Na verdade, era realmente divertido assistir "os ataques do Urso Judeu". Eu não mentia quando dizia àqueles que teriam o azar, a infelicidade de sentir na pele – literalmente – o peso do bastão de beisebol de Donny, que nós apreciávamos aqueles momentos. Era realmente pura diversão! Ver seus olhos se esbugalharem, e os pequenos sobressaltos que tinham ao ouvir as batidas do bastão na parede, enquanto Donny vinha andando, devagar, saboreando o momento de sua entrada triunfal – ele sempre foi um pouco teatral –, os olhos brilhantes de expectativa. Era quase como ver uma criança diante de um brinquedo novo; e, como toda criança, a tendência era simplesmente destruir o brinquedo.

Foram poucos os que realmente estavam firmes na hora de encarar o Urso Judeu, uns poucos nazis estúpidos que achavam que estavam fazendo alguma grande coisa, ao morrer pelo país e pelo Führer. Como se aquele lunático sádico realmente valesse alguma coisa.

Mas a maioria, a grande maioria, só tentava parecer firme. Dava pra ver que, por dentro, eram um grande monte de geléia de boche, trêmulos e apavorados. Não era para menos. Donny era grande, e só o seu tamanho já servia para intimidar – principalmente quando você está olhando para um cara daquele tamanho, enquanto está de joelhos no chão. E tinha o bastão. O famoso bastão. Cheio de nomes escritos na madeira, cada um com uma letra diferente, nomes que Donny dizia honrar a cada vez que usava aquele bastão. E então até o mais valente dos boches estremecia, enquanto nós ríamos. E Donny? Aquilo era um grande circo para ele. Duas batidas, ele dizia. "Eu bato em você, você bate no chão." Como se fosse mesmo assim. Havia uma espécie de insanidade em seus olhos, enquanto encarava aquilo que, em breve, se tornaria apenas um grande monte de sangue, e ossos e carne desfigurado e irreconhecível. E quando a ordem finalmente era dada, os olhos brilhavam mais, aquela insanidade ainda mais visível, mais intensa, e ele colocava cada gota dela, e cada gota de fúria que tinha naquilo, transformando-a em força física.

Não eram apenas duas batidas. Mais do que como se simplesmente não quisesse – e, de fato, não queria –, era como se Donny não conseguisse parar de bater, e ao assistir àquilo, o apelido que recebera fazia então todo o sentido. Donny não parava, não enquanto não restasse apenas um monte de ossos quebrados, miolos e sangue espalhado pelo chão. E então ele gritava pro alto. E todos os outros Bastardos, inclusive eu, gritávamos junto, e aplaudíamos, e uivávamos, ao fim de cada um destes nossos espetáculos particulares.

No instante seguinte, Utivich já estava tirando o escalpo do que sobrou da cabeça do boche morto. Se é que ainda restava alguma cabeça. "Um a menos na conta do Donny, Tenente", ele dizia, com aquela mesma expressão impassível de sempre.

Foi por isso que recrutei aqueles oito homens, aqueles oito Bastardos. É isso o que somos, e o que fazemos. Matamos nazis. Não queremos a fama de heróis. Nós não somos heróis. Nós somos apenas um belo punhado de malditos Bastardos.


N/A: tá aí, Morgana. Essa, definitivamente, é tua. Obrigada por tudo. ^^