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Tinta à óleo

Polly Depp Weasley

Yaoi. Lemon. UA.

Barulho. Era praticamente a única coisa em que conseguia pensar naquela hora. Maldita ideia de aceitar o que os amigos o sugeriram "só pra variar".

Estava num pub no centro da cidade, ao lado de dois de seus melhores amigos, comemorando uma de suas maiores vitórias: um de seus melhores quadros – uma imagem de Shiva sentado, com várias imagens hindus ao fundo – foi vendido por uma quantia altíssima, a maior de toda a carreira do pintor. Queria comemorar num lugar elegante e sofisticado, mas seus amigos disseram que deveria descer de seu altar e comemorar como um mortal: bebendo.

Já pelas tantas, começaram a, finalmente, discutir a famosa pintura. O pintor dizia que o que queria ter passado com ela, enquanto os amigos diziam o que entenderam.

- Eu vi um claro aspecto de negação interior contido na obra, Shaka. – O loiro bonito ao seu lado falou, fazendo troça.

- Não, Milo, era mais como uma revolta interior, não negação. – Falou o ruivo à sua frente, seriamente. – Como uma rejeição à sociedade religiosa opressora. Sabe aquele papo de "o sistema é o problema"?

- Não é que o sistema seja um problema, Camus. – Shaka decidiu entrar na conversa dos dois, rindo, já um pouco alterado. – São as pessoas que são idiotas. Se elas soubessem onde é o lugar delas, tudo seria melhor...

Os outros dois riram junto com o último, que parecia bastante cheio de si.

- Então se uma pessoa sofre e fica sem condições de viver uma vida saudável, ela é idiota? – Uma voz grave e levemente agressiva falou, fazendo Shaka virar-se para onde ouvira-a.

Ela pertencia a um homem que estava sentado na mesa ao lado. Homem, porque um cara daquele tamanho não poderia ser chamado de rapaz. Ele tinha pelo menos 1,85 de altura. Era moreno e forte, com sobrancelhas negras bem definidas, o que acentuava seu olhar de raiva e o brilho dos olhos azuis, que ardiam como em chamas.

- Não foi bem isso o que eu disse... – Shaka ficou empertigado com a acusação do outro.

- Então, o que você quis dizer? – O moreno rebateu.

Os dois começaram uma discussão acalorada sobre o assunto. Tinham opiniões completamente diferentes, e mesmo assim, não conseguiam parar de discutir.

Milo olhou para o namorado sugestivamente.

- O que acha disso, Cammie? – O loiro perguntou, sorrindo.

- Nada. Acho que ele já comemorou o suficiente. Vamos para casa. – Camus respondeu, sério, mas provocando um sorriso no outro.

- Vamos fazer nossa própria comemoração? – Milo sorriu, com um ar malvado.

- Oui. – O outro respondeu em sua língua nativa, saindo com o outro pro estacionamento após se despedir de Shaka rapidamente.

Apesar da discussão ter começado violenta, eles estavam agora numa conversa calma. Falavam sobre o trabalho de ambos – o moreno ainda estava na universidade, e apesar do tamanho, só tinha 25 anos -. Tinham um gosto musical bem diferente um do outro, mas tinham algumas coisas em comum – como o gosto pela arte. Quando já eram quase duas da manhã, o moreno falou, assustado, que deveria voltar para casa. Estava escrevendo sua monografia e de manhã cedo iria encontrar seu orientador.

- Espere. – Shaka pediu, antes que ele saísse. – Também vou embora.

Os dois seguiram para o estacionamento, que estava praticamente vazio. Shaka foi para o carro, enquanto o outro pegava sua moto e parava ao lado do carro do loiro, para se despedir.

- Foi uma boa noite. – Shaka achou o sorriso do outro bonito, posto que quase não o vira a noite inteira.

- Também gostei. – Sorriu. – Vamos nos encontrar novamente?

- Caso você me dê alguma forma de a gente se falar, sim. – O rapaz à frente dele respondeu, puxando o celular do bolso traseiro da calça jeans surrada que usava.

Shaka disse seu número e seu nome, fazendo o outro estranhar.

- Shaka...? – Ele perguntou. – De onde você saiu...?

- Nasci na India. – O loiro sorriu, dando de ombros. – E o seu número?

- Vou ligar pra você. Ai você salva. – O moreno falou, discando o número recém-salvo.

- E seu nome é...?

- Ikki. – Ele sorriu com o espanto do outro. – Sou metade japonês. – E prevendo a piadinha do outro, completou. – Só a metade de cima.

Shaka riu com gosto, se despedindo do novo amigo. Ikki colocou o capacete, acenando para o loiro e indo embora.

Quando entrou no carro, colocou seu cd favorito de Enya e deu partida, indo para casa. Ficou lembrando da conversa, rindo das piadas e dos trocadilhos inteligentes que Ikki fazia. Era como ele sempre desejara ser: feliz e espontâneo, mas nunca conseguira. Culpava o fato de ser do signo de virgem por isso.

Chegou à sua casa, que não era muito grande, mas era elegante. Com uma sala de estar bonita e aconchegante, com moveis brancos e modernos. Na mesa de canto, uma miniatura de um elefante indiano, para lembrar-lhe de onde viera. Como todo virginiano, Shaka tentava manter sua casa organizada, então tudo estava em seu lugar. Foi para o banho, cansado, e a única coisa em que pensava era em como gastar seu dinheiro.

Na periferia da cidade, Ikki chegava em casa, colocando o capacete e as chaves da moto em cima do criado-mudo, dando de cara com o rimão, que estava na mesa, com os cabelos compridos presos num rabo de cavalo mal feito, e concentrado em um grande livro à sua frente.

- isso é hora de chegar? – O mais novo perguntou, sem tirar os olhos do livro.

- E você, Shun? Não deveria estar dormindo? – Ikki rebateu, fazendo o irmão olhá-lo com uma sobrancelha levantada.

Depois da morte dos pais, Ikki e Shun viveram à própria sorte. O mais velho teve de aprender a ser um pai, se responsabilizando por tudo do irmão, com pouco mais de 10 anos. Viveram de casa em casa, com a ajuda de alguns amigos dos pais, mas ainda assim, solitários.

Apesar de todas as dificuldades, eles conseguiram sobreviver a isso juntos. Shun, por ter perdido alguns anos de escola na infância, estava um pouco atrasado nos estudos, e só agora, aos 22 anos, estava se empenhando muito para passar no vestibular para medicina, um dos mais concorridos do país. Ikki estava terminando a faculdade de história pela manhã e trabalhava à tarde como professor particular, o que pagava suas contas.

- É sério. – Ikki falou, tirando a camisa e deixando à mostra seus músculos trabalhados. – Seu cérebro vai acabar dando curto-circuito.

- Besteira. – O mais novo falou, mas fechando o livro mesmo assim. – Onde estava? – Perguntou.

- Bebendo com um amigo. – Falou, dando de ombros. Para Shun, foi o suficiente. Não era a primeira vez que o irmão ia beber com os amigos e não seria a última.

Os dois seguiram para seus quartos depois de Ikki murmurar um cansado "boa noite", e aúnica coisa em que o mais velho pensava era no conforto de sua cama.

Continua...


N/A.: Sim, sim, sim, dessa vez uma Yaoi. Culpem a Sion Neblina por isso! Me viciou em IkkiXShaka. Dessa vez prometo que vai ser curtinha e não demorada!

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Palavra de deusa – só que não... XDDXD