Still Doll
Chapter One
'-Hi miss Alice, anata gara suno? '*
XxX
Era um dia quente e ensolarado, a cidade de Londres estava tranqüila e despertava aos poucos com o dia se levantando pouco a pouco.
Se for olhado de perto, poderia ser vista uma enorme mansão abandonada no final de uma das ruas mais ricas e suntuosas e em contraste de sua grandeza, se encontrava completamente vazia.
Até aquela manhã.
O caminhão de mudança já havia passado ali no dia anterior, e agora o carro que parava dentro da casa era preto e caro.
Uchiha Itachi, um grande advogado conhecido no mundo todo havia sido transferido para Londres naquela semana, e trazia consigo o irmão mais novo de 12 anos Uchiha Sasuke.
Ambos sérios, de cabelos negros e muito fechados. A viagem inteira desde o Japão (cidade natal de ambos) havia transcorrido em silêncio, até que o mais velho, cansado da carranca esboçada por Sasuke a viagem inteira, olha para ele e diz, enquanto tira os fones do ipod de seu ouvido.
- Sasuke, já foram x horas de viagem e você não para de ouvir essa coisa. Não é possível que a bateria dure tanto! Estamos em uma cidade nova, é um novo começo. Devia aproveitar um pouco isso e tentar ao menos fingir que é um ser humano minimamente sociável.
O moreno mais novo o encarou com um olhar de descrença, e apenas soltou um grunhido ao se levantar do carro.
-Hey, não pense que vai sair assim tão fácil. Ainda tem várias malas pra descarregar aqui, e você vai me ajudar!- Falou agarrando o braço do irmão.
-Sério Itachi, qual o seu problema?
-Meu problema é ter um otouto baka que não fala mais de meia silaba por mês, e que vive enfurnado no meio dessas porcarias estranhas! – Ele aponta para os livros que estavam na mão de Sasuke, podendo-se ler os títulos 'Jack, o estripador', '50 formas de torturas chinesas', 'Lendas urbanas de terror japonesas', entre outros.
-São muito mais interessantes do que essas merdas que a escola me dá pra ler.
-Olha, eu estaria pouco me lixando se você lesse essas coisas e tivesse ao menos um amigo, mas não tem! Então pare de ficar emburrado com tudo, e me ajuda com essas malas!- O mais velho grita duramente. Sasuke apenas o encara com raiva, pega uma das malas de qualquer jeito, e a leva para dentro da casa.
O lugar era bonito. Uma mansão acinzentada com vários quadros históricos no Hall, e mobília bem antiga, apesar de a pintura ser recente e de quase não haver poeira.
O jovem Uchiha olhou ao seu redor, um pouco surpreso. Não pelo tamanho do lugar, mas pela estranha atmosfera que o envolvia. Como se fosse observado por vários olhos invisíveis.
Ainda olhando ao redor, o moreno se assustou quando Itachi pôs a mão sobre o seu ombro. Ele fingiu não ter sentido nada, e virou-se para o irmão.
-Sasuke eu sei que isso é difícil pra você. Acredite, pra mim é também, mas eu estou me esforçando pra que as coisas melhorem. -Suspirou, e logo prosseguiu. - Se eu te trouxe comigo é porque era o melhor a fazer e...
-Não vem com essa! – O mais novo o interrompeu. – Eu não estou aqui porque é o melhor pra mim. Eu não escolhi isso, foi você. – Ele sibilou friamente. – E não é porque você escolheu que é a coisa certa. Não quer dizer que porque você escolheu, eu tenho que fingir que estou feliz pra agradar um ou dois idiotas que queiram ser meus amigos!
- Muito bem! Desconte em mim!- Itachi gritou de volta. – É tudo o que você tem feito desde que eles se foram! Como se eu não ralasse todos os dias pra tentar dar um futuro pra você. Pra nós dois! Mas não! Você não consegue nem ao menos agradecer. – Completou. Ambos os olhos negros se confrontando em uma batalha silenciosa.
-Se você quer que eu agradeça tudo bem Aniki. Mas primeiro eu vou ter que achar alguma coisa pra me dispor a tanto. - E depois de dizer isso, saiu andando em direção ás escadas.
Itachi soltou um pesado suspiro. Desde que os pais haviam morrido Sasuke só piorava. Ia se isolando cada vez mais, apesar de ser muito inteligente, bonito, e ter milhares de admiradoras, ele se recusava a falar ou interagir com alguém, e vivia enfurnado em livros de terror e historias sanguinolentas.
Já havia tentado fazer com que arranjasse uma namorada, mas ele repelia qualquer contato físico ou social que o irmão estivesse disposto a oferecer.
Com essa, as discussões iam aumentando cada vez mais, e apesar de amar muito o irmão, Itachi estava perdido e não fazia a menor idéia de por onde começar para tirar o seu otouto baka daquela escuridão.
Sasuke sobre as escadas rapidamente, mas ao chegar ao topo diminui a velocidade e passa a olhar calmamente cada pedaço da área do segundo piso. Logicamente, era impossível não reparar, nos vários quadros que estavam pendurados pelo local. Alguns retratando cenas históricas, outros apenas com figuras coloridas e abstratas, porém o que mais chamou a atenção do jovem foram os quadros que retratavam cenas em família.
'Provavelmente eram os antigos proprietários. ' Pensou. 'Mas pelo jeito que estão vestidos eu poderia jurar que são do século XIX. '
A pintura era realmente encantadora. Nela notava-se uma verdadeira família feliz. Um casal de adultos que sorriam e se abraçavam, e pareciam se divertir com as brincadeiras das filhas.
Sim, haviam três meninas na foto. Uma que aparentava ter seus 13 anos era morena com cabelos cacheados e olhos escuros. Outra devia era sem duvida mais nova (8 anos talvez?), com cabelos mais claros e lisos que o da mais velha, e agarrava a saia da mãe com uma careta de travessa.
E por fim, a ultima menina foi a que mais lhe chamara a atenção. Era loira com vários cachos, usava um vestido cheio de rendas, e possuía olhos azuis e segurava uma linda boneca. Tão delicada e tão exótica quanto ela mesma. A boneca era grande demais para a pequenina que deveria ter por volta dos 10. Mas lançava á sua boneca tamanha afeição (sim isso era perceptível através da pintura) que poderia se jurar que se tratava de uma pessoa se não fosse pelos olhos inexpressivos cor de jade, e pelos longos cabelos cor-de-rosa que caíam como uma cascata nas costas.
A boneca era claramente inanimada, mas ao olhar para ela, apesar da expressão vazia, podia-se notar que ela... Estava feliz? Talvez. Ainda não existem palavras precisas para descrever a emoção das bonecas, mas aquela certamente exalava um sentimento bom.
Admirando a obra por alguns minutos, o moreno perdeu a noção do tempo em que ficara parado observando e ao voltar a si, pôs-se a andar pelos corredores novamente.
Sasuke passou por vários quartos, sendo que a maioria era igual e cinzenta tendo como única diferença os quadros que compunham cada um.
Até que ao passar por um dos corredores ele notou uma porta diferente. Era uma madeira clara, com flores entalhadas nos cantos, e se olhasse bem, poderia ver um pouco de renda branca saindo por debaixo da porta, deixando quase claro para o garoto a quem deveria ter pertencido aquele quarto.
Curioso com a particularidade do lugar, o Uchiha deu o costumeiro sorriso de canto, e adentrou o local.
As suspeitas se confirmaram, era o quarto das três meninas, e não apenas havia renda e enfeites por todos os lados, como também havia bonecas e brinquedos por toda a parte!
Bonecas de porcelana, pano; macacos que tocavam pratos*, e palhaços que tocavam flauta compunham as prateleiras e camas abandonadas. E como nos outros quartos, havia os retratos de mais variadas formas. E mais uma vez, a menina loira aparecia com a boneca rosada, mostrando os buraquinhos causados pela ausência dos dentes-de-leite em um sorriso adorável junto á sua boneca.
'Essa boneca é estranha. Não me lembro de ter havido alguma desse tipo, ou muito menos desse tamanho nessa época. Sem falar nessa cor de cabelo! E eu pensando que até hoje cabelos coloridos eram vistos como coisa do diabo. '
A boneca o intrigava e hipnotizava como se fosse um livro de mistério faltando a ultima página.
'Será que ainda está na casa?' Ele se perguntou.
Nesse momento sua mente se iluminou. E se achasse a boneca na casa? Certamente a pegaria.
Não que gostasse de coisas femininas, mas algo nela o instigava a querê-la para si, como um colecionador tem a necessidade de adquirir uma peça rara.
Deixando os pensamentos por um momento, o garoto lembrou-se que tinha que voltar para almoçar com o irmão, apesar de a idéia não o agradar em nada.
Porque deveria? Itachi apenas faria o que fazia sempre: tentar seguir em frente como se Sasuke nunca houvesse lhe dito nada.
Desceu assim como havia subido, sem pressa alguma, e observando cada detalhe das paredes, do chão, das pequenas esculturas de mármore que se encontravam pelo local...
-Sasuke. – Chamou. – Preciso da sua ajuda aqui. – Itachi estava esquentando alguma coisa no fogão, e com um monte de panos meio velho espalhado sobre a mesa.
- Hn. –O mais novo pronunciou sua monossílaba favorita, e pôs-se a ajudar o irmão silenciosamente.
Comeram sem trocar mais nenhuma palavra, apenas com o som dos talheres e das bocas mastigando no enorme salão de jantar.
Por fim, Sasuke tomado de curiosidade, perguntou.
-Você por acaso sabe quem foi que morou aqui antes da gente?
Surpreso pela iniciativa do irmão em começar uma conversa, Itachi arregalou um pouco os orbes escuros, mas logo respondeu calmamente.
-Hm... Se não me engano, essa casa não é habitada a vários anos... Mas já ouvi rumores de que foi uma família grande. E também a julgar pelos retratos que estão por toda a parte... Mas porque esse interesse?
- Eu vi uma pintura com uma menina segurando uma boneca diferente, e gostaria de encontrá-la. – Respondeu sem hesitar.
- Uma boneca? Francamente Sasuke, os seus gostos ficam a cada dia mais estranhos! Porque está interessado em uma boneca?
-Não sei.
-Certo, e eu gostaria de uma resposta completa, ao menos uma vez.
- Isso já não é da sua conta Itachi. Mas fique tranqüilo porque eu não gosto de bonecas desse jeito. É só que essa me intriga. – O Uchiha completou (surpreendentemente) calmo, e se retirou da mesa.
Havia pensado em começar a procurar a boneca nos quartos, aproveitando que ainda estava de dia, e não haveria muito para ele fazer. Mas eram tantos quartos... Deveria haver um jeito mais lógico e menos cansativo de procurar algo naquela casa!
Pensou por alguns segundos, e nada. Bom, tinha o fim de semana todo até que as aulas começassem, e apesar de serem muitos lugares para olhar, não haveria nada melhor para fazer naqueles dois dias mesmo.
O dia inteiro se passou, e nada de encontrar a tal boneca. Já cansado e um pouco frustrado, Sasuke resolveu que já bastava por um dia de busca.
-Sasuke, quando for dormir pode, por favor, ir até parte de baixo da casa? Lá fica perto do seu quarto e eu preciso de um pouco de lenha para acender à lareira e evitar que nós dois congelemos nesse frio.
Com um simples 'Hn' como resposta, o garoto foi até a parte de baixo da casa, onde se localizavam alguns quartos, e a porta que levava ao porão e á caldeira.
Quando já havia pegado alguns tocos de lenha, o Uchiha teve uma sensação estranha. Pensou que havia ouvido sons de passos vindos de um dos quartos da parte de baixo (que se localizavam acima da caldeira).
'Isso não faz o menor sentido! Itachi me pediu pra descer e ficar zanzando nos quartos?' Pensou.
Subiu as escadas barulhentas de volta para a parte de baixo dos quartos, e tentou identificar de qual vinha o barulho.
Agora que se aproximava, o barulho se assemelhava com o som que um sapato de salto faria naquela madeira antiga.
*Cloc Cloc*
O barulho prosseguia, e Sasuke também tentando ver de qual quarto saía.
A mulher (sim, pois Itachi não usava sapato de salto) andava de um lado para o outro, segundo o ritmo das batidas no chão. Como se não pudesse sair do quarto.
Seguindo em frente pelo corredor, Sasuke encontrou o quarto que queria! Porém a porta estava trancada.
Frustrado com tamanho azar, o moreno forçou a porta para ver se obtinha algum resultado. Nada.
Numa tentativa vã de ver o que era o barulho, o Uchiha colocou um dos olhos no buraco da fechadura, e para o enorme espanto, ele viu nada mais nada menos, do que enormes orbes verde-jade, olhando pela mesma fechadura que ele, como se estivesse querendo espioná-lo também.
Paralisado ao ter tamanha surpresa, Sasuke cambaleou para o lado e se escorou na parede. Olhou ao redor, e apertou o próprio braço para ter certeza de que não havia sonhado. Olhou novamente, e encontrou os mesmos olhos verdes que havia visto.
Pôs a mão na porta, e sentiu uma leve corrente elétrica correndo por seu braço. Apesar de a racionalidade lhe gritar para que voltasse cada fibra de seu corpo se movia de encontro àquela figura.
Bateu furiosamente na porta na esperança da madeira escura e dura ceder á sua curiosidade.
Nada, e então encarando firmemente a barreira que o impedia de chegar ao tesouro aguardado, Sasuke virou de costas, porém com um novo plano em mente.
Itachi indagou onde estava a lenha, porém ele acabou não dando satisfações. Sua cabeça estava vagueando por terrenos muito além daquela casa. O mais velho saiu então para trabalhar, deixando o moreno com seus pensamentos.
As horas seguintes se arrastaram, apesar de não serem tantas assim. O garoto observava o vento da janela de seu quarto após ter arquitetado um plano para chegar ao quarto desconhecido. Aguardava o irmão chegar para o jantar. Sim, Itachi pela primeira vez lhe era extremamente importante.
Assim que o mesmo chegou do trabalho, Sasuke numa atitude inusitada correu até a porta para cumprimentá-lo. Fato por si só estranhíssimo, já que era raro quando ele trocava meia palavra com o irmão por livre e espontânea vontade.
-Por acaso aconteceu algo de bom hoje Sasuke? Se não o conhecesse bem diria que está ansioso por algo. Ou até mesmo animado. – Comentou com um sorriso de canto.
'Preciso ser cauteloso. Se não usar as palavras corretas é bem capaz de ele não querer me entregar a chave. '
- A casa não é tão ruim. Eu estava andando pelos quartos, mas... No que eu mais gostaria de entrar a porta está trancada. Talvez seja por isso que eu estou inquieto. – O esperto garoto falou com ar despreocupado, exagerando um pouco na polidez, porém esse fator não levou Itachi a relevar nenhuma suspeita. O mais velho quase sorriu.
-Se quiser posso tentar encontrar a chave do tal quarto. É bom ver que já está se adaptando á casa.
-Sim, imagino que sim. –Assentiu. O resto da noite passou com calma e tranqüilidade para Itachi que pensava progredir em sua árdua caminhada para conquistar a confiança do irmão. Porém Sasuke já se encontrava eufórico, pensando apenas em entrar no aposento misterioso o qual havia sido barrado.
Uma chuva leve caía do lado de fora da casa, e o ar gelado dominava todo o ambiente, como era de se esperar de Londres. Antes de se recolher para seu quarto, O Uchiha mais velho voltou-se para o irmão.
-Aqui está a chave mestra Sasuke, vou deixá-la em cima da mesa para que a pegue amanhã. Imagino que não iria gostar que eu o acordasse para dá-la a você não é?- Ele deu um pequeno riso. – Caso precise de algo, estarei no meu quarto. Boa noite, otouto.
O moreno nada respondeu, apenas olhava a chave. Já eram 10h30min, não poderia esperar muito mais para ir dormir, mas por outro lado, como o sono viria em tais circunstâncias?
Deveria tentar. Teria o dia inteiro seguinte para poder encontrar-se com a boneca das pinturas.
No entanto, porque nem esse pensamento o acalmava?
Porém ele tentou arduamente cair no sono, mas tudo em vão. Sentia como se o vento gelado que uivava pelas paredes da casa antiga o instigassem a ir até a boneca. Como se a chuva violenta, e os trovões agressivos gritassem: 'O que está fazendo aí parado? '
'Agora já é bem tarde, mas de que adianta ficar parado na cama se não consigo dormir?' Foi o ultimo pensamento que teve antes de levantar-se da cama e andar silenciosamente até a sala de jantar, onde se encontrava a chave-mestra.
A cada passo os trovões aumentavam, e os relâmpagos reluziam no céu negro, dando à Sasuke a impressão de estar protagonizando alguma de suas historias favoritas.
Andou a passos silenciosos para não acordar Itachi. Logo se encontrava diante da porta.
Uma incerteza misturada com euforia tomou o garoto. E ao girar a chave na porta ouviu-se o barulho estridente e assustador de um trovão.
O aposento estava escuro. Ele podia jurar isto, porém o trovão iluminou todo o ambiente como um flash. Que foi suficiente para que Sasuke visualizasse a boneca deitada a sua frente.
O coração do menino pulsava como louco, porém nada pôde surpreendê-lo mais quando, de repente, os trovões cessaram e uma melodia suave como uma canção de ninar ressoou por todo o quarto.
Porém o que começou leve foi tomando intensidade e volume, como se a música o engolisse centímetro por centímetro. Mas o mais chocante não era isso.
Ah, não.
A cada compasso, a boneca levantava-se um pouco, apoiando-se no chão, até que quando a música se encontrava no ápice, ela abriu os olhos.
E Sasuke que se encontrava em pânico até aquele momento, imediatamente relaxou ao vislumbrar os orbes verdes.
Era ela. Tão linda e delicada quanto as pinturas retratavam, mas com uma estranha aura de tristeza. Sem saber direito o que falar, perguntou-lhe a primeira coisa que veio a mente.
-Como você se chama?
A boneca mudou a expressão, irrompendo a serenidade das feições de porcelana, parecendo surpresa.
Então, sem ainda responder, ela caminhou até Sasuke.
Os saltos faziam o barulho que ele ouvira, mas apesar de usar salto médio ele ainda era mais alto do que ela.
Cloc, Cloc Cloc.- Os sapatos faziam.
Ela deu uma volta ao redor dele, analisando-o. E o garoto agiu como se isso fosse perfeitamente normal (quero dizer, o fato de uma boneca analisá-lo.)
E então veio a constatação mais arrepiante: Ele não estava com medo. Ansioso, sim; tenso, é lógico; surpreso, sem dúvida, porém não estava assustado ou com medo da figura diante dele.
Pelo contrário, esse encontro era mais do que desejado, apesar de não imaginar que pudesse ter... Bem, tomado essas proporções.
-Você tem uma cor esquisita. – A boneca falou. O vento lhe soprava as madeixas rosadas e a barra do vestido branco cheio de renda. Ela ainda o estudava cuidadosamente.
-Eu te fiz uma pergunta. Qual o seu nome? – O Uchiha falou impaciente.
-Como se te interessasse. - Ela revirou os olhos. – Me chamavam de Sakura, e o você?
-Sasuke. -Ele retorceu a face e perguntou- O seu nome é só Sakura? Sem sobrenome?
Ela sorriu.
-Você tem um nome muito bonito Sasuke. E diferente, mas acho que tem alguma coisa a ver com essa sua cor... –Ela disse fazendo um biquinho, ignorando completamente as perguntas.
E Sasuke não gostou nada disso.
-Não é nada educado ignorar as pessoas. –Ele atacou.
-Tampouco é educado invadir o quarto dos outros no meio da noite. - Ela retrucou com uma voz gentil. –É melhor ficar quieto. – Completou quando viu que ele estava prestes a retrucar.
Ela foi até a porta e a trancou. O som da fechadura se trancando sem o uso de qualquer chave o espantou, mas também não se afligiu. Aparentemente ele estava em algum tipo de transe, seu cérebro aceitando de bom grado as situações mais sinistras que se poderia imaginar.
Sasuke sentiu a mão da boneca pegando a sua, e levando-o até um divã vermelho vinho e indicou para que se sentasse.
-Eu imagino que você tenha vindo aqui por alguma razão Sir Sasuke... –Ela andava pelo quarto, com passos tão leves que parecia dançar. O Uchiha a acompanhava com os olhos imaginando onde ela queria chegar. -... E realmente espero que não pretenda me tirar daqui, porque se o tentasse eu seria forçada a machucar você. – Sua voz agora era fria, e ela voltou-se para ele com os olhos em chamas.
Literalmente. Haviam chamas esverdeadas saindo claramente por seus orbes, e havia uma afiada faca de prata em sua mão delicada.
-Como assim?- Sasuke arregalou os olhos ao ver a faca, sentindo agora que apesar de seus instintos negarem-lhe que a pequenina Sakura era perigosa, ele temia a faca que ela segurava. – E... Eu... Eu apenas queria te encontrar! Afinal tem pinturas suas por toda a casa... E mesmo que eu a tirasse daqui, qual seria o problema? Este quarto tem alguma coisa...
-Calado!- Ela o interrompeu. Agora seus olhos não continham mais chamas, pareciam inundados. Sasuke estranhou aquela ação. Desde quando bonecas choravam?
'Há, como se bonecas andasse, falassem, e ameaçassem alguém com uma faca. ' Ele pensou ironicamente.
-Foi... O ultimo lugar... - Ela sussurrou baixinho, agora se encolhendo.
Tomado por algo semelhante á compaixão, Sasuke ignorou (mais uma vez) a racionalidade, foi até ela e tirando a faca de suas mãos, colocou-a em outro lado e rasgou um pedaço da blusa do pijama que usava e lhe deu para enxugar as lagrimas.
Ao ver o pedaço de pano oferecido, Sakura relutantemente levantou-se e enxugou as lágrimas uma a uma. Depois disso ela conduziu o moreno de volta ao divã e sentou-se junto a ele.
-Perdão. Foi uma pequena perda de controle. É que eu não gosto nada de homens. Nadinha. –Ao ouvir aquilo fez uma careta.
-Por quê? Alguns certamente não são confiáveis, mas não se pode generalizar a todos dessa maneira. E também as mulheres não são confiáveis como os homens!
-Pois então diga espertinho, uma só mulher que não seja digna de confiança. –Ela desafiou.
Por um instante ele pensou em alguns de seus livros de terror no qual o fantasma de uma mulher que havia sido mutilada pelo marido vagueava pelas estradas retaliando o rosto das pessoas, mas reteve o pensamento, pois sabia que Sakura argumentaria que a culpa seria do marido por tê-la matado antes.
-Eu posso não saber nomes, mas tenho certeza disso que... Espere. Você não é exatamente a pessoa mais confiável do mundo.
Por um momento a atmosfera tensa e sinistra foi dissipada, e os dois nada mais pareciam do que dois amigos discutindo.
Por apenas um momento
-Tem razão. Mas apenas quando me dão motivos para não ser confiável. – Ela fixou os olhos nos dele quase que se fundindo a alma do garoto.
Hipnotizado por um momento, Sasuke foi involuntariamente para mais perto da boneca rosada, sem consciência alguma de seus atos.
Sakura deixou que ele se aproximasse o suficiente para que suas respirações se misturassem. A faca que havia sido deixada de lado agora parecia se metamorfosear em um enorme machado, posicionado bem ao alcance das delicadas mãos da boneca.
Ela pegou firme no cabo por um instante e Sasuke, ainda em estado de transe, encostou-se nela, de tal modo que sua bochecha tocava o topo da cabeça da rosada.
Preparou o golpe certeiro nas costas do rapaz, mas ao olhar de novo para o rosto dele, viu a mesma perturbadoramente familiar aura cor violeta ainda rodeando-o por toda parte.
Não, não estava disposta a dar um fim naquilo até que ele explicasse por que ele tinha aquela cor.
Sakura desfez o transe, e encarou Sasuke seriamente.
- Muito bem. Explique-me agora o porquê de você ter esta cor. Por acaso você tem algum tipo de doença?
O moreno encarou-a confuso.
-Do que você está falando? Que raios de cor é essa?- O Uchiha perguntou afastando-se dela. Como antes, ela o ignorou.
-Você tem algum tipo de câncer escondido é isso?
-Não! Que tipo de perguntas ridículas são essas?- O moreno estava confuso e irritado.
-Droga, assim você não ajuda em nada. – Sakura parou para pensar por um minuto. – Você parece bem vivo pra mim. – Comentou casualmente.
- É porque eu estou bem vivo. Escute, eu estou tão confuso quanto você. -'Apesar de achar que os nossos motivos são bem diferentes' pensou. – Mas se você me explicar do que você está falando, eu talvez possa ajudar em alguma coisa. – Sugeriu.
Ela ponderou, olhou o rosto dele e suspirou pesadamente.
- Imagino que isso vá lavar tempo. O que estraga a possibilidade de eu acabar com você nessa mesma noite, mas por outro lado não tem jeito de eu ficar tranqüila sem saber o motivo pelo qual você tem essa cor. – Ele arregalou os olhos quando ela mencionou a parte de 'acabar com ele'.
'Saia daí agora, idiota!' A racionalidade gritava insistentemente, porém ele não se sentia ameaçado ali. Diferente das milhares de coisas que o rodeavam e geralmente o angustiavam e irritavam facilmente, aquela boneca com uma psique assassina o acalmava.
'Quero só ver algum daqueles psicólogos tentando explicar isso. ' Ironizou mentalmente, considerando o grande número de psicólogos e psiquiatras nos qual passara depois da morte de seus pais.
-Então chegamos a um acordo? Você não me mata e eu te ajudo a explicar a minha cor?
-Parece bom pra mim. – Sakura disse sorrindo. – Mas antes de eu lhe contar qualquer coisa, precisa responder uma pergunta.
-Qual?
-Você tem medo de bonecas?
E após esta pergunta os olhos dela faiscaram chamas esverdeadas tão intensas que pareciam queimá-lo realmente.
N/a: Olá gente bonita! Finalmente voltei depois de... um bom tempinho hehe o/o Mas fico feliz de ter conseguido postar pelomenos um dos projetos que estavam encalhados. Infelizmente nesta história não vai haver Transmissão porque eu me encontro em um estado de 'bagaço-da-laranja-de-anteontem', que para os que não sabem significa, este é o estado físico para quando o cérebro se converte em gelatina pura =P (por razões que eu contarei quando eu estiver recuperada. Gomen o desânimo x.x)
Bom, só falando o essêncial... Vejamos... Ah, bom, a fic que vocês acabaram de ler é a minha primeira tentativa de terror/suspense então please, sejam pacientes ok? E também é a mmaterialização de uma ideia que eu tive a muito tempo quando assisti ao clipe da musica Still Doll da cantora Kanon Wakeshima (autora da trilha sonora de algumas musicas de Vampire Knight). Tipo o clipe é MUITO massa, e me vem sempre essa historia a cabeça quando eu assistia, ou seja, eu ia surptar se ela não fosse pro papel xp
Outra coisa importante: DEIXEM REVIEWS!
Bjos a tooodos
Mil desculpas pelo desânimo, eu compenço isso com um capitulo mais cedo, oks?
Kashiri chan
