Bloody Heart
"Eu tenho um presente para você."
"Desista, Dr. Malfoy. Você furou comigo, eu não quero presentes."
"Não, você realmente quer esse presente."
"É dia dos namorados. Você desmarcou nosso jantar, nosso primeiro jantar."
"Eu sei, mas eu vou te compensar, eu prometo."
"Eu não quero compensação. Eu não quero olhar pra sua cara. Eu não quero lembrar que você existe."
"Dra. Weasley, isso é uma ordem."
Era irresistível quando ele falava assim, impossívelmente irritante, o sorriso de lado debochando da impotência dela.
Mas foi outro Draco, um animado como um novato no internato que a levou até a Sala de Cirurgia, aonde nem poderia estar em tese, falando sem parar sobre como ela iria adorar o presente dele.
Ginny esperava uma cirurgia estranha, alguma anomalia surreal, uma emergência diferente que ele queria que ela assistisse, mas o que achou foi apenas uma sala já vazia com um corpo coberto.
"Meu presente... É um cadáver."
Ele sorriu, passando a mão no cabelo.
"Ponha as luvas e a máscara"
"Ele está morto. Não vai fazer diferença se..."
"Ponha as luvas, Weasley", insistiu.
Ela balançou a cabeça, exasperada, e colocou as luvas.
E, pela primeira vez na vida, Draco se deu ao trabalho de ensinar. Ele explicou a diferença entre os pontos que ela precisaria dar para consertar o coração, acompanhou enquanto ela retirava o apêndice, passou os instrumentos para que ela consertasse o corpo e o deixasse fechado para que a família visse. Não era tão fácil, e ele não era paciente. Foram horas tentando consertar o possível do que o acidente de moto tinha causado para que ele pudesse estar apresentável. No final, estava cansada, dolorida, cheia de sangue, mas absolutamente feliz.
"Isso é... Incrível. Incrível!"
"Eu sei. Você merece."
Ela o olhou, respirando fundo, ainda sentindo a sensação mágica de ter consertado algo que estava quebrado - uma pessoa, ainda por cima!
"É a melhor sensação do mundo" ele disse, sorrindo para ela. "Achei que deveria experimentar antes de prestar sua prova para residência."
"Por que você abandonou a cirurgia, Malfoy?" perguntou, suave. "Você claramente ama isso tudo."
Ele olhou para ela, e toda a alegria tinha partido, apenas o silêncio.
"Não estrague o momento, Weasley. Se vier com perguntas inconvenientes, eu não te dou mais presentes."
"Achei que esse era o presente."
"O primeiro", respondeu, travesso. "Só o primeiro."
"O que, tem mais?"
"Sempre" ele disse, beijando a testa dela. "Vamos. A noite está só começando, e eu tenho mais cinco presentes para te dar."
E, rindo, ela aceitou, sabendo que Draco era o tipo de homem que se demora muito tempo para desvendar, nunca responderia tão facilmente a pergunta que redefinira sua vida, ao mudar tudo que a família proeminente esperava dele e procurar seu próprio caminho. Sabia, também, que com suas ideias estranhas era capaz de dar a ela um dia dos namorados mais inesquecível do que uma visita a um restaurante caro.
(Era tolice, ela sabia, e nunca daria certo, mas seu coração não deixava de acelerar ao vê-lo falar sobre a mágica da vida).
