Nome da fic: A Escolhida

Autor: Viviane Valar

Pares: Severus/Personagem Original

Censura: NC-17 , violência

Gênero: Drama, tema adulto, romance.

Avisos ou Alertas: violência. Sem Spoiler

Agradecimentos: à Rowling, que criou os persons, e a gente pôde então se divertir. À Jobis que revisou. Ao povo do fest que está recebendo essa criação.

Resumo: Desafio 06. Numa happy hour entre os Comensais, Snape conhece uma moça e decide tirá-la do caminho das Trevas. (ludmila)

(Ludi, só tem um problema! Eu entendi errado, entendi que a moça é quem quer tirar o Snape das trevas, vale?????? De qualquer modo, já está pronta!)

A ESCOLHIDA

CAPÍTULO 1 – O Ritual

Estava escuro agora. Era madrugada naquele povoado próximo a Londres. A maioria dos moradores dormia em suas casas. Mas Theo se sentia entediada. Não se conformava com a decisão de voltar.

"O que estou fazendo aqui?" - pensou deitada de costas em sua cama, completamente vestida.

Depois de ter rodado quase o mundo todo se especializando em artes das trevas, estava de volta à sua cidade natal.

"Cidade!"

Nem era uma cidade. Era mais um aglomerado de pessoas que não tinham pra onde ir, e mesmo que tivessem, não iriam. "Eram tão pacatos!"

Mas Theo sabia porque voltara. Depois da morte dos pais, entrou em depressão e quis voltar pra casa onde nascera e crescera. Pra ficar mais perto deles. Mas agora, dois anos depois, já não agüentava mais. Era tudo tão... igual. As mesmas coisas pra se fazer, as mesmas pessoas, as mesmas conversas. E tinha também Calius.

Theo gostaria, do fundo do coração, gostar daquele homem. Ele era tão gentil, carinhoso, atencioso. Mas não o amava como ele gostaria. Era um homem muito bonito, e atraente. Tinha que admitir. Mas... só. Foram amigos inseparáveis na infância, diziam que um dia iriam se casar. Theo riu com tristeza. Mas ela tinha mudado muito. Não era mais aquela garotinha de trancinhas que achava lindo crescer pra ser esposa e mãe. Mas Calius era terrivelmente paciente e prestativo.

Ela se levantou num supetão da cama. Tinha que sair ou teria um "treco". Vestiu uma capa preta, prendeu os longos cabelos negros num rabo. Não usou maquiagem, ninguém a veria mesmo.

Deixou a casa que fora de seus pais para trás e foi em direção ao centro do povoado. A casa era um pouco distante, mas ela apreciava caminhar. Sentir o frio da madrugada no rosto. A escuridão há muito a fascinava. Se pudesse escolher, viveria à noite. Deixaria o dia para os pássaros e as vacas. Preferia morcegos à borboletas, lobos à cães pastores, lua à sol. Talvez tivesse sido por isso que as artes das trevas sempre a fascinaram. Então estudava muito sobre o tema. Não que esperasse realmente ir para as trevas ou lutar contra ela. Apenas gostava do assunto.

Agora, caminhando perto do centro do povoado, pôde perceber sons ao longe. Esse era um dom que desenvolvera nas viagens. Poderia perceber sons muito distantes ou cheiro ou mesmo enxergar mais longe. Ajudava muito pra se defender, ou mesmo atacar. Mas não se parecia com nada que já ouvira ali. Era muito estranho. Então movida pela curiosidade, que por sinal era seu inferno, foi naquela direção.

Ela conhecia todas as casas da região e sabia que por ali, não havia nenhuma. E estava certa. Aos pouco foi se aproximando e percebeu luzes e movimentos erráticos. Percebeu um grupo de pessoas dançando, bebendo em volta de uma fogueira. Essas pessoas pareciam realizar um ritual. Estavam todas encapuzadas. Um grupo jogava dentro do fogo um líquido que ao entrar em contado com as chamas provocava uma explosão negra.

"Será que eles não percebem que assim podem chamar a atenção?"

Mas um movimento vindo da floresta, quase perto de onde estava escondida, a atraiu. Três pessoas, cada qual com seu capuz cobrindo o rosto, traziam uma moça. Ela estava com uma espécie de manta negra em volta do corpo, mas pela expressão do rosto, parecia em transe.

"O que diabos está acontecendo aqui?"

Um dos três se adiantou até a fogueira. Ergueu os braços para o alto e tirou o capuz. E Theo pôde ver o rosto pálido do homem de cabelos longos a de um loiro quase branco.

-Mestre! Mestre! Eis-me aqui! Seu servo, Lúcius Malfoy! Faça de mim sua arma, sua morada, sua vontade!

Um silêncio sepulcral. Apenas o barulho da fogueira crepitando. Ele pareceu frustrado. E retrocedeu. Outro se adiantou.

-Mestre! Mestre! Eis-me aqui! Seu servo, Severus Snape! Faça de mim sua arma, sua morada, sua vontade!

Desta vez era um homem moreno, de expressão quase cruel. Parecia não desejar estar ali. Mas nada transparecia em seu rosto. Nada aconteceu. O último dos três, se adiantou até o fogo. Parecia orgulhoso.

-Mestre! Mestre! Eis-me aqui! Seu servo, Calius Mort! Faça de mim sua arma, sua morada, sua vontade!

Theo não estava preparada pra o que veio a seguir. Abaixando o capuz e expondo seu rosto, estava lá, o gentil e carinhoso Calius.

-Deus! – murmurou baixinho sem querer.

Nesse exato momento a fogueira crepitou mais forte, abafando a voz dela. O fogo ardeu mais alto e uma voz pôde ser ouvida.

-Meu fiel servo.Você tem sido o mais leal de todos aqui. Então vou lhe conceder esta graça!

Um vento rasteiro passou sacudindo as folhas das árvores e as capas. Uma angústia cresceu no coração de Theo. Estava ali e não sabia o que fazer agora. Uma chama do fogo se inclinou e tomou o corpo de Calius. Ele sequer hesitou, mas ao sentir o fogo se espalhando, gritou. Caiu sobre os joelhos com o rosto crispado pela dor. Mas logo as chamas se apagaram e ele se levantou novamente. Totalmente refeito. Sem marcas. O mesmo Calius. Exceto... agora ela podia ver... os olhos. Estavam em chamas. Não, não era mais Calius. Era seu mestre que estava ali.

Ele sorriu, um sorriso cruel e se virou para a moça enrolada no manto negro. Que, só agora Theo reparava, era muito parecida com ele própria. Os cabelos, os olhos azuis, os lábios grossos. Pareciam ter a mesma idade. Apenas parecia um pouco mais alta e mais magra. Não a conhecia, entretanto.

Calius se aproximou da moça. Os outros homens se afastaram. Ele a olhava com... fome. Essa era a expressão. Tocou o rosto dela, que não teve reação alguma. Mas Theo sentiu como se fosse em seu próprio rosto. E sentiu um arrepio gelado pelo corpo todo. Se aproximou do pescoço alvo e mordeu com força. Theo teve que se segurar para não gritar de dor. Com as mãos no local onde Calius mordia a outra. E com outra mão ele cortou o manto da moça com uma faca ferindo de leve a pele dela.

Ali, escondida e sem ser vista, estava apavorada. Mas mesmo assim sabia que não poderia se impedir de ficar excitada. Não poderia ir embora, mas não sabia mais dizer se queria ficar até o fim. Viu então, Calius cortando sua própria capa e então estavam, os dois, completamente despidos. Ele parecendo um animal feroz que visualizava sua presa. Ela sem emoção. Parecia estar ausente, quase sem alma.

"Seria a maldição Imperius? Ela não vai fazer nada? E eu, o que posso fazer?" – pensava angustiada.

O que veio a seguir ela já esperava. Calius beijava e mordia a mulher, enquanto Theo se sentia invadida. Era... torturante... e ao mesmo tempo... incrível! E Calius fez tudo o que quis. Lambeu, mordeu, invadiu. Só parou quando estava satisfeito. Os outros apenas olhavam e incentivavam. Menos um. O moreno. Parecia desgostoso. Com a mesma expressão de antes.

Depois de tudo acabado, Theo estava fraca, ofegante. Se sentia suja, estranha.

-Agora – voltou a falar Calius.- É chegada a hora. Se for mesmo a escolhida, conseguiremos tudo! Eu voltarei e dominarei novamente. – Apenas ela, a escolhida sobreviverá ao próximo teste. Severus! – chamou. – Traga-a para mim!

Ele saiu de seu lugar, levantou a mulher, que ainda estava deitada no chão, e a fez caminhar até Calius. Que estava bem perto do fogo novamente. Virou-se então para lá com os braços erguidos e as chamas retornaram a seu corpo nu. Ele gritou outra vez. As chamas o deixaram depois de algum tempo.

Calius ficou no chão, tremia fracamente. Se arrastou para perto de sua capa e a vestiu. Estava no controle de si mesmo novamente. Recompôs-se.

-Agora, Severus. – a voz comandou das chamas.

"Meu Deus! Ele não pode fazer o que estou pensando!" - desesperada.

As chamas envolveram a mulher que parecia ter enfim acordado do transe naquele momento. E gritou ao mesmo tempo em que Theo gritava. Mas ninguém notou que outra pessoa estava sofrendo também. A mulher se agitou, até as forças acabarem e depois não mais. Theo sentiu tudo aquilo. Tinha lágrimas nos olhos. Tanta dor, tanta dor. Mas olhando para seu corpo, não via marcas do fogo que a consumira.

"Então o que...?"

E de repente a dor se foi. Ela se sentiu vazia. Abandonada. E quando se virou para a fogueira viu que a outra não se mexia mais. Ela estava morta. Olhou para todos ali. Ninguém fez nada pra impedir. Olhou para o homem com o nome de Severus Snape, e pôde sentir vindo dele, uma imensa tristeza. Misturada com indignação. Mas seu rosto não dizia nada. A máscara de indiferença era imutável. Os outros estavam apavorados. Podia sentir o cheiro do medo deles.

-Seus incompetentes! Não era ela! Não era a escolhida! Bastardos! – as chamas tremiam – Cruccio!

E os três homens que trouxeram a moça caíram no chão. Os outros observam sem reagir. Calius gemia feito uma criança. O tal Lúcius gritava. Mas o Severus apenas se contorcia. Nenhum som saiu de sua boca. Ela não pode deixar de admirá-lo. Parecia ciente de que merecia aquilo. Não se humilharia enquanto pudesse.

Ela percebeu que tudo aquilo era obra de Voldemort. Conhecia sua história. Sabia que tipo de bruxo ele era. Percebera que os outros eram seus seguidores. Mas algo dizia que o Severus não era como os outros comensais.

Quando a punição chegou ao fim todos se levantaram com alguma dificuldade.

-Agora prestem atenção! – Voldemort recomeçou. – Vocês terão mais uma chance! Mas se falharem novamente, não haverá perdão! Vão! Achem-na! Achem-na para mim!

E o fogo voltou a ser só uma fogueira miúda. Os Comensais começaram a se afastar. Calius ainda tremia e seguiu em direção à aldeia. E Theo percebeu que ele vinha na sua direção. Se assustou, caso desaparatasse faria mais barulho que se apenas tentasse sair do caminho. Então foi cuidadosamente em direção ao rio. Queria sumir, se afastar de toda aquela loucura. Nunca vivera algo assim. Nem em sonhos. Se bem que não poderia ter certeza. Tinha pesadelos de vez em quando, mas nunca se lembrava sobre o quê. Apenas acordava gritando e chorando eventualmente nos últimos dois anos.

Rumou então para as margens do rio. Molhou as mãos e bebeu da água. Ouviu um barulho. Se encolheu um pouco. Não dava pra se esconder ali. E de repente o viu. Severus Snape. Ele tinha o rosto abaixado. Muito sério e compenetrado. Andava com alguma dificuldade. Não a viu. Poderia tentar ir embora, mas na hora ficou confusa com os sentimentos que se desprendiam dele. Ficou apenas observando. Viu quando sua expressão mudou. Apenas cansaço.

-Vai ficar aí olhando? – disse sem se virar.

Theo se assustou. Ela havia percebido que ela estava lá.

"Há quanto tempo?"

-Vá embora!- disse duro.

-Quem é você? – perguntou finalmente.

-Não interessa! Vá embora! Pode ser muito perigoso, andar por aí sozinha. – ele ainda não olhava pra ela.

-Quem é você? – perguntou mais suave, se aproximando.

Ele se voltou. Para ela. Olhos frios, duros.

-Você é surda? Louca? Ou as duas coisas? – rude. – Já disse para ir embora! – falou mais alto.

Theo podia sentir novamente a confusão dos sentimentos dele.

-Não. – disse simplesmente – Quero saber quem é você. Não tenho medo. – falou caminhando mais pra perto.

E ele pegou seus ombros com força, machucando-a.

-Pois deveria! Eu sou seu pior pesadelo! E não sou o único! – olhos em fúria.

-Não acho que queira me machucar. – falou ignorando a dor nos ombros. – Quem é você? – estava cada vez mais fascinada pela dor que vinha dele.

Ele gruniu. Apertou as mãos com mais força. Soltou. Se virou de costas pra ela. Mas não foi embora.

-Meu nome é Severus Snape. E como já disse, posso ser perigoso. E não estou sozinho. Outros estão por aí. Então se quer voltar pra casa sã e salva, faça agora! – disse baixo, mas firme, sem evidenciar o cansaço e a dor.

Ela se adiantou. Ficou de frente pra ele.

-Vem comigo. – não sabia de onde vinha aquela vontade de estar com ele. Mas queria entender mais sobre o que tinha acontecido, e sobre o moreno.

Ele olhou incrédulo pra ela.

-Vem comigo. – falou suave de novo. Sentiu vontade de pegá-lo pela mão. Mas sabia que isso o espantaria.

Snape estava confuso. Sabia que tinha que ir embora. Tinha muito o que fazer. E aquela mulher... louca e linda!

"Não!"

Não poderia pensar assim! E sabia disso. Ainda estava sentindo todo corpo dolorido devido à maldição imperdoável que recebera. Não poderia desaparatar ainda. Tinha que se recuperar.

-Vem comigo. Eu não moro muito longe. Posso ajudar você, Severus. – falou suavemente.

Ele suspirou. Estava exausto. Poderia aceitar, mas apenas até o dia nascer. Então olhou pra ela num consentimento mudo.