Harry Potter, personagens e lugares, não me pertencem.
AVISO: fanfic classificada como Mature, ou seja, não indicada para menores de 16 anos por conter cenas de sexo, violência e linguagem imprópria.
Nota da Autora:
Mas Vick, Hallelujah não era a sua última fanfic, etc.? Então, era para ser, mas eu não aprendo mesmo, então tudo bem, era mentira, olha eu aqui! Espero que vocês não se incomodem de com a minha volta HAHA.
Então, eu tinha essa idéia há muitos anos (sério, o primeiro rascunho é de... 2008) e ultimamente ela vinha enchendo o meu saco porque eu queria fazer uma fanfic crível Ron/Pansy (não uma UA maluca como Stardust) e... Bem.
Aí eu passei o fim de semana na casa da Livs (Mismi) e a gente ficou nerdeando e concordando sobre as coisas, e a idéia surgiu com mais corpo. Foi quando eu voltei a escrever.
Essa fanfic na realidade é a junção de duas fanfics Ron/Pansy para as quais eu tinha idéia, acabou se tornando uma só. De qualquer jeito, é importante lembrar que ela vai seguir o canon na medida do possível, mas vai se tornar RA mais para frente... Bom, aos canon-nazi, vejam a fanfic toda como uma RA (realidade alternativa).
Quem está esperando algo parecido com Hallelujah no estilo de escrita e linearidade, pode esquecer. Iris vai ser uma lambança de POV, pessoas do discurso e estilos de narração. Espero que vocês consigam entender tudo, e se não entenderem, é só perguntar HAHAHA. E eu estou usando os nomes originais, mas alguns vou manter em português mesmo porque senão eu me confundo.
Eu dedico essa fanfic a todo mundo que dá/pretende dar uma chance a Ron/Pansy. A genialidade (e o carinho) de vocês está além da compreensão.
(aos órfãos de Halle que querem DHr: esperem, ok?)
IRIS
por Vick Weasley
01.
the moment of truth in your lies
Antes de Grangers, Potters e Malfoys, antes de valores e regras, de sonserinos e grifinórios, antes de vestidos de babadinhos cor-de-rosa, de sangues-puros e galeões e preconceitos, antes de dourado e prateado e vermelho e negro, antes de tudo, havia um parque em Ottery St. Catchpole e duas crianças nos dois balanços de tal parque.
Seis anos, ele tinha. Ela também. A diferença no tom de seus cabelos era brusca – o flamejante, a franja atingindo as sobrancelhas claras contra o negro nas camadas lisas que iam até seus ombros, adornadas por uma tiara branca de cetim. Negro, mas frio, como o piso brilhante de um Palácio de Inverno. Ele tinha sapatos gastos contra a grama (que foram de três de seus irmãos mais velhos antes de serem seus) e pequenas mãos contra as correntes dos balanços. Ela tinha sapatos de boneca envernizados, contrastando contra o algodão branco de suas meias ¾.
xx
Ter cinco irmãos mais velhos e uma irmã mais nova gritando e correndo pela casa o fazia querer ficar sozinho, nem que fosse por meia hora. Sua mãe era ocupada demais para notar sua ausência e seus irmãos tinham problemas o suficiente em suas próprias vidas. Escapar para o vilarejo era fácil demais e talvez fosse o destino, se ele pensasse assim nessa época, ou se não tivesse se esquecido de quase tudo que vivera aos seis anos quando fizera dez.
(Ser filha única e ficar numa casa silenciosa e grande demais para sua própria existência fazia com que o estômago dela estivesse sempre apertado, de alguma forma. Comprimido. Ela era pequena demais para entender o que aquilo significava – porque angústia pode ser uma merda, às vezes – mas ela sentia, do mesmo jeito. Então, ela pedia – não, mandava – que um dos elfos domésticos a acompanhasse até o parque do vilarejo próximo à sua Mansão e sabia que, mesmo que ficasse lá durante um dia inteiro, seus pais não iriam notar. Não era como se eles a colocassem na cama antes de dormir.)
xx
Eles se encontravam, às vezes. Não sempre. Ele não gostava de encontrá-la – era como se alguém estivesse interrompendo seu templo silencioso sem ao menos pedir licença. E esse alguém era uma garota, o que, quando se tem seis anos, pode piorar a situação. Ele não sabia, mas tinha impressão de que ela gostava de encontrá-lo, sorrindo timidamente e perguntando se ele queria que ela empurrasse o balanço. Quando aceitava, porém, tentando sentir-se menos violado pela presença da menina, ela apenas estalava os dedos e mandava que seu elfo doméstico fizesse o que oferecera.
"Você não tem elfos?", ela perguntou, um dia, enquanto balançava com o impulso dos próprios pés contra o chão o corpo para frente e para trás. Ele sentiu as bochechas e as entranhas e a própria alma queimarem de vergonha e, mesmo sabendo que suas roupas eram gastas demais para sustentar sua resposta, disse (mentiu) que tinha um. "Eu tenho quinze", ela respondeu distraída. Ele apertou as correntes até machucar as palmas das mãos.
(quando, mais tarde, mostrou o machucado para sua mãe, ela o chamou de descuidado e disse um feitiço qualquer para reconstituir sua pele, para logo depois voltar a se preocupar com o que Fred e George faziam dentro do galinheiro).
xx
"Meu nome é Ronald Weasley", ele disse, quando encontrou a menina pela décima quinta vez em três semanas. Ele não tinha certeza de que sabia contar até quinze assim, de cabeça, mas sabia que já tinham se encontrado vezes o suficiente para apresentar-se.
"Pansy Amelia Isabelle Parkinson", ela respondeu, aparentemente empolgada, saltando de seu balanço e ficando em pé em sua frente. Ele precisou olhar para cima para alcançar seus olhos castanhos. "Você quer tomar chá na minha casa amanhã?", ela sorriu. Aquele sorriso era um tanto quanto bonito de se ver, dentinhos de leite, espaços idênticos entre eles, emoldurados pelos lábios cor-de-rosa nos quais ele não prestava atenção, pelo menos não ainda.
xx
Pela primeira vez, as atenções na mesa estavam totalmente voltadas para ele. Nunca tinha feito algo de tão errado antes para que seus irmãos todos evitassem trocar olhares com ele, Ginny fosse pedida para se retirar da mesa e Molly Weasley estivesse em silêncio. De fato, as únicas coisas que parecia interromper o tal silêncio eram as respirações controladas que seguiam um ritmo quase idêntico e o seu coração batendo, alto demais para que os outros na sala passassem despercebidos pelo som.
Seu pai tinha os dedos das mãos cruzados sobre a mesa. Os olhos castanhos e bondosos o fitavam com tanta profundidade que Ron imaginava que estavam lendo os fragmentos de sua alma.
"Nunca me senti tão envergonhado na vida", Arthur falou, após respirar profundamente. Ron tentou alcançar o olhar de Bill ou Charlie, mas ambos permaneciam concentrados na estampa xadrez da toalha. "Nunca".
"Eu...", ele começou, usando toda a dignidade que poderia encontrar dentro de si aos seis anos de idade.
"Não me interrompa", o pai disse firmemente, e Ron sentiu os olhos esquentarem e arderem. "Você está de castigo. Por uma semana. E mereceria umas boas palmadas, se eu e sua mãe não tivéssemos resolvido que nunca bateríamos em vocês, não importa o que acontecesse".
"Papai", ele tentou dizer, a pele conhecendo a sensação recente de receber o gentil toque de uma lágrima, sem saber realmente o que argumentar. Havia muita coisa e sua cabeça era pequena demais para conseguir sintetizá-las e torná-las algo compreensível – ele, na verdade, só queria um colo. Um abraço. Alguém correndo os dedos por seu cabelo e dizendo, Ei, não fique assim, uma semana não é muito ê levou três para dizer seu nome a ela, se lembra?
"Você pode se retirar agora. Vá direto para seu quarto. E nenhum de vocês", ele acrescentou, olhando para os outros meninos sentados em torno da mesa, "Vai visitá-lo até amanhã".
xx
Existem coisas das quais uma pessoa não se esquece. Do cheiro da mãe. Do som das ondas do mar. Da sensação de um recém-nascido que lhe segura o dedo indicador. Da coceira no fundo da garganta após o espirro. Do azul. Do gosto salgado da lágrima. Da primeira visita a um hospital. Da mão suja do mendigo na esquina que pede uma moeda que não recebe. E do olhar desse mesmo mendigo.
Existem palavras que não fogem à nossa memória. O primeiro eu te amo e o primeiro eu te odeio. A letra da canção. O próprio nome. O silêncio que prossegue a decepção. E o que prossegue o silêncio.
xx
Seis anos, ele tinha. Ela também. Talvez não fosse um absurdo, duas crianças se encontrarem para brincar, mas Arthur Weasley achava que sim. E, quando se tem seis anos – e para o resto da sua vida – o que o seu pai acha é uma lei.
"Ron", Arthur disse, três dias após o início do castigo. Era a primeira vez que o pai lhe dirigia a palavra desde a reunião na mesa da cozinha. O rosto de Ron estava quente. Quando perguntava para si mesmo o porquê do calor, sua mente buscava uma explicação simples. Se seu pai não estivesse mais bravo, a ponto de falar com ele, talvez saísse do castigo. Mas não era isso. Não era isso.
Era a primeira vez na vida em que Ron e seu pai ficavam sozinhos para conversar. A primeira vez em que eles não estariam cercados de outros. E, por mais que os motivos que os tinham levado a esse momento fossem errados, era empolgante. Havia uma espécie de adrenalina naquilo tudo.
Ron sentou-se na cama, encostando-se à parede que ocupava a lateral dessa. Arthur sentou-se na cama, também, fazendo com que o colchão afundasse um pouco. O vampiro do sótão fez um barulho estranho, e Arthur sorriu, forçando um momento de descontração. E o estômago de Ron contraiu-se.
xx
"Existem pessoas boas no mundo, filho, e existem pessoas más. Quando vamos para a escola, ou até mesmo em casa, aprendemos basicamente tudo. O que fazemos com esse conhecimento é o que nos transforma em pessoas boas ou más. Só que, quando temos pais bons e viemos de uma família boa, é mais fácil seguirmos o exemplo e nos transformarmos em pessoas boas também. E o mesmo acontece com aqueles que têm uma família má. É normal que pessoas boas e más acabem se encontrando no meio do caminho, mas, quando isso acontece, as pessoas boas devem ficar distantes das pessoas más, para não serem influenciadas por elas".
xx
Pansy Parkinson vinha de uma família má. Uma família sonserina. Uma família preconceituosa – ele não sabia o significado disso, mas sabia, pelo tom da voz do pai, que era algo pesado, algo perverso. E, se vinha de uma família assim, ela seria assim. E ele – Ronald Weasley – deveria ficar distante dela. Para não ser influenciado.
xx
Três dias depois – o sexto, o penúltimo dia de castigo – foi Bill quem apareceu em seu quarto para trazer algumas das tortinhas de abóbora que comprara no trem, ao voltar de Hogwarts. Ele ainda tinha a gravata vermelha e dourada em torno do pescoço, meio frouxa.
"Amanhã você sai do castigo", o irmão mais velho falou, afagando-lhe os cabelos, enquanto ele enfiava uma tortinha inteira na boca. "Podemos dar uma volta de vassoura, o que acha?"
Ron tentou falar com a boca cheia, mas só conseguiu cuspir um pouco do doce ao fazer isso. Bill mandou-o mastigar de boca fechada e engolir antes de tentar dizer alguma coisa. Foi o que ele fez.
"Bill, por que os Parkinson são maus?"
"Porque eles torciam por Você-Sabe-Quem".
xx
Ron não realmente sabia quem, mas sabia que era o monstro que tentara destruir todos os trouxas. Ron também não sabia quantos trouxas existiam no mundo – nunca sequer vira um –, mas sabia que eram muitos. E, se um monstro tenta matar muitos qualquer coisa, ele é mau. E as pessoas que torcessem por ele, também.
xx
Aos dez anos, Ron tinha se esquecido de quase tudo que vivera aos seis. Esquecera-se, por exemplo, do gosto da tortinha de abóbora trazida por Bill naquele verão. Esquecera-se do que Fred e Jorge tinham feito para que seu pai os colocasse de castigo também. Esquecera-se de todos os machucados no joelho por cair da vassoura do irmão mais velho e esquecera-se da música que Percy insistia em tocar na flauta todas as noites.
Ron não se esqueceu, porém, de que aceitara o convite de Pansy Amelia Isabelle Parkinson para tomar chá em sua casa, naquela tarde. Não se esqueceu, tampouco, que sua própria casa caberia inteira, contando com o jardim, no salão de jantar dela. Não se esqueceu da cor das paredes – azuis – do quarto dela ou do tecido que forrava o edredom – seda – ou das bonecas que, enfeitiçadas, entravam e saíam e viviam em uma réplica da mansão que talvez fosse maior que o banheiro dele.
Ron não se esqueceu do nome do elfo particular de Pansy – Amelio, uma homenagem a ela mesma– e também não se esqueceu de que dissera que o nome do elfo dele, o único que tinha, era Arthur. O primeiro nome que lhe viera à cabeça.
E não se esqueceu dos sete dias em que ficara de castigo porque Pansy contara para o pai dela que o elfo de Ron tinha o nome do pai dele e a história se espalhara no Ministério, no dia seguinte.
xx
Mas o tempo passou. E surgiram novas coisas para serem lembradas. Ron guardou tudo que não esquecera no fundo da mente. E deixou lá.
xx
"Pansy Parkinson!", a professora McGonagall chamou, e Ron ergueu a cabeça.
Onze anos, ele tinha. Ela também. A diferença no tom de seus cabelos era brusca – o flamejante, a franja atingindo as sobrancelhas claras contra o negro frio dos cabelos lisos que iam até seus ombros, adornados por uma tiara verde de cetim. Ela subiu os degraus que a levariam ao banquinho do Chapéu Seletor, e seus sapatos de boneca eram negros e envernizados. Suas vestes eram novíssimas.
Ron olhou para os próprios sapatos velhos e para as próprias vestes gastas e sentiu vergonha. Ele fingiu que foi vergonha alheia, porque Pansy Amelia Isabelle Parkinson acabara de ser selecionada para a Sonserina (como ele já sabia que ela seria; como ela já sabia que seria), mas não era. Ele tinha vergonha de si mesmo perante a ela.
"Harry Potter!"
E perante a ele.
xx
O fundo da mente é um lugar filho da puta.
Continua
Nota Final:
Como vocês podem ter notado, o nome do capítulo veio de Iris do Goo Goo Dolls. Bom, é a música tema da fanfic, de qualquer maneira, todos os capítulos terão frases dela. E aí? Ficou bom? Ficou uma merda? HAHAHA deixem sua opinião e eu logo posto o segundo capítulo.
Ah. Sobre as atualizações. Eu estou escrevendo um livro, eu trabalho e estudo, então talvez eu atualize mais devagar do que deveria, mas é pelo bem maior! (: Espero que compreendam.
Obrigada à Lally pela betagem. Te amo, gata!
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