Um dia, alguém lhe perguntou se há arrependimento. Ele pensou, mas somente por que queria dar uma resposta séria, qual não demonstrasse a vivacidade do que sentia, do que mantinha escondido. Era apenas um velho cansado. Daqui um mês — ou será dois? — completaria 68 anos. Muita coisa para ele. Muita coisa para ela.
Bella olhou-o, tinha um sorriso brilhante no rosto magro e lívido. Estava na cozinha, assava um bolo, qual Martine já aguardava ao lado, assistindo a massa engordar com o passar dos minutos. Martine era pequena, oito anos, mas a inteligência não lhe dava esta idade. Os cabelos tinham o tom dos de Bella quando mais nova. Os olhos verdes, como os do pai. As tranças lhe deixavam com ar de mais criança e os graus que descansavam em seu nariz, faziam-na viver em constante briga com Edward. Este a chamava de quatro olhos e ela retrucava, dizendo que ele também usava óculos.
— Vovó, quanto tempo ainda vai demorar? — ela indagou.
— Não seja ansiosa, menina! Estará pronto rápido. Vá assistir um desenho, ou pintar. Ficar aqui, parada, olhando o bolo, não o fará crescer. — exclamou Bella com um sorriso dócil.
Martine bufou, mal humorada e foi até Edward, que acolheu-a carinhosamente, embalando-a em seus braços. A televisão foi ligada por Bella e os três mantiveram-se lá, juntos.
Edward olhou para ela, absorvendo de sua suavidade ao sentar, ao rir, ao brincar com Martine. Era a mulher mais linda que conhecia. Mesmo que seus cabelos castanhos e brilhantes não se perpetuassem. E seus olhos não evidenciassem mais a mesma inocência e infantilidade. Ela sempre será a Isabella. Aquela garotinha de anos atrás, dos olhos mais lindos que os dele.
Sorriu ao ver o anel de rubi circular os dedos envelhecidos de Bella. Ela nunca o largara em um canto, desde o dia que Edward o devolveu a ela, Isabella ficou com ele, colocou no dedo anular direito. Rubi é duro, resiste ao passado, ao presente e ao futuro. Assim como o amor deles; ele se eternizou como rubi.
