Prólogo
Era um dia estranhamente claro, o céu estava bem azul e com apenas algumas nuvens para nos dar cobertura dos fortes raios solares, mas apesar de todo esse clima terrível para nós, poderia ser um dia normal. Eu provavelmente não me importaria com o Sol, ou com os pássaros cantando, certamente ficaria sentada em meu quarto lendo um livro ou então apenas encararia o teto e me perderia em pensamentos. Mas aquele, não seria um dia normal. Eu não conseguia me manter calma nem mesmo por um segundo, estava inquieta. Me sentava em uma cadeira e me levantava no instante seguinte, olhava pela janela de minuto a minuto, corria os olhos pelas frases de meus livros abertos e nenhuma conseguia prender minha atenção. Sim, um vampiro deve aprender a ser paciente e não se importar tanto com o tempo, afinal de contas, somos imortais e as horas eram irrelevantes, mas porque a droga do relógio tinha que andar tão devagar!
Já faziam dois desde que ele havia saído pela porta da frente a mando de Aro para investigar um possível problema com as tribos do norte. Problema esse que, no final, não era nada mais do que algumas dúzias de vampiros que estavam colocando a nossa própria existencia em risco e, por isso, encontraram seu fim ali mesmo nas mãos dele e de Heidi. Dois anos que havíamos nos visto pela ultima vez e em que eu o havia esperado pacientemente, como disse que esperaria e em que havia sentido sua falta, como sabia que sentiria. Agora andava de um lado para o outro de meu quarto, ouvia meus passos ecoando pelas paredes e a cada vez que passava pela janela esticava o pescoço para tentar encontrar sua imagem. atravessando o piso irregular de nosso castelo, coberto por sua capa e capuz avermelhados, mas logo em seguida me dava conta de que seria impossível distingui-lo naquele mar de outros capuzes e capas vermelhas.
Eu estava entediada e inquieta por isso resolvi dar uma volta pelo castelo, quem sabe dava a sorte de me distrair o suficienet para não ver o tempo passar, ou então de encontra-lo vagando pelos corredores a minha procura, coisa que eu realmente duvidava, mas podia sonhar. Realmente encontrei outros, Caius, Demetri, Felix, mas não me importava com nenhum deles, eram apenas colegas de ofício, por assim dizer, quem eu realmente queria, a imagem que eu queria ter refletida em meus olhos não era a de nenhum deles.
Desci lentamente a grande escadaria de pedra que terminava no imponente hall, não tinha pressa em chegar ao meu destino, na verdade, não tinha destino, minha pressa era outra. Meu passos ecoavam tenebrosamente pelas paredes do castelo, do mesmo modo que estavam fazendo enquanto eu caminhava de um lado para o outro de meu quarto. O corrimão era feito latão e adornado de prata assim como as maçanetas de todas as portas do castelo, tenho certeza de que deveria ser gelado, mas eu não tive tal sensação sob as pontas de meus dedos, era como se estivesse tocando a minha própria pele. Continuava meu caminho indiferente a tudo a minha volta, nada faria diferença naquele momento, até mesmo a conversa vinda do hall não me importante. Deviam ser Marcus e Aro, ou então Alec e...uma voz de mulher. Heidi! Se Heidi estava de volta então ele também estava. Me apressei pelos últimos degraus para encontrar exatamente Heidi e Alec. Fiz mais barulho do que seria esperado, mas não me importava, só queria chegar rápido ali.
Os dois viraram em minha direção, mas fui eu quem falou primeiro. – Bem vinda, Heidi. – Ela me lançou um aceno de cabeça.
- Obrigada, Jane. Alec aqui estava me contando como estão as coisas por aqui. Calmas como sempre, não?
- Sim. Como sempre... – Meus olhos varreram rapidamente o local e ainda se precipitaram pela porta a espera de mais alguém, mas não encontraram ninguém. Claro que poderia ter perguntado a Heidi sobre ele, mas não queria. Não gostava de me mostrar assim vulnerável ou carente, claro que todos sabiam de nós, mas para qualquer um, além dele, eu gostava de ser apenas membro da guarda dos Volturi. Por sorte ninguém ali podia ler meus pensamentos e assim eu pude me juntar aos dois e fingir que o que diziam ali me interessava mais do que ele.
- Estava dizendo ao seu irmão como alguns vampiros simplesmente não sabem a hora de parar.
- Encontraram problemas? – Eu perguntei.
- Nada que não pudéssemos resolver.
- Vocês são uma dupla e tanto! – Senti um incomodo no meu estomago quando Alec fez esse comentário totalmente desnecessário. Eu sabia que ele havia feito de propósito, coisas de irmão e logo ele me pagaria por isso.
- Ah com certeza somos. Mas tenho que voltar para minhas responsabilidades logo ou todos morreremos de fome. Estou só esperando Aro libera-lo para me despedir. – Então ele estava com Aro, estava no castelo! Se pudesse sentir meu coração tenho certeza que ele estaria saindo pela minha boca nesse momento. Agora tudo o que precisava era me desvencilhar de Alec e Heidi, seguir caminho até o escritório de Aro e rezar para que tenha a sorte de encontra-lo pelos corredores. E foi o que fiz. Por sorte Felix se aproximou de nós e eu tive a desculpa que precisava para me afastar. Queria ter andado mais rápido, mas não queria parecer tão desesperada assim, não na frente deles, então me forcei a continuar naquele mesmo ritmo monótono que assumia todos os dias. O problema era que o caminho para sair de vista dessas pessoas dolorosamente longo, o chão parecia me puxar para trás a cada passo que eu dava para frente e os corredores pareciam nunca ter fim.
Uma eternidade pareceu ter passado e então, finalmente, estava embrenhada no labirinto de portas e paredes que já conhecia tão bem, agora era só torcer para que ele resolvesse seguir o mesmo caminho que eu, mas por enquanto ainda estava sozinha no silencio. Logo me dei conta que essa caça pelo castelo era inutil, era grande demais eu nunca conseguiria encontra-lo. Eu estava oficialmente desistindo, seria mais fácil sair pelo castelo chamando seu nome, seria uma vergonha, mas pelo menos o encontraria. Me encostei na pedra gelada e irregular das paredes e levei uma das mãos até a cabeça, queria tanto encontra-lo, mas e se Aro houvesse lhe designado uma outra missão? Afinal de contas ele era o melhor da guarda para trabalhos em campo, conseguia se misturar aos humanos com tremenda facilidade, era discreto e silencioso e, por Deus, como sabia controlar sua sede por sangue! Além de tudo isso, ainda era um excelente lutador, não tão forte quanto Felix, ou tão violento, mas muito habilidoso mesmo assim, nunca deixava pistas. Mas e se ele já houvesse partido novamente? Ou pior, e se ele houvesse me esquecido e encontrado conforto em outros braços?
Senti um aperto na garganta e um formigamento nos olhos, com medo de te-lo esperado em vão, com medo de ter sido a única que continuou a cultivar o que tivemos. Claro que isso não mudaria nada quando nos encontrassemos nas reuniões, nós ainda seriamos membros da guarda, mas a noite, quando eu voltasse ser apenas Jane, vagaria sozinha pelo meu quarto com a certeza de que aquele aposento vazio nunca mais vibraria com a sua voz, assim como eu.
- Foi um ótimo trabalho. Parabéns.
- Obrigado, mestre. - Eu ergui a cabeça rapidamente. Aquela voz... – É sempre um prazer servir a Ordem. – Não, não podia ser um engano. Era ele! Não me movi nenhum centímetro sequer, fiquei com receio de que meus movimentos pudessem espantar o timbre reconfortante que aquele eco trazia.
- Se apresse.
- Sim senhor. – Uma porta de fechou e passos começaram a se mover pelo corredor, estavam sumindo aos poucos, cada vez mais distantes, estavam indo na direção contraria! Não! Se não me movesse agora iria perde-lo novamente na imensidão do castelo, mas se o seguisse o que diria quando me aproximasse? Certamente não chamaria seu nome, ainda estava com o medo de que ele não me quisesse mais. Não conseguia me mover, ainda estava encostada na parede, cada musculo do meu corpo estava enrijecido e então os passos sumirem. Idiota, devia ter ido atrás dele! Aro devia te-lo mando em outra missão e ele não havia nem se dado ao trabalho de me procurar antes de partir outra vez.
Me desencostei da parede finalmente, muito mais depressiva do que desanimada, sentindo os musculos muito mais amolecidos do que tensos. Quanto anos mais seriam dessa vez até que pudesse ve-lo de novo? Quantas noites mais contaria sem a sua presença? Por quanto mais tempo teria de carregar essa duvida? Estava caminhando completamente sem rumo pelo castelo, não queria ir para lugar nenhum, não tinha destino, só tinha um incomodo crescente dentro do peito e uma pequena e fraca esperança de encontra-lo como que por mágica vindo na direção oposta do corredor.
Senti uma mão sobre meu ombro, estranho, não tinha escutado ninguém se aproximar durante a minha caminhada, mas suspirei irritada mesmo assim, não estava com paciência pra mais brincadeiras estupidas agora. – O que você quer, Alec?
- Eu não sou o Alec. – Me virei rapidamente. Era ele! Aquela figura esguia e pálida que me fazia tanta falta. Seus cabelos claros, alguns tons mais escuros do que a palha que cobria os estabulos estavam mais compridos e algumas mechas mais rebeldes insistiam em cobrir-lhe a testa, os olhos estavam assumindo um tom dourado escuro, bem menos claros do que os meus, logo ele teria que se alimentar outra vez, mas as linhas que desenhavam seu rosto, o nariz reto, as marcas de seu sorriso, o maxilar levemente quadrado, ainda eram as mesmas.
- Andreas
- Oi Jane.
