Eriol
Eu sinto o suor escorrer
em minha testa
Sou eu ou são sombras
Que dançam na parede?
Isso é um sonho ou é o presente?
Isso é uma visão ou normalidade
O que eu vejo diante de meus olhos?
Eu pergunto por que, eu pergunto como
Parece que as forças ficam maiores a cada dia.
Eu sinto uma força, um fogo interior,
Mas eu estou amedrontado,
Eu não serei capaz de controlá-las novamente.
Há um tempo para viver e um tempo para morrer
Quando é hora de encontrar o Criador
Há um tempo para viver mas você não acha estranho
Que assim que você nasce você já esteja morrendo
Apenas olhando em seus olhos
Ele podia ver o futuro
Penetrando em sua mente
Ver a verdade, ver suas mentiras
Mas com todo seu poder não pôde
Prever sua própria morte
Há um tempo para viver e um tempo para morrer
Quando é hora de encontrar o Criador
Há um tempo para viver mas você não acha estranho
Que assim que você nasce você já está morrendo
...e renascendo novamente?
(Iron Maiden, The Clairvoyant)
Eriol olhou para a lareira,
onde o fogo balançava como uma foice que dança na colheita de
trigo. Inúmeras faíscas saltavam da lenha e flutuavam no ar,
até se apagarem por completo. Aquela lareira, aquela casa, lhe
traziam tantas lembranças. Lembranças de um tempo passado, de
uma vida que, há muito tempo, deixara de existir. Eriol fitou o
fogo demoradamente. As chamas acendiam em sua memória, faíscas
de lembranças antigas. Pois fora no fogo que ele as recuperara,
e era no fogo onde ele as via sempre. Novamente, Eriol mergulhou
profundamente em seus pensamentos, em suas lembranças. E quando
isso acontecia, nem mesmo ele podia distinguir o passado do
presente.
Isso é um sonho ou é o presente?
Isso é uma visão ou normalidade
Que eu vejo diante de meus olhos?
"Naquela época, eu era conhecido apenas como Clow, o Mago
Clow Reed. O bruxo mais poderoso do universo. Eu tinha descoberto
coisas que ninguém nunca sequer sonhou poder existir e feito
coisas que ninguém nunca jamais sonharia fazer.
Até que comecei a perder o controle sobre as coisas e a perceber
que uma desgraça poderia acontecer se a situação não fosse
contida.
Eu percebo que as forças ficam maiores a cada dia.
Eu sinto uma força, um fogo interior.
Mas eu estou amedrontado, eu não serei capaz de controlá-las
novamente.
Depois de muito estudar, finalmente encontrei uma solução para
meus problemas. Tranquei os elementos da natureza e a magia do
mundo em cartas, e as selei dentro de um livro. Foi assim que
criei as famosas Cartas Clow. Para protegê-las, criei Kerberos e
Yue. Ambos me serviram muito bem. Na época, foram meus melhores
amigos; os únicos, eu acho. Kerberos era forte, extrovertido,
engraçado e comilão. O oposto completo de Yue, que era fechado,
mal-humorado e genioso. Mas ele era muito fiel. Acho que nunca
conheci uma criatura nesse mundo que fosse mais fiel do que Yue
foi à mim. E ele foi quem mais sofreu quando tive que partir.
Mas se tem algo que aprendi, foi que o tempo chega para todos
nós, e ninguém pode detê-lo. Tudo faz parte de um imenso
ciclo. Ainda me lembro do diálogo que tive com Yue no dia de
minha morte.
"Por que, Clow!" ele me perguntou. "Por que você
vai-se deixar morrer?"
"É preciso." respondi. "Mas não se preocupe.
Você vai encontrar um novo dono, Yue."
"Não quero um novo dono, Clow." protestou Yue.
"Não quero que a Morte chegue até você! Não quero que
Ela te alcance!"
"Fala da Morte como se ela fosse o pior de todos os
males." falei.
"Ela é o pior de todos os males!" retrucou Yue.
"Não, ela não é." respondi calmamente. "A Morte
não é boa e também não é má. Ela apenas existe. É uma mera
conseqüência na existência de todo ser vivo. Não existe Vida
sem Morte, assim como a Morte depende da Vida para existir."
"Não compreendo." ele disse. Pude sentir um certo tom
de angústia em seu tom de voz.
"Você irá entender quando chegar o momento certo."
respondi. "Por hora, entenda apenas que devo morrer para que
outra pessoa tome meu lugar. Logo você irá encontrar um novo
dono. E inclusive me atrevo a dizer, por que não uma dona?"
Há um tempo para viver e um tempo para morrer
Quando é hora de encontrar o Criador
Há um tempo para viver, mas você não acha estranho
Que assim que você nasce você já esteja morrendo
... E renascendo novamente?
Naquela mesma tarde eu morri. Morri nesta mesma casa, em frente a
esta mesma lareira, sentado nesta mesma cadeira. De alguma forma,
sempre estive ligado a este lugar. Minha alma vagou por tanto
tempo e por tanto lugares. E foi então que percebi como a vida
é curta, e que temos que aproveitá-la ao máximo. Aprendi que o
sentido da vida, é o simples fato de estarmos vivos. Nós
nascemos, nós crescemos e nós mudamos. Mudamos para nos
adaptarmos às novas gerações. Morremos para que outros possam
tomar nosso lugar e completar o que não pudemos. E assim damos
continuidade ao grande ciclo da Vida. Pois assim como os ossos em
nossos corpos, nós seres humanos, estamos ligados a este grande
organismo que chamamos de Mundo.
E após muito vagar, pude voltar para este mundo, para esta casa.
Como este lugar me trás lembranças. Ontem, Sakura terminou de
transformar as minhas Cartas Clow em suas Cartas Sakura. Seus
poderes são maiores do que eu esperava que fossem. Mas o
importante é que meu objetivo foi concluído, e que Sakura pôde
terminar o que eu não terminei, e dar às Cartas, todo amor que
elas precisam. E por falar em amor, Shoran, meu pequeno
descendente, declarou seu amor para Sakura ontem, após a
batalha. Confesso que me diverti bastante com a expressão
confusa de seu rosto. A pequena Sakura ainda não aprendeu a
ouvir seus próprios sentimentos..."
"Eriol." chamou Nakuru, interrompendo seus pensamentos.
"Sim, Nakuru." respondeu o garoto.
"Sakura e seus amigos estão aqui."
"Perfeito. Prepare a mesa e sirva chá para todos. Eu já
estou indo." disse Eriol, levantando-se da cadeira e
dirigindo-se até a sala para recepcionar seus amigos...
E então, gostaram? Espero que sim. Qualquer sugestão ou crítica, me mandem um e-mail, que eu responderei com todo prazer.
Peace and Love to all and each one of you.
Felipe S. Kai
