No limite da espera - 2a Temporada Autor(es): ~Dasf-chanSinopse

Após retornarem do inferno de Hades, os cavaleiros de bronze se recuperam e os de ouro são revividos. Modificações nos cosmos dos protetores de Athena, especialmente de Shun de Andrômeda, exigem treinos diferenciados. Algumas novas habilidades permanecem latentes. Existem limite para esses novos dons? O quanto podemos esperar deles? Alguns ultrapassam o limite da espera.
Fanfic continuação de "No limite da espera – 1ª Temporada".

Aviso Legal
Alguns dos personagens encontrados nesta história e/ou universo não me pertencem, mas são de propriedade intelectual de seus respectivos autores. Os eventuais personagens originais desta história são de minha propriedade intelectual. História sem fins lucrativos criada de fã e para fã sem comprometer a obra original.

Índice

1 - Um sopro de renovação

2 - Um pouco de paz

3 - As aparências enganam

4 - Missão aos cavaleiros de ouro

5 - Mágoa contida do Cisne

6 - Laços de amizade

7 - Irmãos superprotetores

8 - O início dos treinamentos

9 - Sentimentos raros

10 - O misterioso Mestre Indiano

11 - Caminhos ilusórios

12 - Sentimentos de fogo

13 - Sonhos de gelo

14 - Equilíbrio de emoções

15 - Um sorriso, apenas

16 - Culpa e remorso

17 - Brilho sob a forja

18 - Aparente paz

19 - Vingança

20 - O poder do perdão

21 - Epílogo

1. Um sopro de renovação

Do final do "Capítulo 20 – Uma nova etapa", da 1ª temporada da Fanfic "No limite da espera"

Os limites haviam sido quebrados por uma imensa força altruísta, sobrepujando inclusive as regras olimpianas. Não havia mais espera, seus cavaleiros estavam em segurança. Athena podia descansar tranquila como a muito tempo não foi possível, sob espaço profundo do céu da Grécia salpicado de estrelas.

Seus cavaleiros de ouro e de bronze estavam seguros em seu Santuário e o suave vento da madrugada de outono trazia, junto com a nova estação, novos ares, mudanças e o vislumbrar de uma nova etapa de aprendizado para os servidores fiéis de Athena. O chão do Templo ainda guardava as marcas da cerimônia que havia sido realizada; o cheiro de sangue misturado com os aromas de alecrim e sálvia ainda permaneceriam naquele local por muito tempo.

Iniciava-se a primeira madrugada do outono no Santuário. Uma brisa fria soprava do mar e avançava pelas ladeiras e escadarias da montanha. A deusa havia pedido que todos se recolhessem a aguardassem novas instruções ao amanhecer; precisava descansar daquela cerimônia tão desgastante. Até os mais afoitos e ansiosos cavaleiros dourados cederam ao seu pedido carinhoso e gentil. Todos sentiam que novos ares de paz inundavam seus corações e que as indagações de outrora seriam sanadas conforme o sol clareasse cada sombra escondida em suas mentes.

Quase todos os cavaleiros, amazonas, e demais presentes no ádito sagrado descansavam durante a madrugada. Em um quarto dos aposentos do Templo, duas vozes eram as únicas a se pronunciar. Os olhos cansados fitavam uma dupla de orbes azuis curiosos.

– Olha, rapaz, ainda quero entender o que aconteceu. Se você quiser me contar, vai ajudar a passar o tempo, vou ficar sentado aqui até a deusa vir nos chamar pela manhã.

– Eu já estou lhe dando o trabalho de fazê-lo ficar acordado. Não é justo, você retomou sua vida e deveria aproveitar, eu já estou bem, veja... – Tentava se levantar de maneira a mostrar que estava realmente bem, mas sentiu uma forte vertigem, o quarto todo girou. Seria assim que os viciados em bebidas alcoólicas se sentem? Teria caído se os braços fortes do atento pisciano não o segurassem.

– Sua pressão sanguínea ainda não estabilizou. Acho que você deveria permanecer deitado. – Usando de uma delicada firmeza em seu tom de voz, deitou o menor na cama e puxou a cadeira na qual estava sentado para mais perto; assim, poderia conversar sem que o outro se esforçasse para manter o volume da voz. Um sussurro e escutaria cada sílaba. – Eu tenho minhas desconfianças, mas gostaria que você me esclarecesse alguns pontos. Assim, posso te ajudar.

– Eu... Bem... Me desculpe... – Dizia o virginiano deitado de lado, ainda pálido, pela vertigem que tivera, fitando os olhos curiosos à sua frente. Sua pele já era muito branca, por qualquer mal-estar empalidecia tanto quanto uma parede pintada de cal.

– Desculpar pelo quê?

– Por tudo que lhe fiz...

– Mas você me trouxe de volta à vida, junto com meus amigos de ouro, e até o Mestre Shion. Isso não é motivo para pedir desculpas.

– As desculpas são por antes, pela guerra, pelo sofrimento que provoquei, gostaria de ter podido evitar, eu podia...

– Não pense assim, não é bom. Você fez o que acreditava certo e eu fiz o que julgava melhor. Estávamos lutando pelos ideais que pensávamos serem os mais nobres. Não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos nos dar uma nova chance para o futuro.

– ...

Um penoso silêncio parecia banhar os dois. Eram emoções profundas, sentimentos guardados por tempo demais. Afrodite desejava entender o que havia acontecido, mas não queria forçar o outro a contar. Outra abordagem poderia ser mais eficiente.

– Seria melhor dormir, você precisa se recuperar. Não percebeste ainda o que houve contigo, não é?

– Recordo de quando vi Koré se aproximando de mim, no Templo, e depois de acordar aqui.

– Mais nada?

– Somente imagens que me parecem sem sentido, e dessa dor nas costelas. Lembro da voz do meu irmão, um aperto no peito... Lembro de estrelas cadentes... É estranho. Eu não estava com esta roupa, usava uma túnica preta de linho, o apropriado para fazer o que era preciso. Lembro de conversar com alguém, uma moça, de cabelos pretos. Ai, acho que estou falando demais... – Segurava o próprio tórax com os braços, pois sentia doer por dentro a cada respiração.

– Sabia que você sangrou muito e seu irmão ficou desesperado tentando te reanimar? Por isso está com dor, deve ter trincado ou quebrado alguma costela. Mas acho que não perfurou nenhum órgão vital, senão você estaria em pior estado.

– O Ikki desesperado? Meu irmão? Você tem certeza?

– E por que eu mentiria? Aliás, eu odeio mentira e falsidade!

– Então, acho que você vai me odiar… Não somente você, mas todos meus amigos e, principalmente, senhorita Saori...

– Por que? Está sendo falso comigo? Ou foi falso com alguém?

– Não… Eu menti…

– Mentiu sobre o quê? Se quiser, prometo não contar a ninguém, nossa conversa ficará aqui.

– Não precisa prometer… Eu sabia dos riscos, o médico me falou que a contagem das minhas plaquetas estava baixa e que eu poderia ter problemas com a coagulação de sangue. E eu deveria ter contado para Saori, mas não queria que ela tivesse dúvidas sobre o ritual… Eu só queria fazer o certo, sem machucar as pessoas que amo…

– Mas acabou machucando quem deveria amar antes de qualquer outra pessoa!

– Não compreendo, quem eu machuquei?

– Machucou a si mesmo. Como quer amar e demonstrar amor se não consegue amar a si mesmo, rapaz?

– Não sei o que dizer… Sempre penso primeiro nos outros, e achava que isso era bom…

– Até quase deixar esvair seu sangue por completo para esconder uma verdade. Como acha que os cavaleiros de ouro se sentiriam, ou nossa deusa, ao saberem que poderiam evitar sua morte se tivesse contado sobre seu estado de saúde? A transfusão de urgência que fiz poderia ter sido feita antes do ritual e você não estaria assim encharcado em si mesmo.

– Então, isso que está colado no meu cabelo é sangue? – E passando as mãos pelos cabelos antes sedosos, percebeu que os mesmos estavam embaraçados e sujos.

Diante do cavaleiro mais belo de todo o exército de Athena, devia estar horrível. Lembrou-se dos resultados dos exames e das consequências que o médico havia lhe explicado. Não havia contato a ninguém sobre o risco que decidiu enfrentar. Nem a própria deusa sabia de seu real estado antes do ritual, havia dito apenas que se sentia bem o suficiente para realizá-lo, e ela confiou no que havia dito. Não queria deixar passar a chance de realizar algo de bom em prol do Santuário. Algo que, somente com sua ajuda, poderia ser feito. Pensava tudo de uma vez só, diversas dúvidas pairavam em seus pensamentos, quando a voz o cavaleiro de Peixes o despertou de sua desorientação.

– Percebo que ainda está um pouco confuso. Seria bom se dormisse um pouco.

– Dormi tanto nos últimos dias... eu só queria que todas as lembranças sumissem, fechar os olhos e não acordar mais... Quanta gente eu machuquei... A justiça não é uma desculpa... A verdade é que eu feri muita gente... Fisica e emocionalmente, incluindo alguns dos meus amigos... O resultado de uma batalha sangrenta... É outra batalha?!... A paz nunca chegará, mesmo que a gente se esforce? – Vertia pequenas gotas que aumentavam em quantidade enquanto fala. – Nem sei por que estou contando estas coisas... – Começava a ser difícil segurar as gotas cristalinas que teimavam em cair.

– Porque não é bom guardar todos esses sentimentos somente para si, nem querer utilizar a fuga para não enfrentar os problemas. Você não tem o controle com relação às escolhas dos outros, nem a nossa deusa. Nós lutamos porque acreditávamos ser o caminho para alcançar o que era preciso. Você entende isso?

– Eu só queria esquecer...

Liberando-se para demonstrar a exaustão emocional em que se encontrava, permitiu que um rio de lágrimas emergisse e banhasse seu rosto pálido. Tentou, em vão, esconder o rosto entre as finas mãos. Soluçava em um choro sentido, há muito guardado, desde que despertou da possessão de Hades ainda em Guidecca. Desde que acordou no hospital. Desde que foi para Mansão. Desde tanto tempo que nem lembrava… Soluçava como que nunca houvera vertido lágrimas em sua vida, era como se um segredo em formato de um cristal guardado por muitos anos saísse de si e quebrasse em mil pedaços. Não chorava de alívio, não era o que sentia. Não chorava de mágoa, esse sentimento não fazia morada em seu puro coração. Chorava por desejar a paz tão ausente dentro de seu peito. Desejava voltar aos floridos Elíseos onde buscou, com seus queridos amigos e irmão, salvar Saori. Os lindos Campos Elíseos do submundo. Desejava aquela paz que sentira quando lá acordara depois de atravessar o muro das lamentações.

O mais velho divisava o querubim caído tremendo em meio aos soluços de pranto. Queria entender o que havia acontecido e o que estava sentindo naquele momento. Por que preocupava-se com o menor? Seria a face angélica do outro? Ou estava aprendendo compaixão? Estar entre as estrelas de sua constelação guardiã deve ter causado algum tipo de mudança em sua peculiar maneira de experimentar os sentimentos alheios. Sentia empatia por aquele que chorava à sua frente, a vontade de abraçá-lo e consolá-lo parecia algo novo em si, talvez fosse melhor que se permitisse experimentar como seria se tomasse a atitude que seu coração pedia. Levantou-se e sentou na beira cama, com as costas na cabeceira; cruzou as pernas, apoiando-as na cadeira.

– Pode chorar o que precisar, vai sentir-se melhor. – Colocando a mão sobre os ombros daquele que chorava de forma inconsolável, o puxou para próximo. Emanava seu cosmo de forma que o menor foi acalmando-se, e uma pequena paz pareceu tomar conta do ambiente, junto com um suave aroma de rosas. Sentia que o outro, aos poucos, parava de soluçar e respirava mais tranquilamente.

Antes de deixar-se levar pacificamente para o mundo dos sonhos, o virginiano ainda mirou o cavaleiro que estava sentado em sua cama. Sua linda armadura dourada brilhava como nunca havia visto. Seu portador estava de os olhos fechados, como em uma prece silenciosa, podia sentir seu cosmo calmo e acolhedor, era como se não estivesse deitado em uma cama, mas no gramado fofo e refrescante de um jardim repleto de rosas perfumadas. Antes de sentir-se fora de si mesmo, agradeceu, entre um suspiro e algumas lágrimas que rolavam entre seus dedos, molhando mais o lençol já encharcado.

– Obrigado, Afrodite.

– Não por isso, Shun. Repouse tranquilo.

A madrugada agitada logo daria lugar à bela manhã do outono grego. Por mais algum tempo, poderiam usufruir da companhia um do outro e de uma pequena paz por tanto tempo almejada, enquanto a nova estação trazia ao Santuário um sopro fresco de renovação.

(Continua...)