O sol tocava-lhe as bochechas num aconchego carinhoso e morno, a brisa agitava os coqueiros e esvoaçavam os cabelos da morena tirando qualquer sensação incomoda de calor, tornando aquela manha muito mais do que agradável.

O cheiro suave e húmido da maresia enchiam suas narinas de puro êxtase enquanto caminhava pela areia branca e macia da praia.

Podia fazer, pensar ou até mesmo dizer o bem entendesse. Essa era sua única exigência no seu sábado de manha. Isso mesmo, SEU sábado de manha, só e unicamente seu sábado de manha.

Não havia nada melhor do aquele dia tão especial da semana para ela e ninguém nem nada poderia interrompê-lo. Um momento somente dela, destinado a ela, a única hora em que podia sair de sua rotina terrivelmente degradante e olhar apenas para si.

Sem conseguir se conter diante daquela paisagem paradisíaca. A garota correu até o mar, chutando a agua, fazendo espuma e rindo alegremente consigo mesma. Tinha coisa melhor do que isso?

Foi quando um pouco afastada, a sombra de uma palmeira que a nossa retumbante garota avistou a silhueta mais tristonha que já vira.

Ela era ruiva, tinha algumas sarnas nas bochechas, esguia e de pele tão clara que nunca devia ter ficado muito tempo sobre o sol. A empresária sabia muito bem quem era. Sua amiga Ayame, a ruivinha mais sensível e meiga que já conhecera. Certamente teria se metido em outra briga com o namorado ou até mesmo terminado, de novo, com ele.

Já se fazia um tempo que Ayame perdurava na estupida ideia de achar o príncipe encantado de armadura e espada cavalgando no seu pomposo alazão branco. O problema era que ela ainda não tinha percebido que trocar regularmente de "alma gêmea" não ia ajuda-la a alcançar seu objetivo.

Viu a pobre garota de cabelo chamuscado suspirar com dificuldade entre soluços chorosos. Talvez se... Não, hoje era seu dia! Seu sábado! Amanha teria que viajar a negócios, sentada numa poltrona desconfortável da classe executiva e se isso já não fosse à parte ruim ouviria por horas a fio reuniões chatas e desnecessárias em pleno domingo!

Mais suspiros e mais soluços vieram. Acabando por submeter a morena a erguer bandeira branca e ajudar sua amiga naquele feriado de sol.

-O que ele fez desta vez?

Foi direta e sem mais delongas. Ao se aproximar da moça pálida, já tinha em mente o que queria dizer, mas duvidava que frases como " ele não te merece" ou "você vai arranjar outro" fossem sair tão facilmente para uma garota tão realista como ela. Por isso nunca conversou com Ayame sobre relacionamentos, para a empresária ou era a verdade ou nada tinha para dizer. Achava toda essa neura por romance uma tremenda idiotice.

-Bom dia pra você também Rin- a ruiva tentou repreender a grosseria da amiga, mas esta continuava esperando uma resposta.

-Bem...ele.. ele disse que sou ciumenta demais e que nunca foi um namoro sério.

Oh não de novo com isso? Como um relacionamento onde os dois mal se conheciam podia ser serio?

-Sei que você acha isso patético Rin, mas tente me entender, eu só queria meu príncipe encantado.

Rin revirou os olhos, contudo nada conseguiu dizer no meio do abismo feito daqueles olhos verdes totalmente marejados e sôfregos de Ayame.

Seria a pior das agressões falar uma verdade tão brusca e dolorosa para a amiga mais fiel que teve desde a infância. Afinal de contas o que custava conforta-la? Admitia seus conceitos, mais poderia quebra-los pela ruivinha, não?

-Venha- Rin se levantou da areia que a pouco havia se sentado, estendendo a mão para Ayame.

-Pra onde?

-Vamos fazer compras.

Animadas as duas correram para longe da praia. A morena talvez não tivesse seu sábado tão almejado e tinha consciência de que dali a algumas semanas a amiga entristeceria novamente depois de outra discussão. Mas o que importa? Estaria ali, novamente e mais uma vez para secar aqueles olhos esmeralda e reviver o sorriso de Ayame.