Capítulo Um
O telefone tocou, interrompendo todo o raciocínio de Edward. Ele deveria ter pedido à secretária para não ser interrompido. Depois de quatro meses de planejamento minucioso, ele estava prestes a alcançar a meta. Passara horas no escritório, saboreando a idéia, sob paz e privacidade.
Quatro meses. Parecia mais. Bem mais. Se ele tivesse se apressado, porém, sem dar a devida atenção aos próprios planos, não poderia desfrutar agora de uma vingança tão doce e saborosa. A vingança é um prato que se come frio, diz o ditado. Pois ele estava frio agora, gelado na verdade, e pretendia saborear cada minuto da queda do homem que lhe ferira o orgulho mortalmente há quatro meses, tirando Bella dele. Edward desviou o olhar da vista deslumbrante para atender o interfone, sem disfarçar a irritação.
- Sim.
- A senhora Cullen na linha, Edward - informou Angela, secretária fiel, sem se incomodar com a impaciência demonstrada por ele.
Então a mãe lhe havia telefonado?
Edward não sabia por que ela insistia em usar o sobrenome depois de já ter se casado, e se divorciado, duas vezes depois de ter se separado do pai de Edward há trinta anos.
—Diga-lhe que estou ocupado.
— Eu disse — respondeu Angela de forma serena —, mas ela disse que é urgente.
Ele suspirou.
—Lembre-me de cortar o seu bônus de Natal este ano — resmungou ele, ouvindo a risada de Angela, para então atender a ligação.
—Mamãe, seja lá o que tenha a me dizer, terá de ser rápida. Eu tenho...
— Edward.
Tudo parou. Movimento. Respiração.
Bastou ouvir o nome dele sendo pronunciado por aquela voz sexy e rouca para virar o mundo de cabeça para baixo
Ele já não via nem falava com Bella há quatro meses, e não tinha idéia da razão de ela estar ligando, embora a coincidência da proximidade da concretização da vingança não lhe tivesse passado despercebida...
— Edward?
Não era a mãe, mas sim a mulher que até há pouco tempo ele chamara de esposa. Que ainda era a esposa, mesmo que o tivesse deixado para ficar com outro. O homem que Edward se deleitava em aniquilar.
Edward respirou fundo e estreitou os olhos escuros.
—Isabella — reconheceu ele bruscamente.
Ela reconheceu imediatamente aquele tom frio e ameaçador.
Chamara-o de homem de gelo durante a discussão que precedera a separação.
Na verdade, não houve discussão alguma, reconheceu ela, com tristeza, mas apenas um Edward frio e a incredulidade diante das acusações dele.
Bella agarrou o celular com força. Não queria ter ligado. Não queria ter sido ela a quebrar o silêncio, sabendo que o ódio de Edward só poderia ter aumentado naqueles quatro meses.
—Bem? — disse Edward, já inquieto com o silêncio.
O mesmo Edward de sempre, pensou ela. Sempre impaciente, sempre em meio a alguma negociação, sem tempo para ouvi-la ou sequer tentar entendê-la.
Bella afastou aqueles pensamentos da mente. Não adiantava pensar naquilo agora. Nada mudara. Nem ela, nem tampouco Edward.
Não sabia ao certo se ele estaria em Londres no momento em que ligou, mas podia imaginá-lo perfeitamente, sentado atrás da mesa com tampo de vidro, no escritório moderno e luxuoso. O prédio em que Edward trabalhava fazia jus ao diversificado e multimilionário império que ele construíra. Alem de possuir a própria linha aérea, uma rede de televisão e um cassino no sul da França, ele também era dono de hotéis exclusivos em todas as capitais mais importantes do mundo.
Sim, ela podia imaginá-lo agora, com aquele cabelo cobre despenteados, olhos verdes que podiam ficar negros quando ele era tomado por forte emoção, nariz arrogante e lábios esculpidos sobre uma mandíbula quadrada e determinada. Os ombros largos, a cintura fina e as pernas muito longas deviam estar cobertos por um dos ternos caríssimos que ele havia comprado na Itália e, nos pés, sapatos feitos à mão do mesmo país.A imagem fez o coração dela bater descompassado e as palmas das mãos ficarem úmidas...
—Ou você me diz por que ligou ou desliga, Isabella . Eu tenho muito trabalho a fazer.
—E qual é a novidade nisso? —retrucou ela.
—Bem? — insistiu ele, se recusando a reagir ao sarcasmo.
Ouvir a voz de Bella outra vez, assim, de maneira inesperada, não era nada agradável. Não que houvesse alguma chance de ser diferente no que dizia respeito a ela. Nunca houve meio termo no que se referia às emoções por ela. Sentira um desejo voraz na primeira vez em que a vira e uma fúria gelada quando ela saiu da vida dele nos braços de outro homem.
—Eu... Preciso conversar com você, Edward.
Ele fez uma careta.
—Não acha que é um pouco tarde para isso? Eu já recebi os papéis do divórcio há um mês.
Ele os havia recebido e guardado na gaveta, sem lhe dar nenhuma resposta.
Talvez fosse esse o motivo daquele telefonema...
Será que Bella estava com tanta pressa assim de desfazer legalmente o casamento, a ponto de se dispor a falar com ele pessoalmente para obter uma resposta positiva? Será que ela já estava fazendo planos para se casar outra vez? Jacob Black, naturalmente, o homem por quem ela o deixara e que, sem dúvida, estava disposto a lhe dar tudo o que ele não pôde dar.
Edward nunca deveria ter se casado com ela. Na verdade, jamais pensara em se casar antes de conhecê-la. Tendo testemunhado o desastre que fora o casamento dos pais e as subseqüentes uniões de ambos, Edward nunca acalentara o desejo de ter uma esposa, muito menos um filho. A infância fora um verdadeiro pesadelo, repleta de padrastos e madrastas que não duravam muito tempo...
Há aproximadamente 14 meses, porém, ele conhecera Bella numa festa, em Londres, organizada a fim comemorar a abertura de mais um dos hotéis Cullens. Bastou apenas um único olhar daquela linda modelo internacionalmente famosa para que ele decidisse que a levaria para a cama. A beleza dela era deslumbrante e a sensualidade faziam com que o pulso dele acelerasse num piscar de olhos. Conhecida por ser avessa a casos efêmeros, ela fora um verdadeiro desafio para Edward.
Ele a convidou para jantar e ficava cada vez mais encantado a cada vez que a via. À medida que a foi conhecendo melhor, e a desejando cada vez mais, a ponto de quase enlouquecer, ele também começou a compreender o motivo pelo qual ela se afastava de homens interessados apenas em sexo.
Sob o estilo de vida glamoroso de Bella, como uma das modelos mais bem pagas do mundo, havia uma moça de uma pequena cidade na Inglaterra, onde os pais dela ainda viviam e onde Bella e as três irmãs haviam nascido e crescido. Toda aquela sofisticação que ela ostentava era apenas fachada. Ela acreditava e ansiava mesmo por uma história de amor na qual o casal fosse "feliz para sempre".
Edward ficou atordoado quando tentou fazer amor com ela e descobriu que a moça ainda era virgem e estava à espera do homem certo. Bella não tinha a menor intenção de ter um caso passageiro com ele, ou com qualquer outro homem. E ele não soube ao certo que loucura se apoderou dele quando ela lhe disse tal coisa.
Talvez tivesse sido necessidade de possuir uma mulher tão diferente das outras mulheres daquele mundo de relacionamentos superficiais, necessidade de saber que nenhum outro homem jamais a havia tocado, nem tocaria.
Tudo o que ele sabia era que o desejo ardente de que ela fosse só dele se intensificou a tal ponto que até mesmo os negócios sofreram diante daquela falta de concentração, algo que ele jamais permitira que acontecesse! Aquela situação não podia continuar. Só havia uma solução.
Casamento...
Por que não? Ele nunca seria estúpido a ponto de se apaixonar por alguém e correr o risco de passar por toda a dor e desilusão que os pais haviam imposto um ao outro durante anos. Já estava com 33 anos, pensara ele, então. Casar-se com uma mulher linda e bem-sucedida como a modelo internacional Isabella Swan, assim como levá-la para a cama, podia ser considerado um ótimo negócio. O fato de ele não a amar e de estar determinado a jamais amar mulher alguma nunca fez parte dos cálculos, fato que ele só veio a lamentar profundamente nove meses depois, quando Bella o deixou por outro homem que, obviamente, podia lhe dar o que ela queria!
Bella estava feliz por aquela conversa estar ocorrendo por telefone, aliviada pelo fato de Edward não poder ver a palidez do rosto delicado, e a tensão nos olhos e boca só por conversar com ele outra vez.
Bastou um único olhar para Edward para que ela se apaixonasse. Ficou completamente atordoada quando ele retribuiu o interesse. Eles se tornaram inseparáveis nas semanas seguintes, antes de Edward surpreendê-la e arrastá-la para Las Vegas no jatinho particular para se casar com ela.
Bella ficou um pouco triste pelo fato de os pais e irmãs não terem podido comparecer ao casamento, e sabia que a família também ficaria decepcionada. Tinha certeza de que os pais esperavam que ela se casasse de véu e grinalda tal como as irmãs mais novas.
Ela, porém, estava apaixonada por Edward a ponto de desejar secretamente se tornar a esposa dele, de modo que deixou a tristeza para trás e realizou o sonho, passando duas semanas completamente a sós com o marido numa ilha caribenha de propriedade dele.
Poucos meses depois do casamento, porém, ela percebeu que não conseguira realizar o sonho de ter o amor retribuído. Tudo o que ele sentia por ela era desejo. Considerava-a apenas mais uma propriedade e nada mais. Nenhuma dessas lembranças dolorosas, porém, ia ajudá-la nesta situação!
—Eu não liguei para falar do divórcio, Edward —disse ela com suavidade.
—Não? —retrucou ele, contundente. —Já se passaram quatro meses, Isabella. Ainda não conseguiu convencer Jacob Black a pedi-la em casamento?
Ela se encolheu perante o sarcasmo e se perguntou como fora capaz de acreditar que aquele homem estava apaixonado por ela. Não queria, porém, começar a discutir sobre Jacob. Edward tinha se recusado a acreditar na inocência dela, quatro meses atrás e, pelo tom de voz, ainda não mudara de idéia.
—Eu ainda estou casada com você, Edward —lembrou Bella .
—Apenas legalmente — lembrou-a, lacônico.
Assim que os papéis do divórcio fossem assinados e a separação legalizada, ela talvez pudesse levar a vida adiante, sem, no entanto, voltar a se casar. Mas como, se ainda amava Edward?
Tinha noção, porém, de que não era capaz de viver ao lado dele sabendo que ele não a amava com a mesma intensidade.
—Preciso falar com você, Edward, mas não posso fazê-lo por telefone...
—Está sugerindo que nos encontremos? —perguntou ele, com escárnio
Bella suspirou. Seria muito doloroso rever Edward e constatar que ele jamais a amara, e que nunca a amaria. Mas ela sabia que os motivos que o faziam relutar em encontrá-la eram bem diferentes. Ela representava o único fracasso da vida dele e, conforme sabia muito bem, o fracasso era algo que Edward Cullen se recusava a reconhecer.
Bella , na verdade, passara os últimos quatro meses esperando por alguma retaliação por parte dele pelo fato de ter ousado deixá-lo!
Quando nada aconteceu, ela chegou a pensar que a própria inatividade havia sido a vingança, uma vez que ele sabia muito bem que ela deveria estar apreensiva, e com certeza se deleitava com isso!
—Preciso vê-lo... Para lhe pedir uma coisa —acrescentou ela com cuidado. Apesar de tudo, ela ansiava por vê-lo, mas não aquele homem frio e distante que vira na última vez em que se encontraram.— Preciso lhe pedir... um favor, Edward.— concluiu ela, estremecendo ao admiti-lo.
—A mim? — disse ele, sem disfarçar a surpresa.
Podia se lembrar perfeitamente do dia em que Bella saiu da vida dele, garantindo que nunca mais lhe pediria coisa alguma. Com exceção do divórcio, naturalmente.
—É muito descaramento seu achar que pode simplesmente reaparecer na minha vida depois de quatro meses e me pedir alguma coisa.
— Edward, por favor...
—Por favor,você ! —interrompeu ele, enérgico. — Você me deixou, Bella, foi direto para os braços de outro homem, e agora quer que eu lhe faça um favor?
—Eu não o deixei por outro homem! —retrucou ela com veemência, sabendo que ele não acreditava, mas decidida a jamais deixar de reivindicar a própria inocência.
—Não é o que me consta.
—Você não sabe nada de mim, Edward. — Ela suspirou. — Nunca soube.
Após o primeiro choque, Edward já estava seguro de que aquele telefonema havia sido apenas uma coincidência. Afinal, Bella não tinha a menor idéia de que ele estava prestes a desferir um golpe certeiro na cabeça do tal amante.
—O favor que eu quero lhe pedir não é para mim, Edward. Bem... Não exatamente —acrescentou ela com impaciência.— Talvez sim— murmurou, pouco à vontade
—Talvez seja melhor você deixar que eu decida isso. Conte-me o que você... precisa de mim —disse ele, escolhendo a palavra a dedo— e eu lhe direi se estou disposto a ajudá-la.
—Não por telefone —insistiu com determinação. — Eu preciso lhe explicar algumas coisas para ajudá-lo a entender melhor a situação... Edward, você poderia almoçar comigo?
Ele arqueou as sobrancelhas ao ouvir aquela sugestão. Falar com ela ao telefone era uma coisa, mas ficar novamente perto daquela beleza estonteante era outra, bem diferente.
—Hoje?
—Claro —disse Bella, já impaciente. —Sim, hoje —repetiu ela, num tom mais razoável. —Se for possível —acrescentou ainda de forma brusca.
Edward olhou para a agenda aberta à frente, embora já soubesse que não havia nada marcado para a hora do almoço.
— Infelizmente não é — disse ele, ignorando completamente o espaço vazio —, mas vou jantar no Rimini, esta noite, às 20h. Importa-se de encontrar comigo lá?
Bella estremeceu ao pensar em jantar com Edward, àquela ou qualquer outra noite. Imaginara encontrá-lo num restaurante lotado na hora do almoço. Mas jantar num dos restaurantes exclusivos que eles freqüentaram juntos quando foram marido e mulher...
—Será que eu não podia encontrá-lo num bar, antes de você ir jantar? —sugeriu ela. — Eu só vou lhe tomar alguns minutos e...
—Está com medo Isabella? —zombou Edward.
—De você? Era só o que me faltava! —retrucou ela, sabendo que aquilo não era inteiramente verdade. Embora não estivesse com medo do próprio Edward, sabia que ele possuía dinheiro e poder para se vingar dela de uma forma terrível!— Só não vejo razões para estragar nossa noite dessa maneira.
—Foi você quem pediu para se encontrar comigo —lembrou ele. —Sendo assim, creio que seja meu direito impor as condições para isso. Ou janta comigo, ou nada feito.
Bella tinha mesmo imaginado que ele diria aquilo!
—Então eu terei que concordar, não é? —disse ela, pensando que seria obrigada a passar horas, e não minutos, ao lado de Edward.
—Não fique tão entusiasmada, Isabella —zombou. —Eu posso interpretar isso de maneira equivocada.
—Eu não faria isso no seu lugar! Nada mudou. Eu só preciso falar com você — disse ela com firmeza.
—Deve ser algo realmente muito importante, para você se dispor a me ver de novo —disse ele, se divertindo com a óbvia frustração de Bella.
Ele já não sorria daquela maneira descontraída há meses. Quatro meses, aliás. Desde que Bella o deixara... O sorriso desapareceu com a mesma rapidez que havia surgido. Bella havia se separado dele alegando que Edward era incapaz de sentir por ela o mesmo amor que ela lhe dedicava, e que depois de apenas nove meses de casada ela simplesmente não podia mais viver com ele.
Aquilo, porém, não passou de uma mentira para encobrir o caso com Jacob. Edward ficou completamente sério ao pensar naquele homem na vida de Bella, na cama dela. Sabia que, apesar de tudo o que dissera a respeito de amor, fidelidade e casamento, ela se envolvera com outro homem semanas antes do casamento realmente chegar ao amargo fim!
A vingança que havia planejado visava somente Jacob Black, embora ele soubesse que a queda do rival acabaria por destruir Bella também.
Agora, porém, Bella voltara por livre e espontânea vontade para a vida dele. Como uma mosca que se deixava enredar nas teias de uma aranha..
