Amantes de Dramione, infelizmente essa não é uma estória nova minha. Essa fic foi escrita no início desse ano, no 6V, e eu encontrei a bendita jogada numa pasta aqui. Ela não é das minhas melhores, mas acho que dá pro gasto até meus projetos Dramionicos ficarem prontos aqui. Beijos nos Potterheads e review não mata ninguém!


O calor era insuportável. Início do verão e ele não desejava nada mais que o frio do inverno. Estar dentro de um elevador era uma opção que ele realmente não escolheria em tais circunstâncias, por isso ver as luzes do três embaralharem-se para formar um quatro não era o passatempo mais agradável. Ele precisava sair dali. Seu reflexo no espelho denunciava uma gota de suor escorrendo na sua têmpora esquerda, uma lágrima que não esperou chegar aos olhos para escapar.

Nove. Dez. Onze. As portas abriram-se num estrondo que fez sua cabeça latejar. Respirou fundo antes de encaixar a chave na fechadura e girar a maçaneta, entrando naquele lugar que de tão comum já lhe era estranho. Estava tudo errado. Aquele quadro com a foto dela não deveria estar naquela parede, sorrindo para a visita, recebendo amigavelmente quem só lhe causava problemas. As sandálias milimetricamente dispostas ao chão deveriam estar em seu guarda-roupas, ela não mais precisaria delas, nem do seu casaco, da sua bolsa, das suas chaves. Não precisaria.

A cozinha estava em perfeito estado, fora uma primeira camada de poeira que se juntava sobre as bancadas, assim como em toda a casa. O silêncio consumia-o por dentro, corroendo seus músculos e alfinetando seus ossos, uma dor que nunca poderia ser psicológica. Era real demais para tão pouco. Ver o cenário de tantos dias felizes não trazia de volta lembranças desses momentos, não. Apenas um vazio que não tinha explicação, vazio até em palavras.

Voltou à entrada, retirou o quadro da parede, equilibrou os calçados em uma mão, levou-os para o quarto. Não chegou a abrir a porta do cômodo, tudo o que estava em seus braços caiu no chão com um baque surdo, ele virou-se e foi embora. Precisava de espaço, e ali no confinamento do elevador os olhos acinzentados ficaram vermelhos. E vermelho era a cor preferida dela.

Lembrou-se da sexta-feira que tanto lutara para apagar de sua mente. A cama manchada a fazia sorrir. Vermelho. Os olhos fixados num ponto qualquer do teto, refletindo a luz forte logo acima de sua cabeça, a respiração pesada. Lembrou-se de como a havia abraçado, de como o calor daquele verão não atingira o seu corpo. Ela não poderia deixá-lo.

Quando o baque do elevador no solo o fez acordar de seu devaneio, trazendo de volta a martelada constante na sua cabeça, ele despencou. Suas mãos ainda tinham o cheiro forte de ferrugem, e ele conseguia ver o sangue escorrendo delas. Fechou os olhos e desejou nunca mais abri-los. Nem ao menos precisava — a última imagem projetada sob suas pálpebras reverbou em seu cérebro e gravou-se ali, banhada por seu sangue azul. Vermelho. E eles permaneceram abraçados, os corpos esfriando no clima quente da estação.