Os Outros Namorados
Ginny acordou em um susto, estranhando o silêncio da casa. Quando se tem três filhos, não se dorme até acordar naturalmente. Havia algo de estranho no ar. A primeira coisa que fez foi entrar no quarto da filha pequena, mas Lily continuava dormindo em sua cama - sempre preguiçosa -, mas os quartos dos meninos estavam vazios. Sentiu um aperto no coração e desceu as escadas correndo, chamando por seus nomes.
James e Albus estavam na cozinha, com sorrisos no rosto que significavam problemas, mas não havia nenhum sinal de briga. E, ainda mais estranho, a mesa estava posta para o café. Ginny ergueu as sobrancelhas, antes de falar.
- Quem foi que fez isso?
- Nós! - respondeu Al, animado. - Nós colocamos a mesa pra você tomar café!
Ginny ficou ainda mais desconfiada. Duas crianças de seis e sete anos não costumam conseguir colocar a mesa pro café, menos ainda têm interesse nisso.
- Seu pai esteve aqui? - perguntou, tensa.
- Eu posso chamar ele se você quiser - disse James, a voz cheia de esperança.
- Fomos nós que colocamos! - insistiu Al, magoado. - Era uma surpresa!
Ginny olhou de um para o outro, e deu os ombros, sentando na mesa.
- E qual o motivo?
- É dia dos namorados! - falou Al, afoito.
- James? - perguntou, olhando para o filho mais velho, esperando uma confissão de alguma armação. Nenhuma das crianças tinha levado bem a separação dos pais, mas James era o mais inclinado a esquemas mirabolantes e tinha visto mais filmes trouxas sobre este tipo de situação do que era seguro.
- Al, os presentes - foi a resposta dele.
Os dois saíram pela porta da cozinha, voltando alguns momentos depois, com buquês de flores na mão. Nada complicado ou profissional, estava claro que tinham devastado parte do jardim para fazerem um agrado, e Ginny sorriu para eles, pegando as flores e beijando-os um de cada vez.
- Obrigada. Eu ainda não entendi o motivo de toda essa... Surpresa.
- É dia dos namorados ... - começou a falar James, mas Al o interrompeu.
- Você não precisa ficar com o Malfoy, mãe! A gente pode namorar você!
Ginny riu, fazendo carinho na cabeça do filho mais novo, e olhou para James, ainda sorrindo.
- Pode falar. O plano. Conte.
- Se... A gente pudesse namorar você... Então, não ia precisar do Malfoy!
Ginny balançou a cabeça, ainda sorrindo. Ambos já tinham passado da pior fase na qual todos querem namorar suas mães, mas ainda sentiam-se ameaçados por qualquer pessoa nova se aproximando.
- Não é simples assim, James - ela falou, puxando o primogênito para perto e passando o braço em torno dele. - Eu nunca poderia namorar com vocês, e mesmo que pudesse... A gente não escolhe gostar ou deixar de gostar das pessoas, ou eu continuaria com seu pai. Eu entendo que você sinta ciúme...
- Eu não tenho ciúme! - reclamou o garoto, balançando a cabela. - Não tenho.
- Tem sim - falou Al, e o rosto de James deixou claro que a briga começaria em breve.
- Já chega - ela disse, olhando firme para os dois. - Vocês vão estragar minha surpresa assim?
Eles negaram com a cabeça, e sentaram na mesa com ela, parecendo bem menos animados com o plano falhado. Partia o coração de Ginny vê-los assim, então, falou a primeira coisa que passou pela sua cabeça.
- Eu adorei as flores. Ninguém nunca me deu flores antes! Eu vou arrumá-las em um vaso para mostrar pra o Draco e vocês podem ensinar a ele como se conquista uma garota.
Isso animou os dois, que sorriram e começaram a planejar dezenas de maneiras de "ensinar" o namorado da mãe, sem dúvidas infernizando-o no processo. Ginny riu consigo mesma, imaginando a cena e, enquanto os dois tomavam café bolando esquemas malignos, escreveu um bilhete para Draco avisando-o do que o esperava.
Não seria o dia dos namorados perfeito, mas seria o dela.
