PRÓLOGO

Três meses após a partida de Kyoko

O dia em que Kyoko recebeu a visita de Taisho e Okami foi um dos mais felizes de sua vida. Não era a felicidade de vencer um desafio, como uma audição, nem a felicidade de ser elogiada por um trabalho bem feito: era a alegria emocionante de ver uma família se reunindo após vinte anos.

A festa se estendeu pelos dois dias que o casal permaneceu em Yamadera. Tinham um comércio, portanto não poderiam ficar fora tanto tempo, mas agora sabiam que poderiam retornar, fazer e receber visitas e trocar muitas cartas.

A noite que antecedeu a volta do casal para Tóquio estava melancólica para o vilarejo, até Akemi aliviar a situação comentando em voz alta que pelo menos desta vez, poderiam se despedir. E manteriam contato.

Era uma promessa.

Na manhã do terceiro dia, Kyoko recebeu permissão do santuário para acompanhar o casal à estação. Aguardaram o trem sentados ao lado de uma figura que parecia ser um homem, todo enrolado em casacos, que dormia em um dos bancos. Despediram-se, e Kyoko permaneceu parada olhando os trilhos vários minutos depois do trem desaparecer.

"Eles já foram embora, você sabe"

"Hum?"

Kyoko virou-se para o homem que falara com ela, agora acordado (ou talvez nunca estivesse dormindo), que erguia o corpo para a posição sentada.

"Seus pais. Eles foram embora, partiram no trem. Por que fica aí parada olhando para trilhos vazios?"

Sentiu o coração aquecer ao ouvir a palavra "pais". Decidiu ignorar a pergunta do homem, mas não a situação.

"O senhor está com fome? Com sede? Precisa de ajuda médica?"

"Eu quero entender onde estava sua cabeça ainda há pouco"

"Hum? Ainda está falando sobre observar os trilhos?". Ok, talvez estivesse diante de um desequilibrado; talvez não fosse uma boa ideia dar abertura a estranhos, afinal.

"Claro que ainda estou falando sobre observar os trilhos! Quem mudou de assunto foi você!"

"Não se irrite, não se irrite. Controle seu ki, você consegue!". Respirou fundo algumas vezes.

"Senhor, eu não acho que meus motivos sejam relevantes"

"Seus motivos não são relevantes ou não me dizem respeito?"

Pensou um pouco. "Tem razão, permita-me corrigir: meus motivos não lhe dizem respeito". "Eu estou mesmo tendo essa conversa com um desconhecido?"

Uma risada rouca interrompe os pensamentos de Kyoko.

"Ele disse que você era uma de nós, sabe? Mas eu sou mais cauteloso, preciso de provas. Assim como eles. É por isso que eles virão testar você"

"Ok... por que o senhor não dorme mais um pouco, enquanto eu lhe trago o café da manhã?"

"Garota, se eu quisesse café da manhã na cama eu teria ido para um hotel!"

Ok, o sujeito era realmente maluco.

"Eu estava esperando você, não percebeu ainda? Você é difícil de achar, garota. Se não fosse a visita dos seus pais a este lugar, eu jamais descobriria sua localização"

Kyoko sentiu o coração disparar. Achava que estava no controle da situação, mas agora percebia que várias informações cruciais lhe faltavam. Um completo estranho sabia quem ela era, o que a deixava em óbvia desvantagem. Acalmou-se, verificou os arredores e passou a analisar o homem sentado diante de si.

"Você... acho que me lembro de você! Já nos vimos antes, mas foi de relance, não foi?"

Finalmente um sorriso podia ser visto no rosto parcialmente coberto do homem. "Mogami Kyoko, muito prazer. Eles me chamam de Cid"

Quatro meses após a partida de Kyoko

Queridos Okami e Taisho, como vão?

Ayumi-chan finalmente me liberou do treinamento, dizendo que meu ki estava 'decentemente controlado'. Eu me sinto como um aluno negligente que somente obteve a média para passar de ano, e ainda assim acho que consigo conquistar qualquer coisa, em qualquer lugar!

Sou muita grata a Yamadera e a vocês. Vocês expandiram meus horizontes de uma forma que eu nunca julguei ser possível!

Agora, eu quero desbrava-lo. Há muito a aprender do mundo, ainda.

Okami-san, Taisho, eu recebi uma proposta de emprego! Um que me fará viajar bastante, foi o que me disseram. Quando receberem esta carta é provável que eu já esteja na Austrália!

Por favor, não se preocupem, prometo que ficarei bem e voltarei sã e salva! Manterei contato frequentemente, também, então por favor, não fiquem bravos por eu estar decidindo as coisas sem consulta-los! Ou fiquem bravos... eu aprecio que se preocupem comigo.

Oh não, o que eu estou dizendo? Vai parecer que eu os preocupo de propósito!

Vocês saberão de mim em breve.

Com amor, Kyoko