Os personagens do universo de Buffy The Vampire Slayer são criação de Joss Whedon e pertencem a ele. Também peguei o universo de George Lucas e inseri os personagens de Whedon nele. Não tenho a menor pretensão de permanecer fiel a cronologias... são universos paralelos.

ALERTA: A personagem central é Willow, logo esteja avisado para cenas de relação entre duas mulheres. Há também incesto, violência e relações que provavelmente os possíveis leitores podem odiar.

Essa só é uma história que escrevi há muitos anos (porque não tinha muito que fazer) e só agora decidi torná-la pública. Enjoy!

As linhas em itálico são Flashbacks (mas não é Lost).

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Senti o meu corpo caindo inerte no ar. Eu podia ver cada dobra do tecido da minha roupa tremular com o vento, podia ouvi-lo e senti-lo tocando em minha pele. Nada além dele tocava o meu corpo. Meus braços estavam abertos. Era como na época que era uma criança. Brincava com meus amigos de bola e quando marcava o ponto, saía comemorando com os braços abertos, correndo em ziguezague. Era uma sensação boa, de desequilíbrio, de cair e não cair, do vento bater em meu rosto e levantar os meus cabelos. Era o mais próximo de voar sem máquinas na minha percepção infantil. A minha lembrança sumiu com o impacto na terra batida. Senti o ar deixar os meus pulmões num instante e ali começou a minha luta para tê-lo de volta. Concentrei cada fibra do meu ser no trabalho de trazer o invisível precioso para dentro de mim. E foi com dor que o oxigênio voltou ao meu corpo. Na medida em que ele rompia cada barreira em seu caminho, eu via o mundo recobrar a velocidade. Ficava rápido demais. A poeira bailava ligeira no ar, as folhas já estavam no chão, o ferro do sangue amargava a minha boca, o som ambiente roubou o lugar do vento. Então eu pude escutar os passos vindos firmes em minha direção. Um, dois, três, quatro, cinco e uma sombra cobriu o meu rosto. Pude ver a dona trazendo a ponta de sua arma nobre de cor azul para perto do meu pescoço. Podia sentir o calor da energia que emanava do sabre beliscando e queimando minha pele sensível. Já não havia mais nada por fazer. Perdi.

_ Fim da linha, Rubra – ouvi sua voz ecoando em minha mente – você morreu aqui.

Não era o som da sua vitória e isso me incomodou. Eu não era o seu triunfo. Eu era a sua designação. A pena em sua voz doía mais do que os cortes em minha carne, do que meu corpo cansado. Não respondi. Fechei os meus olhos e esperei pela misericórdia de meu oponente. Que ele acabasse com minha desgraça ali mesmo num golpe rápido e preciso. Que meu inimigo degolasse meu pescoço e me libertasse sem dor de uma vida cheia de sofrimentos. Mas isso nunca aconteceria porque minha morte representaria sua culpa, o seu fracasso completo. Irônico! Qualquer um que tivesse a habilidade de me derrotar, anunciaria isso como um troféu raro da competição mais complexa. Mas não ela. Ouvi o flash de sua arma sendo recolhida e depois suas mãos fortes virando o meu corpo, puxando meus braços para trás. Em segundos ela uniu meus dois pulsos e eu havia virado prisioneira. Minha carreira havia chegado ao fim.

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Não me lembro exatamente da primeira vez que a vi, porque é como se ela sempre tivesse feito parte da minha vida. Cansei de ouvir meu pai contar a mesma história dezenas de vezes. Eu tinha três anos e estava brincando com minhas bonecas. Minha mãe instruía as empregadas sobre o cardápio do almoço. Foi quando meu pai chegou em casa de mãos dadas com ela. Ele nos chamou e contou a novidade. A partir daquele momento teríamos um novo membro na família. Os pais dela eram empregados da mineradora que meu pai era proprietário e eles haviam morrido num acidente. Por conta disso, o destino dela seria o orfanato ou a adoção. Bebês eram facilmente adotados, crianças de sua idade já eram uma incógnita. Meu pai não quis que ela ficasse nas mãos de desconhecidos, ou esquecida no orfanato porque lá eles não saberiam trabalhar todo o potencial que ela tinha. Por isso a trouxe para dentro de casa. Era apenas um ano mais velha que eu o seu primeiro contato com a nova família foi de muita timidez. Papai contava que ela se escondia atrás de suas pernas, com medo. Foi quando eu me aproximei e lhe mostrei uma boneca. Perguntei se queria brincar e ela aceitou. Passamos o dia todo no quarto brincando com as bonecas e a partir daí nos tornamos irmãs.

Mamãe é que nunca gostou da novidade. Ela sabia que meu pai não era o homem mais fiel do mundo. Meses antes havia descoberto que ele havia tido uma filha ilegítima quando ela tinha recém-descoberto sua própria gravidez. Ela nunca demonstrou raiva ou cobrou fidelidade dele. Ao invés disso descontou sua frustração em cima dela. Estava convencida que ela era a filha ilegítima do papai. Mamãe a adotou legalmente, mas ela nunca recebeu as mesmas coisas que recebi. A começar por causa das leis. Filhos adotivos não tinham o mesmo direito a herança, por exemplo, dos filhos legítimos, a não ser que esses últimos não existissem. Mas era obrigação dos pais adotivos fornecer todo o apoio que a criança necessitaria para viver bem até os 18 anos, a maior idade humana. Minha mãe nunca a tratou bem.

Papai sempre detestou as grosserias de mamãe contra ela, e por isso sempre procurou compensar a humilhação e gritarias com carinho. E como os dois se davam bem! Papai se entendia melhor com ela do que jamais o fez comigo. E quanto a mim? Demorou um tempo para entender porque o quarto da minha irmã não era igual ao meu, porque ela era impedida de ir as festas das famílias mais ricas e importantes, ou mesmo porque a minha mãe vivia a castigando pelos motivos mais idiotas. No mais era bom tê-la em casa. Por ser tímida demais, eu era perseguida pelas crianças mais despojadas da escola e seria pior se não a tivesse por perto para me defender. Ela brigava por mim, tomava conta de mim. Nós, sempre que podíamos, estávamos juntas. Ela inventava ótimas brincadeiras que coloriram o meu mundo. Eu, por outro lado, a ajudava com os estudos. Na medida em que crescíamos, eu passei a protegê-la da minha mãe. Deus sabe como eu amava a minha irmã mais velha, a minha protetora, o meu exemplo. Deus sabe como eu a odiei por muito tempo!