Disclaimer: 'Bonanza' e suas personagens originais pertencem a David Dortort e NBC. Qualquer semelhança com personagens, pessoas vivas ou mortas, locais ou acontecimentos terá sido mera coincidência.

- Mais uma cerveja, Sam – disse Hoss Cartwright, batendo levemente o copo de vidro sobre o marcado balcão de madeira.

Hesitando um pouco, o barman atendeu ao pedido. Hoss também havia parado rapidamente para pensar no que estava fazendo. Já tinha bebido muito, mais do que o de costume, aliás... Havia parado em Virginia City apenas para tomar uma cerveja quando na verdade deveria ter ido diretamente para Ponderosa levar de volta o carregamento de madeira que um cliente havia desistido de comprar. As coisas estavam um pouco difíceis e mesmo tendo assinado o contrato com seu pai, o cliente desistiu da compra devido aos problemas financeiros. Inferno, que calor insuportável... Talvez devesse tomar mais uma cerveja. Com certeza era o calor que o havia feito beber tanto. Sim, o calor... Mas era melhor que fosse logo para casa, ou o seu pai mandaria que Adam e Little Joe viessem atrás dele.

Pagou a cerveja e respirou fundo antes de se virar para ir. Ao fazer isso, viu uma jovem belíssima entrando no Silver Dollar, carregando algumas malas e com uma expressão preocupada. A moça tinha a pele clara como a neve, os olhos verdes como duas esmeraldas recém lapidadas e os cabelos vermelhos como a chama mais alta. Ficou tão admirado com aquela visão que achou estar tendo algum tipo de miragem devido à mistura de calor e bebida alcoólica e por alguns minutos, não conseguiu se mexer.

Olhando rapidamente ao seu redor, a moça se dirigiu ao balcão, bem ao lado daquele homem enorme e imóvel e disse ao barman que procurava por emprego.

- Sinto muito, moça... – ele respondeu – Com certeza o número de clientes aumentaria se eu tivesse alguém como a senhorita trabalhando aqui... – o olhar percorreu todo o corpo esbelto dela – mas a situação anda um pouco complicada e no momento não estou contratando ninguém.

- Mas senhor... – insistiu ela, com uma nota angustiada na voz – Eu posso fazer qualquer coisa: servir as mesas, tocar, cantar e dançar... Tudo! Preciso apenas que me dê uma chance!

- Eu já disse que não. – Sam respondeu já irritado – Você parece ser uma mulher fina, já fez esse tipo de coisa antes?

Engolindo em seco, ela não pôde negar:

- Não, mas eu posso aprender! Tenho a mesma capacidade que elas, ou não estaria aqui.

- Vá embora, moça. Isso aqui não é lugar para você.

Tentando engolir a frustração, a jovem pegou as malas, mas atravessou as portas do Silver Dollar com a cabeça erguida. Vários dos homens que estavam bebendo e jogando no saloon naquele momento cochicharam sobre a beleza dela e a cena que havia acabado de acontecer. Inclusive as mulheres que trabalhavam lá disseram que era um despeito ela achar que Sam demitiria alguma delas só para contratar alguém mais bonita.

Um quarteto de homens bêbados saiu do saloon e rapidamente foram até a mulher que, distraída, esperava com suas malas a passagem de uma carruagem para atravessar a rua.

Saindo de seu torpor, Hoss deixou o saloon bem na hora em que ela foi abordada pelos homens.

- A moça está procurando emprego? – disse um eles com o rosto sujo próximo ao dela – Eu sei onde a dama pode ser útil...

Tampando o nariz com as costas da mão a fim de conter o enjoo pelo cheiro fétido que emanava dele; ela tentou se desvencilhar com as poucas forças que tinha dos demais que apertavam seu outro braço com força.

- Não, me soltem, por favor! Não quero trabalhar para vocês... Me soltem! Socorro!

Mais rápido do que imaginava poder, Hoss tocou o ombro de um dos bêbados e o apertou com tanta força que ele caiu no chão.

- Vocês ouviram o que a moça disse. Agora, deem o fora daqui!

- Não se meta conosco, Cartwright! – disse o outro antes de cair ao receber o soco que ele lhe desferiu. E mais rápido ainda, Hoss distribuiu mais socos nos outros homens, que caíram todos desfalecidos sobre o chão de poeira.

A cena toda transcorreu de forma tão rápida que ela mal percebeu o que havia acontecido. Só sabia que aquele estranho havia salvado sua vida e que nunca tinha visto um homem tão forte antes.

- Você está bem, moça?

- Uh... Ah, sim!... Estou muito obrigada! – ela respondeu, retomando o controle de seus pensamentos.

- Meu nome é Hoss Cartwright. – estendeu a mão, que ela delicadamente tocou – Pretende ficar muito tempo em Virginia City?

- Sim, era o que eu pretendia... Prazer em conhecê-lo, sou Nielle Arwing.

- Bem, Srta. Arwing, eu a ajudarei com as suas malas. O hotel fica do outro lado.

- Ah, não!... Não é necessário, Sr. Cartwright. – ela o interrompeu com a mão. Na verdade, não havia sobrado muito dinheiro das últimas joias que havia vendido. Vendera algumas de suas joias mais valiosas e poderia ter conseguido muito mais por elas se não tivessem lhe oferecido tão pouco. Eram joias pessoais, outras que ganhou de pretendentes, só não tivera coragem de se desfazer das que herdara da mãe... Algumas das poucas lembranças que tinha dela estavam ali.

Usara parte do dinheiro para comprar vestidos mais simples (havia trazido consigo poucos dos mais elegantes que tinha), três pares de sapatos, três chapéus, luvas, quatro dias com jantar e café da manhã em hotéis baratos ao longo do caminho e as passagens até Virginia City. De todos esses gastos havia sobrado bem pouco, provavelmente não o suficiente para uma diária em um hotel. Agora precisava lutar pata para conseguir um emprego e aquele homem já havia sido muito gentil com ela, não queria abusar dele.

- É que... Gastei tudo o que tinha com a viagem. – admitiu, embaraçada – O que tenho não é o suficiente para passar a noite em um hotel. Eu esperava poder encontrar emprego em algum lugar, mas...

- Não se preocupe com isso, Srta. Arwing. Venha para o rancho da minha família até conseguir um emprego. Não há perigo, somos conhecidos na região, moro lá com meus pais e irmãos.

- Eh, mas... Não será um incômodo? Você mal me conhece!

- Eu a conheço o suficiente para saber que é uma boa pessoa. E você também não tem por que duvidar de mim, ou tem?

Com um sorriso, ela assentiu e agradeceu, enquanto ele levava suas malas para a carroça parada logo à frente. Sentia que daquele homem só emanava bondade e generosidade; esperava que sua família também fosse assim, como ele.

Ao longo do caminho, Hoss perguntou a ela de onde vinha, se tinha família e o que gostava de fazer, ao que ela procurou responder com evasivas. Não queria que ninguém soubesse sobre o seu passado, de onde vinha, por que estava ali... Não queria que ninguém a localizasse.

Percebendo que ela evitava responder, Hoss achou que seria melhor falar sobre ele mesmo, pois sentiu que não aguentaria todo aquele percurso em silêncio. Então falou sobre a Ponderosa, o quanto amava aquelas terras e também o quão maravilhoso era viver naquele lugar. Falou sobre o pai – um homem muito honrado e justo, viúvo três vezes e que havia lutado muito por tudo o que tinha. Adam, o irmão mais velho era um pouco sério, mas muito inteligente e havia estudado música. Já o caçula, Joseph – mais conhecido por "Little" Joe, era o galã da família e o mais pavio curto também. Pelo que Hoss havia descrito, era possível perceber que todos eles eram bem distintos entre si... Nunca tinha ouvido falar de uma família assim e que ao mesmo tempo era tão unida.

Hoss também lhe contou que adorava pescar. Quando ela lhe disse que nunca havia pescado na vida, ele soltou um 'não é possível!' tão eloquente que Nielle sorriu. A conversa havia lhe descontraído um pouco e percebendo isso, Hoss ficou feliz.

- Isso não pode continuar assim, Srta. Arwing. No que depender de mim, a senhorita não deixará Virginia City sem aprender a pescar.

- Bem, então teremos muito tempo, Sr. Cartwright. Eu não pretendo deixar Virginia City tão cedo.

- Oh, é mesmo? – os olhos de Hoss pareceram brilhar, numa inocente alegria – E... Senhorita, meu nome é Hoss. – concluiu ele, agora com um arzinho de advertência. Sorrindo, ela disse:

- Está certo, Hoss. Mas só continuarei te chamando assim se mudar o 'Srta. Arwing' por Nielle.

- Nielle, hã? – ele pareceu pensativo, mas sem desviar a atenção da condução – É um nome diferente, mas bonito. – e sorriu novamente.

Aquele sorriso pareceu aquecer o coração dela, de uma forma muito estranha. Nunca havia conhecido alguém como Hoss Cartwright. Geralmente as pessoas se aproximavam dela com segundas intenções e tão cheias de interesse que ela meio que havia perdido a esperança nelas. Mas sentia que com Hoss seria diferente. E do fundo de seu coração, esperava que com os demais Cartwrights também fosse assim. De onde vinha, aquele era um mundo completamente desconhecido e novo para ela.

Continua no próximo capítulo...