam a quantos passos podiam ficar um do outro sem que as fagulhas de atrito voassem.

No início, era apenas distância, mas com o tempo, se transformou em proximidade.

Depois era apenas curiosidade. Gestos que geravam impressões, que despertavam a imaginação. Havia vontade de descobrir o que existia por de trás de cada palavra, motivação em saber a força-motriz de cada gesto. As diferenças eram tantas e tão extensas que elas causavam uma estranheza profunda, mas não mais repulsa. E a ausência de vontade de combater o que lhe era diferente os fez se aproximar ainda mais, na tentativa de ver mais de perto os detalhes.

Podia ser apenas curiosidade, mas com o tempo, ela se transformou em compreensão.

Em seguida vieram as tentativas. Tentativas de toques, de palavras, de conversas, de momentos. Tentativas de chegar mais próximo, tentivas de derrubar barreiras, tentativas de entender melhor. Muitas tentativas levaram a brigas que o fizeram retroceder ao início, à distância e às palavras rudes, mas eventualmente, eles se uniriam, em cada vez mais rápido e com mais força, como se houvesse uma gravidade partiular entre eles, atraíndo-os constante e inexoravelmente.

Por um tempo, foram apenas tentativas, mas lentamente elas se transformaram em resultados.

Eles passaram por outras fases. Mais do que eles poderiam notar, mais do que talvez quisessem perceber. O tempo apresentou a eles oportunidades, novos rostos para se colocar entre eles, novos indivíduos para explorar as mesmas e novas fases pelas quais eles tinham passado. Apenas uma uma fase ficou reservada, sem ser experimentada por ambas as partes, suspensa num fio de possibilidade que podia – ou não – se romper. E talvez eles não tivessem sido capaz de passar por ela, mas as outras fases pareciam dizer que era possível.

Um toque acidental, um olhar surpreso, um sorriso incerto. Uma respiração mais tensa, lábios que se abriam ligeiramente, num pedido silencioso por algo que nem mesmo sabia o que era. Olhos que se fecham, narizes que se aproximam, bocas que se encontram. Dedos que seguram com força suficiente para deixar marcas arroxeadas na pele e sons que contradiziam a possível dor de tais toques, seguidos por múrmurios desconexos que não pareciam ter consciência do que significavam, mas que não deixavam de transmitir sua mensagem. A redescoberta do calor da pele, sentida de uma forma que eles não sabiam ser possível, não entre eles, não daquele jeito. E finalmente os olhos se abrem, se fitam e transmitem o sucesso de passar por todos os estágios, para chegar no resultado que nem mesmo eles sabiam que buscavam no início, na distância que já não mais existia.

No início, era apenas distância. Mas no final, só havia amor.