NOTAS:
Esta fanfic é fruto da imaginação da autora, nenhuma intenção de macular a realidade. Nem ofender os reais envolvidos. É apenas uma visão de fatos públicos, especulação de momentos privados.
"Ciúmes, aquele dragão quem mutila o amor sob a pretensão de mante-lo vivo"-Havelock Ellis-
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1. Soberba
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Deixai toda esperança, ó vós que entrais!
[palavras de Il Sommo Poeta]
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Ela estava atrasada, e isso normalmente não o deixaria chateado, mas aquela viagem já tinha deixado de ser normal há muito tempo.
Esperava-a com um cigarro na boca, olhando fixamente a carteira e se o tabaco o estava matando da mesma maneira que aquele sentimento que carregava no peito. Talvez, de maneira mais lenta. Mas era amargo do mesmo jeito.
Semanas atrás, quando ambos tinham planejado aquela viagem, tudo parecia tão em seus lugares, e agora ele sentia aquele receio que a receita não estava tão certa. Que a primeira garfada será apenas decepção.
Tragou a fumaça, sentiu a química percorrer sua traqueia e seus pulmões. Arrumou os óculos escuros, e amaldiçoou a namorada mais uma vez. Merda. Logo, alguém lhe reconheceria e aquilo viraria mais um pandemônio.
Mas o gosto desagradável e a irritação tinham um nome ainda mais indecoroso que um tabu para ele. Era aquela irmã gêmea do amor que os russos contavam.
Com certeza ele a apoiava naquele projeto, ele tinha a acompanhado desde o começo. Lembrava da 1ª vez que ela lhe contara que o papel era seu. Aquele sorriso de Kristen podia iluminar NY e LA por uma noite sem problemas. O seu peito se encheu de orgulho por ela. Era um papel perfeito, super concorrido e que ela estava ainda sem sentir a gravidade por tê-lo nas mãos, nem lhe importava que o filme pudesse ficar mais algumas décadas na gaveta esperando uma palavra de Coppolla.
Ele não podia ter mais orgulho dela. Ela era a garota mais incrivel que ele já conhecera.
Aquilo foi numa época em que ele nem era dela e ela nem era dele.
Ajeitou, nervoso, o cabelo.
Não tê-la. De novo.
Por que ela estava demorando tanto? Tinha se esquecido dele?
A última conversa deles tinha sido tensa e desgastante, as mesmas coisas e diferentes coisas, e ele não queria mais brigar com ela. Não queria aquele silêncio sufocante, aquelas palavras erradas, aquele tom na voz dela que o deixava furioso e quebrado na mesma intensidade.
Rob se lembrou de sua época de teatro britânico, quando jovem, e Otelo lhe soprou a fala das coxias: "Se depois da tempestade vem tamanha calmaria, que os ventos soprem até acordarem mortos!"
Mas foi a soberba que lhe arrancou o coração. Ele viu todos os campos de centeio como ganhos, e se sentou para observar sentindo-se o absoluto susserano. Quando não passava de um simples apanhador.
Todos lhe dizendo para deixar de ser tão drama queen, e ele se jogou de cabeça numa fase Poliana arrogante, na qual só lhe resultou uma grande dor de cabeça. Ele a tinha ao seu lado, ele tinha todos os seus beijos, ele tinha todos os seus carinhos, ele tinha todos os seus olhares, ele tinha todos os seus desejos, ele tinha todos os seus sorrisos.
E então... Ele não tinha mais nada. Apenas um tom de reprovação por seus ciúmes.
Ali estava a palavra. E ele engoliu seco por ela. Não a pronunciou e não se atrevia a fazê-lo nem sozinho. Sua altivez não lhe permitia. Arrumou os fones no ouvido e aumentou o volume da música. "When I am Through with You", The VLA, tocava.
"Little Lamb"
Era a primeira linha da música e ele achou uma zombaria sem tamanho. "Pequeno cordeiro" só lhe trazia alguém à mente. E ele achou uma zombaria. Ele se sentiu como Hércules sendo peça dos Deuses todos sentados no Olimpo, brincando com sua vida terrena e mortal.
Lá estava seu grande ego, se comparando ao herói mitológico. Quem era ele para isso agora? Quando se sentia apenas mais uma linha sem cor das Parcas.
Sentiu uma mão nos seus ombros, e girou atrapalhado, tirando os fones, e reconhecendo seu amigo Tom. Tom Sturridge, o grande traidor.
- Rob... Não me olha assim... – amizade de longa data tem suas perspicácias- Sem magoas?... Caralho... Você me disse que já tinha superado isso...
- Não esquenta... Também estou feliz de te ver... Apesar de você ser um grandíssimo inútil... – e falando isso, ele procurou por ela. - Cadê a ...?
Não precisou terminar a interrogação, não muito longe vinha sua namorada em uma conversa muito envolvente com um loiro, alto, e sorridente homem. Algo dentro de si estava irremediavelmente ferido.
Ele tinha a confirmação que Hera estava mesmo de brincadeira com ele.
O maxilar dele rangeu um pouco. Algo que devia estar enterrado na era paleozóica, em algo do Plioceno, se manifestou. Se bem que pela expressão no seu rosto, podia-se datar para algo do período anterior, algo bem Jurássico ali. Sua presa desfilou até si, e finalmente lhe respondeu o olhar. O homem foi mais rápido e lhe estendeu a mão com aquele sorriso ridículo ainda.
- Oi cara... Bom te conhecer... Sou o Garrett... Ou Dean... Como você quiser. – ele riu para Kristen- Que bom que você chegou ai, cara...
Ele sabia bem quem era a figura. Como ele queria? Ele queria que o "cara" recebesse uma Cautelar de ficar a 500 metros de distância da mulher que tinha seu nome no dedo. E lembrá-lo do descarado Dean não lhe ajudou nada, "cara". Ele tentou se manter sob controle.
- Prazer. -e apertou a mão estendida- Bom mesmo que eu cheguei...
O ator do Minnesota pode ter achado tudo dentro da regularidade, mas os outros dois que conheciam aquele britânico há mais tempo, sabiam que as palavras dele estavam respingadas por algo mais. Um aviso.
A namorada apertou o braço de seu par, com algo de aviso também. Ele a olhou.
Estranho não? Ali estavam eles, separados por tanto tempo e ele queria apenas que ela corresse para seus braços, pulasse, enroscasse as pernas na sua cintura e lhe beijasse como se fosse o último. E ele recebeu apenas um aperto no braço. Seria bom uma cena romântica daquela na frente do Tron boy. Era um legado que ele gostaria de deixar na mente do outro.
Se a sua mente estivesse em funcionamento sem os efeitos passionais do ciúme, ele admitiria que eles nunca tinham tido um reencontro assim em pleno aeroporto. Mas era outra coisa que ele não admitiria.
Eles não podiam correr o risco de um flash.
- Eu senti sua falta. – ela disse sinceramente tentando por um final naquilo antes que ela mesma perdesse a paciência.
Os outros dois homens ali, para os quais as palavras não lhes pertenciam, se afastaram discretamente.
Rob esqueceu por alguns segundos da outra gêmea. Deixou apenas o Amor embalar sua resposta.
- Eu contei os segundos para chegar aqui... – ele acariciou o braço dela.
Um sorriso confidente compartilhado.
Hedlund passou as mãos na cintura de Kristen e colocou a mão no ombro de Rob.
- Vamos? A gente ainda tem que repassar aquela cena hoje. – ele olhou para a co-star.
Pattinson realmente quis acreditar que tinha alucinado com a mão do tal Garret, tão sem cerimônias, na cintura dela. Quis mesmo.
O número 3 podia significar estabilidade, união, plenitude, democracia, ajuda, a divina trindade, o infinito, ménage à trois... Mas para ele significava apenas um cara colocando o nariz onde não era chamado. Para ele, significava o caos, o ciúme, a tempestade de novo.
E ele se lembrou da musica do VLA que estava escutando.
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I come to the city alone
I packed up my life and my home
cause I feel like a body at rest
Is a life in Hell
So unpack my bags, unpack my bags
Kiss her on the mouth, and she says,
"Smile little lamb"
When I am through with you,
There won't be anything left.
When I am through with you,
I'm on to all you have left.
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Como ele queria acabar com aquele sorriso.
