Certa vez, lembrara-se, deixou escapulir que gostava de cabelos grandes. Coincidência ou não (e sabia que não era), todas as garotas deixaram seus tão amados cabelos crescerem, para lhe agradar. Não sabia o que tinha feito para merecer tanta atenção do sexo feminino, mas sabia o que o sexo feminino podia fazer para chamar a sua atenção: quebrar as regras. Ela quebrara as regras, e não foi de propósito. Em meio a todas as outras, com suas longas madeixas, disputando por sua atenção, aqueles olhos brancos e seus curtos cabelos cor de noite se destacavam, para ele. Ela não pedia para ter sua atenção, mas o tinha porque era natural ele amar quem quebrava as regras.
Nunca falou sobre isso com ninguém. Na verdade, não falava sobre seus sentimentos com ninguém. Guardava isso consigo, e era o necessário. Observava-a de longe, hesitando, falhando, ruborizando, e seus cabelos curtos, que eram o grande diferencial. E a observou por muito, muito tempo. Doía o fato d'ela dar tanta bola pr'aquele imbecil de roupas laranja, e ele não dar a mínima para sua existência. Sasuke não aceitava isso, internamente. Era impossível recusar alguém como ela.
Tornaram-se, enfim, genins. Colocaram-o logo naquele time de imbecis. A testuda que arrastava um bonde para sua pessoa, o professor que lia livros eróticos, e por fim, o infeliz laranja. Não dava para ser pior, torcia tanto, em seu íntimo, para que fosse do time dela. Teria de continuar a observá-la de longe, sem dar bandeira, sem que ninguém percebesse que tinha, realmente, sentimentos por alguém.
E guardou tão bem tudo o que sentia, que ninguém nunca sequer desconfiou. Achavam, na verdade, que tinha algo com a testuda, mas nunca teve. Começou a ver a rosada apenas como uma amiga, nada mais, assim como o loiro idiota. Seu coração pulsava e sempre pulsou, excepcionalmente, por uma pessoa. Após sair da vila, o sentimento persistiu. E sabia que sempre persistiria. Pegava-se, muitas vezes, em seus devaneios internos, e sorria sozinho, quando ninguém podia vê-lo.
Pensava que, se houvesse alguma possibilidade de falar-lhe o que sentia, seria muito remota. E não teria coragem, não era do tipo de gente que falava com facilidade sobre sentimentos. Aliás, pensar na possibilidade simplesmente lhe trazia borboletas no estômago. E elas voavam ali dentro, extasiadas, deixando-o desconfortável consigo mesmo.
Decidiu que viveria para sempre com esse nó na garganta. Merecia, depois de tudo que causara e que causaria. Mesmo quando voltasse para Konoha, redimido. O inútil pseudo-hokage provavelmente já seria dono do coração da hesitante quebradora de regras que amava. Casaria com a menina coralina, por piedade. Teria filhos com ela, por piedade.
E viveria, observando de longe, a quebradora de regras que, indiretamente, quebraria seu coração em milhões de pedaços.
N/A: Depois do meu surto de insanidade (insanidade talvez não tão boa assim), veio a calmaria. Não teria palavras para descrever o quanto eu amei escrever isso, e nem para o quanto eu gostei do resultado final.
Aliás, feliz fim do mundo pra geral aí. Amo vocês.
