Lágrimas na chuva

Era um dia chuvoso, parecia que o tempo sabia o que eu estava prestes a fazer. Caminhei por entre as ruas que me levariam até o meu destino, não me lembro ao certo quando decidi ir até lá, só sei que agora já estava a meio caminho de lá.

Cheguei ao antigo cemitério de Godric's Hollow e empurrei as pesadas grades que o fechava, adentrei o local e instantaneamente senti a tristeza me invadir. Dá última vez que estivera aqui, estava preocupado, podia ser morto a qualquer momento, e era muito, muito difícil saber se eu teria um futuro pela frente, nem tivera tempo o suficiente para falar com eles. Apesar de eles ao menos me escutarem, iria fazer isso, precisava disso.

Procurei entre as lapides, aquelas duas que eu viera "visitar", quando as encontrei, ajoelhei-me e olhei para os nomes gravados na pedra fria, deixando as lágrimas rolarem livremente pelo meu rosto.

Tiago Potter, nascido 27 de março 1960, falecido 31 de outubro 1981

Lílian Potter, nascida 30 de janeiro 1960, falecida 31 de outubro 1981

Aproximei-me e toquei os nomes de meus pais, como queria que eles estivessem aqui agora, para ver como estou feliz, depois que tudo acabou. Tirei um lírio branco que havia trazido do paletó e coloquei em cima da lápide de minha mãe.

- Sirius uma vez me disse que papai lhe dava lírios na escola, achei apropriado, mãe. – eu disse, olhando para a flor.

Fechei os olhos e senti uma brisa desarrumar-me mais os cabelos, quando os abri novamente vi que o lírio não estava mais lá, onde instantes antes eu havia colocado, olhei em volta procurando quem poderia ter tirado a flor dali, mas constatei que não havia ninguém além de mim no cemitério. Senti-me mais a vontade, percebendo que, de alguma forma, eles estavam me ouvindo. Nunca fora alguém religioso, mas como ninguém realmente sabe o que há depois da morte (nem mesmo eu, que já a enfrentei diversas vezes), não custa nada acreditar que eles realmente estão aqui, comigo, agora.

Passei a contar o que acontecera comigo desde a última vez que viera aqui, contei-lhes sobre a batalha, sobre como eu e Gina finalmente nos acertamos, o meu casamento e o de Ron e Hermione, sobre meu trabalho, e sobre meus filhos, Tiago, Alvo e Lílian. Relatei-lhes tudo, como Tiago era bagunceiro, como Alvo interessava-se por livros, como Lílian era doce...

Não duvido que tenha passado, no máximo, umas duas horas ali, falando com eles, com as lápides duras e frias me encarando e vendo alguns relâmpagos cortando os céus. Tinha vezes que eu não conseguia falar, as lágrimas rolavam, e nestas vezes, mais do que em qualquer outro momento, eu desejava que eles aparecessem para mim, que eles me dissessem que tudo estava bem e que eles nunca mais iriam me deixar.

Porque apesar de estar muito feliz agora, com Gina e com os meus filhos, sempre há um vazio no meu coração, que só poderia se preenchido por aqueles que já se foram, meus pais, Sirius, e até mesmo Remo, que era um grande amigo, conselheiro.

Senti uma gota tímida de chuva bater na ponta do meu nariz, avisando-me que as próximas não seriam tão tímidas assim, iriam encharcar-me por inteiro. Dei uma última olhada nas lápides, e murmurei:

- "Ora, o último inimigo que a de ser aniquilado é a morte"

Senti uma mão no meu ombro e me virei rapidamente.

- Gina. – sussurrei.

- Acho que não é uma boa ideia ficar aqui em plena chuva. – ela me disse, naquela voz melodiosa, sorrindo.

Sorri em resposta e levantei-me. Ela entrelaçou a mão na minha e caminhamos lentamente até a entrada do cemitério, no meio do caminho escutamos um trovão e a chuva começou a cair, ela abriu o guarda-chuva que até então eu não havia notado, e fomos para casa.


N/A: Uma one-shot um pouquinho cute, eu acho. Espero que tenham gostado. Beijinhos, Lys.

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