REENCONTROS
CAPÍTULO 01: AS NOTÍCIAS CORREM...
Aquele ano foi um ano corrido, cheio de emoções. Sherlock odiava lembrar-se dele. Foi um período de grande ansiedade, em que ele teve várias crises de pânico. Cuidar de um bebê é girar a roleta do imprevisível e planejar um casamento, por mais simples que seja, uma tortura.
Mycroft tinha seus momentos difíceis também. Nada relacionado ao noivo ou à família dele. Mas ele passava horas insones pensando em novas maneiras de proteger a SUA família, agora que novos membros estavam vindo.
O casamento duplo foi maravilhoso, uma grande recepção em Whiltshire, Nanny estava radiante, mas alguns familiares mais atentos perceberam que ela já demonstrava sinais de cansaço no final da cerimônia.
E num dia frio de Fevereiro do outro ano ainda, nasceram Nancy e Nadya Lestrade-Holmes, ruivas, uma de olhos castanhos esverdeados e a outra com olhos azuis, que conquistaram sua meia irmã Sophie assim que esta as conheceu.
No arrebatamento de contar para todo mundo que agora ela tinha duas novas irmãzinhas, Sophie contou até para sua mãe, que teve uma crise violenta de ciúmes e inveja assim que fechou o messenger do Facebook.
-Que foi, gringa? Porque esse estresse todo?
-Minha filha tá toda derretida lá porque o veado do pai dela teve duas meninas.
-Oxe, como pode? Veados podem se achar mulher, mas ainda não podem ter filho não.
-Não seja bobo, moreno. Ele pediu pra irmã dele carregar os bebês, barriga de aluguel, sabe como é? Só que como foi entre a família, não teve a parte do aluguel.
Eles riram da piadinha sem graça, depois o moreno olhou para Sheryl.
-E tu tá de beiço caído aí porque teu ex tá feliz da vida ou porque ele não quis ter essas filhas contigo?
-Fico puta porque ele tá se dando bem na vida. Greg não pode ser feliz. Ele tem que tar na merda!
-Credo, mulher vingativa. Me lembra de sempre ser seu amigo... - e saiu.
Como sempre, Sheryl foi despejar as mágoas no salão. E como sempre, o salão é o melhor lugar para se espalhar notícias, sejam só fofocas ou informações importantes. O nascimento das gêmeas foi sendo contado de boca em boca até chegar em ouvidos que se interessaram muito pelo assunto.
Mycroft atendeu a uma Nina muito preocupada:
-Não que eu não aprecie suas ligações, Wilhelmina, mas na maioria das vezes é encrenca.
-Ah, nii-san, eu sinto muito por isso. Mas eu estava conversando com uns amigos gays americanos e eles me pediram para dar os parabéns ao Greg e a você pelo nascimento das gêmeas.
-Muito encantador da parte deles. Por que isso é preocupante a ponto de você estar com essa voz e me ligando? Você poderia ter transmitido os parabéns no Whats da família para o Gregory.
-Porque, Mycroft, eles souberam por meio uma rede de fofocas que veio subindo desde o Rio de Janeiro.
-Minha enteada – suspirou o Holmes mais velho.
-Ela não fez por mal. Só agora o mundo inteiro já sabe.
-Ficarei alerta. Hideyoshi?
-Andando pra lá e pra cá. O Júnior continua assustando Sherlock?
-Todos os dias. A benção de ter um sobrinho que escala móveis.
Eles desligaram rindo.
Na teoria, o estrago que Sophie fez não significou nada. As gêmeas e John William tinham um perfeito círculo de segurança ao seu redor, babás bem treinadas, versadas em artes marciais e combate com ou sem armas.
Um dia, um telefonema preocupante. Tio Jeremy sofrera um infarto e estava em observação. O filho mais velho de Nanny chamou vários sobrinhos para uma reunião importante no quarto do hospital. Logo após redefinir alguns papeis importantes dentro do clã, morreu.
Mycroft passou alguns dias em silêncio total, e quem o conhecia sabia que não era pesar pelo falecido. John já esperava pelo convite para uma reunião com ele e Lestrade.
-Você assumiu o controle da defesa do clã, cunhado? Não, Sherlock não falou nada, eu também consigo deduzir algumas coisas...
-Aqui da Europa. Ficou decidido que o tio Roger vai passar a responsabilidade da América para o Edgar pouco a pouco e Nina dividir a Ásia com Gabriel. Theodore e Francis continuam sendo responsáveis pela África. Mas não foi por isso que eu chamei você, John. Eu não sou o bisa Ambrose e não faço as coisas pelas costas.
-Eu não queria autorizar uma coisa dessas. Eu gostaria muito, e posso dizer por Sherlock que era o sonho dele também, que o Junior fosse criado como uma criança comum.
-Mas com tantos inimigos por aí, nossos bebês não poderão nunca ser crianças comuns.
-Só vamos combinar: sem armas até que eles completem dez anos de idade.
-Oito.
-Mycroft! – Lestrade estava horrorizado com aquela conversa.
-Greg querido, todo o treinamento vai ser lúdico e gradual. Vai fazer parte do dia-a-dia deles, natural como aprender a andar. Não vamos treiná-los a serem máquinas de combate, apenas a não serem alvos fáceis.
-Essa conversa é surreal. – Lestrade coçou a sobrancelha com os dedos – ao invés de nos preocuparmos com vacinas ou com a escolinha onde vamos matricular as crianças, estamos discutindo como ensiná-las auto defesa. E a idade certa para carregarem uma arma.
-Em alguns Estados na América, isso nem é discutido pelos pais. As crianças já aprendem a atirar muito mais cedo.
-Não somos americanos do centro-oeste, Mycroft! E... oh, merda! Você acha que Mary ensinou nossa filha a atirar?
-Provavelmente. A pequena Mary Jo já deve ter uma boa noção de tudo, afinal ela tem mais de sete anos.
Na prática, tudo era mesmo muito lúdico e sutil. Sherlock ficava mais de olho nas reações de Watson, já que ele e todos os primos tinham passado por aquele treino... E assim, o tempo foi seguindo seu curso...
TRÊS ANOS DEPOIS:
John William está inquieto. Ele acordou com uma ideia na cabeça e nessas horas ele é muito seu pai Sherlock, segundo seu papai John. Primeiro ele pediu à babá que ligasse para sua mãe, em Quioto.
-Moshi-moshi. Olá, querido. Que foi?
-Mummy, você não quer mais ter filhos?
-Igualzinho seu pai Sherlock. Quando quer uma coisa, fala na lata! Não, querido, eu já não posso mais ter nenhum bebê. Por que, você quer ter um irmão?
-Eu queria. Todo mundo tem irmãos nessa família, menos eu.
-Já conversou com o papai Lock?
-Não. Eu perguntei pra você primeiro só pra já ter uma resposta, se ele me mandar "Peça pra sua mãe".
-Você é muito inteligente, Junior. Pode conversar com ele, e se ele disser que o Hide também é filho único, responda que ele gosta, você não.
-'Brigado, mummy. Amo você. Tchau.
-Também te amo, querido. Tchau.
Junior entregou o celular para Samya, que sorria. Ela estendeu a mão para o menino, prevendo que ele iria subir para o 221B. John William foi pensando no que falar.
A babá o deixou na escada, acompanhando sua subida. Junior olhou para a porta da cozinha, Sherlock estava sentado à mesa, com os olhos fixos no microscópio. Com cuidado, o garoto puxou uma cadeira e subiu. Sherlock só levantou os olhos.
-O que é tão difícil que você precisou ligar para sua mãe primeiro?
-Papai, você pode me comprar um irmão?
-Oh, céus, não! Irmãos não se vendem no Tesco, porque se vendesse, seria um artigo que encalharia. E sim, você ligou para sua mãe e ela negou, porque ela não pode mais ter filhos. Junior, irmão é uma coisa chata e tenebrosa.
-Não é não! Todo mundo nessa família tem. Você tem, papai John tem, o tio Greg tem mais de um!
-Olá, família! - John entrou e colocou as sacolas de compras no chão. - O que é que todo mundo tem, mas o Greg tem mais que a gente e eu não to sabendo?
-Agora não é hora de piadinhas de duplo sentido, marido malicioso. Seu filho quer um irmão.
-Ah, entendo. E você está tentando convencê-lo das maravilhas de ser filho único.
-Paiê... - John William tentou mudar de estratégia e convencer o outro pai – por que eu não posso ter outro irmão?
-Porque, meu querido, não é assim, quero e pronto! Mesmo em casais formados por homem e mulher, é preciso planejar com antecedência. Casais como eu e o papai Lock é um pouquinho mais complicado ainda.
-Bebês não nascem do vasinho na janela. - suspirou Sherlock se levantando e pegando o filho no colo. - Junior, nós quisemos muito ter você. E planejamos toda nossa vida em torno de você, como filho único.
John os abraçou. Ia ser uma semana de muita conversa... o menino já estava fazendo a marca registrada dos Holmes: beicinho.
Mas nem que ele fosse pre-cognitivo e estivesse adivinhando... Mycroft ligou poucos dias depois marcando uma reunião em sua casa, mas trouxe a babá do Junior e pediu à babá das gêmeas que juntassem esforços e não deixassem nenhum dos três sair do quarto de brinquedos por nada nesse mundo. E trancou os adultos em seu escritório.
Sherlock olhou para Lestrade, que não queria encarar ninguém, a boca uma linha fina e contrariada. John sentiu o clima e já empertigou-se, pigarreando. Mycroft colocou uísque puro em quatro copos.
-Ok, o apocalipse começou em qual quadrante do planeta?
-Agora não, Sherlock... - John cortou, mas gelou diante da resposta de Mycroft.
-Nos Estados Unidos, mais precisamente em Des Moines, Iowa.
-Mary Jo está bem? O que houve, um ciclone?
Sherlock segurou o ombro de John, abraçando-o por trás. Watson não gostou daquilo, porque seu marido estava lendo coisas no rosto do irmão que ele não conseguia, e não era nada bom. Mas foi melhor estar já nos braços de Sherlock quando ele ouviu a bomba, porque seus joelhos fraquejaram.
-Sua filha está bem. Mas Mary, ex-Watson, atual Samuelson, sofreu um acidente de carro com o marido e morreu na hora. Sinto muito, John.
Watson aceitou o uísque meio que automaticamente. Bebeu num gole só e aceitou outro copo. Sherlock o levou para se sentar ao lado de Greg, que colocou uma das mãos em seu joelho:
-Mary Jo estava na escola quando os pais sofreram o acidente, então fisicamente ela está bem.
-Quando foi isso?
-O acidente foi há cinco dias. Identificação confirmada, o sepultamento já aconteceu, William Samuelson não tinha parentes próximos, Mary Jo não tem com quem ficar nos EUA. Mas ela é uma garota muito esperta, que de alguma forma arrancou da mãe a história da sua vida na Inglaterra e não estranhou quando Edgar entrou em contato.
John apoiou a cabeça numa das mãos. Mary estava morta e Mary Jo sozinha num outro país. A solução lógica era trazê-la de volta para a Inglaterra, onde ela também se sentiria sozinha, pois foi criada num ambiente diferente... Apertando a ponte do nariz com os dedos, fechou os olhos e respirou fundo. Abrindo os olhos, procurou o marido.
-Temos que trazê-la para nós.
-Sim, sem dúvida. John William vai enlouquecer. Nós falamos que para ter um irmão era difícil, precisava planejamento e do nada, eis que surge uma irmã. Vamos passar por mentirosos.
-Você sabe que não vai ser tão simples assim. Somos desconhecidos para ela.
-Somos uma opção melhor que um orfanato ou um tio em segundo grau do Samuelson. Espero que ela não seja viciada em McDonalds. Ela já está com Edgar, Mycroft?
-Está. Não foi difícil atestar que como a mãe fazia parte do programa de proteção à testemunha, talvez o acidente não fosse acidente e a garota estaria correndo risco de morte continuando onde estava. Apresentamos os documentos comprovando que Eddie era um parente confiável e ela está em Nova Iorque com ele. Fotos e um pouco da história da família Watson está sendo contada para que tudo não se seja um grande choque.
-Pra ela pode não ser, mas pra mim, é. Eu sempre quis minha filha comigo, mas não dessa forma. Ela chega quando?
-Já que não há impecilhos e vocês estão dispostos, pode ser nesse final de semana mesmo. Vou avisar o Edgar. - Mas Mycroft não se mexeu. Sherlock e ele trocaram um olhar e a conversa holmesiana recomeçou. Até que o irmão mais novo abaixou o olhar e Mycroft se irritou – Mesmo?
-Sim! Tenho certeza! Não é Moriarty nem ninguém da teia!
John olhou para Lestrade, depois se levantou e se interpôs entre eles.
-Depois de dez anos, alguém ainda quer nos ferir e começou matando a Mary. É isso que você desconfia, Mycroft?
-Há quatro anos atrás Nina me avisou que até na América a notícia do nascimento das minhas filhas tinha chegado. Pode ser que nos últimos quatro anos alguém tenha rastreado Mary e sua filha e finalmente encontrado. Pode ser também que trazê-la para Londres esteja nos planos dessa pessoa ou pessoas.
-Por que esperar tanto tempo?
-Por que AGORA é a hora certa. E agora podem atingir não só você como Sherlock e a mim. Todos temos grandes pontos fracos.
-Pobre daquele que tentar. Ai do infeliz que tirar um fio de cabelinho ruivo dos meus bebês do lugar. - Greg levantou a voz. - Vai preferir nunca ter nascido.
John ficou parado um tempo pensando... jogando a cabeça pro lado, fechou os olhos e suspirou de novo:
-Nossos filhos estão frequentando a escolinha. Agora é a época certa porque eles não ficam o tempo todo em casa.
-Mais cedo ou mais tarde, mesmo que os tirássemos da escola e ensinássemos em casa, eles estariam em perigo. Mary Jo precisa ir para a escola também.
-Estejam preparados, senhores. A guerra vem bater às nossas portas novamente. - Mycroft ergueu o copo de uísque – À batalha!
N/A: Voltei com sangue nozóio, ne? Mas nem tudo podia ser flores & borboletas o tempo todo, afinal, é Sherlock, certo? Tudo certo comigo, não é encosto do George Martin nem do Moffat. Eu sempre fui assim. 09/02/2016
