Em primeiro lugar, gostaria de pedir a compreensão dos leitores pela escolha dos casais. Não é segredo que sou fã de ShakaxMu, MiloxCamus, etc... mas não pretendo na presente fic juntar os casais mais comuns. Essa fic é um presente para o Cajango fofíssimo, a quem prometi escrever AioliaxMu algum dia, já que ele é fã do casal e mesmo assim lê as minhas fics ShakaxMu e as comenta. Obrigada à Mesarthim mais uma vez pela betagem! Para quem acompanha as fics Lemúria e Padma (perfil Mauvelotus – parceria Nathaliechan e Mesarthim), atualizações em breve!

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Encanto Grego – O primeiro dia

O primeiro dia de aula de Mu na Grécia ia bem. A barreira idiomática que lhe seria problemática para a compreensão das aulas fora quebrada durante o período de espera, imposto pela barreira burocrática para a regularização da situação acadêmica do rapaz. De origem tibetana, Mu passou a residir na Grécia para acompanhar o pai em seu novo emprego como escultor de estatuetas e pilastras do Hotel Femanis, um dos mais luxuosos da região metropolitana da cidade de Atenas, atualmente em reforma. Não é a primeira vez que Mu se encontra longe de seu país natal, visto que ainda pequeno mudou-se para a Inglaterra, onde seu pai trabalhava como restaurador de obras de arte. Em Londres deu início ao curso de Psicologia, e conheceu um dos poucos a quem considera amigos – e dentre eles o único com quem teve um relacionamento mais íntimo. A mudança não foi fácil, tanto por questões idiomáticas, culturais, climáticas, e pela ausência das pessoas com quem formou um vínculo de amizade, mas Mu decidiu-se por acompanhar o pai onde quer que ele fosse.

Um tanto acanhado ao chegar na sala de aula, o tibetano escolheu uma carteira mais ao fundo para não chamar a atenção dos colegas, o que seria impossível por conta de sua aparência física tão incomum: olhos puxados, cabelos lilases, e por fim a pele alva como a neve em um país tão quente. Sua primeira aquisição na Grécia, aliás, foi um protetor solar com o maior fator de proteção encontrado.

Mas como já foi dito, o dia ia bem, até o momento em que os colegas começaram a chegar. Entre murmúrios ninguém teve coragem de se aproximar do novato, o que causou a Mu uma sensação de que era observado tal como um ser exótico em um zoológico. Um recém-chegado, um loiro mui belo de longas madeixas cacheadas, não escondeu a perplexidade ao encarar o novo colega, parando diante dele por alguns instantes e aproximando-se em seguida com ar de curiosidade.

- Hum... então o seu cabelo é natural mesmo? Interessante... – Sem delongas, o rapaz pegou uma mecha de cabelo do colega que lhe caía ao ombro, fitando-a com um sorriso de canto estampado no rosto. Quando Mu levantou o rosto para fitar o colega, este se abaixou para fitá-lo, e o ariano se espantou ao perceber que o loiro tocava um dos pontos em sua testa.

- Por que você fez uma tatuagem na testa? Que coisa estranha... você depila as sobrancelhas? – A proximidade do rosto do outro fez com que Mu corasse, fazendo com que o grego gargalhasse. – Não precisa ficar com vergonha! Desculpe, eu não me apresentei, meu nome é...

- Milo, dá pra sair da frente ou tá difícil? Tá atrapalhando a passagem, sabia? – Mu virou o rosto para ver quem chegava, um rapaz da altura do loiro, de cabelos castanho-dourados e olhos tão verdes quanto os seus.

- Que foi, Olia? Dormiu comigo? – O loiro exibia um sorriso sarcástico, aparentemente nada disposto a sair dali.

- Bom dia, Milo. Dá licença, anda... – O recém chegado parecia cansado, suspirando em seguida.

- Fala sério, isso tudo é porque não agüenta ficar olhando pra minha bunda escultural sem apertar? A seca tá nesse nível, leãozinho? – Ao perceber o sorriso sarcástico do loiro se alargar, o outro prensou seu corpo contra a carteira de Mu, sentando-se em seguida na carteira atrás dele. Mu ouviu uma risada daquele que havia sentado atrás de si e percebeu que o professor encarava Milo com cara de poucos amigos, e este um tanto catatônito sentou-se rapidamente atrás de Aiolia, não antes de puxar com força os cabelos do colega que ria, murmurando uma palavra não abrangida pelo vocabulário grego de Mu.

O professor, mui mal humorado, decidiu aplicar um teste aos alunos, e o ariano se viu obrigado a escrever sobre a obra de Jung, em grego, logo no primeiro dia de aula. O professor estranhamente não o havia notado, aliás, parecia ser o único na sala a não ter notado o novato. Mu pensou em se apresentar ao professor quanto o entregou o exercício, mas este sequer levantou os olhos do livro que lia ao recebê-lo. O ariano optou por ficar calado, e assim saiu da sala em direção ao banheiro. Ao entrar na cabine, escorou as costas na parede e suspirou, tentando se acalmar e ser um pouco mais otimista quanto ao segundo horário.

Mu não pôde deixar de reparar que o professor parecia outro no segundo tempo. Andava de um lado para o outro, seu tom de voz era mais ameno e seu olhar menos rude. Impressão dele ou o professor olhava demais na direção da sua fila, porém um pouco além da sua carteira?

Quando o sinal de término da aula tocou, Mu se virou para o colega sentado atrás dele.

- Você poderia me emprestar o seu caderno? Eu preciso anotar a matéria das aulas perdidas e... – O ariano parou de falar ao escutar uma sonora gargalhada, que chamou a atenção de todos os colegas, que preparavam-se para deixar o recinto.

- E você acha que EU anoto matéria? – O ariano fitou o outro com raiva, tentando conter a sua personalidade explosiva ao sentir-se humilhado pelo gesto do grego.

- Muito obrigado. – E preparava-se para deixar a sala quando entrou um homem parecido com o grego que lhe respondera mal, porém mais alto, mais velho e vestido socialmente.

- Mu é você? – O tibetano pensou duas vezes antes de responder, acenando positivamente com a cabeça, surpreso ao ver parar ao lado do moreno uma figura idêntica ao professor mal humorado.

- Bom dia, meu nome é Saga. Sou o reitor deste estabelecimento de ensino. É um prazer recebê-lo na Faculdade de Psicologia. Meu irmão o recebeu bem?

- Ah... se aplicar prova pra sala porque eu esbarrei no Milo é receber bem, o Kanon foi ótimo! – O leonino respondeu prontamente, e o reitor olhou ao seu redor, suspirando aliviado ao perceber que só restavam ele, Aiolos, Kanon, Aiolia e Milo na sala de aula além do novato.

- Você não esbarrou em mim, seu desgraçado! Tava provocando o – Antes que Milo pudesse denunciá-lo, o professor tapou sua boca com a mão e segurou o loiro exaltado, enquanto o reitor levou as mãos ao rosto e suspirou.

- Perdoe-nos pelo inconveniente, Mu. Digamos que seu colega Milo é um tanto... desbocado quando nervoso. – O ariano percebeu o olhar repressivo do reitor para o aluno, que logo foi solto pelo professor e saiu da sala de aula a largas passadas, visivelmente alterado. O novato tomou as dores do colega para si e fez menção de seguí-lo no intento de tentar acalmá-lo, mas o professor mal humorado prontamente tocou-lhe o ombro.

- Eu cuido disso. Os problemas da instituição devem ser resolvidos pelo corpo docente, e o professor responsável pela turma sou eu. – O professor saiu da sala sem olhar para trás, deixando um Mu atônito junto a Saga, Aiolos e Aiolia. Diante daquela situação estranha, o veterano subitamente gargalhou, dando fim ao silêncio que se instalara na sala desde a saída do professor. Por fim, o homem parecido com Aiolia se aproximou deste, bagunçando-lhe os cabelos enquanto lhe dirigia um olhar terno.

- Eu ainda não me apresentei devidamente. Sou Aiolos Femanis, filho do proprietário do Hotel Femanis. Vim buscá-lo conforme orientação de meu pai. Não sabia que estava mesma turma que o meu maninho... – O sorriso do irmão mais velho parecia irritar profundamente ao mais novo, encabulado com o gesto do irmão.

- Dá pra parar de falar como se eu fosse criança, Aiolos? – Pela primeira vez o ariano viu o leonino enfezar-se, cruzando os braços e suspirando.

- Quando você parar de agir como uma... e nós estamos atrasados. Mu não deve estar acostumado a almoçar tarde e o pai dele vai ficar preocupado se demorarmos. – O grego tocou o ombro do irmão com uma das mãos e o ombro do tibetano com a outra, empurrando-os levemente para que andassem consigo.

- Até mais, Saga! Obrigado pela ajuda. - O moreno exibiu um largo sorriso ao fitar o loiro, sem deixar de empurrar seu irmão e um tibetano cujo rosto apresentava um tom rosado pela vergonha. Fato é que ele ainda não havia se acostumado aos costumes gregos, e principalmente à forma como os gregos se tocam naturalmente.

- Até mais... – O reitor exibiu um em meio ao seu ar de cansaço um discreto sorriso de canto enquanto observava Aiolos levando as "crianças" embora.

O mais velho abriu a porta do carro para Mu, esperando que ele se ajeitasse no banco traseiro do carro quando notou o rubor no rosto do rapaz.

- O que foi? Está com febre? – Antes que Mu pudesse protestar, o grego levou a palma da mão direita à sua testa para verificar sua temperatura. O sagitariano logo percebeu a expressão assustada do estrangeiro e lhe dirigiu um sorriso tão terno quanto o que dirigia ao seu irmão mais novo momentos atrás.

- A Grécia é bem diferente do seu país de origem, não? Imagino que esteja estranhando os nossos costumes e o nosso clima, mas... espero que se adapte logo. Pode contar comigo para que precisar, ok?

- Huhum... – Mu engoliu seco e acenou positivamente com a cabeça, afetado pela proximidade do mais velho e surpreso pelas palavras dele. Desde que chegara à Grécia, o acanhado ariano não havia feito amizades. Suas atividades se limitavam à leitura de livros de Psicologia que ele havia adiantado pela ânsia em estudar, quando não estava ocupado ajudando seu pai com as esculturas. O caminho até o hotel foi percorrido silenciosamente, pois o leonino falante parecia pouco disposto a falar com o irmão, que parecia perdido em seus próprios pensamentos. Obviamente, o ariano se manteve calado também, observando pela janela do carro a bela paisagem praieira.

Ao chegar no hotel, o tibetano agradeceu ao grego pela carona, avisou ao pai da sua chegada e seguiu para seu quarto, disposto a descansar um pouco antes do almoço. Deitou de costas sobre o colchão de mola e cerrou os olhos para descansar, e acordou com alguém esmurrando a porta de seu quarto. Preguiçosamente levantou da cama, abrindo a porta rapidamente ao imaginar que poderia ser seu "padrasto" preocupado com ele. Qual não foi sua surpresa ao reconhecer seu estúpido colega de sala à sua frente?

- Ô Bela Adormecida! – O leonino fez uma mesura como se cumprimentasse uma dama - Pensei que tivesse morrido aí dentro, te chamei umas vinte vezes! Vem almoçar logo, tá todo mundo esperando! Meu pai cismou de reunir todo mundo pra falar sobre negócios... hunf... – O leonino parecia enfadado e Mu mordeu o lábio inferior para não responder mal àquele que o havia ironizado e o acompanhava tão somente para cumprir ordens paternas. "Não seria nada inteligente responder ao filho do chefe de meu pai..." –pensou.

- Obrigado pela gentileza, mas eu conheço o caminho para o salão. – O ariano usou todo o seu autocontrole para não perguntar ao grego se ele arrombaria a porta do quarto para beijá-lo caso ele não acordasse, já que se tratava de uma bela adormecida.

- Eu venho até aqui bancar a babá e você ainda me responde desse jeito? Hunf... – O leonino fitou o ariano com ar de indignação. Mu, por sua vez, cravou as unhas nas palmas das mãos em uma tentativa frustrada de conter seu gênio explosivo, sentindo seu rosto queimar pelo nervosismo. O ariano deu um passo à frente, prestes a responder ao grego atrevido quando Aiolos os interrompeu com um assovio vindo do início do corredor.

- Aiolia, você poderia deixar para irritar o seu colega mais tarde? – A voz grossa ecoou pelas paredes do corredor, fazendo com que Mu estremecesse, desistindo de responder ao leonino.

- Mas que droga! Me deixa em paz, Aiolos! – O mais novo saiu a largas passadas para o salão onde era servido o almoço, deixando o mais velho e o colega para trás.

- Ele é irritante quando quer, não? – O mais velho deu um sorriso ao ver o irmão sumir pelo corredor enquanto o ariano fechava a porta do quarto.

- É... – Mu se limitou a concordar com o outro, apesar de ter ganas de amaldiçoar Aiolia. Suspirou, se perguntando quanto tempo agüentaria as provocações dele.

- Mas apesar das aparências, meu irmãozinho tem um coração de ouro... – O tibetano notou o ar de orgulho do irmão mais velho, respondendo-lhe com um sorriso de canto. "Irmãos mais velhos... serão eles tão cegos quanto os pais? "

Ao chegarem no salão onde era servido o almoço, Mu notou que Aiolia já se instalara e comia petiscos, aparentemente alheio à conversa de negócios. Fitou seu pai com um breve sorriso, observando a preocupação nos olhos magenta.

- Está bem, filho? Estava dormindo? – O ariano de longos cabelos esverdeados perguntou preocupadamente enquanto Mu sentava-se ao seu lado.

- Sim. Obrigado, pai. – O tibetano respondeu-lhe com um sorriso sincero, que murchou quando o olhar do ariano cruzou o do leonino que o fitava com um sorriso sarcástico. E assim trocaram olhares nada amigáveis durante todo o almoço.

A tarde passou rapidamente enquanto Mu lia mais um livro, buscando informações para redigir um artigo. O ariano prostou-se à janela ao perceber que o sol já se punha, e observou atentamente à diversidade de cores que a natureza o oferecia. "Apesar de tudo, eu não poderia afirmar que a Grécia não possui os seus encantos..."

FIM DO CAPÍTULO

ATÉ MAIS! BJOCAS,

NATHALIE CHAN